Se quiseres, podes curar-me! Quero, fica limpo!
1 – «Se quiseres, podes curar-me». O primeiro passo para a cura é o desejo de ser curado. A doença é, certamente, uma experiência de fragilidade, de impotência e, muitas vezes, de desencanto. Na presença de pessoas doentes, vem ao de cima, muitas vezes, o protesto contra a vida e contra Deus. Nunca é fácil lidar com a doença dos nossos familiares e amigos e sobretudo quando é prolongada e já não existem possibilidades de cura. Havendo esperança de melhoras, de estabilização ou de cura, então é possível aceitar as dores, os incómodos, os tratamentos. Não havendo, tudo se torna mais difícil, para o próprio e para quem está à volta.
Outra das consequências da doença, crónica ou prolongada, além do desgaste físico e emocional, é o isolamento e a solidão. Os amigos vão desaparecendo progressivamente.
Uma pessoa surpreendida por uma doença incurável poderá sentir-se revoltada e transparecer azedume para com aqueles que estão mais próximos. À doença acrescenta-se a solidão. A pessoa doente não faz vida social, deixa de conviver, pela (in)disposição, ou porque a própria doença desaconselha os ajuntamentos. E a falta de vontade; não quer ouvir ninguém; não quer ouvir as mesmas perguntas…
2 – Imaginemos agora uma doença infectocontagiosa!
A Bíblia preserva o medo de contágio e as prescrições para evitar qualquer tipo de contacto com um leproso, dando à lei um carácter divino. «Quando um homem tiver na sua pele algum tumor, impigem ou mancha esbranquiçada, que possa transformar-se em chaga de lepra, devem levá-lo ao sacerdote Aarão… O leproso com a doença declarada usará vestuário andrajoso e o cabelo em desalinho, cobrirá o rosto até ao bigode e gritará: ‘Impuro, impuro!’. Todo o tempo que lhe durar a lepra, deve considerar-se impuro e, sendo impuro, deverá morar à parte, fora do acampamento».
A lei defende os sãos, mas condena à exclusão os leprosos.
Há pouco mais de 50 anos, existiam leprosarias e aldeias isoladas e situações em que os animais tinham um melhor tratamento. Lembremos a parábola de Lázaro, contada por Jesus.
A propósito seria interessante ler a biografia do Padre Damião, o Santo de Molokai, ou o filme Ben-Hur, que mostra o tratamento dado aos leprosos, votados ao completo esquecimento.
3 – Se um leproso vem ter com Jesus é porque já ouviu falar d'Ele, já alguém lhe anunciou Jesus. Novamente a dinâmica da evangelização e da intercessão. Sorrateiramente, este homem aproxima-se. Confia no que lhe disseram, mas também no que o seu íntimo lhe diz. Arrisca muito, sujeita-se a ser escorraçado, apedrejado e morto.
«Se quiseres, podes curar-me». O leproso faz a sua profissão de fé de forma simples, humilde e direta. São Marcos deixa-nos ver de perto a postura de Jesus. Há oito dias, víamos que Ele pega na mão da sogra de Simão Pedro e levanta-a. Esta semana, a mesma delicadeza, proximidade, sem meias nem peias, simplesmente, compadecido, Jesus estende a mão, toca-lhe e diz: «Quero: fica limpo». E como no momento da criação, também aqui a palavra de Deus tem efeito: aquele homem fica limpo da lepra.
Quantas pessoas precisam apenas de um toque, um aperto de mão, um abraço, uma afaço, um beijo, um sorriso, para se sentirem humanas e se sentirem salvas!
Textos para a Eucaristia (ano B): Lev 13, 1-2. 44-46; Sl 31 (32); 1 Cor 10, 31– 11, 1; Mc 1, 40-45.
Reflexão dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE