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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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21.02.17

VL – Silêncio: Deus não mora à superfície

mpgpadre

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Esta semana partimos de dois livros, que podem ser sugestões de leitura: Silêncio, de Shusaku Endo, e Paciência com Deus, de Tomáš Halík.

“Silêncio”, romance adaptado por Martin Scorsese a filme, e daí também a grande divulgação momentânea, retrata a vida de um missionário jesuíta, português, que teve um papel muito importante na evangelização em terras do Japão. E, perante as muitas dificuldades que encontrou, terá renunciado à fé católica.

O provincial dos jesuítas em Portugal, em entrevista à Agência Ecclesia, sublinha a grande oportunidade para confrontar as várias dimensões da fé. A obra recorda uma página histórica do encontro difícil entre o cristianismo (e o Ocidente) e as tradições japoneses que inicialmente acolheram com benevolência o cristianismo e depois moveram-lhe uma grande perseguição. Para o Padre José Frazão Correia é uma grande oportunidade para revisitar a questão dramática da fé. A dificuldade em permanecer firme num ambiente de extrema perseguição. Revisitar a experiência da fé a partir da sua dimensão dramática e equívoca, várias perspetivas possíveis para enquadrar a questão da adesão a Jesus e da sua visibilidade pública.

O filme/romance não nos permite fazer uma leitura a branco e preto, bem e mal, afirmação da fé pelo martírio ou negação da fé pela apostasia. Aqui percebemos que a aproximação à fé, a afirmação de fé em contextos de grande perseguição, de um grande sofrimento, põe em reserva um juízo demasiado fácil… Publicamente o personagem principal, o padre Sebastião Rodrigues, renuncia à fé, mas o realizador, tal como o autor, faz-nos perceber que no íntimo do padre jesuíta há um percurso de fé e estamos longe de concluir que a sua apostasia pública seja uma renúncia à fé no mais íntimo do seu coração.

Tomáš Halík, neste título, Paciência com Deus, e que tem como subtítulo “Oportunidade para um encontro”, procura perceber o Zaqueu que se esconde no sicómoro (figueira…), mas que Deus descobre por entre a folhagem. Vivemos num tempo em que podemos, com alguma facilidade, catalogar os que têm fé e os que não têm, os crentes e os ateus. O autor recusa uma leitura apressada, fácil, em que se crie uma divisória nítida. Há muitos Zaqueus para os quais temos que olhar com carinho, com atenção. Deus escapa-nos, não se enforma nas nossas conceções racionais. É mistério que, no entanto, está presente em cada um de nós, pois todos fomos/somos criados à Sua imagem e semelhança. Não nos podemos apossar d’Ele, pois também se encontra nos outros…

 

publicado na Voz de Lamego, n.º 4397, de 31 de janeiro de 2017

12.02.17

Leituras: TOMÁŠ HALÍK - PACIÊNCIA COM DEUS

mpgpadre

TOMÁŠ HALÍK (2014). Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro. (3.ª Edição). Prior Velho: Paulinas Editora. 288 páginas.

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Tomáš Halík, neste título, Paciência com Deus, e que tem como subtítulo “Oportunidade para um encontro”, procura perceber o Zaqueu que se esconde no sicómoro (figueira…), mas que Deus descobre por entre a folhagem. Vivemos num tempo em que podemos, com alguma facilidade, catalogar os que têm fé e os que não têm, os crentes e os ateus. O autor recusa uma leitura apressada, fácil, em que se crie uma divisória nítida. Há muitos Zaqueus para os quais temos que olhar com carinho, com atenção. Deus escapa-nos, não se enforma nas nossas conceções racionais. É mistério que, no entanto, está presente em cada um de nós, pois todos fomos/somos criados à Sua imagem e semelhança. Não nos podemos apossar d’Ele, pois também se encontra nos outros…

Um dos textos citados pelo autor é o do profeta Elias.

Elias, depois de matar os profetas idólatras, é avisado pelo Rei Acaz que o mesmo lhe será feito. Elias sai da cidade e caminha pelo deserto. Já esgotado, pede ao Senhor que lhe tire a vida. O anjo do Senhor aparece-lhe por duas vezes e ordena-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo ca­mi­nho a per­correr». Elias faz como o Senhor lhe ordena e dirige-se para o monte Horeb. Aí passa a noite. O Senhor faz saber a Elias que vai passar… «Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna» (1 Reis 19, 1- 14).

Deus nem sempre é evidente. Em questões de fé nem tudo é branco e preto. Um crente passa por momentos de treva, de dúvida e hesitação. Um “ateu” pode estar perto de Deus, em busca, a percorrer um caminho de aproximação. 

É, em meu entender, uma das linhas condutoras do texto de Tomáš Halík, Paciência com Deus, procurando fazer pontes, prevenir juízos precipitados, para não encerrar o próprio Deus em ideias preconcebidas e limitando a Sua ação.

Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer.

Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.

Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.

Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade.

Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença…

Mais perigoso que um ateu convicto é um crente apático!

O diálogo faz-se entre ateus convictos e lutadores e crentes em busca. Entre crentes apáticos, seguros de si mesmos, e ateus indiferentes não há diálogo nem discussão possível. Situam-se uns e outros na denúncia de Nietzsche, Deus morreu e também o matámos. O anúncio não deu lugar ao protesto contra a morte de Deus. Foi um grito que passou com indiferença.

Esta é mais uma belíssima obra e provocação do autor chego, convidando-se a uma busca constante, permitindo que os Zaqueus se aproximem e, no momento em que também nós formos e nos sentirmos Zaqueus, nos deixemos interpelar pelas palavras e pelo desafio de Jesus Cristo.

 

(o presente texto foi elaborado a partir de dois textos

publicados na Voz de Lamego, sob o título:

Silêncio, Deus não mora à superfície (31 de janeiro de 2017)

Deus não mora à superfície (7 de fevereiro de 2017)

 

Sugiro a leitura do seguinte comentário: 

29.10.16

Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa

mpgpadre

1 – Um publicano a rezar no Templo, colocando-se diante de Deus, despido de qualquer presunção ou pretensão, certo da misericórdia de Deus. Apresenta-se transparente e disponível para deixar que Deus o transforme. É a atitude do discípulo de Cristo. O discípulo é aquele que se predispõe a amadurecer, a crescer como pessoa, aperfeiçoando as arestas que ainda magoam os outros, pela indiferença ou pelos gestos de maldade, injustiça, violência.

Hoje o Evangelho mostra-nos outro modelo de discípulo. Zaqueu, o homem de vistas curtas, de estatura baixa, que não vê além do seu nariz, do seu umbigo. Mas chega um dia em que se sente impelido a ver e conhecer Jesus. Dois fatores o impedem de chegar perto de Jesus. O primeiro tem a ver sua pequena estatura. Já deu o primeiro passo: a decisão de ver Jesus. O outro obstáculo é a multidão. A multidão, na qual também nos encontramos, pode ajudar a encontrar Jesus, apontando para Ele, mas pode também impedir que alguém se aproxime de Jesus, mantendo-se compacta e barrando a passagem.

Em que situações a multidão impede de ver Jesus?

Em que situações a multidão ajuda a encontrar Jesus?

São duas questões que devemos colocar-nos. Sabemos que a vivência da fé, a coerência de vida, o testemunho, o cuidado com os mais frágeis, pode levar outros a querer estar perto de Jesus e a desfrutar da mesma fé e do mesmo compromisso. O inverso manifesta-se quando a vida concreta contradiz abertamente a fé professada. O nosso intento será sempre, reconhecendo o nosso pecado, procurar o mais possível a identificação a Jesus Cristo.

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2 – Quando queremos alguma coisa, de verdade, vamos atrás. Insistimos, uma e outra vez. Não desistimos à primeira. Procuramos os meios, as pessoas, os instrumentos para obtermos o que desejamos. Zaqueu decidiu ver Jesus. Não apenas avistá-l'O à distância, mas vê-l'O de perto, deixar-se ver por Ele. Também aqui a multidão teve uma influência positiva. Zaqueu ouviu falar de Jesus. Terá ouvido muitas coisas acerca do Mestre da Docilidade. Foi ouvindo o que se dizia acerca de Jesus: um Profeta que anuncia um reino novo. As palavras e os prodígios, a mensagem e a Sua postura. A alternativa: um subversivo, um revolucionário, um lunático. Das informações recolhidas, um desejo forte de encontrar-se pessoalmente com Jesus, confirmando com os próprios olhos o que ouvira dizer. Não basta o que ouvimos dizer, é necessário o encontro com Jesus.

"Então correu mais à frente e subiu a um sicómoro, para ver Jesus, que havia de passar por ali". Colocado num lugar estratégico, para ver sem ser visto. Mas antes de ver, já Jesus, chegado ao local, o vê e o chama: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». Atónito e surpreendido, logo desce e com alegria recebe Jesus em sua casa. Não há tempo para perguntas e para porquês. Agora é o tempo da conversão. A conversão iniciara-se com o desejo de ver Jesus e completa-se com o acolhimento alegre a Jesus.

O discípulo torna-se missionário. «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». A alegria do encontro com Jesus provoca compromisso e mudança de vida. Zaqueu só precisou de um lampejo de luz para se abrir à misericórdia de Deus, que se manifesta e age em Jesus. Doravante a postura de Zaqueu não mais será a mesma.

 

3 – Aquela multidão que vê Jesus a entrar em casa de Zaqueu – o chefe de publicanos, odiado pela profissão que exerce, concluindo-se que pertencia àqueles que usam e abusam do cargo –, não fica convencida: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Jesus não percebe. É ingénuo. Como vai logo hospedar-se em casa de uma pessoa assim?! A resposta de Jesus vem mais à frente: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».

A vinda de Jesus ao mundo tem um propósito firme: que n'Ele todos descubram Deus e se deixem salvar pelo Seu amor. Por conseguinte, cabe-nos hoje mostrar Deus aos nossos contemporâneos, transparecendo-O nas palavras e nos gestos, com a voz e com a vida.


Textos para a Eucaristia (C): Sab 11, 22 – 12, 2; Sl 144 (145); 2 Tes 1, 11 – 2, 2; Lc 19, 1-10.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

02.11.13

Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa

mpgpadre

       1 – «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». O convite de Jesus, feito a Zaqueu, e a cada um de nós, é extraordinário. Zaqueu era cobrador de impostos, publicano, profissão geradora de ódios, pois o que cobravam era fruto do trabalho, do sustento e das canseiras de muitas famílias, algumas das quais com escassos recursos, e ainda por cima os impostos cobrados era direcionados para o imperador romano, a potência invasora, e para as autoridades locais. Por outro lado, os cobradores de impostos, muitas vezes, aproveitavam o posto que ocupavam e a proteção que tinham para cobrar maquias consideráveis para si próprios.

       Jesus entra na cidade de Jericó. Ali vive um homem rico, o chefe dos cobradores de impostos. Zaqueu é de pequena estatura, de vistas curtas, pouco mais vê que a sua carteira. Mas para ver Jesus é necessário ter os olhos bem abertos, e sobretudo o coração. Impelido a ver Jesus, sobe a uma árvore, eleva-se do chão e acima da multidão.

       Entretanto, Jesus levanta o olhar e interpela-o: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». É preciso descer, colocar-nos ao nível de Jesus, que sendo de condição divina, quis ser um de nós, para no meio de nós nos ensinar a ser irmãos, porque filhos de Deus, do mesmo Pai. Se ficarmos no lugar em que nos encontramos, no nosso pedestal, na nossa vidinha, poderemos até ver Jesus, mas à distância, e apenas com os olhos, não com o coração. Zaqueu desce rapidamente e recebe Jesus com alegria.

       É uma alegria convertida em compromisso: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.

       Vêm então os reparos daqueles que, vendo Jesus, ainda não O descobriram, ainda não se deixaram tocar pela Sua presença, pelo Seu olhar: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Jesus não se deixa enredar na cusquice e conclui: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».

       2 – O Evangelho é um desafio de salvação. Devemos manter aceso em nós o desejo de querer ver Jesus, de O encontrar, de O seguir, de O levarmos para casa, de O trazermos para a nossa vida.

       Só a humildade nos coloca no caminho de Jesus, de contrário Ele passa e nós ficamos em cima do sicómoro, ou comodamente a murmurar, pelos outros que avançam caminhando com Ele. O chamamento é para mim. É para ti. Ele passa. Faz-Se caminho, verdade e vida. Vem habitar connosco, vem ficar em nossa casa.

