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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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12.02.17

Leituras: TOMÁŠ HALÍK - PACIÊNCIA COM DEUS

mpgpadre

TOMÁŠ HALÍK (2014). Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro. (3.ª Edição). Prior Velho: Paulinas Editora. 288 páginas.

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Tomáš Halík, neste título, Paciência com Deus, e que tem como subtítulo “Oportunidade para um encontro”, procura perceber o Zaqueu que se esconde no sicómoro (figueira…), mas que Deus descobre por entre a folhagem. Vivemos num tempo em que podemos, com alguma facilidade, catalogar os que têm fé e os que não têm, os crentes e os ateus. O autor recusa uma leitura apressada, fácil, em que se crie uma divisória nítida. Há muitos Zaqueus para os quais temos que olhar com carinho, com atenção. Deus escapa-nos, não se enforma nas nossas conceções racionais. É mistério que, no entanto, está presente em cada um de nós, pois todos fomos/somos criados à Sua imagem e semelhança. Não nos podemos apossar d’Ele, pois também se encontra nos outros…

Um dos textos citados pelo autor é o do profeta Elias.

Elias, depois de matar os profetas idólatras, é avisado pelo Rei Acaz que o mesmo lhe será feito. Elias sai da cidade e caminha pelo deserto. Já esgotado, pede ao Senhor que lhe tire a vida. O anjo do Senhor aparece-lhe por duas vezes e ordena-lhe: «Levanta-te e come, pois tens ainda um longo ca­mi­nho a per­correr». Elias faz como o Senhor lhe ordena e dirige-se para o monte Horeb. Aí passa a noite. O Senhor faz saber a Elias que vai passar… «Passou um vento impetuoso e violento, que fendia as montanhas e quebrava os rochedos diante do Senhor; mas o Senhor não se encontrava no vento. Depois do vento, tremeu a terra. Passou o tremor de terra e ateou-se um fogo; mas nem no fogo se encontrava o Senhor. Depois do fogo, ouviu-se o murmúrio de uma brisa suave. Ao ouvi-lo, Elias cobriu o rosto com um manto, saiu e pôs-se à entrada da caverna» (1 Reis 19, 1- 14).

Deus nem sempre é evidente. Em questões de fé nem tudo é branco e preto. Um crente passa por momentos de treva, de dúvida e hesitação. Um “ateu” pode estar perto de Deus, em busca, a percorrer um caminho de aproximação. 

É, em meu entender, uma das linhas condutoras do texto de Tomáš Halík, Paciência com Deus, procurando fazer pontes, prevenir juízos precipitados, para não encerrar o próprio Deus em ideias preconcebidas e limitando a Sua ação.

Deus poderá não ser tão evidente como por vezes se faz crer.

Por um lado, em Jesus Cristo, Deus manifesta-Se em plenitude, revela o Seu rosto. Mas não Se deixa aprisionar por uma pessoa ou por uma instituição ou por uma religião. Quem se convence que possui Deus está perto de blasfemar, pois Deus é e continuará a ser Mistério.

Por outro lado, segundo o teólogo checo, o caminho da fé não é linear. A busca honesta e decidida tem avanços e recuos. Deus nem sempre está onde O queremos, pode estar onde não pensamos. Elias é surpreendido. Deus não está na tempestade mas na brisa suave, onde quase não Se percebe.

Santa Teresinha, no momento de especial sofrimento vive a “noite da fé”, contudo, não diminui o amor que permanece até à eternidade.

Em Nietzsche, na proclamação da morte de Deus, segundo o autor, também se intui o silêncio dos crentes que deixaram que Deus fosse morto sem protestarem, sem reivindicarem a Sua vida e a Sua presença…

Mais perigoso que um ateu convicto é um crente apático!

O diálogo faz-se entre ateus convictos e lutadores e crentes em busca. Entre crentes apáticos, seguros de si mesmos, e ateus indiferentes não há diálogo nem discussão possível. Situam-se uns e outros na denúncia de Nietzsche, Deus morreu e também o matámos. O anúncio não deu lugar ao protesto contra a morte de Deus. Foi um grito que passou com indiferença.

Esta é mais uma belíssima obra e provocação do autor chego, convidando-se a uma busca constante, permitindo que os Zaqueus se aproximem e, no momento em que também nós formos e nos sentirmos Zaqueus, nos deixemos interpelar pelas palavras e pelo desafio de Jesus Cristo.

 

(o presente texto foi elaborado a partir de dois textos

publicados na Voz de Lamego, sob o título:

Silêncio, Deus não mora à superfície (31 de janeiro de 2017)

Deus não mora à superfície (7 de fevereiro de 2017)

 

Sugiro a leitura do seguinte comentário: 

02.04.16

Meu Senhor e Meu Deus

mpgpadre

1 –  A plenitude da misericórdia divina é visualizável no mistério da Encarnação, Deus cabe na palma da mão, cabe no meu e no teu coração. A omnipotência reduz-Se à pequenez. Deus, em Jesus Cristo, faz-Se Caminho para nós e entra nos caminhos do tempo, vem ao nosso mundo. O mistério da Páscoa condensa e evidencia em definitivo a misericórdia de Deus que Se ajusta à nossa fragilidade. O coração de Deus compadece-se da nossa miséria e envolve-nos no Seu amor.

Com a Páscoa, uma enxurrada de vida nova. A morte não tem mais a última palavra. Esta é de Deus, é da vida, é do Amor. Jesus regressa trazendo-nos, na expressão de Bento XVI, a vastidão do Céu. Um vislumbre de luz que incendiou o mundo. Assim é a Luz da Fé, à minha luz, a luz do outro, e mais luz, como a chama de um isqueiro num estádio de futebol, quase invisível, mas logo que se acendem dezenas, centenas, milhares, o estádio fica todo iluminado. O encontro com Jesus ressuscitado, a experiência da misericórdia de Deus na nossa vida, impele-nos a sermos luz uns para os outros.

São João Paulo II quis que este 2.º domingo de Páscoa fosse tido sob o prisma da misericórdia, acentuando a Páscoa como expoente máximo da compaixão de Deus pela humanidade. Abaixa-Se para nos elevar, como a Mãe que se agacha para pegar o seu filho ao colo!

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2 – Páscoa de Jesus Cristo. Sepulcro sem corpo e sem vida. A vida está aquém do sepulcro e além da morte. Jesus ressuscitou. A vida germina de novo em abundância. Deixou-Se matar! Deus Pai ressuscitou-O, agora deixa-Se ver e encontrar, deixa-Se perceber ao nosso olhar e ao nosso coração. Não é fantasma, é Ele mesmo. Traz as marcas da crucifixão e a mesma mensagem: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós».

Na tarde daquele Primeiro Dia da Nova Criação, Jesus volta a colocar-Se no MEIO, congregando, unindo, é o ELO sem o Qual não existe comunidade. Não é um corpo que foi reanimado, mas uma forma totalmente nova de Se manifestar. É tanta a LUZ que encandeia num primeiro momento. A aparição assusta, os gestos e as palavras e as marcas de cumplicidade esclarecem e comprometem. A morte tinha sido violenta e abrupta a separação. Já havia rumores. Algumas mulheres afirmavam que Ele tinha ressuscitado! Para os discípulos não passam de rumores. Eis que vem Jesus, como sempre o havia feito, e centra-os à Sua volta, mas logo enviando-os, com uma missão específica: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos». A misericórdia divina tem novos intérpretes. Os discípulos são os braços, as pernas, as mãos, o coração de Jesus para o mundo das pessoas.

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3 – Mas como sermos testemunhas se não estávamos quando Jesus apareceu? É possível ser enviado sem a comunidade?

Tomé, chamado Dídimo, isto é, Gémeo, nosso irmão gémeo, lembra-nos que a fé não é um dado adquirido, mas é procura constante para encontrar Jesus, nas variadas situações da vida. Naquela tarde, Tomé não estava. Ouve o testemunho dos outros que viram Jesus. É um dizer indireto, em segunda mão. Tomé precisa de ver e de tocar. A fé não é mera abstração intelectual. Envolve-nos mental, afetiva e racionalmente. Oito dias depois, Jesus volta a colocar-se no MEIO deles, com Tomé presente. As marcas da paixão podem ver-se no Corpo de Jesus, e novamente a mensagem de sempre: a paz esteja convosco. É hora de Tomé ser surpreendido por Jesus: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé encontra-se com Jesus e ao vê-l'O confessa: «Meu Senhor e meu Deus!».

Não se pense que a incredulidade de Tomé foi assim tão diferente da dos outros discípulos. Eles tinham escutado rumores, mas só quando Jesus lhes apareceu é que acreditaram.

Contudo, o anúncio é crucial para a transmissão da fé. A fé chega-nos através da comunidade, pelo testemunho daqueles que fizeram a experiência de encontro com Jesus. Diz-nos Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».

___________________________

Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 5, 12-16; Sl 117 (118); Ap 1, 9-11a. 12-13. 17-19; Jo 20, 19-31.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

16.04.15

Leituras: TOMÁŠ HALÍK - O MEU DEUS É UM DEUS FERIDO

mpgpadre

TOMÁŠ HALÍK (2015). O Meu é Deus é um Deus ferido. Prior Velho: Paulinas Editora. 240 páginas.

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        Ao olhar para escaparate, no caso concreto da livraria religiosa da Diocese de Lamego, Gráfica de Lamego, este foi um título/livro que não me despertou atenção. Peguei nele para o desviar de outros. É certo e sabido que o conteúdo é o mais importante, mas o aspeto abre o apetite e pela capa nem o título li direito, pensando que era um livro clássico, pesado. A recomendação veio do meu pároco, Pe. Adriano Cardoso, Pároco de Penude, dizendo que era um autor muito bom, criativo, que ia além dos conceitos habituais e que valia a pena ler.

       Permitiu-me desta forma conhecer um autor que me era estranho. É possível que já tivesse lido alguma citação mas nunca me despertou a atenção. Natural de Praga, na República Checa, foi temperado pela perseguição do regime à Igreja Católica, vivendo na clandestinidade, foi ordenado sacerdote em 1978, tornando-se um dos assessores mais próximos do Cardeal  Tomášek, figura emblemática da «Igreja do Silêncio». Com o fim do comunismo, tornou-se conselheiro do presidente Václav Havel e, posteriormente secretário-geral da Conferência Episcopal Checa.

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        Em Portugal, há pelo menos mais dois títulos publicados pela mesma editora, Paciência com Deus. Oportunidade para um encontro (2013), e A noite do confessor. A fé cristã numa era de incerteza (2014).

       «O Meu Deus é um Deus ferido» trata do testemunho eloquente do encontro de Jesus com Tomé, cuja incredulidade nos leva a procurar as razões da nossa esperança, não dando a fé como adquirida, mas como procura constante, entre certezas e dúvidas, entre "provas" (testemunhos) e sofrimentos. Tomé é convidado a tocar Jesus, a tocar nas Suas chagas. Se a Maria Madalena Jesus diz "Não Me toques", isto é, não Me detenhas, a Tomé, Jesus diz: vem, vê, toca as minhas chagas. A fé não pode fixar o corpo biológico de Jesus, não tem provas tangíveis, mas deve tocar as feridas de Jesus nos corpos, nas vidas das pessoas.

       Sublime também a confissão de Tomé. No diálogo de Jesus com Pilatos, sobrevêm a identidade do homem: Ecce Homo, eis o Homem. Em Tomé, a confissão de fé em Deus: Eis Deus - Meu Senhor e Meu Deus.

       Ninguém vai ao Pai senão pelo Filho. Mas o Filho de Deus deixa-Se ver nas feridas e em todos os feridos deste mundo. Se tocarmos as feridas, a chagas do mundo, das pessoas deste tempo - o que fizerdes ao mais pequeno dos irmãos a Mim o fazeis - então podemos tocar Deus. Já não será uma abstração filosófica, mas um encontro real.

Bem-aventurados os que acreditam sem terem visto. A última das Bem-aventuranças. "Só o «não-ver», honesta e humildemente reconhecido e aceite, abre espaço à fé. A fé é proposto persistir neste não-ver. Ela deve velar, até ao fim, para que o o espaço do «não-visível» permaneça vazio e, todavia, simultaneamente aberto - como o sacrário do Sábado Santo, na hora da adoração das chagas do corpo e do coração de Cristo. Para esta tarefa verdadeiramente nada fácil, a fé necessita ainda da esperança e do amor".

       Saliente-se ainda a ponte que faz o sacerdote-teólogo checo entre a vivência ocidental e oriental da fé, entre ortodoxos e católicos e destes com os protestantes, pontes ecuménicas e diálogo interreligioso, com os judeus, com os muçulmanos, mas também com as religiões orientais.

 

Recendamos a leitura da recensão feita pelo

Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura

sobre este livro e sobre o autor: AQUI.

26.04.14

Meu Senhor e meu Deus!

mpgpadre

       1 – Cristo ressuscitou, Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e exultemos de alegria. Aleluia. Jesus está vivo, no meio de nós. Corações ao alto. O nosso coração está em Deus. É a nossa luz e a nossa salvação. O anúncio da Páscoa, que chegou a nossas casas, que levamos aos vizinhos, aos amigos, à família, chegou, no primeiro dia da nova criação, aos apóstolos.

       As mulheres, nas primeiras horas do dia, foram ao sepulcro. E que viram elas? O sepulcro vazio? Diz-nos o nosso Bispo, D. António Couto, as mulheres, como os discípulos, encontram o sepulcro aberto, mas não vazio, "está, na verdade, cheio de sinais, que é preciso ler com atenção: um jovem sentado à direita com uma túnica branca (Marcos 16,4), dois homens com vestes fulgurantes (Lucas 24,4), as faixas de linho no chão e o sudário enrolado noutro lugar (João 20,6-7). É importante ler os sinais e ouvir as mensagens!"

       O Corpo não foi roubado. Deus O ressuscitou dos mortos. E os sinais tendem a multiplicar-se e a transformar aqueles que permitem que Deus se lhes revele. O túmulo abriu-se à luz, à esperança.

       2 – Os sinais visíveis no túmulo aberto levam-nos para outro lugar. Finda a noite, é DIA, tempo de procurar Jesus. Melhor, é altura de deixar que Jesus nos encontre: em casa, no campo, a caminhar.

       "Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco… Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados…»

       O segundo Domingo de Páscoa, o Domingo da Misericórdia, traz-nos a dúvida e o medo de Tomé. Medo comum aos outros discípulos. Deus não força. Deus não impõe nem Se impõe. Oferece-se como DOM de vida nova. Mas cabe-nos reconhecê-l'O e acolhê-l'O.

       A vida dos discípulos altera-se para sempre. O Ressuscitado é o mesmo que o Crucificado. Também a Mensagem é a mesma: A paz esteja convosco. Recebei o Espírito Santo. Eu vos envio a vós, para que vades e deis fruto em abundância.

 

       3 – A morte de Jesus provoca uma razia entre os apóstolos. Judas traiu. Pedro negou. Os discípulos fugiram. Portas e janelas fechadas. Será necessário que se encontrem outra vez, todos, com Cristo.

       Tomé não estava com os outros discípulos. Estes garantem-lhe Jesus vivo. Tomé precisa de ver, precisa de encontrar-se com Jesus.

