Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros
1 – A palavra de Deus apresenta-nos, na primeira leitura e no Evangelho, como protagonistas, duas viúvas, trazidas para a luz, para a história, pelos enviados de Deus.
Como acontece em nossos dias, também naqueles lugares, as viúvas, os pedintes, fazem parte da paisagem, estão ali, são dali, sempre se encontram nos mesmos sítios. Não têm vida própria. Fazem número, mas não entram nas contagens oficiais. Já nem incomodam, tornaram-se invisíveis porque já são da cor das pedras e dos cantos onde estendem a mão. Já poucos as ouvem pedir, as suas vozes já não reproduzem qualquer som, ou os sons são lengalenga que se repete e de tanto repetir já não desperta consciências.
2 – Num tempo de grande carestia e de fortes convulsões sociais e políticas, em Israel, o profeta vê-se obrigado a sair da cidade, vai ao encontro de uma viúva. Elias não bate à porta de uma família abastada, mas de uma viúva. Tem casa, tem um filho, mas está ao abandono, está nas lonas e já nada espera da vida: «Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus, eu não tenho pão cozido, mas somente um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na almotolia. Vim apanhar dois cavacos de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho. Depois comeremos e esperaremos a morte»
No entanto, Elias desperta a sua esperança: «Não temas; volta e faz como disseste. Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui… Assim fala o Senhor: ‘Não se esgotará a panela da farinha, nem se esvaziará a almotolia do azeite, até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’».
Só uma pessoa sofrível entende verdadeiramente outra que sofre e pede ajuda: “A mulher foi e fez como Elias lhe mandara”. E Deus não os deixa ficar mal.
3 – Jesus não segue os estereótipos sociais ou religiosos. Vem para todos. Não fica em palácios ou no templo. Vai ao encontro de pessoas de carne e osso. Passa junto de nós e traz-nos o Seu Caminho, a Sua vida. Abranda o passo para que possamos segui-l'O.
No templo, Jesus fixa-se nas pessoas que deitam esmolas no tesouro e que se destinam às obras do templo, à sustentação dos líderes religiosos e para atender aos necessitados, às viúvas e órfãos.
“Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
Nas sociedades do nosso tempo, Jesus seria sempre um mau Ministro das Finanças. Ele não se impressiona com as quantias avultados que os poderosos colocam no tesouro do templo, mas com uma viúva que deita duas moedas de bronze. Uma insignificância. Aquelas moedas não fazem diferença. Não enriquecem o tesouro, não fazem história, não alteram nada. No entanto, para Jesus, aquela viúva deitou mais que todos os outros. Tudo o que tem. Faz toda a diferença!
4 – Jesus ensinava a multidão, dizendo: «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, com pretexto de fazerem longas rezas. Estes receberão uma sentença mais severa».
As palavras de Jesus põem a descoberto a exploração, mesmo quando feita sobre a capa da religião. Hoje como ontem. Como não nos deixarmos tocar por estas palavras de Jesus!
5 – Neste dia de São Martinho, deixemo-nos iluminar pela sua vida. Mostra-nos que não é a classe social que importa, mas a grandeza do coração. Que também nós saibamos levar sol a quem vive rodeado de trevas e repartir a nossa capa com os desvalidos que se cruzam connosco, acalentando a sua esperança, descobrindo o ROSTO de Jesus em todos os que se abeiram de nós.
Textos para a Eucaristia (ano B):
1 Reis 17, 10-16; Sl 145 (146); Hebr 9, 24-28; Mc 12, 38-44.
Reflexão Dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE