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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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03.03.17

VL - Autoridade de Jesus e dos seus discípulos: amor e serviço

mpgpadre

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A lei do amor não torna mais fácil a nossa vida. Jesus não revoga os preceitos da Lei de Moisés. Não tem o propósito de alijar, iludir, facilitar, mas de elevar, aperfeiçoar, plenizar. Jesus é a Carne viva da Lei, o Corpo e a Vida. Mas a carne, o corpo e a vida são delicados e temos que os tratar como tal, com delicadeza e cuidado, prestando a máxima atenção para não ferir, não magoar, para não danificar. Quando cuidamos da carne do outro, do seu corpo e da sua vida, estamos a entrar no seu mundo, estamos a reconhecê-lo como parte essencial do nosso mundo. Quando tocamos as feridas e as chagas do outro, como nos lembra a Santa Teresa de Calcutá, tocamos os ferimentos de Jesus.

Não precisamos de leis nem de regras, desde que amemos de todo o coração! Por certo! Como diria Santo Agostinho, ama e faz o que quiseres! Só que quem ama cuida, sofre, ampara, acolhe, serve, acarinha, gasta-se, respeita, dá-se, entrega-se. A não ser que amar seja apenas uma palavra dita da boca para fora e gasta pelo muito e/ou mau uso da mesma. A não ser que amar seja apenas gozar, sentir prazer, tirar proveito do outro, servir-se do outro enquanto é útil e satisfazer os próprios interesses e caprichos. Amar exige muito de mim. Exige tudo. Não se ama a meio termo, a meio gás, com condições ou reservas. A vida não é branco e preto, também é cinzenta e vermelha, castanha e amarela. No entanto, ou se ama ou não se ama. “Amar muito” não acrescenta, já está dentro do amar. Amar exige tudo de mim e de ti. Exige que gastemos as forças, o corpo e o espírito a favor do outro, de quem, pelo amor, me faço próximo, me faço irmão. Amar é dar a vida. É gastar a vida. É confiar ao outro a própria vida. Foi isso que Jesus fez connosco, comigo e contigo, com a humanidade inteira. Por amor, gastou-Se até à última gota de sangue.

É o amor e o serviço que nos salvam, permitindo-nos sair potenciar o melhor de nós, como filhos bem-amados de Deus e acolher tudo o bem que vem de Deus através dos outros.

As palavras de Jesus entram-nos pelos ouvidos dentro até chegarem ao coração. Outrora poderíamos ainda ter desculpas, não saber, estarmos a caminhar e a amadurecer. Mas agora é tempo de viver, de amar e servir.

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4400, de 21 de fevereiro de 2017

27.08.16

Quando fores convidado... não tomes o primeiro lugar

mpgpadre

1 – O reino de Deus não é um privilégio, é para todos. A opção preferencial pelos pobres é visível nas palavras de Jesus. Nós selecionamos. Deus não seleciona. É Pai. Todos são filhos. Porém, a primazia neste reino novo são os que não tem lugar à mesa dos reinos deste mundo, excluídos, pobres, doentes, pecadores, publicanos, mulheres, crianças, estrangeiros.

“Quando ofereceres um almoço ou um jantar, não convides os teus amigos ou os teus irmãos, nem os teus parentes nem os teus vizinhos ricos, não seja que eles por sua vez te convidem e assim serás retribuído. Mas quando ofereceres um banquete, convida os pobres, os aleijados, os coxos e os cegos; e serás feliz por eles não terem com que retribuir-te: ser-te-á retribuído na ressurreição dos justos”.

Optar não é excluir. Nem discriminar. Deus não faz aceção de pessoas. Jesus mostra-o bem com o Seu proceder. Foi convidado por um fariseu reconhecido e aceitou o convite. Naquele tempo, só alguns, poucos, podiam oferecer um banquete. Sendo convidado, Jesus não Se faz rogado. Se é Sua a iniciativa aproxima-se dos mais frágeis.

Nós convidamos as pessoas de quem gostamos, familiares, amigos, sabendo à partida que nos retribuirão, ou convidamos já a retribuir outro convite anterior.

Jesus não retribui. Os convites que Lhe são feitos tem diversas motivações: amizade, agradecimento, mas também pela fama de que desfruta. Jesus não tem meios económicos para retribuir.

Jesus retribui. Não do mesmo jeito, mas de um jeito maior. O banquete de Jesus é para sempre. Abre-nos as portas da eternidade. Não para compensar os banquetes para os quais foi convidado, mas por infinito Amor, porque sim, porque assim é o Ser e o Agir do Pai. Assim é o Ser e o Agir de Jesus. O convite é para todos, a começar pelos pequeninos. Condições: amar e servir!

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 2 – Hoje em dia, em qualquer festa mais formal há lugares marcados. Os noivos, os pais da criança batizada, o protocolo, distribuem os convidados por diferentes mesas. Para não haver situações de embaraço na hora de sentar. Facilmente imaginaremos, uma pessoa a ter que sair do lugar para aquela família ficar junta, ou para se sentar aquele amigo, pois nas outras mesas não é conhecido de ninguém. Se o ambiente for familiar, será fácil resolver estas minudências.

A presença de Jesus faz-se notar. Um profeta ou um mendigo? Simples a vestir. Simples o Seu olhar e a Sua postura. Observam-n'O. Deixa-Se ver, deixa-Se tocar, está no meio do povo! Não está à margem, não tem um grupo de guardas a protegê-l'O. A Sua proteção é o Pai e a ligação de amor que com Ele mantém em permanência. Espera pela Sua vez. Vê que os convidados procuram o melhor lugar.

Conta-lhes então uma parábola: «Quando fores convidado para um banquete nupcial, não tomes o primeiro lugar… Quando fores convidado, vai sentar-te no último lugar… Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado».

No reino de Deus, preconizado por Jesus, não há disputas de lugares, mas de serviço. Entre vós, quem quiser ser o maior, seja o servidor de todos. A disputa é ao nível do serviço e do amor.

 

3 – A humildade e a sabedoria são irmãs. A ignorância e a arrogância são irmãs. A humildade abre-nos aos outros e leva-nos a procurar melhorar, aprender, corrigir. A prepotência e a soberba encerram-nos no nosso egoísmo e orgulho…

 

4 – Em Santo Agostinho – cuja memória se celebra hoje, Padroeiro secundário da Diocese de Lamego – podemos encontrar um testemunho de vida, cuja conversão clarifica a abertura a Deus e a humildade, reconhecendo as suas imperfeições, a sua pequenez diante da misericórdia de Deus…


Textos para a Eucaristia (C): Is 66, 18-21; Sl 116 (117); Hebr 12, 5-7. 11-13; Lc 13, 22-30.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

12.03.16

«Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar»

mpgpadre

1 –  Página belíssima do Evangelho de São João. A descrição joanina faz-nos ver Jesus e acompanhá-l'O em diferentes momentos. Retira-Se para o monte das Oliveiras, para pernoitar, para descansar, para rezar, alimentando-Se da presença do Pai. Com Ele vão os discípulos. Vamos no Seu encalço, não nos percamos no caminho, não fiquemos para trás. A oração faz-nos sintonizar com Jesus.

De manhã cedo Jesus volta ao Templo, senta-Se e começa a ensinar o povo que se aproximara d'Ele. Alguns fariseus e doutores da Lei também se aproximam mas para O testar. Trazem-Lhe uma mulher apanhada em flagrante adultério. Desde logo a discriminação, pois falta o homem que com ela cometeu adultério e para quem a Lei de Moisés exigia o mesmo tratamento. Colocam-na no meio dos presentes. Humilhação completa. Não bastava ter sido surpreendida em falta era agora exposta perante todos.

«Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Armadilha bem orquestrada. Se condenasse aquela mulher, Jesus não seria melhor que aqueles que lha apresentaram e cairia uma das facetas essenciais do Mestre da Sensibilidade, a Sua delicadeza, tolerância, acolhimento de pecadores e publicanos. Não condenando, estaria a ser conivente com o pecado e a contrariar a Lei de Moisés, que o povo judeu tem como referência imprescindível para a religião.

Jesus faz com que fariseus, doutores da Lei, discípulos, e todo o povo, onde nos incluímos, regressem à terra. "Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão". E é então que Jesus contrapõe: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». E novamente Jesus nos faz olhar para o chão das nossas misérias. Para atirar a primeira pedra é preciso alguém impecável, que não tenha fraquezas, nem pecados, nem telhados de vidro. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Porque olhas para o argueiro na vista do teu irmão sem tirar a trave da tua vista?

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2 – Um após outro, todos se retiraram, porque olhando para as suas vidas facilmente encontraram motivos de condenação, de censura, de arrependimento. Mal é quando desviamos a atenção para os outros para que não olhem para nós.

No final, diz Santo Agostinho, "todos saíram da cena. Somente ficaram Ele e ela; ficou o Criador e a criatura; ficou a miséria e a misericórdia... Ficou ali apenas a pecadora e o Salvador. Ficou a enferma e o médico. Ficou a miserável com a misericórdia". Jesus levantou-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».

A miséria desta mulher é absorvida pela misericórdia de Deus que em Jesus a perdoa e a acaricia. Vai e não voltes à mesma vida. Tens agora uma nova oportunidade. Refaz o trajeto, refaz e vida. Vai e sê mulher, sê feliz. A misericórdia não passa ao lado do pecado, o pecado é perdoado por Jesus; a misericórdia reabilita-a para uma vida nova. Jesus não desculpa o pecado, não desvaloriza ou disfarça o mal. Desculpabilizar não é perdoar, é contornar o problema, varrer para debaixo do tapete. Reconhecer o pecado, o mal feito, é levar a sério a pessoa, na sua liberdade, consciência e responsabilidade. Perdoar é aceitar a pessoa com as suas limitações e as suas falhas. Ela pecou, como o homem que estivera com ela também pecou. Jesus di-lo claramente: vai e não voltes a pecar. Não te condeno. Os teus pecados estão perdoados. Esta mulher é reabilitada como filha amada de Deus.

O desafio é para ela, para fariseus e doutores da lei, e para todos. Obriga-nos a olhar para nós para que não condenemos nem injusta nem levianamente. Perdoar as injúrias. Suportar com paciência as fraquezas do próximo. Perdoar porque primeiro Deus nos perdoa!

Onde abunda o nosso pecado superabunda a graça, a misericórdia, a benevolência de Deus.

___________________________

Textos para a Eucaristia (C): Is 43, 16-21; Sl 125 (126); Filip 3, 8-14; Jo 8, 1-11.

 

REFLEXÃO DOMINCIAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

22.03.15

WALDEMAR TUREK - A Quaresma com Santo Agostinho

mpgpadre

WALDEMAR TUREK (2015). História de uma conversão. A Quaresma com Santo Agostinho. Lisboa: Paulus Editora. 128 páginas.

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       Há livros que procuramos, pelo conteúdo, pelo autor, por uma sugestão. Há livros que encontramos sem procurar, mas que saltam à vista por algum motivo: o título, a capa, o tema, a referência a um autor. É o caso deste livro. A Gráfica de Lamego, livraria da Diocese de Lamego, procura diversificar nos livros e nos autores, acolhendo também as sugestões das Editoras (sobretudo cristãs). Semana a semana, ou conforme vamos passando, a verificação se há novidades. A capa não chamou à atenção, mas a referência a Santo Agostinho saltou logo à vista, por se um dos teólogos mais brilhantes do cristianismo.

       Ainda hesitamos, o tema era interessante, a Quaresma, com reflexões para todos os dias, da Quarta-feira de Cinzas até Sexta-feira Santa, e a reflexão dos Domingos, seguindo os três ciclos A, B e C; a referência a Santo Agostinho e às suas Confissões, eram sugestivas, mas o autor desconhecido. Quando um autor se vale de alguém do estatuto de Santo Agostinho, poderá ter o propósito de vender bem. Obviamente que ninguém escreve e publica um livro para ficar apenas exposto em prateleiras.

       Folheando o livro percebemos, na nossa opinião, que é um livro agradável, com reflexões muitos sugestivas para todos os dias da Quaresma, e as referências a Santo Agostinho fazem-nos entrar na sua busca espiritual, na sua conversão, na preocupação constante de conhecer e acolher Deus.

       Para quem leu as Confissões, tem aqui um prestimosa ajuda para relembrar alguns dos momentos comoventes na vida de Santo Agostinho. Para quem não leu esta importantíssima obra do Bispo de Hipona, aqui está uma ajuda e um incentivo.

       A vida de Santo Agostinho mostra como é possível passar da presunção de que se atinge a verdade pelo esforço pessoal, pelo estudo, pela filosofia, para a humildade de quem se aceita nas suas limitações, confiando na misericórdia de Deus.

       Nestes dias em que o Papa Francisco anunciou o Jubileu da Misericórdia (a iniciar no dia 8 de dezembro de 2015 e a encerrar no dia 20 de novembro de 2016), a leitura deste livro far-nos-á perceber melhor a misericórdia de Deus, numa reflexão agostiniana tão atual, hoje como nos seus dias terrenos. A misericórdia de Deus é transversal a todas as reflexões, e às Confissões do Santo de Tagaste. 

 

Veja a sugestão pelos olhos do

21.08.14

Leituras - ISIDRO LAMELAS: St. Agostinho: A Alegria da Palavra

mpgpadre

ISIDRO PEREIRA LAMELAS, ofm, (2012). Santo Agostinho, A Alegria da Palavra. Gaudio ubi audio. Coimbra: Tenacitas. 192 páginas.

       Na primeira Exortação Apostólica, Evangelii Gaudium (A Alegria do Evangelho), o Papa Francisco dedica algumas páginas incisivas à homilia, como uma ferramenta válida para o anúncio do Evangelho, a que sacerdotes e bispos devem dar especial atenção, preparando bem, com uma leitura atenta e demorada do Evangelho, uma e outra vez, pois só na medida em que a Palavra de Deus diga algo e seja significativa para quem A anuncia poderá ser luminosa para quem A escuta. Ainda que o Espírito Santo inspire uns e outros. A homilia há de partir de Jesus e fazer voltar a Jesus, em dinâmica de desafio, de conversão. A homilia visa sempre comunicar Jesus Cristo, e não o pregador. Procura ser acessível e envolvendo os que escutam.

       Neste livro o Pe. Isidro Lamelas apresenta-nos um pregador exímio: SANTO AGOSTINHO. Outro tempo, uma cultura diferente, um ambiente específico, mas com muitas notas úteis para perceber bem o papel da homilia nas comunidades eclesiais, com algumas constantes que se mantiveram ao longo dos tempos.

       O Pe. Isidro Lamelas, OFM (Ordem dos Frades Menores) é natural de Penude, Lamego. Minha terra natal. Essa foi uma motivação inicial e acrescida para ler esta obra. Mas bastaram as primeiras páginas para perceber que valeu a pena procurar este título e reservar-lhe atenção, pela densidade da exposição, pelo conhecimento e investigação do autor, mas ao mesmo tempo numa escrita muito acessível e de fácil leitura. Por outro lado, é um instrumento valioso para enquadrar a homilia, a partir de Santo Agostinho, figura ímpar do cristianismo.

       Santo Agostinho é reconhecidamente uma das mentes mais brilhantes do cristianismo, sendo uma referência para os teólogos em diferentes campos da teologia mas também da filosofia, e com frases que se multiplicam na Internet. Sobre os Sacramentos, sobre a Teologia da Graça, sobre a Igreja. Uma das obras mais lidas do autor: Confissões. Testemunho da sua fé, o caminho da conversão a Jesus Cristo, a busca e o encontro com o Mestre dos Mestres.

       Menos conhecidos são os seus Sermões (populares). Ultimamente têm sido descobertos alguns e têm ganhado relevância nos meios académicos.

       O autor, Isidro Lamelas, dedica os primeiros capítulos a refletir sobre os aspetos mais importantes das homilias de Santo Agostinho, com o enquadramento histórico e mostrando como a referidas homilias apresentam um estilo específico de oralidade, pelo que seria mais fácil ouvir do que ler. A origem e o propósito: homilias dirigidas às comunidades crentes. Salienta-se o facto do pregador contextualizar as suas intervenções, tendo em conta as pessoas que tem à sua frente, partindo de uma leitura previamente escolhida, ou não, com um tema preparado, mas por vezes alterando a temática perante a necessidade de falar de outro assunto, com grande interação com o povo, em que o próprio provoca reações ou as expressa, aplausos, cansaço, fadiga, das pessoas ou dele próprio, ocasiões festivas, ouvintes que estão a entender ou nem por isso, sendo preciso explicar melhor ou deixar para outro dia o aprofundamento do tema.

       Uma nota sempre sublinhada é o facto do pregador hiponense partir sempre da Palavra de Deus, e a ela recorrer frequentemente. Usa uma linguagem muito viva, na procura de explicar  melhor possível. O mais importante é que a homilia esteja ao serviço da palavra, ainda que reconheça que a eloquência poderá ajudar a uma melhor compressão da mensagem. Porém, o mais importante é sempre o conteúdo, a Palavra de Deus.

       Numa segunda parte da obra, o Pe. Isidro apresenta algumas homilias, ou parte delas, sobretudo referidas à temática social. No momento de crise que a sociedade atravessa, as palavras de Santo Agostinho continuam válidas e incisivas.

       Ao ler este livro fiquei convencido da mestria do autor e da sua sugestão: as homilias de Santo Agostinho, que se leem com grande agrado, podendo a ajudar outros a preparar melhor as homilias, e a todos ajudar a viver/acolher melhor a Palavra de Deus.

02.11.13

Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa

mpgpadre

       1 – «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». O convite de Jesus, feito a Zaqueu, e a cada um de nós, é extraordinário. Zaqueu era cobrador de impostos, publicano, profissão geradora de ódios, pois o que cobravam era fruto do trabalho, do sustento e das canseiras de muitas famílias, algumas das quais com escassos recursos, e ainda por cima os impostos cobrados era direcionados para o imperador romano, a potência invasora, e para as autoridades locais. Por outro lado, os cobradores de impostos, muitas vezes, aproveitavam o posto que ocupavam e a proteção que tinham para cobrar maquias consideráveis para si próprios.

       Jesus entra na cidade de Jericó. Ali vive um homem rico, o chefe dos cobradores de impostos. Zaqueu é de pequena estatura, de vistas curtas, pouco mais vê que a sua carteira. Mas para ver Jesus é necessário ter os olhos bem abertos, e sobretudo o coração. Impelido a ver Jesus, sobe a uma árvore, eleva-se do chão e acima da multidão.

       Entretanto, Jesus levanta o olhar e interpela-o: «Zaqueu, desce depressa, que Eu hoje devo ficar em tua casa». É preciso descer, colocar-nos ao nível de Jesus, que sendo de condição divina, quis ser um de nós, para no meio de nós nos ensinar a ser irmãos, porque filhos de Deus, do mesmo Pai. Se ficarmos no lugar em que nos encontramos, no nosso pedestal, na nossa vidinha, poderemos até ver Jesus, mas à distância, e apenas com os olhos, não com o coração. Zaqueu desce rapidamente e recebe Jesus com alegria.

       É uma alegria convertida em compromisso: «Senhor, vou dar aos pobres metade dos meus bens e, se causei qualquer prejuízo a alguém, restituirei quatro vezes mais». Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.

       Vêm então os reparos daqueles que, vendo Jesus, ainda não O descobriram, ainda não se deixaram tocar pela Sua presença, pelo Seu olhar: «Foi hospedar-Se em casa dum pecador». Jesus não se deixa enredar na cusquice e conclui: «Hoje entrou a salvação nesta casa, porque Zaqueu também é filho de Abraão. Com efeito, o Filho do homem veio procurar e salvar o que estava perdido».

       2 – O Evangelho é um desafio de salvação. Devemos manter aceso em nós o desejo de querer ver Jesus, de O encontrar, de O seguir, de O levarmos para casa, de O trazermos para a nossa vida.

       Só a humildade nos coloca no caminho de Jesus, de contrário Ele passa e nós ficamos em cima do sicómoro, ou comodamente a murmurar, pelos outros que avançam caminhando com Ele. O chamamento é para mim. É para ti. Ele passa. Faz-Se caminho, verdade e vida. Vem habitar connosco, vem ficar em nossa casa.

       Se a nossa estatura é pequena, há que procurar mais afincadamente, abrir o coração, fazer com que as nossas vistas sejam mais largas, alcancem mais longe. É necessário procurá-l’O onde Ele vai passar. Escutar o seu convite. Segui-l'O para onde for. É necessário descer do nosso comodismo e não deixar que Ele passe adiante sem nós. Também São Paulo caiu do cavalo, do alto do seu orgulho e da sua presunção. Jesus bate à nossa porta, grita-nos aos ouvidos, envia-nos um impulso ao coração, como fez aos discípulos de Emaús.

       Acolher Jesus, segui-l'O deixando que entre em nossa casa, gera ALEGRIA que transborda, contagia e se espalha para as casas vizinhas, para as pessoas que se cruzam connosco. Ou então ainda não O encontramos. Não basta acolher o amor de Deus, é necessário que este AMOR maior seja serviço aos outros.

       Hoje a salvação quer entrar em minha casa, na tua, na nossa casa. Por mais perdidos que estejamos, Jesus vem salvar-nos, introduzindo-nos na comunhão de Deus. Levemos a outros esta alegria. Não impeçamos ninguém de se aproximar e de ver Jesus. A multidão impedia que Zaqueu chegasse perto de Jesus. Não sejamos empecilho para os outros pela nossa opacidade, pela nossa tibieza. Ao invés, deixemo-nos contagiar e contagiemos. Evangelizados e evangelizadores.


Textos para a Eucaristia (ano C):

Sab 11, 22 – 12, 2; Sl 144 (145); 2 Tes 1, 11 – 2, 2; Lc 19, 1-10.

 

14.10.12

Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?

mpgpadre

       1 – Um homem correu ao encontro de Jesus, ajoelhou diante d’Ele e perguntou- Lhe: «Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?» A atitude deste homem é delicada e de grande expetativa. A primeira coisa que faz é colocar-se de joelhos diante de Jesus, reconhecendo-O como Mestre justo e bom.

       É um homem em correrias, ansioso, insatisfeito, à procura de um sentido maior para a sua vida e que justifique os seus dias.

       A resposta de Jesus não visa agradar ao seu interlocutor, mas propor um projeto de vida viável e exequível: “Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe”.

       A lei por si mesmo não salva: «Mestre, tudo isso tenho eu cumprido desde a juventude».

       Jesus vê que a lei era um fardo para aquele homem, ainda que ele a cumprisse, e lança um desafio maior: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Ouvindo estas palavras, anuviou-se-lhe o semblante e retirou-se pesaroso, porque era muito rico.

 

       2 – Seguir Jesus implica-nos, não é uma adesão exterior, como camisa que se troca a qualquer momento, é um jeito de viver, de amar, de se relacionar com os outros. Ele entranha-Se em nós, somos transformados não pela rama, como crosta que se desprende com o tempo, mas em todas as veias, é sangue que nos liga a Jesus.

       Garantida está a Sua presença e a vida eterna. Garantida está uma vida de serviço aos outros. O maior no reino de Deus, é o que se faz menor, o que serve os demais, como Jesus que veio para servir e não para ser servido. Nas palavras de Santo Agostinho, “quem não vive para servir, não serve para viver”. A disputa dos discípulos por lugares há de dar lugar à disputa pela caridade. Não devais nada uns aos outros, senão a caridade (São Paulo).

 

       3 – A resposta de Jesus é também para os discípulos, de ontem e de hoje, a quem alerta com veemência: «Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus».

       Os discípulos continuam a magicar qual deles tirará mais dividendos e procuram saber mais, tirando tudo a limpo: «Quem pode então salvar-se?». Fitando neles os olhos, Jesus respondeu: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Pedro insiste, apresentando créditos – «Vê como nós deixámos tudo para Te seguir» – que Jesus valoriza: «Em verdade vos digo: Todo aquele que tiver deixado casa, irmãos, irmãs, mãe, pai, filhos ou terras, por minha causa e por causa do Evangelho, receberá cem vezes mais, já neste mundo… e, no mundo futuro, a vida eterna».

       Muitas coisas e muitas situações se entrepõem entre nós e Deus: dúvidas, distanciamentos, trabalho e falta dele, doenças, solidão, conflitos familiares e/ou profissionais, deceções, falta de tempo.

       O que se entrepõe entre nós e Deus também se entrepõe entre nós e o próximo. O homem do evangelho queria algo mais da sua vida. Jesus propõe-lhe o seguimento e serviço aos outros. Ele pensava que haveria alguma forma mágica que o salvasse do ram-ram da sua existência, sem alterar nada da vida que tinha.

 

       4 – O destino do ser humano é ser feliz. É para isso que Deus nos criou. É para isso que andamos cá. A pergunta feita a Jesus tem a ver precisamente com esta busca incessante: o que devo fazer para ser feliz, agora e no futuro?

       Em Jesus Cristo a meta está iluminada e daí a importância de escutar e mastigar a palavra de Deus, que “é viva e eficaz… É a ela que devemos prestar contas” e pedir a Deus a sabedoria: “Orei e foi-me dada a prudência; implorei e veio a mim o espírito de sabedoria. Preferi-a aos cetros e aos tronos… Com ela me vieram todos os bens”.

       Se nos ligamos aos outros, em atitude de serviço, neles encontraremos a Deus, a Quem buscamos no mais íntimo de nós mesmos.


Textos para a Eucaristia (ano B): Sab 7, 7-11; Hebr 4, 12-13; Mc 10, 17-30.
 

Reflexão Dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE

22.06.11

Faz, ó Pai, com que Te ame

mpgpadre

Ó Deus,

Só a Ti é que amo.

Só a Ti procuro.

Só a Ti quero servir.

Só Tu deves ser o meu Amo.

Expulsa de mim a vaidade,

para que eu possa reconhecer-Te.

Diz-me para onde olhar, para Te ver.

Quero cumprir o que Tu esperas.

Faz, ó Pai, com que eu te procure, preserva-me do erro.

Que na minha busca, nada mais que Tu se me apresente.

Embora seja verdade que não desejo nada mais que Tu,

Faz com que, ó Pai, Te encontre.

E, se ainda houver em mim algum desejo supérfluo,

Que eu queira revestir-me de Ti mesmo

e tornar-me capaz de Te ver".

 

Santo Agostinho (in Família Paroquial da Paróquia de Rio Tinto - 5/06/2011)

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