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03.12.17

Leitura: ANDREA MONDA - BENDITA HUMILDADE

mpgpadre

ANDREA MONDA (2012). Bendita Humildade. O estilo simples de Joseph Ratzinger. Prior Velho: Paulinas Editora. 176 páginas.

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 No dia 10 de novembro (2017), desloquei-me com três amigos sacerdotes, o Giroto, o Diamantino e o Diogo à VIII Jornada de Teologia Prática na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, e um dos conferencistas era precisamente o italiano Andrea Monda, testemunhando o anúncio do Evangelho às gerações atuais. O professor Andrea Monda leciona o equivalente a EMRC, tem um programa na TV2000, num formato semelhante a uma aula de 25 minutos, interagindo com a turma.

Bastava o livro ser referido a Bento XVI / Joseph Ratzinger para me despertar o interesse, mas a conferência de Andrea Monda despertou-me mais o interesse. Mas como digo, bastava ser uma obra sobre Joseph Ratzinger, que já o lia e estudava, para uma ou outra disciplina de Teologia, longe do tempo em que viria a ser eleito Papa. O testemunho da D. Fernanda, que dedicou uma parte importante da sua vida ao Seminário de Lamego, aquando uma missão em Roma, era que àquele Cardeal era muito afável, muito simpático e atencioso, muito simples e muito humano. São características que Andrea Monda também descobrir, sem precisar de muito esforço, bastando o encontro com Bento XVI e os milhentos testemunhos dados por quem conviveu ou convive com o agora Papa Emérito.

O autor mostra que este Homem de Deus, simples, afável, de fácil trato, que olha as pessoas olhos nos olhos, com um olhar profundo e interpelante, atento aos interlecutores, não foi uma novida, sempre foi assim, como seminarista, como padre, como Bispo, como professor, como Prefeito da Congregação para a Doutrina na Fé (ex-Santo Ofício). A comunicação social, desde a primeira hora, não lhe concedeu qualquer interregno de simpatia, pois sendo já conhecido, agora era tempo de levantar suspeitas, insinuações, colocando com rótulos, com preconceitos, pelo facto de ser alemão e pelo facto de ter sido durante tantos anos o fiel guardador da fé, da doutrina católica, como se isso fosse um crime.

Segundo o autor, a HUMILDADE é uma palavra que marca a vida de Joseph Ratzinger / Bento XVI, nas diferentes etapas da vida, como sacerdote, como professor, como Bispo, Cardeal e Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, como Papa. Numa biografia do atual Papa Francisco é sublinha a atenção e o cuidado com que o então Cardeal Ratizinger tratava as pessoas que encontrava, com atenção, colocando-se ao mesmo nível da pessoa. Era um dos poucos cardeais, consta, que não tratava o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio com sobranceria, como um Cardeal das periferias, como fazia outras eminências, mas de igual para igual, com respeito, deferência, respeito e simpatia.

É uma humildade assente na verdade, sobretudo a Verdade do Evangelho. A fé é antes de mais um encontro com Jesus. Humildade que assenta na transparência, na comunhão com a Igreja, em comunhão com a "maioria" formada pelos santos. Uma humildade caracterizada pela simplicidade. Basta recordar a primeira vez que apareceu na varanda pontifícia como Papa, o simples servidor da vinha do Senhor, com uma camisola preta, normal, debaixo da batina branca. Mais tarde confessará q dificuldade em usar botões de punho.

Como Prefeito era conhecida a rotina que mantinha, manhã cedo e no final do dia, atravessava a praça de São Pedro, com uma boina na cabeça, sempre disponível para quem se aproximava. Por vezes fazia-se acompanhar por gatos. Sempre cordial e simples. Já como professora passava como segundo ou terceiro coadjutor de uma paróquia de cidade, tal a simplicidade com que interagia com os alunos, nesse caso. Permaneceu sempre assim, simples, cordato e acessível, um sacerdote a caminho, que se move em direção aos outros, colocando-se sempre ao nível dos seus interlecutores.

"Se João Paulo II foi definido como «o pároco do mundo», nesta aceção de simplicidade e humildade, pode-se tranquilamente definir Bento XVI como «coadjutor paroquial do mundo»... Em Bona, Ratzinger podia andar a pé, em Munique, como jovem sacerdote, andava de bicicleta de um lado para o outro, em Tubinga, voltou a recorrer às duas rodas".

A sua vida é marcada pela renúncia. O autor apresenta essa característica fundamental antes de se sonhar que o Papa bávaro iria renunciar ao pontificado, assumindo-se como simples Padre Bento (terá sido essa a designação que propôs usar depois da renúncia). Humildade obediente. Outros foram conduzindo o seu percurso. Vai numa direção e de repente alguém o desafia para outra missão, sempre com o sentido de obediência aos seus superiores.

Como teólogo marcante, o próprio confessou que nunca se propôs apresentar/criar uma linha teológica, mas aprofundar a teologia dentro da comunidade, da Igreja, em comunhão com o testemunho dos santos, uma teologia de joelhos.

"A verdadeira grandeza de homem reside na sua humildade". É uma caracterização que lhe assenta bem. Numa das catequeses, ao apresentar a figura do Papa Gregório Magno, quase poderia falar de si mesmo, lembrando como o monge que se tornou Papa "procurou de todos os modos evitar aquela nomeação; mas, no fim, teve de render-se e, tendo deixado pesarosamente o claustro, dedicou-se à comunidade, consciente de cumprir um dever e de ser simples 'servo dos servos de Deus'".

"Todas as pessoas que de algum modo se encontraram com Joseph-Bento, «ao vivo», puderam constatar a doçura deste homem simples e dialogante, sem traços de altivez nem de afetação... ele é o primeiro a movimentar-se e ir ao encontro dos outros, pondo-se ao seu nível, delicadamente".

Um dos aspetos relevantes do autor - tendo em conta os 24 anos de Joseph na Congregação responsável por ajudar o Papa e a Igreja a manter-se fiel a Jesus Cristo e ao Evangelho, ao nível dos princípios e das palavras em cada tempo -, o dogma! O dogma é o que nos liberta e nos ajuda a viver em dinâmica de amor. «Se na Igreja existem os dogmas, é para que ninguém se engane sobre o amor. Eles expõem-se à acusação de ideologia: na realidade, têm por efeito impedir que o amor seja transformado em ideologia».

 

BENTO XVI: «Deus não nos deixa tatear na escuridão. Mostrou-se como homem. Ele é tão grande que pode permitir-se tornar-se pequeníssimo».

23.02.12

54. Humildade : Frontalidade : Sinceridade : Transparência : Caridade

mpgpadre
Humildade :: Frontalidade :: Sinceridade :: Transparência :: CARIDADE

 

"Agora permanecem estas três coisas: a fé, a esperança e a caridade; mas a maior de todas é a caridade" ( 1 Cor 13, 4-13).

 

São palavras e atitudes muito próximas. Podem ser equivalentes, em muitas situações ou consequência umas das outras. A humildade implica a sinceridade e a caridade. A Caridade, por sua vez, enquadra e promove a humildade, a transparência, a sinceridade e a frontalidade (bem entendida). A frontalidade revestida da caridade torna-se uma fonte de aproximação, de diálogo e de edificação mútua.

No entanto, para o cristão o ponto de partida, o ponto de chegada, e o sustentáculo é a CARIDADE. Sem a caridade, o amor gratuito e oblativo ao jeito de Jesus, Aquele que nos dá a Sua vida, as outras virtudes ficam como um esqueleto ressequido, sem carne, sem músculos, sem vida.

 

Há dias, num jantar com colegas padres, ouvi a um - que foi meu professor há alguns anos, e portanto com mais experiência de vida e com outra maturidade de fé (ainda que não tenha tanto a ver com idades mas com cada pessoa, e com os diversos momentos por que passa a sua vida) - uma expressão muito significativa e que hoje nos traz aqui.

Algumas pessoas com a desculpa que são sinceras magoam, ofendem agridem - "não quero saber, eu tenho que ser sincero, quem quer ouvir que ouça, quem não quer não ouça, mas tenho que dizer o que penso", os outros que vão às favas, pouco me importa que gostem ou não. Eu sou assim.

Certamente não é nada que não tenhamos ouvido.

Do mesmo modo acerca da frontalidade. São duas "atitudes" próximas mas não se confundem. Deveria resultar uma da outra.

"O que tiver a dizer digo, seja diante de quem for. Eu cá sou frontal. Não tenho nada a esconder. Custe a quem custar. Eu sou assim. Podem ficar chateados que eu não me importo. Para mim a frontalidade é mais importante".

Será mesmo assim?

Por experiência própria, tenho para mim que tudo o que se absolutiza e se generaliza corre o risco de se tornar contraproducente e "cair" sobre o próprio.

Também aqui não é branco ou preto, pode-se estar a caminho...

Há, sem dúvida, pessoas, que são frontais, que não se escondem em desculpas, que cumprem com o que está ao seu alcance para tornarem o mundo mais saudável...

 

Ou então existem diferentes tipos de frontalidade ou maneiras distintas de a interpretar:

– sou frontal, o que tenho de dizer digo... mas nunca à frente/ na fronte, sempre por interpostas pessoas, e elas se quiserem dizer ao próprio que digam! Há muitas pessoas assim frontais... dizem aqui e além, mas nunca a quem dirigem a sua irritação;

– sou frontal, digo o que me dá na real gana, seja a quem for, seja o que for, não interessa, eu sou assim, quanto aos outros não me interessa o que pensam, ou como reagem;

– sou frontal, traduzindo: sou melhor que toda a gente. As minhas ideias são as melhores do mundo. Os outros ou aceitam ou recusam, mas eu não mudo de opinião. A minha opinião é que conta. Se os outros não aceitam mudar de opinião, são ditadores, orgulhosos. Traduzindo: isto é o contrário do diálogo. O diálogo promove a discussão mas com abertura, estou na disponibilidade de mudar de opinião ou de completar a opinião que tenho, ou pelo menos fazer o esforço por compreender o que o outro tem para me dizer;

– sou frontal, gostem ou não, eu cá sou assim, digo o que penso, digo-lhes para seu próprio bem. Traduzindo: é uma opinião pessoal, mas será uma convicção profunda, já testei na minha vida (contando com a minha imperfeição)? Pediram-me o conselho, ou será que precisam mesmo do meu conselho? Imponho(-me) ou proponho? Estou certo e os outros errados? Não estaremos os dois certos, ou até os dois errados?

 

Pessoas frontais que são sinceras.

Pessoas frontais que destilam ódio, irritação e sobranceria sobre os outros.

Pessoas frontais que usam a mentira, meias-verdades, opiniões duvidosas para ofender, para agredir... sob a capa da frontalidade.

 

Jesus convida a reconhecer os nossos erros e imperfeições, a sabermos acolher o perdão de Deus e a termos a humildade suficiente para perdoar a quem nos ofende. A denúncia é inabalável contra a falsidade, a mentira e a hipocrisia, contra as pessoas fingidas, incoerentes – exigem aos outros o que não fazem. A frontalidade de Jesus leva-O a confrontar as pessoas com a dignidade de filhos de Deus.

A nossa humildade há de dar-nos a coragem para nos reconhecermos também pelas nossas insuficiências, e frontalidade de nos sabermos a caminho.

 

NBA minha fronte/frente não é igual à fronte/frente do outro.

Sou frontal porque estou defronte/de frente/diante de/à frente, face a face com a outra pessoa. É um sentido mais físico mas é também espiritual. Estou à frente da pessoa, sou frontal, quando olho para ela como pessoa, com sentimentos e opiniões próprias, com a sua história de vida, com os seus dramas e com as suas conquistas. Não estou à frente de uma parede. Se eu estiver à frente de um muro, a minha frontalidade só me implica a mim. Se estou perante outra pessoa, implica-me a mim e a ela. Portanto, não descarrego apenas a minha opinião, ou a minha irritação, mas dialogo, falo e escuto, aconselho e deixo que ela me aconselhe, cedo e ela cede também (se se tratar disso), explico o meu ponto de vista e deixo que a outra pessoa rebata ou apresente o seu ponto de vista.

E se é de frente, não é nas costas, não é na ausência da pessoa que se contesta.

 

NB 2 – Um ponto de vista é sempre a vista de um ponto.

 

NB 3 – A frontalidade, a sinceridade, a transparência e a humildade deverão ser revestidas de caridade. Sem caridade são como o esqueleto sem carne, sem músculos, sem vida. Surtem efeito, mas em sentido malévolo, vazio, contraproducente. Se a nossa frontalidade é dirigida a pessoas específicas tratemo-las como pessoas concretas, e se for necessário façamos uma abordagem que respeite o tempo e as características da pessoa que temos de fronte...

 

NB 4 – mais uma reflexão em aberto…

30.01.12

30. Opção permanente pela verdade.

mpgpadre

Opção permanente pela verdade.
Verdade e verdades. A VERDADE e a minha, a tua, a dele, verdade, aproximação à verdade, ou uma parcela de verdade.

Leia-se a opção pela verdade como a procura pela coerência de vida.
Numa busca sincera, a limitação e a fragilidade podem impedir-nos momentaneamente de viver com decisão a verdade.

O Papa Bento XVI no Seu lema episcopal e papa tem a VERDADE como referencial: Cooperador da Verdade.
Cooperar para que a VERDADE de Deus, de Jesus Cristo possa inundar toda a terra com a sua força redentora.

Numa qualquer discussão, e quando vemos que os nossos argumentos falharam, lá vamos dizemos, eu fico com a minha verdade, tu ficas com a tua.

Há quem nos recorde que um ponto de vista é sempre a vista de um ponto. Ou num outro contexto: a história (registada), a tradição é sempre uma traição, pois toda a história leva a interpretação de quem conta (e quem conta um conto, por mais sério que seja, acrescenta um ponto), a tradução ou a reprodução de um texto pode levar a pequenas nuances que alteram "alguma coisa" mesmo mantendo o essencial.

Desde já podemos concluir que estas certezas (verdades) devem provocar tolerância nas discussões e em alturas que sabemos ter certeza, mas não conseguimos "convencer"/esclarecer o outro. Talvez o outro tenha um ponto de vista diferente. Se nos passássemos para o outro lado e o outro viesse para o nosso talvez nos aproximássemos na compreensão mútua. Mas não é fácil. É mais difícil quando tentamos competir com o outro pela verdade, ou quando a irritação já tomou conta do nosso discernimento.
Também aqui o convite ao distanciamento e ao exercício da tolerância.

Para nós crentes (mas creio que também para não crentes ou descrentes) há verdades que são essenciais, são referência, são o nosso norte e guia, a nossa orientação. Verdades que nos alimentam e abrem a nossa vida ao Infinito.
Deus como Verdade primeira e última. O Amor de Deus para connosco. O amor que nos liga uns aos outros. A vida e a morte. A ressurreição e a eternidade. A santidade que Jesus traz à humanidade que que se espalha nos homens e mulheres de todos os tempos.
Neste concreto diríamos, que há a VERDADE que é incontornável para nós, o próprio Deus. Não é discutível. Ainda que percebamos que num tempo em que tudo se discute poderá parecer arrogância. Mas, repetimos, até os mais libertinos têm referências intocáveis...

A nossa origem é a VERDADE. Jesus Cristo é a Palavra que Se faz carne = é a Verdade que Se faz Pessoa. A Verdade chegou até nós. Como seguidores Seus, havemos de ser para este tempo Sua transparência, procurando que sobressaiam em nós, nas palavras e nos gestos, os vários aspetos da VERDADE e que a próprio Verdade, Jesus Cristo, estando em nós, transparecer através de nós.

Nesta lógica, a nossa linguagem, para ser a de Jesus Cristo, há de chegar a ser "sim, sim", "não, não". Apostemos na clareza. Sejamos sinceros, connosco e com os outros, com a vida, como se estivéssemos diante de Deus, como a transparência do cristal. Obviamente, que no nosso dia-a-dia poderemos ter que dizer "talvez", "vou ver", vou "pensar melhor", mas com a preocupação de que o sim e/ou o não sejam autênticos, pensados, não precipitados, ou porque a nossa limitação humana nos faz hesitar/duvidar. Mas a preocupação fundamental - na relação com os outros, pessoal, familiar, profissional, socialmente - é optar pela verdade, mesmo que algumas situações se tornem dolorosas em consequência da verdade proferida e professada (com consciência e responsabilidade).
Optar pela verdade mesmo que saiamos prejudicados. A verdade liberta-nos, engrandece-nos, coloca-nos mais perto de Deus e aproxima-nos da humanidade.
Não adie um "não" só porque poderá perder um amigo. Se com a verdade perder um amigo, não lamente, pois não era amigo de verdade.
Atenção: nem tudo é branco ou preto.
Não adie um "sim", só porque lhe pode trazer mais trabalho, acrescentando um compromisso, pois só o amor nos redime.

21.12.11

Abrir-se ao DOM

mpgpadre

Recuperar a verdade do Natal é abrir-se ao dom, deixar que Cristo se forme em nós

        Acende-se, neste tempo, a nostalgia nos nossos corações. E quando escrevo "nossos", estou a pensar em quantos ainda viveram um Natal religioso, familiar e feliz; afinal os que conheceram outra realidade diferente desta pressa anónima, irrefletida e comercial que hoje nos afoga.

       Nostálgicos, exclamamos que "já não é como dantes". Estranhamente, porém, resignamo-nos, qual pedaço de esferovite perdido na corrente: apesar de flutuar, está decididamente rendido a uma força estranha!

       Foi já há mais de uma dezena e meia de anos que me confrontei com um grito de alarme numa revista espanhola: "Roubaram-nos o Natal". Mas aonde nos levou esta constatação? Que reação provocou, para além do estranho sentimento de perda? Às indefinições que vivemos…

       Sempre tive grande dificuldade em lidar com a resignação, mesmo quando ma apresentavam vestida de suposta virtude. Realmente, tenho medo de cobardias dóceis ou cómodas abdicações.

       É por isso mesmo que defendo uma urgência: recuperar a verdade do Natal - lavando-a de todas contaminações e "distrações", para usar a ideia expressa pelo Papa Bento XVI no Angelus do passado domingo.

       Se o fizermos, torna-se natural o anúncio e a partilha da impensável notícia: "Deus amou tanto o mundo, que lhe deu o seu Filho unigénito".

       Reconheça-se que muitos cristãos assim procedem, trabalhando para que os sinais do Amor não desapareçam das casas, das ruas e, sobretudo, dos gestos. Deparamo-nos, por isso, com exposições, presépios, estandartes às janelas e campanhas que levam ao encontro do outro - que é sempre o lugar de encontro com Deus. Mas são demasiados os embrulhados numa mera generosidade de coisas; ou em atitudes simplesmente protocolares, vividas com o desencanto de quem eterniza indiferenças, ainda que escritas sob o manto de "cordiais saudações"!..

       Recuperar a verdade do Natal é abrir-se ao dom, deixar que Cristo se forme em nós. Sem medo, pois que quanto mais fugirmos de Deus, mais nos desumanizamos.

 

João Aguiar Campos, Editorial da Agência Ecclesia.

27.10.11

Bento XVI no encontro de Assis, contra a violência...

mpgpadre

       Com o lema: Peregrinos da Verdade, Peregrinos da Paz, líderes e fieis das religiões reuniram-se pela paz, em Assis, comemorando os 25 anos desde o primeiro encontro, convocado então pelo Papa João Paulo II. Veja o desenvolvimento da notícia.         Pode ler as palavras proferidas pelo Papa Bento XVI, clicando sobre o sublinhado: Peregrinos da Verdade, Peregrinos da Paz.

25.09.11

O mundo não precisa de mestres, mas de testemunhas

mpgpadre

       1 – Coerência de vida.

        É, ou deveria ser, o objetivo de todas as pessoas.

       Por maioria de razão, há de ser uma motivação e um desafio de todo o cristão, para desse modo imitar o seu Mestre e Senhor, Jesus Cristo, reconhecido Alguém que ensina com autoridade. A autoridade dos ensinamentos de Jesus é contraposta à autoridade dos fariseus e dos doutores da lei, em geral, que são considerados (pelo próprio Jesus) hipócritas, pois exigem e não cumprem, defendem preceitos para os outros mas sem intenções de fazer o mais pequeno esforço para também cumprir. Ao olharmos para o nosso tempo vemos como a coerência de vida é cada vez mais urgente em todos os sectores da vida, social, cultural, desportiva, religiosa, política. E como a falta dessa coerência leva à desmobilização, à indiferença, ao conflito, à descredibilização de pessoas e instituições. Certamente não é alheia à incoerência a crise económico-financeira que atravessa o velho continente.

        O Papa Paulo VI referia que um dos pecados maiores do nosso tempo era a falta de consciência do pecado e o divórcio entre a Igreja e a sociedade, entre a fé e a vida, entre o Evangelho e a cultura. A fé e a militância religiosa não marcam o compromisso dos cristãos nos sectores da vida social em que estão presentes. E desse modo, se alarga também aos cristãos a hipocrisia e o cinismo. O nome não corresponde à vida que se leva (que se vive).

       Por outro lado, o Papa João Paulo II, usava muitas vezes as palavras do Seu Predecessor Paulo VI - “O mundo não precisa de mestres, mas de testemunhas”, uma vez que "as palavras movem, mas o exemplo arrasta", sublinhando a importância de os Mestres também serem testemunhas da fé.

       Do mesmo modo, Bento XVI, propondo a sabedoria e o testemunho dos santos, como pessoas que procuraram a fidelidade à Palavra de Deus no compromisso com os outros na caridade, acentua a coerência dos cristãos no quotidiano e no mundo em que se inserem.

 

       2 – Com outra parábola relacionada com a vinha, Jesus recorda-nos que "não basta dizer 'Senhor, Senhor', para entrar no Reino dos Céus", mas importa fazer a vontade de Seu Pai que está nos Céus. A proclamação da fé concretiza-se na vivência concreta dos mandamentos, na realização da vontade de Deus, procurando viver de acordo com os Seus ensinamentos. A pergunta de Jesus é de sempre: porque Me chamais Senhor e não realizais o que vos mando?

       «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?» Eles responderam-Lhe: «O primeiro». 

       Quantas vezes nos ficamos pelas intenções! Quantas vezes já nos aconteceu o que Jesus nos apresenta com esta parábola?! Pessoas que na nossa presença se desfaziam em simpatia, respondendo sempre com amabilidade, com a disposição de cumprirem/realizarem o combinado, com alegria e generosidade, mas mal saíram de ao pé de nós, logo alteraram a opinião que tinham sobre nós e a boa vontade demonstrada. Outras pessoas que quando se lhes pede algo colocam sempre condições várias, porque não podem, porque não sabem, porque é muito difícil, não têm jeito ou não têm tempo, e quando vamos a dar conta já cumpriram!

       Ou também, as pessoas que nos contestam, olhos nos olhos, com uma frontalidade que nos desarma, mas estão sempre prontos para nos defender diante dos outros! O ideal é que às nossas palavras correspondesse a nossa vida, que a nossa fé se transformasse em caridade, justiça, solidariedade, em conciliação. Lembremo-nos sempre: não bastam bons propósitos, é preciso realizá-los ou pelo menos tentar.

 

       3 – Se se nos afigura tão difícil a coerência de vida, peçamos ao Senhor a fortaleza do Seu Espírito, e o discernimento, para que nas mais variadas situações possamos agir com criatividade, com generosidade, com a alegria, promovendo o bem, a paz, a concórdia.

       Se nos afastarmos do Senhor, tenhamos presente a recomendação do profeta: "Quando o justo se afastar da justiça, praticar o mal o vier a morrer, morrerá por causa do mal cometido. Quando o pecador se afastar do mal que tiver realizado, praticar o direito e a justiça, salvará a sua vida". E com o salmista supliquemos: "Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos, ensinai-me as vossas veredas. Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me, porque Vós sois Deus, meu Salvador: em vós espero sempre".

       A santidade não é um estado permanente, ainda que haja muitas pessoas que vivam e testemunhem uma grande e intensa intimidade com Deus, respirando e transpirando paz, alegria, humildade, generosidade. As palavras que proferem revelam uma maturidade que os e nos transcende, apaziguadores, promotores da nossa satisfação e felicidade. Vivem como se em cada pessoa encontrassem Deus.

       A santidade é um caminho para a maioria de nós, ou para todos nós, ainda que haja alguns muito mais perto. Somos limitados e imperfeitos até à eternidade. Mesmo quando a eternidade é experienciada no tempo e na história, ainda não é infinita e definitiva. Podemos sempre vacilar ou até recuar no caminho. O importante, porém, é fazermo-nos à estrada, tornarmo-nos peregrinos da perfeição de Deus.

 

       4 – No caminho da santificação não estamos sós. Deus acompanha-nos e acompanham-nos todos os que projetam a sua vida para Deus, para a eternidade, para o Infinito. Enquanto caminhamos, muitas pessoas fortalecem as nossas convicções e/ou nos desafiam a ser mais, a ser melhores.

       São Paulo, dá-nos mais uma lição importante como enfrentar as dificuldades e como vivermos como família, para nos sentirmos mutuamente fortalecidos. Diz-nos, nesta sua epístola aos Filipenses, "Se há em Cristo alguma consolação, algum conforto na caridade, se existe alguma consolação nos dons do Espírito Santo, alguns sentimentos de ternura e misericórdia, então, completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração".

       Vale a pena continuar a escutar e mastigar as palavras do Apóstolos:

       "Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus".

       Não se trata de uma opção ou de um capricho, trata-se de imitar Jesus Cristo, nosso Mestre e Senhor: "Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte, e morte de cruz. Por isso, Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes, para que ao nome de Jesus todos se ajoelhem, no céu, na terra e nos abismos, e toda a língua proclame que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai".


Textos para a Eucaristia (ano A): Ez 18,25-28 ; Sl 24 (25); Filip 2,1-11; Mt 21,28-32.

05.08.11

Ele está agora junto de nós!

mpgpadre

       "Na súplica cristã pelo regresso de Jesus está sempre contida também a experiência da sua presença. Esta súplica nunca aparece referida apenas ao futuro. Aqui se aplica precisamente aquilo que disse o Ressuscitado: «Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20). Ele está agora junto de nós, de forma particularmente densa na presença eucarística. Mas, em sentido inverso, a experiência da presença traz consigo também a tensão para o futuro, para a presença definitivamente realizada: a presença não é completa, impele para além de si mesmo, põe-nos a caminho do definitivo.

 

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp 234.

05.08.11

O regresso de Cristo: enxugará todas as lágrimas

mpgpadre

  

     "A fé no regresso de Cristo é o segundo pilar da profissão de fé cristã. Ele, que Se fez carne e agora permanece Homem para sempre, que para sempre inaugurou em Deus a esfera do ser humano, chama todo o mundo a entrar nos braços aberto de Deus para que, no fim, Deus Se torne tudo em todos e o Filho possa entregar ao Pai o mundo inteiro congregado n'Ele (cf. 1 Cor 15, 20-28). Isto implica a certeza na esperança de que Deus enxugará todas as lágrimas, não ficará nada que seja sem sentido, toda a injustiça será superada e será estabelecida a justiça. A vitória do amor será a última palavra da história do mundo.

       Durante o «tempo intermédio», requer-se dos cristãos, como atitude fundamental, a vigilância. Esta significa que o homem não se feche no momento presente entregando-se às coisas sensíveis, mas erga o seu olhar para além do momentâneo e da sua urgência. O que conta é manter livre a visão sobre Deus, para d'Ele receber o critério e a capacidade de agir de modo justo".

 

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp 232.

03.08.11

Ressurreição: Cristo na vastidão de Deus

mpgpadre

       "A ressurreição de Jesus foi a evasão para um género de vida totalmente novo, para uma vida já não sujeita à lei do morrer e do transformar-se, mas situado além disso - uma vida que inaugurou uma nova dimensão de ser homem. Por isso, a ressurreição de Jesus não é um acontecimento singular que possamos menosprezar e que pertença apenas ao passado, mas sim uma espécie de «mutação decisiva» (...), um salto de qualidade. Na ressurreição de Jesus, foi alcançada uma nova possibilidade de ser homem, uma possibilidade que interessa a todos e abre um futuro, um novo género de futuro para todos os homens...

       A ressurreição de Cristo ou é um acontecimento universal, ou não existe, diz-nos São Paulo. E somente se a entendermos como acontecimento universal, como inauguração de uma nova dimensão da existência humana, é que estaremos no caminho de uma interpretação justa do testemunho sobre a ressurreição presente no Novo Testamento...

 

Ele saiu para uma vida diversa, nova: saiu para a vastidão de Deus e é a partir dela que Se manifesta aos seus...

 

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  pp 199-200.

02.08.11

Ecce Homo - Eis o Homem!

mpgpadre

       "N'Ele se manifesta a miséria de todos os prejudicados e arruinados. Na sua miséria, reflecte-se a desumanidade do poder humano, que assim esmaga o impotente. N'Ele se reflecte aquilo que chamamos «pecado»: aquilo em que se torna o homem quando vira as costas a Deus e, autonomamente, toma nas suas mãos o governo do mundo...

       N'Ele continua presente o Deus escondido. Também o homem açoitado e humilhado permanece imagem de Deus. Desde que Jesus Se deixou açoitar, são precisamente os feridos e os açoitados a imagem de Deus, que quis sofrer por nós. Assim, Jesus, no meio da Sua Paixão, é imagem de esperança: Deus está do lado dos que sofrem".

 

Joseph Ratzinger/Bento XVI, Jesus de Nazaré,  p 164.

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