Vai: a tua fé te salvou
1 – Há um homem à beira do caminho que não vê! Somos homens e mulheres que muitas vezes cerramos os olhos para não ver. Há um homem na estrada de Jericó que quer muito ver! Nas estradas do nosso tempo há um mar de gente à beira do caminho, à espera de uma mão, de um olhar, de alguém que passe e vá devagar! Naquela estrada e naquele tempo, há um homem a clamar, a chamar por Jesus que vai a passar. E ainda hoje, há tanta gente cansada de gritar, de procurar, de esperar; tanta gente sem vez nem voz, sem ver além do imediato, a tentar sobreviver.
Aquele homem tem nome, Bartimeu, filho de Timeu, e pede esmola a quem passa. Existem hoje muitas pessoas a pedir esmola, anónimos, que contam apenas para a estatística. Já não têm nome, são um número. Mas aquele homem tem nome, os homens e as mulheres que estão à beira do caminho, fora da estrada, excluídos da cidade, nas periferias da vida, também têm rosto, também têm nome. Têm de contar como pessoas, e não apenas para a percentagem.
É por Jesus que Bartimeu clama, gritando cada vez mais: «Filho de David, tem piedade de mim».
Há discípulos e há uma grande multidão. E há Jesus. E tu e eu! E Bartimeu! Ele chama por Jesus. Alguns incomodam-se com aquela voz, com aquela gritaria e repreendem-no, querem que se cale. Também hoje há quem silencie o pobre, o pedinte, o justo e se afaste para não ouvir, desviando o olhar para não ver. Eu, tu e Bartimeu, e Jesus!
Jesus pára, ouve e compromete-nos: chamai-o. A vista, a voz e o andar para que servem se não forem para ver os outros, para ouvir os seus clamores, para nos encaminharem ao seu encontro? Então ponhamo-nos em movimento e encaminhemos outros para Jesus: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te». E já sabemos como fazer: pela voz e pela vida, com palavras e com obras.
2 – Aquele homem, Bartimeu, posso ser eu, podes ser tu! Umas vezes cegos, outras vezes com vontade de ver. Mais cegos são os que não querem ver e ativamente se recusam a olhar para os outros, a ouvir os seus apelos e a confrontar-se com as suas dificuldades. Senhor, "quando foi que te vimos com fome, ou com sede, ou peregrino, ou nu, ou doente, ou na prisão, e não te socorremos?" A resposta clarifica a nossa falta de visão: «sempre que deixastes de fazer isto a um destes pequeninos, foi a mim que o deixastes de fazer».
Bartimeu ouviu dizer que Jesus passava por ali e decide-se. Senhor, tem piedade de Mim. Está disposto a ver Jesus, quer ver Jesus, quer ver como Jesus. Esta vontade firme é meio caminho andado para Jesus. Com efeito, o cego, diz-nos o evangelista, atirou fora a capa e tudo o que lhe pesava do passado, deu um salto, libertando-se de qualquer amarra, antes que pudesse voltar atrás, e foi ter com Jesus. A resposta de Jesus é muito curiosa: «Vai: a tua fé te salvou». Poderíamos esperar que Jesus lhe dissesse: Vê. Mas Jesus diz-lhe "Vai". O caminho faz-se caminhando. Parados não vemos nada. Ensimesmados, o nosso olhar adoece e morre.
O encontro com Jesus devolve-nos a vista, dá-nos um olhar novo. Depois cabe-nos segui-l'O. Bartimeu recuperou a vista e seguiu Jesus pelo caminho. Além da cura física, importa a cura que nos devolve a humanidade e nos conduz a Jesus, nos envolve na fraternidade, tornando-nos ágeis para servir e amar, sem pausas nem reservas.
3 – Como cristãos, discípulos missionários de Jesus, temos a missão transportar a alegria da Boa Nova: Deus ama-nos como Pai e mais como Mãe, e, de tanto nos amar, nos deu o Seu Filho único, que faz da Sua vida uma constante de entrega, gastando-Se para nos redimir, para nos inserir na vida divina, para nos garantir, de uma vez para sempre, uma morada junto do Pai.
____________________________________________________________________________________________
Textos para a Eucaristia (ano B): Jer 31, 7-9; Sl 125 (126); Hebr 5, 1-6; Mc 10, 46-52.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço