49. Rir de si mesmo... ...para viver mais tempo e com mais qualidade de vida.
Rir de si mesmo...
...para viver mais tempo e sobretudo com mais qualidade de vida.
Por vezes levamos a vida demasiado a sério, colocando-lhe uma carga tempestiva e destrutiva que ela não tem. Obviamente que há momentos na vida de uma pessoa (ou mesmo de uma comunidade inteira, ou de uma família) que não são nada fáceis, sabendo-se contudo que de pouco adianta chorar pelo leite derramado. Se a tristeza pagasse dívidas, haveria muitas pessoas que que já tinham saldo positivo. Mas infelizmente não. Pouco resolvemos se nos indispusermos com o mundo, com a família, com os amigos ou até mesmo com Deus atribuindo-Lhe as culpas da insatisfação pessoal e atual. Não é que Deus não seja bom ouvinte...
Há dias, ouvia, e já estou a desviar um pouco, ouvia um comentário muito significativo a este propósito. Aquela pessoa, era uma pessoa concreta, com nome próprio e tudo, com família, não merecia o que lhe fizeram e referia-se a familiares. Embora tenha sido referido de uma pessoa concreta, certamente já o ouvimos em relação a muitas pessoas. No final, a conclusão de quem se lamentava pela pessoa amiga foi: "Eu costumo dizer que Deus 'castiga' os melhores"... Já Santa Teresa dizia a Jesus: Tratas assim os amigos, não podes ter muitos. Mais coisa menos coisa. Em todo o caso, e não poderia deixar de rebater, se foram pessoas da família que colocaram a pessoa naquela situação, como concluir que foi Deus? Se foi a família, então parte essencial da responsabilidade é das pessoas que lhe fizeram o que fizeram e da própria, ainda que de forma inconsciente e/ou, que deixou que lho fizessem, ou lho fizessem daquela maneira, ou que se deixasse magoar naquela situação. O relacionamento humano às vezes é bem confuso e complexo!
Mas voltemos ao ponto de partida.
A vida nem sempre é fácil. Como a rosa que tem espinhos. Espinhos que defendem a beleza da rosa, como o esforço que fazemos, por vezes sacrifício, que engrandecem, justificam e valorizam o resultado final. A caminhada é tão ou mais importante que a chegada.
Mas temos que descomplicar. Analisar para ver o que vale mesmo a pena, aquilo pelo qual vale a pena discutir ou até chatear-se.
Claro que cada pessoa é única e irrepetível, e cada pessoa reage a seu modo. Basta uma alfinetada (no sentido real, mas também no sentido simbólico) para alterar todo o sistema e colocar os motores todos a trabalhar ao mesmo tempo, atropelando-se mutuamente emoções, sentimentos, razão, pensamentos, desvarios.
A sensibilidade é diferente de pessoa para pessoa e por vezes a mesma pessoa, por diferentes motivos, pode alternar facilmente nas reações a situações idênticas. A sensibilidade e os motivos. Como dizíamos, há momentos tão dolorosos que não permitem sorrir.
Sorrir deveria ser uma opção de vida. Os outros não têm culpa das nossas indisposições. Mas também não é possível separar-nos, deixando a indisposição no trabalho ou em casa, para onde vamos, vão também as nossas preocupações, as nossas dores os nossos sonhos e projetos. Também o dizemos muitas vezes, como exemplo, participar na Missa festivamente, como que esquecendo-se dos problemas... mas também à oração levamos a nossa vida toda!
O convite de hoje: rir de si mesmo. Ser palhaço, ainda que por um instante, da própria vida, e das situações que até podem ter uma carga negativa e sacrificial. Quando as coisas estão mais frios, escuras, fundas, procure rir ou sorrir.
É mais fácil sorrirmos para os outros, mesmo que a alma esteja a sangrar por dentro.
É mais fácil rir dos outros e das situações caricatas que fazem, ou cinicamente, rir da vida e da situação dos outros. É de todos conhecida esta pequena história: um homem já ao psiquiatra, pois a sua tristeza é do tamanho do mundo e já não sabe o que fazer. O psiquiatra dá-lhe uma sábia recomendação. Todos os dias, na praça, há um palhaço que faz rir toda a gente e é uma terapia para muitos. O homem simplesmente responde: "Esse palhaço, que faz rir toda a gente, sou eu".
Às vezes é mais fácil rir/sorrir para os outros. E dever ser uma opção de vida que nos salva e traz saúde.
Mas, do mesmo modo, fazer o esforço por rir de nós, para que a vida seja mais leve, ainda que em breves instantes, qual medicamento que se toma faz efeito e depois passa, mas no caso, o rir de nós, tornar mais leve a nossa vida, pode ser oportunidade para que a saúde volte para nós e para aqueles que nos rodeiam.
"Todavia, saber o aspeto divertido da vida e a sua dimensão alegre, e não levar tudo tragicamente, isso, eu considero importante - diria até que é necessário... Um escritor afirmou que os anjos podem voar porque não levam as coisas tão a sério... Talvez pudéssemos voar um pouco mais se não nos déssemos tanta importância" (Cardeal Joseph Ratzinger/Papa Bento XVI).
Este elemento introduzido por Bento XVI é muito importante.
Voltemos a ler: não nos demos tanta importância. Só Deus é Deus. Não podemos resolver todos os problemas do mundo, às vezes, nem todos os problemas que nos afligem, em casa, no trabalho, com a família, com os amigos, com os conhecidos. Tudo tem o seu tempo. Há problemas, como já referimos por aqui, que se resolvem mesmo que não nos preocupemos. Há problemas que não se revolvem por mais que nos preocupemos. Então procuremos viver, com alegria, e sobretudo com amor, com paixão, sem dramatismos, só Deus é Senhor da História e do tempo. Como pessoas não somos insignificantes, somos as asas de Deus para florir o mundo que é o nosso.