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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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17.11.23

Sugestão de Leitura - Jon Fosse - Prémio Nobel da Literatura

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Jon Fosse nasceu em 1959, em Strandebarm, na Noruega.

Escritor e dramaturgo reconhecido, estreou-se em 1983 com o romance Raudt, svart [Vermelho, preto]. Ao longo da sua carreira, recebeu inúmeros prémios literários, entre os quais o Prémio Internacional Ibsen, o Prémio Europeu de Literatura e o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico. A sua está traduzida em mais de cinquenta línguas e inclui romance, teatro, poesia, livros para crianças e ensaio.

É o Prémio Nobel da Literatura 2023 e foi escolhido «pelas suas peças e prosa inovadora».

Para quem gosta de ler, este é um escritor que, na minha opinião, é de leitura obrigatória. É certo que, desde que foi anunciado como vencedor o Prémio Nobel da Literatura, os seus livros triplicaram de preço, com novas capas para aí constar o respetivo prémio, até por questões de marketing. Em todo o caso, a escrita de Fosse é muito viva, agradável, escorreita, que envolve e nos faz querer ler até ao fim, com rapidez.

Poderíamos sugerir um ou outro título em concreto, como por exemplo, “trilogia” e “manhã e noite”. Como, por certo, muitas pessoas, após o anúncio da atribuição do Prémio, logo procurei saber mais sobre o autor, que desconhecia por inteiro, e adquirir uma ou outra obra para ler. Assim, optei pelos dois títulos referidos, que li quase devorando.

A trilogia é composta de três histórias, novelas, editadas ao longo dos anos, Vigília (2007), Os sonhos de Olav (2012) e Fadiga (2014), fundindo-se numa única história. É, segundo se anuncia, uma parábola com inspiração bíblica sobre amor, crime, castigo e redenção. Valeu-lhe o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico.

Os estudiosos poderão confirmar ou não, mas, a meu ver, há alguns pontos de contacto com José Saramago, com as devidas diferenças e características de cada um, a escrita é como que uma longa e viva conversa, em que não há pontos finais, havendo vírgulas ou espaços. O narrador mais que escritor é um contador de histórias, numa linguagem muito viva e direta, avançando progressivamente e recuperando frases, expressões, situações, como quando se está a falar e se repetem deixas ou argumentos. Um jovem e uma jovem que saem da sua terra e que na terra para onde vão ninguém lhes quer dar dormida, ela por estar grávida, os dois por não serem casados, predominando o preconceito. Pelo meio, crimes cometidos por Asle, que depois se torna Olav, que desembocará no seu enforcamento. A sua companheira, Alida, desconhecendo muito do que o seu amado fez, acaba na penúria, sendo resgatada na vida por uma antigo conhecido da sua terra natal. Na terceira novela, Ales, já velha, “vê” a mãe já velha também, que morreu alguns anos.

Em “manhã e noite”, Johannes é a personagem que atravessa toda a história. A primeira parte , narra o nascimento, os medos, a ansiedade, a expectativa, a chegada de um segundo filho. Se for rapaz o nome está escolhido. A parteira está ocupada em preparar o parto e trazer a criança ao mundo e o pai nervoso, com o que pode acontecer naquele quarto, quer os silêncios, quer os gritos, não lhe permitem qualquer tipo de sossego. Mas a hora do menino nascer chegou e, sendo rapaz, herda o nome do avô. A segunda parte narra o dia da morte de Johannes já velhinho, pai e avô, e viúvo, com a dúvida a instalar-se, se se levanta, como todos os dias faz, vai à cozinha, enrolar um e outro cigarro e fumar, beber o café da manhã e sair para dar o passeio a pé ou no seu barco de pescador. Todos os dias, o mesmo ritual, mas parece que hoje não sente dores. A filha mais nova vem visitá-lo quase todos os dias e liga-lhe muitas vezes, ela e o marido trabalho, e vivem perto, com o seu filho, neto de Johannes. Podia bater-lhe à porta, mas parece que é muito cedo, talvez esteja atrapalhada para ir trabalhar ou para deixar o menino na escola. Vai até à enseada e encontra Peter, o velho amigo, que morreu há alguns anos, mas apesar disso está ali, pronto para a pesca ou já regressado da pesca. Combinam encontrar-se em cada de Pete. Como sempre fizeram, vai lá cortar-lhe o cabelo. Assim fizeram durante muitos anos, cortavam o cabelo um ao outro, poupando umas coroas. Ficou combinado. Johannes regressa a casa, mas fica indeciso, se vai para casa ou vai já a casa de Johannes, que talvez ainda não tenha regressado, bate e ninguém atende, espera, mas ele não chega, volta a bater à porta, não vá ele não ter ouvido. Entretanto, preocupada, a filha, no final do dia vai ver do pai, que se cruza com ela e a chama, mas ela não o ouve e não se desvia, atravessando-o. Que coisa estranha, pois também ela sentiu um frio que a trespassou. Encontra o pai na cama, morto. Chama o médico que lhe diz que morreu de manhã, deitou-se para dormir e já não acordou. Peter volta à sua presença e Johannes percebe que está morto. O amigo veio para o receber e o acompanhar a outra vida. É verdadeiramente uma história fascinante, num discurso muito vivo, muito oralizante, que nos empolga a prosseguir a história até ao fim.

03.12.17

Leitura: ANDREA MONDA - BENDITA HUMILDADE

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ANDREA MONDA (2012). Bendita Humildade. O estilo simples de Joseph Ratzinger. Prior Velho: Paulinas Editora. 176 páginas.

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 No dia 10 de novembro (2017), desloquei-me com três amigos sacerdotes, o Giroto, o Diamantino e o Diogo à VIII Jornada de Teologia Prática na Universidade Católica Portuguesa, em Lisboa, e um dos conferencistas era precisamente o italiano Andrea Monda, testemunhando o anúncio do Evangelho às gerações atuais. O professor Andrea Monda leciona o equivalente a EMRC, tem um programa na TV2000, num formato semelhante a uma aula de 25 minutos, interagindo com a turma.

Bastava o livro ser referido a Bento XVI / Joseph Ratzinger para me despertar o interesse, mas a conferência de Andrea Monda despertou-me mais o interesse. Mas como digo, bastava ser uma obra sobre Joseph Ratzinger, que já o lia e estudava, para uma ou outra disciplina de Teologia, longe do tempo em que viria a ser eleito Papa. O testemunho da D. Fernanda, que dedicou uma parte importante da sua vida ao Seminário de Lamego, aquando uma missão em Roma, era que àquele Cardeal era muito afável, muito simpático e atencioso, muito simples e muito humano. São características que Andrea Monda também descobrir, sem precisar de muito esforço, bastando o encontro com Bento XVI e os milhentos testemunhos dados por quem conviveu ou convive com o agora Papa Emérito.

O autor mostra que este Homem de Deus, simples, afável, de fácil trato, que olha as pessoas olhos nos olhos, com um olhar profundo e interpelante, atento aos interlecutores, não foi uma novida, sempre foi assim, como seminarista, como padre, como Bispo, como professor, como Prefeito da Congregação para a Doutrina na Fé (ex-Santo Ofício). A comunicação social, desde a primeira hora, não lhe concedeu qualquer interregno de simpatia, pois sendo já conhecido, agora era tempo de levantar suspeitas, insinuações, colocando com rótulos, com preconceitos, pelo facto de ser alemão e pelo facto de ter sido durante tantos anos o fiel guardador da fé, da doutrina católica, como se isso fosse um crime.

Segundo o autor, a HUMILDADE é uma palavra que marca a vida de Joseph Ratzinger / Bento XVI, nas diferentes etapas da vida, como sacerdote, como professor, como Bispo, Cardeal e Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé, como Papa. Numa biografia do atual Papa Francisco é sublinha a atenção e o cuidado com que o então Cardeal Ratizinger tratava as pessoas que encontrava, com atenção, colocando-se ao mesmo nível da pessoa. Era um dos poucos cardeais, consta, que não tratava o então Cardeal Jorge Mario Bergoglio com sobranceria, como um Cardeal das periferias, como fazia outras eminências, mas de igual para igual, com respeito, deferência, respeito e simpatia.

É uma humildade assente na verdade, sobretudo a Verdade do Evangelho. A fé é antes de mais um encontro com Jesus. Humildade que assenta na transparência, na comunhão com a Igreja, em comunhão com a "maioria" formada pelos santos. Uma humildade caracterizada pela simplicidade. Basta recordar a primeira vez que apareceu na varanda pontifícia como Papa, o simples servidor da vinha do Senhor, com uma camisola preta, normal, debaixo da batina branca. Mais tarde confessará q dificuldade em usar botões de punho.

Como Prefeito era conhecida a rotina que mantinha, manhã cedo e no final do dia, atravessava a praça de São Pedro, com uma boina na cabeça, sempre disponível para quem se aproximava. Por vezes fazia-se acompanhar por gatos. Sempre cordial e simples. Já como professora passava como segundo ou terceiro coadjutor de uma paróquia de cidade, tal a simplicidade com que interagia com os alunos, nesse caso. Permaneceu sempre assim, simples, cordato e acessível, um sacerdote a caminho, que se move em direção aos outros, colocando-se sempre ao nível dos seus interlecutores.

"Se João Paulo II foi definido como «o pároco do mundo», nesta aceção de simplicidade e humildade, pode-se tranquilamente definir Bento XVI como «coadjutor paroquial do mundo»... Em Bona, Ratzinger podia andar a pé, em Munique, como jovem sacerdote, andava de bicicleta de um lado para o outro, em Tubinga, voltou a recorrer às duas rodas".

A sua vida é marcada pela renúncia. O autor apresenta essa característica fundamental antes de se sonhar que o Papa bávaro iria renunciar ao pontificado, assumindo-se como simples Padre Bento (terá sido essa a designação que propôs usar depois da renúncia). Humildade obediente. Outros foram conduzindo o seu percurso. Vai numa direção e de repente alguém o desafia para outra missão, sempre com o sentido de obediência aos seus superiores.

Como teólogo marcante, o próprio confessou que nunca se propôs apresentar/criar uma linha teológica, mas aprofundar a teologia dentro da comunidade, da Igreja, em comunhão com o testemunho dos santos, uma teologia de joelhos.

"A verdadeira grandeza de homem reside na sua humildade". É uma caracterização que lhe assenta bem. Numa das catequeses, ao apresentar a figura do Papa Gregório Magno, quase poderia falar de si mesmo, lembrando como o monge que se tornou Papa "procurou de todos os modos evitar aquela nomeação; mas, no fim, teve de render-se e, tendo deixado pesarosamente o claustro, dedicou-se à comunidade, consciente de cumprir um dever e de ser simples 'servo dos servos de Deus'".

"Todas as pessoas que de algum modo se encontraram com Joseph-Bento, «ao vivo», puderam constatar a doçura deste homem simples e dialogante, sem traços de altivez nem de afetação... ele é o primeiro a movimentar-se e ir ao encontro dos outros, pondo-se ao seu nível, delicadamente".

Um dos aspetos relevantes do autor - tendo em conta os 24 anos de Joseph na Congregação responsável por ajudar o Papa e a Igreja a manter-se fiel a Jesus Cristo e ao Evangelho, ao nível dos princípios e das palavras em cada tempo -, o dogma! O dogma é o que nos liberta e nos ajuda a viver em dinâmica de amor. «Se na Igreja existem os dogmas, é para que ninguém se engane sobre o amor. Eles expõem-se à acusação de ideologia: na realidade, têm por efeito impedir que o amor seja transformado em ideologia».

 

BENTO XVI: «Deus não nos deixa tatear na escuridão. Mostrou-se como homem. Ele é tão grande que pode permitir-se tornar-se pequeníssimo».

06.11.17

Leituras: HARUKI MURAKAMI - HOMENS SEM MULHERES

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HARUKI MURAKAMI (2017). Homens sem mulheres. Alfragide: Casa das Letras. 256 páginas

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Para mim este é um dos escritores de eleição. Ainda não foi, mas deveria ser Prémio Nobel da Literatura. É genial. É um nato contador de estórias. Dentro de cada histórias, muitas peripécias, comparações, metáforas, evocando a música, a dimensão religiosa, a noite, o universo, o desconhecido.

Parece que a imaginação não se esgota. Uma linguagem acessível. Diria que ao correr da pena. Mas sempre a surpreender. Li vários livros de Murakami, todos os que conheço. Cada vez que um novo livro dá à estampa procuro de imediato adquiri-lo e lê-lo.

7 contos: Drive my car, Yesterday, Um órgão independente, Xerazade, Kino, Sansa Apaixonado, Homens sem Mulheres. Este último dá título ao conjunto, dizendo-nos o autor que um dia o próprio leitor será um homem sem mulher. O enredo colocado em cada conto faz-nos sentir dentro da história ou pelo menos com essa possibilidade, mas como em todos os livros do autor há fenómenos estranhos: uma gata que aparece no bar e desaparece sem dizer desta água vai, serpentes que se aproximam do salgueiro, tendo que o personagem principal fechar o bar até que a poeira assente ou tudo volte ao normal, mesmo que não saiba o que vai acontecer e o que significa voltar ao normal.

Quando se lê e quem gosta de ler Murakami, gosta que as estórias e a história continue, por muito tempo. É uma leitura envolvente do princípio ao fim, com vidas que se encaminham para um ideal, outras que ficam a meio caminho e outras que nem sim nem sopas! Como a vida.

Um dos comentários ao autor: «Se a literatura fosse como o boxe, Murakami teria o mais precioso dos dons: a capacidade de desferrar um soco que deixa o adversário KO quando menos espera» (Corriere della Sera).

27.03.17

Aura Miguel. Conversas em Altos Voos com o Papa Francisco

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AURA MIGUEL (2017). Conversas em Altos Voos. Encontros e entrevista com o Papa Francisco. Lisboa: Paulus Editora. 146 páginas.

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"A matéria-prima deste livro é a entrevista de uma hora que o Papa Francisco concedeu à Rádio Renascença, a 8 de Setembro de 2015, na Casa Santa Marta. Mas este livro inclui detalhes inéditos sobre como é viajar com o Papa Francisco e como é o seu estilo descontraído, dentro do avião e não só; há várias peripécias documentadas em muitas fotos, aqui reproduzidas, bem como minuciosos relatos dos bastidores. Mas o motivo principal deste livro relaciona-se com a próxima visita do primeiro Papa latino-americano a Fátima. A nossa esperança é que estas páginas ajudem a conhecer melhor o ilustre peregrino que aí vem e reforcem o amor dos portugueses pelo Sucessor de Pedro, tão inseparavelmente ligado à Mensagem que a Virgem, há cem anos, confiou a três crianças portuguesas" (contracapa).

Aura Miguel é "vaticanista", isto é, jornalista, da Rádio Renascença, e que está creditada junto da Santa Sé (Vaticano), acompanhando o Papa nas suas viagens apostólicas. Já conta mais de 80 viagens no avião que transporta o Papa para diversos países. Acompanhou João Paulo II, Bento XVI e agora Francisco. São muitas as histórias e as curiosidades. Neste livro conta o primeiro encontro com o Papa Francisco, como lhe solicitou uma entrevista para a Rádio Renascença e como Francisco respondeu num novo voo, numa nova Viagem Apostólica, seis meses depois, entregando-lhe um envelope, com a data para entrevista, o lugar e a hora.

A entrevista realizou-se a 8 de setembro de 2015, Natividade de Nossa Senhora, na Casa de Santa Marta, por ocasião da Visita Ad Limina dos Bispos portugueses, com início a 7 de setembro.

A publicação do livro e da entrevista, disponível digitalmente na Rádio Renascença, prepara e antecipa a Visita do Papa Francisco a Portugal como Peregrino de Fátima.

A entrevista começa precisamente por falar do conhecimento que o Papa tem dos portugueses, falando também encontro com os Bispos portugueses, com a acentuação nos jovens e na catequese, partindo depois para outros temas como a surpresa da eleição, as periferias, os jovens e a Europa envelhecida, os valores e a educação, a paz em que sente apesar de tamanha responsabilidade, o Jubileu da Misericórdia, a cultura do encontro, a criatividade na educação, os direitos e os deveres, os direitos com a verdade, a felicidade e os problemas a enfrentar, o empenho político e o cuidado pela criação, a preferência de uma Igreja acidentada que uma Igreja doente por não sair...

Além de outras curiosidades que constam do livro, o facto do Papa Francisco, juntamente com o envelope, ter entregado a Aura Miguel duas pagelas, uma de Santa Teresa do Menino Jesus e outra de São José.

24.03.17

GEORGES BERNANOS - DIÁRIO DE UM PÁROCO DE ALDEIA

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GEORGES BERNANOS (2016). Diário de um pároco de aldeia. Prior Velho: Paulinas Editora. 264 páginas.

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O título já deixa antever um conjunto de vivências num lugar em que as pessoas se conhecem, em que as novidades, os boatos, as insinuações se espalham rapidamente, onde a privacidade é muito relativa. O padre, numa pequena aldeia, rústica, vai escrevendo um diário com as suas impressões, encontros, dificuldades, tornando visível a intriga e o mau-estar entre o pároco, vindo de uma família simples, o senhor conde, benemérito da paróquia e que tem outros familiares mais bem colocados, com outros contacto, como um tio padre.

Padre jovem, por um lado, e acabado de chegar, as dificuldades cedo se fazem notar. No catecismo ou na celebração da Eucaristia, por vezes com poucas pessoas, outras vezes desinteressadas. Os jovens, em fase adolescente, provocam-no e gozam com ele. As condições sócio-económicas são mínimas. Alimenta-se mal. Por vezes a refeição é vinho aquecido com pão. Pouco mais. As dívidas são do conhecimento da povoação. Os sacerdotes amigos tentam alertá-lo, chamá-lo à razão. De algum modo, até pode ter razão e iniciativa, mas o melhor é não levantar ondas nem enfrentar os poderes instituídos.

O conde, a esposa e a filha são o rosto mais visível da oposição ao padre. Os pecados que escondem, e talvez para os esconder, voltam-se contra o padre. Ora o convidam ora o alertam para não se meter em determinados assuntos, que não lhe dizem respeito.

Querendo ser fiel ao ministério sacerdotal não deixa de ouvir, de exortar, de intervir. A saúde é que não ajuda. E os comentários sobre a sua conduta também não. É considerado um bêbado, ainda que não se considere tal. A fraqueza, a batina gasta, uma cor de meter dó, amarelo, sumido, faz pena vê-lo assim e assim se vê, ainda que a bebida (vinho aquecido com pão) seja o único que o seu frágil estômago vai aguentando. Adia a ida ao médico. Quando vai ao médico, a revelação de cancro deixa-o de rastos. Não há muito a fazer.

Mas não é a doença terminal que mais o afeta, mas o silêncio de Deus. Há muito que vive com dificuldades em falar com Deus, em rezar, em se colocar confiante nas mãos de Deus. Os que se aproximam dele, desabafam, falam e voltam a falar e, no entanto, há um silêncio e um vazio que o preenchem. Faz com que os outros se abram, mas fecha-se, discreto, como que desejando apagar-se. Até a morte quer que seja silenciosa. "A minha morte está ali. É uma morte igual a qualquer outra, e eu entrarei nela com os sentimentos de um homem muito comum, muito vulgar. É mesmo mais que certo que não saberei morrer melhor do que soube governar a minha pessoa. Vou ser na morte tão desastrado, tão acanhado como na vida... Meu Deus dou-te tudo, de boa vontade. Simplesmente, não sei dar, dou como quem deixa que lhe tirem as coisas. O melhor que tenho a fazer é estar sossegado. Pois se eu não sei dar, Tu, Tu sabes tirar... E no entanto teria gostado de ser, pelo menos uma vez, uma só vez, liberal para contigo... O heroísmo à minha medida está em não ter heroísmo, visto que me faltam as forças, agora o que eu queria é que a minha morte fosse pequena, o mais pequena possível, que se não distinguisse dos outros acontecimentos da minha vida. No fim de conta é a minha natural inépcia..."

 

Para leituras próximas outras sugestões:

Obviamente que são livros muito diferentes, Tomáš Halík e Timothy Radcliffe ajduam-nos a refletir em Deus e na Sua presença amoroso na nossa vida, também nos momentos difíceis e até obscuros, apontando para um Deus que em Jesus Cristo Se revela dócil, compreensivo, próximo, exigente.

Cormac McCarthy mostra que a fé pode ser ténue, mas a força do amor é inabalável, até ao fim. Shusaku Endo, no seu romance com fundo histórico e que deu origem ao filme com o mesmo nome, questiona até que ponto a fé é sustentável nas adversidades e nas monstruosidades. Todos os títulos nos falam da busca de Deus, do questionamento de Deus, da fé e do amor, da vida e da generosidade, da noite e da dúvida e da treva, mas com aquela réstia de esperança que tudo possa ser diferente.

 

Não deixe de ler o seguinte o comentário ao livro:

Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura.

18.02.17

Leituras: ELMAR SALMANN - A VITALIDADE DA BÊNÇÃO

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ELMAR SALMANN (2017). A Vitalidade da Bênção. Braga: Editorial A.O. 176 páginas.

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Na Assembleia do Clero de Lamego, em 14 de novembro de 2015, o Provincial da Companhia de Jesus em Portugal, Pe. José Frazão Correia, comentou e sugeriu a leitura deste livrinho, de Elmar Salmann, seu mestre. A Editorial do Apostolado de Oração, integrada na Companhia de Jesus, dá à estampa para Portugal, publicado em Itália em 2010, no âmbito do Ano Sacerdotal. Mas como se costuma dizer mais vale tarde que nunca.

O ministério da bênção há de caracterizar a vida do sacerdote e da Igreja. O cristianismo, em muitas situações, já não está em maioria e, por vezes, cultural e socialmente já não tem a relevância do passado. Por outro lado, existem situações novas, na vivência dos sacramentos, no compromisso com a comunidade, nos casais, na coexistência de várias confissões religiosas. Poderá ser necessário criar centros sociológico-religiosos, para lá das paróquias, envolvendo e comprometendo os leigos, surgindo o sacerdote numa dinâmica de abençoar...

Deus não se vende no supermercado ou à medida de cada um. Em todo o caso, já passamos de um Deus distante e juiz, para um Deus próximo, que abençoa e nos renova, nos desafia a não desistir. O Deus cristão é o mais difícil. No Islamismo não há praticamente dogmas. É um Deus soberano, transcendente. No Judaísmo, Deus é transcendente, embora intervenha na História. Há, com efeito, uma interdependência entre Deus e o povo. Deus alimenta o povo e o povo mantém-se obediente às Suas leis. Quando há fome, violência, dispersão, é porque Deus está de costas voltadas para o povo, em consequência do seu pecado. No Cristianismo, Deus encarna, assume a nossa natureza humana. Um Pai, que sendo Amor, Se dá inteiramente. Cristo, Filho de Deus, tudo recebe do Pai e tudo acolhe para partilhar, no Espírito Santo. Há circularidade do amor que deve ser paradigma para que assim nos comprometamos. É um Deus mais difícil de conjugar. Em Jesus, Deus e o Homem...

Alguns recortes:

"De Igreja masculina, hierárquica, sacral, maioritária, representante do sagrado e da administração da graça, tornamo-nos uma Igreja comunitária (...), mais exposta, fraterna; de uma Igreja da verdade e da santidade, chegamos a uma Igreja em busca de sentido, da abertura, da solidariedade; do primado de Deus e de Cristo Nosso Senhor passamos a Cristo nosso irmão, que Se torna companheiro da jornada".

"A Ressurreição é a confirmação, por assim dizer, do ato criador, daquela alegria primordial e elementar, sob as condições de uma história distorcida e sobrecarregada... Na ressurreição, explode o mundo, abre-se como o rasgar de um véu. O riso pascal corresponde a este evento libertador; corresponde a este evento que explode e rasga paisagens de vida".

"O juízo derradeiro de Deus não se destina a uma condenação. Não se trata de um recontro com um observador, não é um relatório nem muito menos um prestar contas! mas, sob o olhar límpido e, talvez também, sorridente de Deus, seremos capazes de rever e avaliar as reais proporções da nossa existência... talz no juízo final possamos pela primeira vez rir de nós, com verdade, sem azedume nem amargura, com um riso capaz de desembaraçar os nós da nossa emaranhada existência".

"O domingo nasce precisamente do olhar positivo e comprazido de Deus que «viu que tudo era bom» (Gn 1, 3.10.12.18.21.31). Deus tem os olhos contemplativos capazes de realçar em tudo a sua vertente positiva. Deus é capaz de consentir, sorrindo, àquilo que simplesmente, é. Fala bem daquilo que vem à existência e daí a capacidade de «bem-dizer»/«abençoar». O domingo... irrompe os mecanismos chantagistas e esmagadores da nossa autoconfirmação e da nossa necessidade de conflitualidade, de nos compararmos, de nos perdermos em mil azáfamas... Faz-nos descobri a melodia de fundo que dá estabilidade à nossa vida e nos convida a afinar por ela. Faz-nos «falar bem» de nós mesmos, do outro e da nossa vida e deixa-nos entrever-nos a nós mesmos, num suave vislumbre, como uma bênção. Todos os sentidos, a vista, a voz, o ouvido, o tato, o gosto, confluem no domingo para criar este tipo de sensibilidade positiva, para o ciclo virtuoso que dinamiza a nossa existência".

"Ser padre significa a aventura desta incarnação do Céu nas cabanas dos homens".

"Em tudo isto, a vida e a pregação de um sacerdote que saiba abençoar refletirá a riqueza da tradição, a vastidão dos estilos de vida cristã no mundo global, as muitas vozes da comunidade, e tornar-se-á advogado dos ausentes, dos pobres, dos excluídos (cada um segundo a sua sensibilidade) - e um pobre representante e advogado da voz e da presença do estilo de Jesus, do seu dar-Se, dizer-Se e mostrar-Se no meio de nós e diante do Pai.

14.02.17

Leituras: SHUSAKU ENDO - SILÊNCIO

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SHUSAKU ENDO (2017). Silêncio. (3.ª Edição) Alfragide: Publicações Dom Quixote. 272 páginas.

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Na Viagem à Polónia, o Papa Bento XVI, como já o tinha feito o Seu Predecessor, João Paulo II, deslocou-se ao campo de extermínio Auschwitz-Birkenau, no dia 28 de maio de 2006. As primeiras palavras do Papa Bento XVI: «Tomar a palavra neste lugar de horror, de acúmulo de crimes contra Deus e contra o homem sem igual na história, é quase impossível e é particularmente difícil e oprimente para um cristão, para um Papa que provém da Alemanha. Num lugar como este faltam as palavras, no fundo pode permanecer apenas um silêncio aterrorizado um silêncio que é um grito interior a Deus: Senhor, por que silenciaste? Por que toleraste tudo isto? É nesta atitude de silêncio que nos inclinamos profundamente no nosso coração face à numerosa multidão de quantos sofreram e foram condenados à morte; todavia, este silêncio torna-se depois pedido em voz alta de perdão e de reconciliação, um grito ao Deus vivo para que jamais permita uma coisa semelhante».

O Papa alemão sublinha o silêncio de Deus e o grito das vítimas, 6 milhões de polacos, um quinto da sua população, que perderam a vida. E o discurso continuava: «Quantas perguntas surgem neste lugar! Sobressai sempre de novo a pergunta: Onde estava Deus naqueles dias? Por que Ele silenciou? Como pôde tolerar este excesso de destruição, este triunfo do mal? Vêm à nossa mente as palavras do Salmo 44, a lamentação de Israel que sofre: "... Tu nos esmagaste na região das feras e nos envolveste em profundas trevas... por causa de ti, estamos todos os dias expostos à morte; tratam-nos como ovelhas para o matadouro. Desperta, Senhor, por que dormes? Desperta e não nos rejeites para sempre! Por que escondes a tua face e te esqueces da nossa miséria e tribulação? A nossa alma está prostrada no pó, e o nosso corpo colado à terra. Levanta-te! Vem em nosso auxílio; salva-nos, pela tua bondade!" (Sl 44, 20.23-27). Este grito de angústia que Israel sofredor eleva a Deus em períodos de extrema tribulação, é ao mesmo tempo um grito de ajuda de todos os que, ao longo da história ontem, hoje e amanhã sofrem por amor de Deus, por amor da verdade e do bem; e há muitos, também hoje. Nós não podemos perscrutar o segredo de Deus vemos apenas fragmentos e enganamo-nos se pretendemos eleger-nos a juízes de Deus e da história».

Estas palavras de Bento XVI bem podem servir de mote à leitura e a um possível enquadramento.

Com a adaptação ao cinema, pela mão de Martin Scorsese, o romance de Shusaku Endo ganhou novo fôlego e por certo baterá alguns recordes de vendas. E será merecido. Boa literatura. Bom enredo. A história romanceada tem tudo para prender o leitor do início até ao fim.

Não sendo histórico, o romance parte da história de evangelização do Japão, onde os portugueses tiveram um papel importante, como por exemplo São Francisco Xavier. No Oriente outros desembarcaram para levar o Evangelho até o fim do mundo, como São João de Brito, missionário português que deu a vida na Índia, em tormentos, torturas e sofrimentos como os que são relatos neste romance.

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A história parte da apostasia de Cristóvão Ferreira, enviado pela Companhia de Jesus em Portugal para a evangelização do Japão. Submetido à tortura da fossa, de mãos e pés atados, de cabeça para baixo, sobre excrementos de pessoas e de animais... Era superior provincial, era um exemplo para clero e leigos. Mas apostatou.

Sebastião Rodrigues (a personagem principal do romance), com Francisco Garpe, também pertencentes à Companhia de Jesus, não querendo acreditar no que sucedeu a Cristóvão Ferreira - tinha sido professor deles e era uma referência intelectual, moral, espiritual - querem tirar a limpo o que sucedeu e vão para o Japão. Acolhidos numa aldeia, mas colocando em perigo os aldeões, separam-se e fogem. Sebastião Rodrigues é apanhado. Com ele, a reflexão sobre o silêncio de Deus e o grito de tantos cristãos que morrem em nome de Cristo, por serem cristãos. Para entrarem no Japão, fazem-no através de Macau. Para isso contam com Kichijiro, que tinha fugido, atraiçoado toda a família, atraiçoa Rodrigues, por duas vezes, vendendo-o como Judas a Cristo. Aqui entra a reflexão de Endo, japonês e católico. Rodrigues renuncia à fé ou publicamente nega a Cristo para defender os outros cristãos? Tal como Cristóvão Ferreira, abjurando permite que outros cristãos sejam libertados.

Vale a pena ver a leitura do provincial dos Jesuítas em Portugal, em entrevista à Agência Ecclesia, em que sublinha a grande oportunidade - o filme / romance - para confrontar as várias dimensões da fé. A obra recorda uma página histórica do encontro difícil entre o cristianismo (e o Ocidente) e as tradições japoneses que inicialmente acolheram com benevolência o cristianismo e depois moveram-lhe uma grande perseguição. Para o Padre José Frazão Correia é uma grande oportunidade para revisitar a questão dramática da fé. A dificuldade em permanecer firme num ambiente de extrema perseguição. Revisitar a experiência da fé a partir da sua dimensão dramática e equívoca, várias perspetivas possíveis para enquadrar a questão da adesão a Jesus e da sua visibilidade pública.

O filme/romance não nos permite fazer uma leitura a branco e preto, bem e mal, afirmação da fé pelo martírio ou negação da fé pela apostasia. Aqui percebemos que a aproximação à fé, a afirmação de fé em contextos de grande perseguição, de um grande sofrimento, põe em reserva um juízo demasiado fácil… Publicamente o personagem principal, o padre Sebastião Rodrigues, renuncia à fé, mas o realizador, tal como o autor, faz-nos perceber que no íntimo do padre jesuíta há um percurso de fé e estamos longe de concluir que a sua apostasia pública seja uma renúncia à fé no mais íntimo do seu coração.

O filme tem provocado diversos apontamentos e, claro, também a leitura do romance. Segundo Laurinda Alves - o que não gostei no Silêncio - falta sublinhar as razões da fé dos japoneses, o amor de Deus para connosco e de nós para com Deus. «No século XVII os missionários convertiam a partir do testemunho de Jesus e não de uma ideia de Deus distante, castigador, do Antigo Testamento. Por isso, esperava ver no filme este amor novo dos filhos e amigos, dos irmãos e companheiros de Jesus que querem viver para amar e servir, também ele traduzido em imagens e diálogos. Isto para que o amor de Deus ficasse a fazer eco a par do Seu silêncio e dos dramas da negação sob tortura».

 

Alguns comentários-entrevistas: 

26.10.16

Santa Faustina - DIÁRIO. A Misericórdia Divina na minha alma.

mpgpadre

Santa FAUSTINA KOWALSKA (2016). Diário. A Misericórdia Divina na minha alma. Fátima: Marianos da Imaculada Conceição. 632 páginas.

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       Santa Faustina adquiriu uma maior notoriedade neste Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, a decorrer entre 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Conceição, e o dia 20 de novembro de 2016, solenidade de Cristo Rei. Outros santos estiveram em evidência, mas Faustina é tida como a Secretária/Santa da Misericórdia. Ela própria se define como Secretária da Misericórdia, segundo as revelações de Jesus, que lhe pede para escrever sobre a Misericórdia divina, como Secretária fiel em colocar por escrito tudo quanto Jesus lhe disser.

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Faustina "nasceu em Glogowiec, na Polónia central, no dia 25 de agosto de 1905, de uma família camponesa de sólida formação cristã. Desde a infância sentiu a aspiração à vida consagrada, mas teve de esperar diversos anos antes de poder seguir a sua vocação...
Com a idade de 16 anos deixou a casa paterna e começou a trabalhar como doméstica. Na oração tomou depois a decisão de ingressar num convento. Assim, em 1925, entrou na Congregação das Irmãs da Bem-aventurada Virgem Maria da Misericórdia, que se dedica à educação das jovens e à assistência das mulheres necessitadas de renovação espiritual. Ao concluir o noviciado, emitiu os votos religiosos que foram observados durante toda a sua vida, com prontidão e lealdade. Em diversas casas do Instituto, desempenhou de modo exemplar as funções de cozinheira, jardineira e porteira. Teve uma vida espiritual extraordinariamente rica de generosidade, de amor e de carismas que escondeu na humildade dos empenhos quotidianos.
O Senhor escolheu esta Religiosa para se tornar apóstola da Sua misericórdia, a fim de aproximar mais de Deus os homens, segundo o expresso mandato de Jesus: "Os homens têm necessidade da minha misericórdia".
Em 1934, Irmã Maria Faustina ofereceu-se a Deus pelos pecadores, sobretudo por aqueles que tinham perdido a esperança na misericórdia divina. Nutriu uma fervorosa devoção à Eucaristia e à Mãe do Redentor, e amou intensamente a Igreja participando, no escondimento, na sua missão de salvação. Enriqueceu a sua vida consagrada e o seu apostolado, com o sofrimento do espírito e do coração. Consumada pela tuberculose, morreu santamente em Cracóvia no dia 5 de Outubro de 1938, com a idade de 33 anos.
João Paulo II proclamou-a Beata no dia 18 de abril de 1993; sucessivamente, a Congregação para as Causas dos Santos examinou com êxito positivo uma cura milagrosa atribuída à intercessão da Beata Maria Faustina, e no dia 20 de dezembro de 1999 foi promulgado o Decreto sobre esse milagre" (Nota biográfica na página oficial do Vaticano: AQUI).

       O DIÁRIO é uma ferramenta essencial para compreender a vida, o pensamento de Santa Faustina e para nos deixarmos interpelar pela Mensagem da Misericórdia Divina. Como outros santos, vem ao de cima a luta constante pela humildade, pelo serviço, pela descrição, procurando o silêncio e a oração, com o desejo de permanecer junto de Deus, junto ao Coração de Jesus Vive para anunciar a Misericórdia divina, a confiança na bondade de Deus que a todos quer salvar. O desejo por salvar os pecadores compromete-a cada dia, ainda que a morte não seja desprezível, já que dessa forma se unirá em definitivo a Jesus Cristo.

       Por exemplo sobre a Hóstia consagrada. Nesta sugestão, a tradução/adaptação das Servas da Divina Misericórdia:

Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrado o testamento da Misericórdia de Deus para nós, e especialmente para Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrado o Corpo e o Sangue de Nosso Senhor, como testemunho de infinita Misericórdia para connosco, especialmente para com os Sacerdotes, e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santana qual está encerrada a Vida eterna e a infinita Misericórdia concedida copiosamente a nós, especialmente aos Sacerdotes e aos pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrada a Misericórdia do Pai, do Filho, e do Espírito Santo para connosco, especialmente para com os Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrado o infinito preço da misericórdia, que pagará todas as nossas dividas, especialmente as dos Sacerdotes e dos pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrada a Fonte da água viva que brota da infinita misericórdia para connosco, especialmente para com os Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrado o fogo do amor mais puro, que arde no seio do Pai Eterno, como num abismo de infinita misericórdia para connosco, especialmente para com os Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrado o remédio para todas as nossas doenças, que flui da infinita misericórdia como de uma fonte para nós especialmente para os Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual está encerrada a união entre Deus e nós pela infinita misericórdia para connosco, especialmente para com os Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, na qual estão encerrado todos os sentimentos do Dulcíssimo Coração de Jesus para connosco, especialmente para com os Sacerdotes e os pobres pecadores.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança, em todos os sofrimentos e contrariedades da vida.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança em meio ás trevas e ás tempestades interiores e exteriores.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança, na vida e na hora da morte.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança, em meio aos insucessos e ás profundas incertezas.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança em meio ás falsidades e ás traições.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança nas trevas e na perversidade que cobrem a Terra.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança em meio da saudade e da dor, em que ninguém nos compreende.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança em meio dos afazeres e a monotonia da vida quotidiana.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança, em meio à destruição das ruínas dos anseios e dos nossos esforços.
Ó Jesus Hóstia Santa, nossa única esperança em meio dos ataques do inimigo e das investidas do inferno.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando as dificuldades superarem as minhas forças, quando eu ver ineficazes os meus esforços.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando as tempestades agitarem o meu coração e o espírito atemorizado inclinar-se ao desespero.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando o meu coração tremer e, quando o suor mortal cobrir a minha fronte.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando tudo conspirar contra mim e o negro desespero penetrar em minha alma.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando a minha vista se apagar para tudo que é terrestre, e o meu espírito ver pela primeira vez os mundos desconhecidos.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando os meus trabalhos superarem as minhas forças e o insucesso me acompanhar continuamente.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando o cumprimento da virtude me parecer difícil e a natureza se revoltar.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando os golpes do inimigo forem desferidos contra mim.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós quando os trabalhos e esforços forem condenados pelos homens.
Ó Jesus Hóstia Santa, confio em Vós, quando soar sobre mim Vosso Juízo, então, confiarei no oceano da Vossa Misericórdia.

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Sobre o Terço da Misericórdia (n.º 476 do Diário)

“Primeiro dirás o Pai-nosso, a Avé-Maria e o Credo. Depois, nas contas do Pai Nosso, dirás as seguintes palavras: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e o Sangue, a Alma e a Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e dos do mundo inteiro. Nas contas da Ave-Maria rezarás as seguintes palavras: Pela Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro. No fim, rezarás três vezes estas palavras: Deus Santo, Deus Forte, Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro” (Diário, 476).

29.08.16

Leituras: PABLO d'ORS - Sendino está a morrer

mpgpadre

PABLO d'ORS (2014). Sendino está a morrer. A elegância do adeus. Prior Velho: Paulinas Editora. 80 páginas.

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       Pablo d'Ors nasceu em Madrid em 1963. É sacerdote católico e escritor. É consultor do Pontifico Conselho da Cultura (Vaticano), por designação do Papa Francisco. Fundou a Associação Amigos do Deserto, para viver e aprofundar a prática da meditação. Publicou, entre outros títulos, a triologia do silêncio: O amigo do deserto (2009), O esquecimento de si (2013) e A biografia do Silêncio, que já aqui recomendámos.

       No pequeno livro que agora sugerimos, o autor parte da sua condição de capelão hospitalar, onde encontra a Dra. África Sendino, que lhe pedirá para ajudar a escrever um testemunho sobre a vida, a doença, o sofrimento, a morte e, sobretudo, a fé, a confiança em Deus, a entrega confiante nas mãos do Pai.

       Médica descobre que tem cancro da mama. Começa então um diálogo profundo com Deus. «Fui à capela de Traumatologia e ajoelhei-me - escreve: - "Senhor (rezei), só me ocorre dizer-te que quero que sirva para tua maior glória o que me tocar viver a partir de agora. Tu saberás o caminho que inicias. Tu saberás aonde me conduzes»".

       Pablo d'Ors conhece-a nas últimas semanas de vida e acabará com a missão de escrever o seu testemunho, pegando nas notas que ela vai escrevendo, cada vez com mais dificuldade, menos texto, pouco perceptível. Para o autor, conhecendo e convivendo com Sendino vai tendo a perceção que ela é santa, com as suas imperfeições e limitações, mas também com a sua serenidade e confiança em Deus. "O que a meus olhos faz com que Sendino seja grande não é a morte, mas o morrer, o ir morrendo, o modo de morrer".

       Um dos primeiros aspetos que Pablo d'Ors sublinha é a elegância com que Sendino está deitada na cama do hospital. "Sim, Sendino era bela: tinha um olhar franco e limpo, um sorriso tímido e amável - nunca coquete -, uma pele branca e lisa. umas mãos gráceis - embora grandes - e uma feminilidade totalmente natural, nada importada ou estudada e, por isso, talvez, tão encantadora como desconcertante".

       Outro os aspetos que o autor sublinha é a clareza no falar, exprimindo as ideias de forma consistente, talvez demasiado analítica. Dedicado ao ensino de medicina, facilidade da comunicação oral. Curiosamente, maior dificuldade na escrita.

       Outro dos aspetos relevantes: o seu altíssimo nível espiritual, embora Sendino vivesse a sua fé com descrição. "Viveu a sua doença na perspetiva da Anunciação. Como a Virgem Maria, também ela deu à luz uma criatura: por virtude da graça, Sendino alumiou-se a si mesma para a eternidade. Eu sou testemunha".

        Como confidencia a  Pablo d'Ors, pediram-lhe para escrever sobre a sua enfermidade e, por isso, pede ajuda ao autor. "Nunca vi um processo de declínio e morte tão eloquentemente refletido nas folhinhas que Sendino me entregava sempre que a ia visitar... A progressão do seu cancro não se percebia somente na brevidade dos seus escritos, mas também na sua forma estilística, progressivamente mais frouxa, e até na caligrafia que, no final, era ilegível".

       Dos escritos confiados ao autor: "Chamo-me África Sendino e sou médica internista. Desde que me foi diagnosticado um cancro da mama, fui submetida a um tratamento cirúrgico de quimioterapia e radioterapia. Num sábado apalpo um nódulo e na segunda, às nove, fui recebida pelo patologista. Às nove e um quarto, saio do seu laboratório com um novo panorama vital: tenho cancro. De repente, eu era uma nova personagem: o médico adoece; e, depois, compreendi o que me tocava com a doença (uma conhecida com a qual até então eu tinha lutado diariamente) era dançar com ela. Também me veio à cabeça a imagem das duas margens de um rio. Inesperadamente, sem me consultar, tinham-me passado para a outra margem. Podia chorar, queixar-me, espernear... mas na verdade, o barco já se tinha ido embora. Teria de esperar que chegasse e, entretanto..., era apenas o que poderia fazer! Podia passear naquela margem, por exemplo, contemplar a outra minha nova perpetiva, deter-me tranquilamente diante desse rio, molhar os pés... O doente não deve ser apenas paciente; deve ser o protagonista da sua enfermidade" (Uma das primeiras entradas do diário de Sendino, dia em que lhe detetaram o cancro, 19 de outubro de 1999).

       As notícias que vão chegando não são animadoras. "Quero deixar claro - continua Sendino, quando relata a segunda fase do seu temor - que o facto de a doença pressupor um período de perdas não sentencia irremediavelmente que seja, realmente, um período de perda para mim mesma. Não, de modo nenhum! Mesmo sendo dolorosa a comprovação do fracasso do tratamento para erradicar o tumor, experimentei que a minha recaída tinha algumas vantagens: por exemplo, já não me esperariam tantas novidades, excetuando, naturalmente, a perpetiva de um desenlace final. Então, a morte apresentou-se como uma convidada para a festa".

       Mais adiante: "A doença vai ter connosco onde estamos. Quando me sobreveio a mim, soube que poderia vivê-la como uma circunstância adversa e até certo ponto irritante ou, ao contrário, como uma imensa e imerecida ocasião de aprendizagem. Decidi que a minha perpetiva seria a segunda. O meu primeiro desejo foi percorrer dignamente este caminho em benefício da Igreja. Aceitei ingressar num curso prático de patologia: a doença vivida na minha própria carne. Se superasse o cancro - disse a mim própria -, voltaria enriquecida à prática assistencial. Se saísse com vida, eu seria uma interlocutora vália para os doentes".2016-07-29 14.45.34.jpg

       Sendino apoia-se, para a oração, numa expressão de São Pedro: "Confiai a Deus todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós" (1 Ped 5, 7). "Desde o princípio da minha enfermidade - escreve neste mesmo sentido - compreendi que a minha forma de encará-la não era o resultado de uma grande fortaleza psicológica, mas um dom estritamente sobrenatural. Desde esse primeiro momento - continua - soube que só tinha um desejo: fazer esta minha peregrinação do melhor modo possível... Os enfermos são um tesouro para a Igreja".

       "O meu maior medo? Que a intensidade do meu sofrimento me tente a não louvar a Deus e a não dar graças ao seu nome. Só peço uma coisa: que a minha enfermidade não em afaste d'Ele; pois, se o fizesse, para quê e a quem serviria?... Aceito ser um despojo. Quero gastar-me e desgastar-me a cumprir a sua vontade".

 

Outro apontamento:

       "Um dos mistérios mais insondáveis da enfermidade é o do tempo: os sãos não têm tempo; em contrapartida, os doentes o que mais têm é precisamente tempo. Um dia pode ser infinito numa cama do hospital. Espera-se durante horas a visita de um médico que dura um minuto. Eu esperei esse médico e, agora, sou essa paciente que espera. Deus quis que eu dedicasse a minha vida a ajudar os outros, mas não quis que me fosse embora deste mundo sem deixar-me ajudar pelos outros. Deixar-se ajudar pressupõe um nível espiritual muito superior ao de simples ajudar. Porque, se ajudar os outros é bom, melhor é ser ocasião para que os outros nos ajudem. Quem se deixa ajudar parece-se mais com Cristo do que quem ajuda. Mas ninguém que não tenha ajudado os seus semelhantes saberá deixar-se ajudar quando chegar o seu momento. Sim, o mais difícil deste mundo é aprender a ser necessitado".

 

Leia entrevista a África Sendino: AQUI.

15.06.16

Leituras: João XXIII e a Pequena via da misericórdia

mpgpadre

RINALDO DONGHI (2016). A Pequena via da misericórdia. Da Agenda pessoal do Papa João XXIII. Prior Velho: Paulinas Editora. 176 páginas.

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Mais um livro obrigatório para quem quiser conhecer São João XXIII, canonizado no dia 27 de abril de 2014, num acontecimento significativo, pois foram canonizados dois Papas (João Paulo II e João XXIII), com a presença de dois Papas, Francisco, o nosso Santo Padre, e Bento XVI, o magno papa Emérito.

Por outro lado, e por maioria de razão porque vivemos o Jubileu da Misericórdia, João XXIII, o Bom Papa, introduziu a simplicidade, a bondade e a misericórdia no Papado e na Igreja. Na abertura do Concílio Vaticano II, a 11 de outubro de 1962, deixava claro que "agora, a Esposa de Cristo prefere usar o medicamento da misericórdia em vez de abraçar as armas do rigor [...]. A Igreja Católica, enquanto com este Concílio Ecuménico levanta o facho da verdade católica, quer mostrar-se mãe amorabilíssima de todos, benigna e paciente, inclinada à misericórdia e com a bondade para com os filhos dela separados".

A sua natural bonomia, simplicidade, com gestos espontâneos, apostando tudo na delicadeza, na atenção às pessoas e às suas situações, o trato próximo e benevolente com todos, o cuidado com os mais pobres, procurando construir uma Igreja pobre para os pobre, levou muitas pessoas a identificarem o papa Francisco com o bom Papa João, ainda que o próprio Papa Francisco se afirme mais devedor do grande Papa Paulo VI.

Com a temática da misericórdia e com sua a canonização, João XXIII tem vindo a ser descoberto, através de biografias e da publicação das suas intervenções. Neste livro, o autor enquadra, numa perspetiva das 14 obras de misericórdia o viver e João XXIII como Delegado Apostólico na Grécia e na Turquia e Administrador do Vicariato latino de Estambul, partindo dos apontamentos que o futuro Papa iam fazendo nas suas agendas, mostrando à saciedade a bondade, a simplicidade, a preocupação pelas pessoas que viviam em situações mais precárias, nomeadamente em ambientes de gruerra. Angelo Roncalli procura atender a todos os pedidos, receber todas as pessoas, usar a influência que tem para libertar prisioneiros ou tentar aliviar-lhes as penas. Recebe cada pessoa com fidalguia. Vai ao encontro dos pobres, visita orfanatos, hospitais, prisões, usa os recursos da Santa Sé para aliviar uns e outros, e usa dos próprios recursos. Ajuda até onde pode.

A santidade perpassa no compromisso quotidiano de cada pessoa. João XXIII transparece com facilidade o compromisso com Jesus Cristo, com a Igreja, com o mundo, usando a caridade, a paciência, o diálogo e o respeito.

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