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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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06.09.24

Tudo o que faz é admirável. Faz que os surdos ouçam...

mpgpadre

       1 – Em tempos conturbados, a voz do profeta soa a esperança.

       Isaías, na primeira leitura, mostra, com palavras de alento, que a promessa de Deus não tarda em cumprir-se.

“Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-nos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos”.

       A convicção do profeta há de congregar o povo eleito e motivar os crentes para a fidelidade a Deus e aos Seus mandamentos. É tempo de recuperar a fé e a esperança em Deus.

 

       2 – No evangelho, Jesus é apresentado como o Messias esperado, o Deus que vem salvar-nos. Isaías identifica alguns dos acontecimentos que sucederão com a Sua chegada, como por exemplo os surdos voltarem a ouvir. Atentemos as palavras do Evangelho:

“Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar… Jesus, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar corretamente…”

       “Ao fazer com que os surdos ouçam”, Jesus confirma que é o Messias que estava para vir. As palavras adquirem vida concreta nesta cura. Com Ele, solta-se a língua, abrem-se os ouvidos, ressoa a palavra de Deus, circula vida nova.

       “Effatá” é também um dos ritos do Batismo, lembrando que a graça recebida nos há de permitir escutar a Palavra de Deus e professar a fé. O que ouvimos e o que dizemos, como seguidores de Jesus, deve ser para louvor e glória de Deus. Se assim for, purificaremos o que ouvimos com a misericórdia de Deus, e diremos palavras que dimanem da caridade do Senhor.

 

       3 – O encontro com Jesus Cristo há de transformar-nos, comprometendo-nos. Interiormente. Ele não Se impõe, não chantageia. Convida, desafia, envolve. Obviamente, a resposta que daremos levar-nos-á a alterar hábitos, a postura diante dos outros.

       Não é uma mudança pela rama, como se trocássemos de roupa. Agora vestimos a roupa de cristãos e vamos à Missa, dizemos as nossas orações, e logo depois, se necessário, vestimos outra roupa, que diga mais com a ocasião ou com as pessoas que temos pela frente.

       Pelo batismo, estamos interiormente revestidos de Cristo. Ele habita-nos. Nas palavras de São Paulo, já não somos nós que vivemos, é Cristo que vive em nós. Ou em Santo Agostinho, ao comungarmos somos assimilados ao Seu corpo, somos transformados n’Ele.

 

       4 – O apóstolo São Tiago, na segunda leitura, ilustra como viver ao jeito de Cristo, em situações concretas. No domingo anterior exemplificava com o serviço aos órfãos e às viúvas, as pessoas mais fragilizadas do seu tempo. Hoje traduz a vivência em Cristo com o amor e respeito igual a todos os que nos aparecem pela frente.

“A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir acepção de pessoas. Pode acontecer que na vossa assembleia entre um homem bem vestido e com anéis de ouro e entre também um pobre e mal vestido; talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais: «Tu, senta-te aqui em bom lugar», e ao pobre: «Tu, fica aí de pé», ou então: «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés». Não estareis a estabelecer distinções entre vós e a tornar-vos juízes com maus critérios? Escutai, meus caríssimos irmãos: Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam?”

       Sublinha-se uma vez mais como o serviço e a atenção aos mais pobres é a opção de Jesus Cristo, não para excluir, mas para promover e incluir os que não se sentem ou não são tratados como filhos.


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 35, 4-7a; Tg 2, 1-5; Mc 7, 31-37.

10.08.24

O pão que Eu hei de dar é a minha carne...

mpgpadre

       1 – "Só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo".

       Jesus apresenta-Se como o verdadeiro Pão, que alimenta, perdoa, purifica, e nos dá uma vida nova. Ele responde às necessidades básicas, propondo a partilha solidária como milagre para que todos tenham acesso aos bens da criação e da criatividade humana. Responde também aos anseios que plasmam o coração humano. Pão e esperança. E razões para viver. Terra e Céu. Compromisso e abertura ao Infinito. Dá o pão e motivos para crer no futuro e para se comprometer no presente com as pessoas que estão ao nosso lado. Ensina muitas coisas. A mente – o coração – é um largo campo de sementeira que pode levar-nos à perdição, à indiferença e cinismo, ou à salvação. Jesus lança a semente. Promove. Desafia. Convoca para um novo tempo, vida nova, reino que se estende desde agora até à eternidade, daqui até ao Céu.

