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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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17.02.24

O mais relevante não é o dilúvio, mas a ALIANÇA de Deus

mpgpadre

       1 – O povo da Bíblia, o povo judeu, pouco a pouco vai tomando consciência que Deus quer a felicidade e a salvação das pessoas e dos povos. Enquanto as civilizações vizinhas arranjam um deus por cada situação que não conseguem explicar, os judeus "percebem" que há um só Deus, que é criador, e que cria por amor. Logo, por amor não vai querer destruir a obra criada nem exigir sacrifícios que exijam a morte dos seus filhos.

       A descoberta que Deus é UM e é um Deus Pessoal que Se preocupa com a humanidade, e que Se ocupa daqueles que se desviam do Seu caminho, dando sinais e enviando mensageiros, dá aos judeus a garantia e a segurança que podem confiar n'Ele em todas as circunstâncias, concluindo que o mal existente resulta do pecado, do egoísmo e da inveja, ou das próprias leis da natureza. Há momentos duros que não entendem. Ainda assim, confiam que Deus não os abandona. Pedem que Deus volte, ou melhor, que os seus corações percebam a proximidade de Deus, como no salmo proposto para este domingo:

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,

ensinai-me as vossas veredas.

Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,

porque Vós sois Deus, meu Salvador.

 

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias

e das vossas graças que são eternas.

Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,

por causa da vossa bondade, Senhor.

 

O Senhor é bom e reto,

ensina o caminho aos pecadores.

Orienta os humildes na justiça

e dá-lhes a conhecer a sua aliança.

       O dilúvio é ocasião para o povo de Israel tomar consciência de Deus e da Sua Aliança a favor do Povo.

       Abraão, mais à frente, percebe e faz perceber ao seu povo que Deus não quis, não quer, a morte do seu filho. Nos povos vizinhos, o primeiro filho era oferecido aos deuses para aplacar a sua ira contra os filhos futuros e contra o povo ou o clã. Este é um grande avanço civilizacional: os filhos são uma bênção (de Deus), Deus não pode querer mal àqueles que cria e abençoa.

 

 

       2 – Na primeira leitura é evidente a distância da fé de Israel em relação aos povos daquela região e daquele momento da história. O dilúvio é entendido como castigo de Deus pelos pecados do povo. Durante alguns anos, e na discussão entre ciência e religião (bíblia), discutiu-se esta passagem, concluindo-se que era simbólica e nada tinha de correspondência histórica. Hoje aceita-se que terá havido dilúvio, com o degelo dos Pólos, e que deixou marcas nas pessoas. Não da forma como é descrito, nem nas proporções apresentadas, mas ainda assim marcante para os sobreviventes. E sabemos como as tradições passam de geração em geração e como a cada ponto, outro ponto se acrescenta. O texto remete para um tempo muito longínquo, conhecido pelas narrações orais. Também aqui seria impensável qualquer texto jornalístico (e mesmo que o fosse não estaria isento da interpretação do jornalista e/ou historiador).

       Para os judeus, porém, o mais relevante não é o dilúvio, mas a ALIANÇA de Deus com o Seu povo. Da humanidade destruída, Deus resgata aqueles que pode para viverem tempos novos. O dilúvio destrói. Muito maior, porém, é a destruição que brota do coração e das mãos humanas. É aqui que a ALIANÇA de Deus com o Seu povo há de incidir.

       "Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra".

       O que devasta a terra, daquele e deste tempo, não são tanto os dilúvios e os desastres naturais, como o pecado dos homens e dos povos, crendo-se que hoje existem algumas "calamidades naturais" que poderiam ter sido evitadas, ou pelo menos minorar as suas consequências desastrosas.

       Exemplo disso, a poluição; a deposição de lixos tóxicos nas montanhas, nos rios, nos mares, nos Pólos; a desflorestação, que facilita as derrocadas, e estas, por sua vez, podem tornar-se um perigo para as habitações que se encontram no seu caminho; os incêndios, muitos deles na procura de transformar as florestas em terra de cultivo ou locais para habitação, ou simplesmente para obter madeira mais barata; a construção habitacional em zonas de risco elevado de ocorrerem sismos, tremores de terra, proximidade às placas tectónicas, zonas litorais com previsão de maremotos e tsunami (s); construções deficientes ao nível da segurança, para essas zonas de risco, numa tentativa de rentabilizar custos à custa de menosprezar os avisos, os estudos e as previsões de acidentes futuros.

       Acrescente-se a isso as calamidades provocadas, muito mais destruidoras: a guerra, os efeitos do comércio de droga e a toxicodependência, a fome, a escravização no trabalho, os maus tratos, os conflitos dentro das famílias e entre famílias, entre povos...

       A Aliança de Deus com a Humanidade parte do AMOR de Deus para nos redimir, para nos conduzir aos novos céus e nova terra de paz e harmonia, de aproximação e reconciliação, onde todos possam ver valorizados como filhos.

 

       3 – Em Jesus, Deus leva a Aliança à plenitude. N'Ele cumprem-se as promessas feitas a todo o povo, e do povo para a humanidade inteira. Com a Encarnação, Deus entra na história e no tempo, para rasgar novos horizontes de fraternidade e de vida nova. Juízes, reis e profetas, e muitas formas que Deus encontra para Se fazer presente. Na plenitude dos tempos envia o Seu próprio Filho.

       No Evangelho proposto para este primeiro Domingo da Quaresma, Marcos fala das tentações de Jesus, impelido ao deserto para rezar, e para que no despojamento de todas as comodidades materiais, Ele sinta mais suave e mais forte a presença de Deus Pai.

        "O Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

       A dureza do deserto é igual para todos. Também Jesus sente essa dureza, não apenas em vésperas de iniciar a vida pública, mas ao longo de toda a jornada. Muitas serão as situações em que era mais fácil e apetecível seguir um caminho mais leve, mais breve, mais confortável, mais espetacular, mais evidente. Jesus resiste. Aquele que perseverar será salvo. Trilha o caminho da humanidade, em tudo, nas festas e na alegria, na secura e na fragilidade, no sofrimento e na morte, em família e na sinagoga, no campo e na cidade, procurando em tudo ser a transparência de Deus Amor.

       "Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água".

       Com a paixão redentora de Jesus, Ele conduz-nos a Deus. A aliança chega ao seu termo, à sua plenitude. E é, neste concreto, NOVA ALIANÇA, fundada no sangue e no corpo de Jesus, selada na Ressurreição de entre os mortos.


Textos para a Eucaristia (ano B): Gn 9,8-15; Sl 24 (25); 1 Pe 3,18-22; Mc 1,12-15.

09.03.19

Nem só de pão vive o homem...

mpgpadre

1 – "Normalmente, nas horas mais dolorosas da nossa vida, zangamo-nos com Deus, porque imaginamos que Ele está longe ou, pelo menos, é indiferente à nossa dor. É difícil crer em Deus quando se está pregado numa cruz, atormentado pela dor e a carne a desgarrar-se" (Ariel Álvarez Valdés). O teólogo argentino contextualiza-nos no momento da crucifixão, mas estas palavras podem ser ilustrativas das tentações que nos afetam e da opção fundamental de Jesus por Deus, ajudando-nos a confiar, a colocar-nos nas mãos de Deus.

Desde o início da Sua vida há um denominador comum: Jesus é conduzido pelo Espírito Santo. No Batismo, o Espírito de Deus desce sobre Ele, em forma de pomba; durante os quarenta dias que permanece no deserto, Jesus é conduzido pelo Espírito. Acima das tentações, o que sobressai é a presença do Espírito Santo que O conduz. Em todo o tempo. Também nas tentações.

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2 – No 1.º Domingo da Quaresma são-nos apresentadas as tentações de Jesus, colocadas no início da Sua vida pública. No Batismo Jesus é manifestado como o Filho Amado de Deus. Chegou a hora de passar do anonimato para a vida pública, da vida em família para uma vida exposta, anunciando a Boa Nova da salvação.

Como em outras ocasiões decisivas, Jesus faz deserto, Jesus faz quaresma, prepara-Se para a Páscoa. Esta primeira quaresma dura 40 dias. O deserto é um lugar inóspito, de dúvida e de morte, não há seguranças a que se agarrar! O deserto é também provação, avalia a nossa resiliência. Sem distrações, possibilita o encontro connosco, com os nossos medos e inseguranças. É um lugar de encontro de Deus, no mais fundo de nós. Nada nos ocupa mais, nada nos distrai, nada nos rouba tempo. Não nos falta a disponibilidade cronológica e com tanto tempo disponível haverá a oportunidade para orar, escutando Deus, para rezar, falando connosco, gritando, chorando sem ninguém para nos ouvir... ou melhor, como Jesus nos ensina, Deus Pai sempre nos escuta, também nos desertos da nossa vida.

Analogamente, poderíamos dizer que a vida toda, neste caso, de Jesus, é uma quaresma, na medida em que Se encaminha para o Pai, encaminhando-Se para a Páscoa. No deserto, carrega as baterias para os momentos adversos. Enraíza-se no Pai. É conduzido pelo Espírito Santo. Embora toda a vida possa ser oração, há momentos para "suspender" tudo para ser tudo, o tempo e a vida, o coração e os pensamentos, tudo para Deus, para que Deus seja tudo em nós.

 

3 – Não tendo comido durante esses dias, Jesus sentiu fome e surgiu a tentação: «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão...  Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos, porque me foram confiados e os dou a quem eu quiser. Se Te prostrares diante de mim, tudo será teu... Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’; e ainda: ‘Na palma das mãos te levarão, para que não tropeces em alguma pedra’».

Perante as dificuldades e contratempos? Baixar os braços, desistir, ou usar todos os meios, mesmo que imorais e injustos, para reverter as situações em benefício próprio? Impor-se pela corrupção, pela violência, pela chantagem, pelo engodo? Ou resistir, insistir, lutar, procurar meios e formas justas e honestas de responder às adversidades? Passar por cima dos outros ou procurar respostas e soluções em conjunto? Criar ilusões ou enfrentar a realidade?

As respostas de Jesus são elucidativas: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’... ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’... Não tentarás o Senhor teu Deus’».

Jesus recusa instrumentalizar Deus, usando o poder em benefício próprio. Recusa a espetacularidade e os caminhos fáceis, a imposição pelo milagre ou submeter-Se a poderes obscuros. Um dia far-Se-á Pão para todos! Gastará a Sua vida a nosso favor, respeitando a nossa liberdade e as nossas escolhas. Mostra-nos o caminho.

____________________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 26, 4-10; Sl 90 (91); Rom 10, 8-13; Lc 4, 1-13

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

13.02.16

Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto

mpgpadre

1 – A Quarta-feira de Cinzas dá início à Quaresma com o gesto significativo da imposição das cinzas, recordando-nos algo de essencial para continuarmos a ser humanos: a nossa ligação aos outros e a Deus. A cinza e a areia, a pequenez e o deserto. Tomar consciência dos nossos limites e dispomo-nos a acolher Deus nos outros.

Nesta semana acentuou-se a discussão à volta da eutanásia, ou melhor, da morte assistida. Depois da facilitação do aborto, sem controlo nem reflexão, mais um passo em ordem à raça ariana defendida por Hitler e pelo nazismo: eliminação de todos os seres humanos diminuídos – os não-nascidos, idosos, pessoas portadoras de deficiência, doentes... e de todos os que nos incomodem. Já se discute o "aborto" dos nascituros. Um casal de cientistas defende que um bebé ao nascer é igual a um feto de 12 ou de 24 semanas, ainda não decide por si mesmo, não tem direitos, logo os pais podem decidir se vive ou se morre. Mais algum tempo e decidir-se-á sobre qualquer pessoa que não tenha pleno uso da razão!

Salvaguarde-se o acolhimento de todos os que viveram situações traumáticas e, que muitas vezes, não encontraram quem ajudasse positivamente. No Jubileu da Misericórdia o Papa Francisco concedeu a todos os sacerdotes a faculdade de absolver as pessoas envolvidas no aborto, para que todos beneficiem da Misericórdia de Deus.

A Quaresma aviva a consciência sobre a nossa indigência. Somos vasos de barro nos quais Deus coloca a abundância e da Sua misericórdia. Cabe-nos cuidar uns dos outros, reconhecendo-nos promotores da vida e não causadores de morte, de abandono, de indiferença.

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2 – Jesus, guiado pelo Espírito Santo, vai para o deserto e leva-nos com Ele, para fazermos a experiência do despojamento, da humildade, capacitando-nos para as situações mais adversas. A Sua opção é inequívoca. Deixa-Se conduzir pelo Espírito, para que n'Ele sobrevenha a vontade do Pai, mesmo quando as tentações se querem sobrepor à Sua missão. Quarenta dias alimentando-Se de outro pão…

O deserto fala-nos do essencial, pondo em evidência as nossas fraquezas e libertando-nos do acessório. Com o avançar dos dias começam as dúvidas e as alucinações! Quando estamos mais frágeis, tudo nos passa pela cabeça!

Vem o Diabo com um caminho alternativo do poder, da facilidade e da indiferença, sem tocar o humano, caminho do milagre e do espetáculo impondo-nos a Sua divindade, caminho de egoísmo, utilizando o poder em benefício próprio, excluindo todo o esforço:

A) «Se és Filho de Deus, manda a esta pedra que se transforme em pão»; B) «Eu Te darei todo este poder e a glória destes reinos… se Te prostrares diante de mim»; C) «Se és Filho de Deus, atira-Te daqui abaixo, porque está escrito: ‘Ele dará ordens aos seus Anjos a teu respeito, para que Te guardem’».

As respostas de Jesus são concludentes:

A) «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem’»; B) «Está escrito: ‘Ao Senhor teu Deus adorarás, só a Ele prestarás culto’»; C) «Está mandado: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’».

Seguindo o Caminho de Jesus, decalcando a Sua postura e a Sua intimidade com o Pai, ser-nos-á possível vencer as tentações.

 

3 – A vida é-nos dada por Deus para vivermos dando luta, sem desistir, por maiores que sejam as adversidades.

A vida de Jesus será uma oferenda permanente. Oferecer-Se-á por nós, esgotando-Se. Não usará o poder em benefício próprio. A tentação da cruz – salva-te a ti e a nós também – será superada pela entrega – Pai, perdoa-lhes. Fácil seria transformar as pedras em pão. Mas não seria humano. Humano é trabalhar com honestidade pelo pão de cada dia. Quando necessário Jesus há de transformar a água em vinho de qualidade que sacia a nossa sede e nos permite continuar a festa da vida; multiplicará os pães e converter-nos-á em pessoas solidárias, para que não falte o alimente a ninguém. "Tive fome e deste-me de comer". A fé traduz-se nas obras de misericórdia.

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Textos para a Eucaristia (ano C): Deut 26, 4-10; Sl 90 (91); Rom 10, 8-13; Lc 4, 1-13.

 

REFLEXÃO DOMINCIAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

08.03.14

Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto

mpgpadre

       1 – Jesus fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza (cf. 2 Cor 8,9). O Papa Francisco, na Sua mensagem para a Quaresma, partiu deste contexto paulino, acentuando que Deus Se manifesta, não pelo poder, pelo luxo, pelo espetacular, mas Se comunica pelo amor, pela Cruz, pelo despojamento. A Encarnação de Deus, Jesus Cristo feito Homem, dá-nos esta certeza de que Deus nos assume por inteiro, na nossa humana fragilidade e finitude, por amor.

       Outro belíssimo texto é o da Carta de São Paulo aos Filipenses, que recolhe um hino sobre o abaixamento de Cristo, que sendo de condição divina não se vale de Sua igualdade com Deus, mas identifica-Se com o ser humano (cf. Fil 2, 6-11). Sendo inocente, faz-Se pecado, faz-Se homem (cf. 2 Cor 5, 21), assumindo-nos, salvando-nos, levando-nos aos ombros, como o Bom Pastor, carrega-nos e por nós e para nossa salvação carrega a CRUZ.

       Neste primeiro domingo da QUARESMA, caminho aberto por Jesus para a eternidade de Deus, são-nos apresentadas as TENTAÇÕES do Mestre da Vida. De novo se visualiza o abaixamento (Kénose) de Jesus. Identifica-se connosco. Experimenta a dúvida, o cansaço da caminhada, o silêncio de Deus no meio das dificuldades. Chegam-nos aos ouvidos e ao coração aquelas palavras da Cruz: «Meu Deus, meu Deus, porque me abandonaste?»

       A tentação do poder, do sucesso fácil, de um caminho macio. A tentação de usar o poder e a missão em benefício próprio. A tentação de usar Deus e a religião para escravizar os outros, libertando-se solitariamente… Quarenta dias ou o tempo necessário para purificar ideias, para canalizar energias, para assumir que só Deus é Deus e só Ele há de ser servido e adorado, para que n’Ele nos predisponhamos a servir os irmãos.

       2 – As tentações clarificam a proximidade de Jesus à nossa condição humana. Também Ele é provado na adversidade. Quantas vezes, no meio dos nossos desertos, interiores e exteriores, nos apetece gritar por Deus? Quantas vezes ficamos sem lágrimas e sem voz, sem palavras e sem forças? Quantas vezes quereríamos que Deus fosse a nossa testemunha contra aqueles que nos fazem mal?

       Mas fixemo-nos no Evangelho:

Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto... Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome. O tentador aproximou-se e disse-lhe: «Se és Filho de Deus, diz a estas pedras que se transformem em pães». Jesus respondeu-lhe: «Está escrito: ‘Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus’». Então o Diabo conduziu-O à cidade santa, levou-O ao pináculo do templo e disse-Lhe: «Se és Filho de Deus, lança-Te daqui abaixo, pois está escrito: ‘Deus mandará aos seus Anjos que te recebam nas suas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’». Respondeu-lhe Jesus: «Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus’». De novo o Diabo O levou consigo a um monte muito alto, mostrou-Lhe todos os reinos do mundo e a sua glória, e disse-Lhe: «Tudo isto Te darei, se, prostrado, me adorares». Respondeu-lhe Jesus: «Vai-te, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto’».

       Num primeiro registo, as tentações não aparentam nada de mal, e no entanto, desde logo, Jesus mostra-nos uma evidente opção por Deus, por nós, a certeza que a Sua vida e a Sua missão não serão uma imposição pela força, pelo milagre. Ele vai caminhar connosco. Não corta caminho. Segue as dificuldades que se colocam à nossa vida. Não usará a missão em benefício próprio. «Só o pobre se faz pão» (Carlos Antunes). Na identificação connosco, Jesus não transforma as pedras em pão, mas oferecer-se-á, a Si mesmo, como Pão da vida, como alimento que nos sacia até à eternidade.

 

      

       3 - No aniversário dos Bombeiros Voluntários de Tabuaço, 3 de março, mas que ora se insere a comemoração nesta Eucaristia de ação dde graças, o exemplo de tantas pessoas que, em diferentes gerações e em circunstâncias variadas, souberam colocar a sua vontade, o seu talento e as suas energias, ao serviço desta vila e deste concelho, ou de outras terras deste nosso Portugal, protegendo bens e pessoas, em espírito de sacrífico de de generosidade. Nesta perspetiva, são luz para nos ajudarem a ultrapassar tantas tentações que podem vir pela frente, servir-se em vez de servir os outros. Jesus dá o mote: "Eu não vim para ser servido, mas para servir e dar a vida por muitos". O lema dos Bombeiros é precisamente "VIDA POR VIDA".

       Que cada um de nós, sigamos este referencial, na nossa vida pessoal, familiar, no nosso compromisso social, nas responsabilidades que assumimos, em tudo coloquemos a alegria de servir e dar a vida pelos outros.

 

       4 – Em jeito de resposta à Palavra de Deus, rezemos juntos, com os lábios e com o coração, o salmo proposto para este primeiro Domingo de Quaresma:

Compadecei-Vos de mim, ó Deus, pela vossa bondade,
pela vossa grande misericórdia,
apagai os meus pecados.
Lavai-me de toda a iniquidade
e purificai-me de todas as faltas.

Porque eu reconheço os meus pecados
e tenho sempre diante de mim as minhas culpas.
Pequei contra Vós, só contra Vós,
e fiz o mal diante dos vossos olhos.

Criai em mim, ó Deus, um coração puro
e fazei nascer dentro de mim um espírito firme.
Não queirais repelir-me da vossa presença
e não retireis de mim o vosso espírito de santidade.

Dai-me de novo a alegria da vossa salvação
e sustentai-me com espírito generoso.
Abri, Senhor, os meus lábios
e a minha boca cantará o vosso louvor.


Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 2, 7-9; 3, 1-7; Sl 50 (51); Rom 5, 12.17-19; Mt 4, 1-11.

 

13.03.11

A fama ilude-nos e logo nos castiga

mpgpadre

       1 – Iniciámos a Quaresma na Quarta-feira de Cinzas, com a imposição das Cinzas, em sinal de arrependimento, de conversão a Jesus Cristo e de mudança de vida, para que o nosso coração dividido na dúvida, na incerteza, nos amores e desamores, se torne um coração indiviso em Deus, para que em Deus nos descubramos e nos encontremos todos como irmãos.

        "És pó da terra e à terra hás-de voltar".

       Nesta expressão bíblica, a lembrança da nossa origem comum, que para nós cristãos é Deus, e do mesmo fim, a vida eterna, de retorno a Deus. No entretanto da nossa vida, devemos buscar caminhos de encontro para mais facilmente e com maior alegria e certeza chegarmos juntos do Senhor.

       Neste primeiro Domingo de Quaresma, a liturgia da Palavra recorda-nos a nossa condição frágil e, ao mesmo tempo, as dificuldades que podem atravessar-se no nosso peregrinar e, ainda, a ajuda que nos é dada por Deus através da Sua palavra inspirada.

       "Jesus foi conduzido pelo Espírito ao deserto, a fim de ser tentado pelo Diabo. Jejuou quarenta dias e quarenta noites e, por fim, teve fome". Jesus faz a mesma experiência de fragilidade e de limitação para nos ensinar o caminho da superação. Diante da tentação, Jesus responde: “Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus”... “Não tentarás o Senhor teu Deus”...  “Adorarás o Senhor teu Deus e só a Ele prestarás culto”.

       Deus é a única resposta para vencermos o mal e o egoísmo, pois só Deus nos faz ultrapassar as mágoas, o individualismo, abrindo o nosso coração à grandeza do perdão e da caridade, recentrando a nossa atenção aqui e agora mas orientada para o infinito, para o eterno de Deus.

 

       2 – O alimento de Jesus Cristo é fazer a vontade de Deus.

       É o Espírito que está no Seu baptismo, que O conduz também ao deserto, onde será tentado. É a presença permanente de Deus, do Seu Espírito, que O ajuda a superar a tentação. Deus é maior que a tentação. Jesus fixa-se n'Aquele que é definitivo, e não no imediato, no prazer, no poder, ou na fama.

       Na verdade, a vida não se revolve com passes de mágica. Também não se resolve com o poder. Por mais poder que tenhamos, há muitas coisas mais essenciais, a vida, a saúde, os amigos, o sentirmo-nos bem connosco e com a nossa consciência.

       A vida não se revolve com a fama. Destarte, os famosos seriam pessoas felizes; os que não a tivessem, pessoas infelizes. Por outro lado, a fama é diabólica, é efémera, ilude-nos mas logo nos castiga. O que nos faz felizes não é apenas o reconhecimento dos outros, mas o trabalho realizado com esmero, com dedicação, com vocação. O esforço e o sacrifício tornam-se fonte de alegria, de paz e de conforto. Não é o que os outros fazem por nós que nos transforma, que nos faz autenticamente felizes, mas o que conquistamos com persistência, com os talentos que Deus nos dá.

      As tentações de Jesus são também as nossas tentações.

       Como n’Ele, também nós, muitas vezes, queríamos a vida facilitada, resolvida, de mão beijada, em que tudo rolasse sobre carris, sem dificuldades, e em que tudo nos caísse do céu. Mas a vida não é assim. E ainda bem. Que sabor teria a nossa vida se pelo meio não houvesse nenhuma dificuldade que nos despertasse, que exigisse o melhor de nós mesmos, que nos obrigasse a descobrir (pela necessidade) o nosso talento?!

       A superação das tentações por Jesus, como nos lembra o Papa Bento XVI, na Sua Mensagem para esta Quaresma, abre "o nosso coração à esperança e guia-nos na vitória às seduções do mal".

 

       3 – Errar é humano. Esta expressão insinua precisamente a nossa condição errante. Aspirarmos à perfeição – sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito – diz-nos Jesus Cristo. Deve ser uma busca feita com verdade e com persistência. É o nosso ideal de vida. A nossa vocação à santidade. Mas sabemos o quanto estamos distantes dessa perfeição, nesta identidade divina.

       Na história da humanidade, tantas têm sido as histórias de infidelidade, de egoísmo, de violência, de conflito, de morte. O relato do livro de Génesis é disso exemplo. "Colheu o fruto da árvore e comeu; depois deu-o ao marido, que comeu juntamente com ela. Abriram-se então os seus olhos e compreenderam que estavam despidos. Por isso, entrelaçaram folhas de figueira e cingiram os rins com elas". Para os primeiros pais a tentação foi mais forte. Mas não deve provocar desânimo e desistência. Com Cristo, o nosso caminho é invertido para a generosidade e para o perdão, para a bênção e para a vida.

       Com efeito, diz-nos o Apóstolo, "Se a morte reinou pelo pecado de um só homem, com muito mais razão, aqueles que recebem com abundância a graça e o dom da justiça, reinarão na vida por meio de um só, Jesus Cristo. Porque, assim como pelo pecado de um só, veio para todos os homens a condenação, assim também, pela obra de justiça de um só, virá para todos a justificação que dá a vida. De facto, como pela desobediência de um só homem, todos se tornaram pecadores, assim também, pela obediência de um só, todos se tornarão justos".

        A salvação é uma certeza em gestação, que devemos viver e testemunhar para este nosso tempo.

 

_________________________

Textos para a Eucaristia (ano A): Gen 2, 7-9; 3, 1-7; Rom 5, 12-19; Mt 4, 1-11.

 

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