       Se a nossa estatura é pequena, há que procurar mais afincadamente, abrir o coração, fazer com que as nossas vistas sejam mais largas, alcancem mais longe. É necessário procurá-l’O onde Ele vai passar. Escutar o seu convite. Segui-l'O para onde for. É necessário descer do nosso comodismo e não deixar que Ele passe adiante sem nós. Também São Paulo caiu do cavalo, do alto do seu orgulho e da sua presunção. Jesus bate à nossa porta, grita-nos aos ouvidos, envia-nos um impulso ao coração, como fez aos discípulos de Emaús.

       Acolher Jesus, segui-l'O deixando que entre em nossa casa, gera ALEGRIA que transborda, contagia e se espalha para as casas vizinhas, para as pessoas que se cruzam connosco. Ou então ainda não O encontramos. Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.

       Hoje a salvação quer entrar em minha casa, na tua, na nossa casa. Por mais perdidos que estejamos, Jesus vem salvar-nos, introduzindo-nos na comunhão de Deus. Levemos a outros esta alegria. Não impeçamos ninguém de se aproximar e de ver Jesus. A multidão impedia que Zaqueu chegasse perto de Jesus. Não sejamos empecilho para os outros pela nossa opacidade, pela nossa tibieza. Ao invés, deixemo-nos contagiar e contagiemos. Evangelizados e evangelizadores.


Textos para a Eucaristia (ano C):

Sab 11, 22 – 12, 2; Sl 144 (145); 2 Tes 1, 11 – 2, 2; Lc 19, 1-10.

 

25.01.11

Amar um ser é esperar nele para sempre

mpgpadre

       «Que significa amar?

       Amar um ser é esperar nele para sempre.

 

       Amar um ser é não o julgar; julgar um ser é identificá-lo com aquilo que dele se conhece: «Agora, conheço-te. Agora julgo-te. Sei aquilo que vales»... Isto representa matar um ser.

 

       Amar um ser é esperar sempre dele algo de novo, algo de melhor.

 

       Se bem leio no Evangelho, poderei concluir da maneira pela qual Jesus saiu ao encontro dos homens e os amou e enriqueceu, que Ele sempre os considerou crianças, crianças que não haviam crescido convenientemente, que não haviam sido suficientemente amadas.

      

       Cristo nunca os identificou com aquilo que tinham feito até então.

 

       Pensai, por exemplo, em Maria Madalena: Cristo esperava dela algo que ninguém tinha conseguido descobrir e amou-a tanto, perdoou-lhe tão generosamente que dela obteve o amor mais puro e mais fiel e, admirados, todos à sua volta comentavam: «Será possível que ela seja assim?! Tínhamo-la julgado, pensávamos conhecê-la, haviamo-la condenado e tudo porque nunca fora convenientemente amada...»

       Cristo amou-a com tal perfeição que a tornou aquilo que os outros, pobres e desconfiados, demasiado avarentos de amor, não tinham sido capazes de suscitar nela.

 

       Cristo aguardava, esperava tudo de toda a gente. Fazia surgir, ao Seu redor, vocações, amizades e generosidades; e todos os que supunham conhecer de longa data aqueles personagens, ficavam atónitos: «Como? Zaqueu tornou-se generoso? Maria Madalena tornou-se pura e fiel? Tomé tornou-se crente? Mateus, o publicano, feito Apóstolo? E todos esses pobres, todos esses pecadores se transformaram em apóstolos e santos?... Como é possível?»

 

       Alguém os tinha amado, tinha acreditado neles.

       Alguém não havia repetido o que nós dizemos: «Não há nada a fazer dele, nada se conseguirá. Tentei tudo. Não quero tornar a vê-lo. Não volto a escrever. É perder tempo...»

       Cristo foi ao encontro de cada um deles, dizendo: «Só porque não foi amado o bastante é que se tornou assim mau. Se o amassem mais, seria melhor. Se tivessem sido mais delicados, mais generosos, mais afectuosos para com ele, ele teria conseguido libertar-se daquela armadura, daquela carapaça de que se revestiu para não sofrer tanto»...

 

Louis Evely, em "Fraternidade e Evangelho", in Abrigo dos Sábios.

31.10.10

Deus não desiste de nós! Nunca desiste...

mpgpadre
       1 – O nosso encontro com Deus, com Jesus Cristo, modifica-nos interiormente, comprometendo-nos com atitudes e gestos concretos na nossa relação com todos os que nos rodeiam.
       No Evangelho aparece-nos mais um publicano, desta feita, o chefe dos cobradores de impostos. Ainda hoje é uma profissão odiosa, mas muito mais naquele tempo e naquele contexto. Ao serviço do império romano, os judeus consideram os publicanos traidores, pecadores públicos.
No domingo anterior, Jesus, na parábola que nos conta, elogia a atitude humilde e suplicante do publicano, em contraponto à soberba e sobranceria do fariseu. Hoje, Jesus exemplifica as suas palavras, indo hospedar-se em casa de um pecador.
       Zaqueu é um homem de baixa estatura, isto é, de vistas curtas, só vê o seu bolso, ou como diríamos na actualidade, só vê o tamanho da sua carteira. Mas quer ver Jesus. Já ouviu falar do Mestre dos Mestres e tem curiosidade, ou algo no seu íntimo o chama. Deixa o seu posto de cobrança e sobe a uma árvore. Jesus, que vê ao largo e ao longe, avista-o e diz-lhe: "Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa".
O evangelista mostra-nos Jesus como uma pessoa atenta e atenciosa, chama o seu interlocutor pelo nome próprio.
       Zaqueu, por sua vez, recebe Jesus com alegria, em sua casa. Esta alegria não é eufórica nem momentânea, mas transformadora: "Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais".
       2 – A presença de Deus na nossa vida é um estímulo e uma provocação ao bem, é esperança para o dia de hoje e para amanhã, é chamamento à vida, à felicidade, é garantia de que cada gesto de caridade se manterá até à eternidade.
Deus não desiste de nós, ainda que desistamos d'Ele, ou nos afastemos pelo nosso pecado. Mantém-se fiel à sua promessa, à ALIANÇA de ser nosso Deus para sempre.
       Diz-se no livro da Sabedoria: "De todos Vos compadeceis, porque sois omnipotente, e não olhais para os seus pecados, para que se arrependam" (Primeira Leitura). Diante de Deus, o mundo é como uma gota de orvalho, mas ainda assim Deus ama tudo o criou. Perdoa, para que nos ergamos.
       No Evangelho, como vimos, Jesus não leva em conta o pecado de Zaqueu mas a vida nova que nele desponta neste encontro de conversão.
       A oração de São Paulo, pelas comunidades, é um convite à esperança, para que ninguém se alarme com falsas promessas ou anúncios cataclíticos, e ao compromisso com o tempo e com a história: "oramos continuamente por vós, para que Deus vos considere dignos do seu chamamento e, pelo seu poder, se realizem todos os vosso bons propósitos e se confirme o trabalho da vossa fé".

       3 – Face à Palavra de Deus que escutámos/lemos e reflectimos que atitudes poderemos assimilar para a nossa vida? Alguns desafios parecem-nos desde logo claros e importantes:
- desejo de ver e de encontrar Jesus;
- deixar-nos "ver" por Ele. Não nos escondamos da Sua presença e do Seu chamamento;
- desçamos do nosso "pedestal", do nosso orgulho, e acolhámo-l'O em nossa casa. Façamos do nosso coração e da nossa vida, a Sua casa, morada santa de Deus, pois "hoje entrou a salvação nesta casa";
- que a nossa pequena estatura não nos impeça de ver Jesus, que veio "procurar e salvar o que estava perdido";
- como São Paulo, rezemos uns pelos outros, em comunidade e pela comunidade, para que frutifique em nós e através de nós a fé que professamos.
_____________________________
Textos para a Eucaristia (ano C): Sab 11,22-12,2; 2 Tes 1,11-2,2; Lc 19,1-10

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  235. 2007
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  247. D

Velho - Mafalda Veiga

Festa de Santa Eufémia

Pinheiros, 16/17 de setembro de 2012

Primeira Comunhão 2013

Tabuaço, 2 de junho

Profissão de Fé 2013

Tabuaço, 19 de maio

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