Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa
1 – «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa». Nazaré é uma cidade pequena. Todos se conhecem, têm relações familiares, ao ponto de no Evangelho os parentes de Jesus serem referenciados como irmãos e irmãs e Ele ser conhecido como filho de Maria e de José, o carpinteiro!
Quando nos conhecemos bem uns aos outros, é natural que não esperemos mais do que aquilo que estamos habituados a ver. A ausência de alguém durante determinado período de tempo pode alterar o conhecimento e as expetativas. Jesus tinha iniciado a Sua vida pública e antes de chegar a Nazaré já lá tinha chegado a fama de pregador, profeta e fazedor de milagres. Alguns dos seus conterrâneos, amigos e familiares vão até Ele com certa curiosidade.
Num primeiro momento, contudo, ressalva-se a admiração: «De onde Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?»
A perplexidade toma conta dos seus ouvintes. O texto não pressupõe qualquer atrito até Jesus lhes dizer: «Um profeta só é desprezado na sua terra…».
2 – A sobriedade de Marcos não nos permite saber o que terá acontecido entre a admiração inicial dos ouvintes e a reação provocatória de Jesus. Nem sempre precisamos que nos respondam com palavras para percebermos as reações, basta um olhar, um sorriso, um encolher de ombros, um franzir das sobrancelhas…
Jesus percebe a reação fria e inquisitória dos seus ouvintes. Na conclusão, o evangelista diz-nos claramente que Jesus estava admirado com a falta de fé daquela gente e, por conseguinte, não podia fazer ali qualquer milagre.
3 – Apesar de tudo, Jesus curou alguns doentes e prosseguiu a ensinar por outras aldeias e cidades. Questionamo-nos: então as curas não são milagres? Sem dúvida, são sinais de que Deus continua a agir no mundo. O verdadeiro milagre, contudo, é a conversão, a mudança de vida, a resiliência diante das dificuldades, a aceitação das próprias limitações e fragilidades, a solidariedade e o apoio aos mais frágeis, o serviço a favor dos mais simples e pobres.
Durante a vida pública de Jesus, a começar pelos Seus discípulos, são frequentes as disputas de poder, a procura do milagre fácil, a expetativa de um reino novo que se imponha pela força. Jesus persiste na necessidade de amar, servir, cuidar do outro, dar a outra face, perdoar em todas as circunstâncias, acolher, incluir, dar a vida! No reino que Ele preconiza o primeiro lugar é para quem serve!
4 – Em que ponto o Evangelho nos desafia e compromete?
Não podemos dar o outro como garantido, na família, no trabalho, na profissão, nos grupos a que pertencemos. A pessoa é mistério! Em todo o caso devemos apostar, acreditar, confiar. Mas nunca endeusar. Contar que os outros podem desiludir-nos, pois não são deuses. Contar que, em algum momento, podemos magoar os outros e desiludi-los. Apesar disso, apostar, acreditar e confiar na bondade dos outros, como fez Jesus, que escolhe os Seus discípulos, sabendo que podem falhar! Ainda assim previne-os e não desiste deles.
Ninguém é profeta na sua terra ou em sua casa! Todos conhecemos pessoas extremamente afáveis, simpáticas, generosas para os de fora, mas verdadeiros trastes em casa, indelicadas, indispostas, rabugentas! De fora ninguém sonha. O que se passa no convento só sabe quem está dentro. Por um lado, o convívio coloca-nos mais à vontade, relaxa-nos, dá-nos segurança. Isso é bom, desde que continuemos a ser atenciosos e capazes de dizer "obrigado", "com licença", "desculpa", as três palavrinhas que fazem bem às famílias, como tem sublinhado o Papa Francisco em diversas ocasiões. É tempo de começarmos por ser profetas na própria casa. Seria uma hipocrisia tremenda transparecermos o que não somos. Mesmo sabendo que há momentos em que o cansaço ou as diferenças geram aborrecimentos. Momentos não são o tempo todo!
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Textos para a Eucaristia (ano B): Ez 2, 2-5; Sl 122 (123); 2 Cor 12, 7-10; Mc 6, 1-6.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço