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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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17.02.17

Leituras: Timothy Radcliffe - NA MARGEM DO MISTÉRIO

mpgpadre

TIMOTHY RADCLIFFE (2017). Na margem do mistério. Ter fé em tempos de incerteza. Prior Velho: Paulinas Editora. 144 páginas.

Timothy_Radcliffe_Na-Margem_do_mistério.jpg

Mais uma belíssima leitura que ora recomendamos. Claro, se fazemos uma sugestão é precisamente por pensarmos que é pertinente para nós e também o será para os outros. O autor, Timothy Radcliffe, é inglês, sacerdote dominicano, formado em Oxford e em Paris, é autor de várias obras de espiritualidade, já foi Mestre-geral da Ordem dos Pregadores (dominicanos), e como sacerdote dominicano já percorreu diversas partes do mundo.

Já aqui o sugerimos: TIMOTHY RADCLIFFE - IMERSOS EM DEUS.

Por estes dias lemos e sugerimos três títulos: SILÊNCIO, de Shusaku Endo, PACIÊNCIA COM DEUS, de Tomáš Halík, e A ESTRADA, de Cormac McCarthy e cada um à sua maneira falava das questões que nos coloca a fé em tempos de crise, de adversidade, de confusão e relativismo.

Coincidentes no tempo de leitura, também este título nos fala das dificuldades da leitura da fé, do cristianismo e da Igreja nos tempos atuais, convocando a encontrar novas respostas ou pelo menos a formular novas perguntas, deixando-se surpreender pela graça de Deus e pelos sinais que estão presentes nas novas situações, com coragem e persistência, com disponibilidade para escutar, para abraçar, para acolher, com firmeza e docilidade, com verdade e coragem. Sem renunciar à sua fé, pelo contrário, só uma fé esclarecida, feita de convicções e de alegria, pode dialogar com outras opções de vida e com outras religiões.

Viver e partilhar a esperança. Anunciar o Evangelho da Alegria. A alegria que vem da fé não é cutânea, é baseada em Jesus Cristo, está para lá do sofrimento. Com efeito, a alegria só é consistente tendo experimentado a dor e o sofrimento e a própria morte, não se encerrando aí, mas procurando dar sentido à vida. O Papa Francisco diz-nos que "a fé não deve ser confundida com estar bem ou sentir-se bem, com sentir-se consolado no íntimo, porque temos um pouco de paz no coração. A fé é o fio de ouro que nos liga ao Senhor, a pura alegria de estar com Ele, de estar unido a Ele; é o dom que vale e avida inteira, mas que só dá fruto, se fizermos a nossa parte".

As normas, nesta época, continuam a ser válidas, mas mais o calor humano, a proximidade, a entreajuda, o compromisso com o que nos une, a abertura aos outros, a promoção das diferenças que podem enriquecer-nos e ajudar-nos a crescer. A abertura e a tolerância não é o mesmo que desistência, do que cedência pura e simples aos valores e às convicções dos demais, pelo contrário, a certeza da própria identidade ajuda a dialogar, a fazer pontes, a reconhecer o outro e a olhá-lo olhos nos olhos, sem medo, sem medo de ser provocado, sem medo das perguntas e dos questionamentos. Apostar na misericórdia não é negar o pecado ou as imperfeições. Significa isso sim, que os defeitos, os erros, o pecado, não nos impedem de ser irmãos. O caminho de Jesus é o do perdão e da misericórdia. É um caminho exigente. É levar a sério o outro e a sua liberdade. Se eu desculpo sem mais... isso seria contraproducente. Alguém mata uma pessoa. Deus não lhe vai dizer que não interesse, que passe à frente... Não. Isso não seria misericórdia! A misericórdia reabilita, leva a sério a pessoa, envolve-a para corrigir o caminho e enveredar por um caminho alternativo de bem e de proximidade.

Do mesmo jeito o perdão. Perdoar sempre. Mas nem sempre é possível perdoar. Na cruz, Jesus não diz: eu perdoo-vos, mas sim "Pai perdoa-lhes...". Por vezes é necessário dar tempo. Rezar. Pedir a Deus pelos que nos fizeram mal, nos traíram. Há de chegar um dia que já não quero mal à pessoa, porquanto rezo por ela. Há de chegar a altura que estou pronto para aceitar o outro, apesar do que me fez.

Alegria e música para enfrentar a dor... e a morte... quando não há palavras...

Uma palavra de agradecimento ao colega e amigo sacerdote que me ofereceu este belíssimo livro.

23.08.12

Sobre a morte... e depois da morte!

mpgpadre

A mensagem é simples: a morte não é uma opção e se quiseres aprender a versão soft do acontecimento, passa a prestar mais atenção durante a missa

 

       No meio de um belo dia de praia, um dos meus filhos correu para mim, aflito e com os olhos em água, e suplicou:

       “Mãe, mãe, eu não quero morrer! Porque é que eu tenho de morrer?!”

       Foi um momento delirante. Vindo directamente do nada, este grito alarmante, este pedido de socorro desalinhou todo o sentido e coerência que um belo dia de praia transmite ao nosso estado de alma. Despertei do mundo dos seres que hibernam ao sol e certifiquei-me, ainda estonteada, que não estava ninguém a persegui-lo com uma faca. Não estava. No entanto, o meu filho pedia para eu o salvar da morte. O pedido era claro e urgente: ele não queria (nem quer) morrer e achava (já não acha) que o posso salvar. A ideia da morte e de que eu podia fazer logo alguma coisa contra isso ocorreu-lhe ali, a meio de um belo dia de praia e a meio de um belíssimo banho de mar.

       “Mas porquê isso agora… Todos temos de morrer um dia”, respondi com alguma impaciência, contendo-me para não acabar a frase com um “daaah”. No entanto, o rapaz insistiu, com convicção e quase em desespero, na teoria de que a morte não pode ser uma inevitabilidade e que eu, como mãe dele, tenho de lhe dar alternativas, devo dar-lhe respostas animadoras e tentar, pelo menos tentar, livrá-lo desse destino fatídico. Percebi então que para ele o assunto era grave, não era uma mera crise conjuntural originada por um delírio solarengo: era um caso de vida ou morte. Disse-lhe então que não havia nada a fazer, que a vida é feita de contrariedades e desbobinei toda a doutrina cristã sobre a morte. Disse-lhe tudo o que sei sobre a vida eterna e tentei animá-lo com o cenário idílico de que, no fim, nos encontraremos todos no Céu. Sem problemas.

       E ofereci-lhe um gelado.

       Ele ignorou a oferta e fez-me a inevitável pergunta: como é que eu sabia? Sim, se eu nunca tinha morrido, como é que eu sabia que a morte não era bem morte? E se não era bem morte, porque existia vida eterna, porque é que se morria? Não valia a pena morrer se depois se ia viver mais… Não tinha lógica, morrer era, assim, uma perda de tempo.

       Ofereci-lhe então um gelado e uma bola de Berlim. Ele ignorou-me. Queria saber. Respondi-lhe com a doutrina da Fé e falei durante cinco minutos seguidos com a consciência de que ele só percebeu dois por cento daquilo que eu disse. No fim, rematei que ele não devia ter medo. Apenas isso: que devia confiar, porque iria perceber tudo cada vez melhor durante a vida se confiasse.

       Foi então que ele condescendeu e fez o derradeiro pedido: “OK, eu posso morrer. Mas então quero que todas as pessoas de quem eu gosto morram comigo!” Assim, tipo menino mimado irritante: eu vou, mas vocês vêm todos comigo. Não pensem que ficam aqui no bem-bom enquanto eu viajo na estratosfera rumo não sei onde. Nada disso: morro eu, morrem todos – não se ficam aqui todos a rir e a comer McDonald’s enquanto eu levito no meio das nuvens.

       Não liguei, claro – já aprendi a ignorar birras parvas – e obriguei-o a comer o gelado e a bola de Berlim na esperança de que ele ficasse com dores de barriga e, com isso, menos dramático. Resultou. 

       Contudo, desde esse dia que anda meio deprimido, apesar da praia, das bolas de Berlim, dos gelados e de transbordar saúde. O meu filho tem um problema: descobriu que vai acabar por morrer. E eu, a sua própria mãe, confirmei o pior dos seus receios. E pior, não revelei grande emoção com o assunto. Pelo contrário: até o tentei convencer que morrer era… bom. Dramático, este dia.

       No entanto, esta não é a primeira vez que ele me fala da morte. É para aí a milésima. Esta é, sim, a primeira vez que ele revela medo da morte. É a primeira vez que ele se depara com um problema bicudo, o maior problema que pode ter, e ninguém lhe oferece uma solução imediata e racional para ele. Antes pelo contrário: confirmam a fatalidade e com toda a naturalidade. A mensagem é simples: a morte não é uma opção e, se quiseres aprender a versão soft do acontecimento, passa a prestar mais atenção durante a missa.

É um facto que as crianças crescem aos solavancos, mas este, o dia em que eles deixam de ser infantilmente crentes, é dos mais tramados. E até pode ser um belíssimo dia de sol.

 

Inês Teotónio Pereira , i-online 18 Ago 2012, in POVO

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