       Oito dias depois, Jesus novamente no meio dos apóstolos. Também lá está Tomé. Estão juntos, em casa. As portas continuam fechadas. O medo permanece por algum tempo. Jesus coloca-se no meio. Jesus deve estar sempre no meio, da casa, da comunidade, ocupando o nosso coração e o nosso olhar, a nossa vida por inteiro. É Ele que verdadeiramente nos reúne, nos congrega, nos aproxima. Quanto mais perto estivermos d’Ele tanto mais perto estaremos uns dos outros, e quanto mais nos aproximarmos uns dos outros, mais visível se torna a Sua presença no meio de nós. Jesus traz a paz. Anunciada ao longo da Sua vida pública, é dada de novo na ressurreição.

       Diz Jesus a Tomé, e também a nós: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». A profissão de fé de Tomé, breve, traz o coração às palavras: «Meu Senhor e meu Deus!». Ainda hoje é esta a oração e a profissão de fé que muitos católicos rezam diante do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o milagre maior da nossa fé. Jesus está vivo, especialmente no Sacramento da Eucaristia…


Textos para a Eucaristia (A): Atos 2, 42-47; Sl 117 (118); 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31

ou no nosso blogue CARITAS IN VERITATE

07.04.13

Meu Senhor e Meu Deus

mpgpadre

       1 – «Não temas. Eu sou o Primeiro e o Último, o que vive. Estive morto, mas eis-Me vivo pelos séculos dos séculos e tenho as chaves da morte e da morada dos mortos. Escreve, pois, as coisas que viste, tanto as presentes como as que hão de acontecer depois destas».

       O autor do Apocalipse e do Evangelho, São João, percebe a tarefa de colocar por escrito o que viu, ouviu, o que viveu junto de Jesus, o que lhe foi revelado para que outros tenham acesso a Jesus e à Sua Mensagem. As palavras são instrumento da REVELAÇÃO. São palavras humanas a servirem a COMUNICAÇÃO de Deus, e por isso são também Palavra de Deus, palavra de salvação. Não podemos calar o que vimos e ouvimos. Não posso deixar de evangelizar, de levar o mais longe possível a BOA NOTÍCIA. Deus veio até nós, para nos reunir, para nos remir, para construir connosco novos céus e nova terra, para que todas as coisas sejam novas, sob a luz da ressurreição.

       Escrevamos também nós. Façamos com que as nossas palavras e a nossa vida sejam um livro aberto, pintado com a postura de Jesus, escrito com o SONHO de cavar em todos os corações AMOR e PERDÃO.

       2 – Os primeiros discípulos e nós, os últimos discípulos de Cristo, os discípulos deste tempo e para este mundo, somos RESPONSÁVEIS por tornar habitável esta terra. Teremos que contagiar. Mostrar que JESUS ressuscitou também na minha, na tua, na nossa vida, nos dias que passam. Ele continua a encontrar-Se no nosso caminho, por vezes silenciosamente, escondido nas lágrimas e nos sorrisos das pessoas que estão ao nosso lado.

“Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e … mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós… Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhe-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos».

       Com a Ressurreição chega Jesus e com Ele a Paz e o Envio. Os discípulos não vão sozinhos. Não vamos isoladamente. Vamos como irmãos. Levamos as MARCAS de Jesus. São as mesmas mãos que se abriram para abraçar, para perdoar, para acolher, para apoiar, para levantar. É o mesmo lado que nos anima, o lado do CORAÇÃO. O amor que o levou à Cruz é o mesmo que no-lo devolve VIVO.

 

       3 – Dizia o então Cardeal Ratzinger, papa emérito Bento XVI, respondendo a uma questão, que a Igreja tem tantos caminhos quantas as pessoas, pois cada pessoa faz o seu caminho, ainda que na aproximação ao CAMINHO que é Cristo Jesus. Os apóstolos acolhem Jesus de maneira diferente, mas todos experimentam a dúvida sinalizada hoje em Tomé:

«Se não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, se não meter o dedo no lugar dos cravos e a mão na seu lado, não acreditarei». Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!» Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto».

       Tomé, chamado Gémeo, precisa de provas. Ele não está no primeiro dia da semana. Ele não estava com a comunidade e por conseguinte precisa de se situar DENTRO, para que Jesus possa apresentar-Se no MEIO deles. Só estando com eles O podemos ver. Fora, à margem, contra os outros, não podemos ver Jesus. Nos silêncios de Deus aguardamos por clarividências, por provas. Quantas vezes Deus está sorrateiramente no MEIO de nós e nem nos apercebemos, tão grandes sãos as nossas feridas, tão amargas são as nossas lágrimas. Mas é preciso deixar que Ele esteja no MEIO de nós. Só assim nos reconhecemos como seus discípulos, como irmãos. A dúvida de Tomé é igual à minha e à tua dúvida. Quando estamos mais sós assola-nos o medo e a treva e a noite.

 

       A alegria da nossa fé há de transformar-nos e transbordar para os outros, para que outros se sintam desafiados a viver a fé, a viver ao jeito de Jesus.


Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 5,12-16; Ap 1,9-11a.12-13.17-19; Jo 20,19-31

 

Reflexão dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE

02.05.11

Felizes os que acreditam sem terem visto!

mpgpadre

       1 - "Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes ser-lhes-ão retidos»...

        A desolação da morte na CRUZ dá lugar à vida, à ressurreição, e consequentemente à surpresa e depois ao encontro com o Ressuscitado e logo à alegria e à confiança, que por sua vez se converte em partilha, testemunho, nascendo a comunidade crente, que tem como ponto de partida, de chegada, e como sustentáculo a Cristo ressuscitado.

       Os discípulos vêem goradas as suas esperanças e as suas certezas acerca do Mestre e Senhor, que eles pouco a pouco vão descobrindo como Messias, esperado pelos profetas e enviado por Deus. Com a Sua morte, os discípulos dispersam, com medo refugiam-se em casa, em Jerusalém e nos arredores, para depois das festas pascais e passado o luto voltarem para a Galileia. Estão frustrados, tristes, sentem que lhes fugiu o chão. Pouco têm para fazer em Jerusalém.

       Quando Jesus Se encaminha para a cidade santa, com a entrada triunfal, os discípulos começam a ver os frutos da sua adesão e do seu seguimento. Afinal, tinha valido a pena deixar as suas vidas para trás, porque as promessas de uma vida nova e diferente estavam a concretizar-se. Nova reviravolta: sentados à mesa, Jesus revela-lhes que vai ser entregue e morto. Saem para o horto das oliveiras e já a oração de Jesus os deixa inquietos. Preso Jesus, o processo corre célere, para evitar outro desfecho que não seja a condenação. É o que acontece. E logo quando eles pensavam que Deus não deixaria que tal acontecesse.Mas aconteceu! E agora?! O melhor é acautelar a vida, escondendo-se, mantendo-se no anonimato para não correrem o risco de serem também presos, condenados e mortos.

       Na Sexta Jesus é morto. No Sábado, pesarosos, os discípulos isolam-se e partilham as mágoas do insucesso. Domingo, o primeiro dia da semana, o primeiro dia de um tempo novo, mas que os Seus seguidores ainda não vislumbram. As mulheres vão ao túmulo, depois os discípulos. O túmulo está vazio. Reúnem-se para discutir as hipóteses acerca do túmulo vazio. Jesus apresenta-Se no meio deles. Nem querem acreditar. "A paz esteja convosco". A saudação é mesma de quando estavam juntos. Não pode ser. Mas não é um espírito, um fantasma, é o mesmo Jesus Cristo, que Se deixa ver e se deixa tocar. A fé ainda precisa de ser "retocada", amadurecida, confirmada. Jesus dá-lhes tempo e espaço para acolherem a Boa Nova, e sobretudo dá-lhes o Espírito Santo, que lhes tinha prometido, e que lhes revelará toda a verdade. E então o extraordinário acontece, as portas escancaram-se até à actualidade.

 

       2 - Um dos Apóstolos não estava no reencontro com Jesus. E eis a mesma dúvida que antes assolava todos: será que o corpo de Jesus não foi roubado, será que apareceu mesmo às mulheres? Que pensar do túmulo vazio? E agora, será que não se juntaram num conluio para amenizar a dor dos mais cépticos e talvez quem sabe aproveitar os créditos da mensagem de Jesus para uma revolução?

       "Oito dias depois, estavam os discípulos outra vez em casa e Tomé com eles. Veio Jesus, estando as portas fechadas, apresentou-Se no meio deles e disse: «A paz esteja convosco». Depois disse a Tomé: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». Tomé respondeu-Lhe: «Meu Senhor e meu Deus!». Disse-lhe Jesus: «Porque Me viste acreditaste: felizes os que acreditam sem terem visto»".

        Mas também Tomé é surpreendido pela presença gloriosa de Jesus, que na omnipotência divina, Se deixa ver e tocar. Não é um fantasma, um espírito a vaguear pelo mundo, é o mesmo Jesus Cristo crucificado e no entanto já ultrapassada a limitação temporal e espacial.

 

       3 - Com a ressurreição de Jesus Cristo e com o envio do Espírito Santo nasce a Igreja. Quando Jesus aparece aos discípulos dá-lhes, desde logo, a missão. Missão de serem testemunhas da ressurreição e, com a força do Espírito, perdoarem os pecados, estabelecendo no mundo inteiro, no coração de cada homem e mulher, a paz que d'Ele recebem.

       Mas para testemunhar e para que no anúncio haja coerência é necessário viver, e viver em comunidade.

       O livro dos Actos dos Apóstolos mostra-nos como a comunidade nascente se torna fonte de inspiração para toda a Igreja e para as comunidades futuras: "Os irmãos eram assíduos ao ensino dos Apóstolos, à comunhão fraterna, à fracção do pão e às orações. Perante os inumeráveis prodígios e milagres realizados pelos Apóstolos, toda a gente se enchia de temor. Todos os que haviam abraçado a fé viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam propriedades e bens e distribuíam o dinheiro por todos, conforme as necessidades de cada um. Todos os dias frequentavam o templo, como se tivessem uma só alma, e partiam o pão em suas casas; tomavam o alimento com alegria e simplicidade de coração, louvando a Deus e gozando da simpatia de todo o povo. E o Senhor aumentava todos os dias o número dos que deviam salvar-se".

       Para Deus todos somos filhos. Somos irmãos. Vivamos como irmãos. Neste tempo de carestia, maior terá de ser a nossa atenção para que também entre nós não haja necessitados. A paz não se constrói de estômago vazio.

 

       4 - Pela Sua morte e ressurreição, Jesus introduz-nos nos novos céus e nova terra, redime-nos com o Seu amor, salva-nos com a Sua entrega, ainda que tenhamos que viver em permanente tensão entre a graça de Deus que nos atrai e as nossas fragilidades que, por vezes, se sobrepõem.

       São Pedro é muito expressivo, apresentando-se também como testemunha. Por vezes deixou-se enredar no seu egoísmo, nos seus impulsos imediatos, e oscilou entre o seguir o Mestre e o querer alterar-Lhe os planos. Foi provado e escolhido para apascentar o rebanho de Cristo.

       Atentemos às Suas palavras: "Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que, na sua grande misericórdia, nos fez renascer, pela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos, para uma esperança viva, para uma herança que não se corrompe, nem se mancha, nem desaparece... Isto vos enche de alegria, embora vos seja preciso ainda, por pouco tempo, passar por diversas provações, para que a prova a que é submetida a vossa fé – muito mais preciosa que o ouro perecível, que se prova pelo fogo – seja digna de louvor, glória e honra, quando Jesus Cristo Se manifestar...".

_________________________

Textos para a Eucaristia (ano A): Act 2, 42-47; 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31

 

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