       Se muitas são as razões daqueles que procuram Jesus – uns pelo pão, outros pelos milagres, outros pela descoberta das Suas palavras de vida eterna – a compreensão da Sua mensagem também provoca divisões. E que divisões! Muitos ficam escandalizados com a afirmação – Eu Sou o Pão da Vida, o Céu chegou a vós –, pressupondo-se a Sua identificação divina (EU SOU), e a possibilidade de SER comestível. Quem não se escandalizaria?

       2 – "O pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo".

       O pão é mais que o pão. Muito mais. É partilha, é vida, é comunidade. Em cada pão o trabalho de muitas pessoas, e muitos grãos. O pão é símbolo de todo o alimento. Pão é também carne e peixe e legumes e o sustento da família. Jesus refere que é Pão, e o Pão é a Sua carne. O pão tem a cor do trabalho, do suor, do sacrifício, e tem a cor da alegria, do convívio e da festa. Pão é mais que pão, é companhia (cum panis), faz de nós companheiros, comendo do mesmo pão, partilhando a vida.

       E que não falte pão nas nossas mesas. Quando falta o pão falta também a alegria, a serenidade, falham os argumentos para a felicidade a construir. Ainda hoje, seguindo uma tradição milenar, há casas em que se coloca sempre pão na mesa, símbolo da fartura que se quer proporcionar aos convivas, ou aos de casa.

       Na multiplicação do pão – o milagre da partilha solidária – Jesus antecipa (e prepara) o Pão da Vida, a Eucaristia, que ficará como memorial. Na última Ceia, Jesus antecipa a entrega suprema do amor que vai até ao fim, até à CRUZ. É na Cruz que Ele nos entrega para sempre o Seu corpo. Na Última Ceia, porém, Ele ordena que nos reunamos à volta do Seu Corpo e O comamos, comungando da Sua vida, da Sua entrega, do Seu Evangelho de salvação.

       No alto da Cruz, Jesus entrega-Se até à última gota de sangue. A vida não se extinguirá com a morte. É, antes, um momento crucial de oblação a Deus e à humanidade, pela humanidade. Logo, do sepulcro irradiará em luminosa claridade a Ressurreição. Deus Pai sanciona Jesus e o projeto de amor para a humanidade.

       Desde então, os discípulos reúnem-se no primeiro dia da Semana, dia da Páscoa de Jesus, e fazem o que Ele fez na Última Ceia, atualizam as palavras e os gestos, para que, pelo Espírito Santo, Jesus nos seja dado como Pão que nos alimentará até à vida eterna.

 

       3 – “O pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo”.

       Não é fácil entender as palavras de Jesus. Não são meramente simbólicas. É a Sua vida que Ele dará pela humanidade inteira. A discussão adensa-se, como veremos nos domingos seguintes, com os judeus a discutir e com os discípulos a distanciarem-se claramente do Mestre. Quando a discussão se inicia parece uma brisa que passa sem deixar marcas. Quase se aceitava que Jesus não aprofundasse muito a questão, diplomatizando com os circunstantes, mas não o faz, não foge às questões como não fugirá da perseguição e da morte, por mais que doa.

       Quando se dá a multiplicação dos pães, Jesus aponta para um pão mais duradouro, alimento que sacia a VIDA nova que Ele nos dará em abundância. Aliás, toda a Sagrada Escritura nos prepara para a plenitude do Tempo, a vinda do Messias, o Pão vivo, o Bom Pastor, Deus entre nós.

       Elias, o profeta do fogo, é alimentado por Deus para a longa jornada que tem pela frente, experimentando um pão que dura o tempo necessário para a travessia, até ao monte Horeb, monte da revelação, monte das origens, onde Ele recobrará ânimo, onde Deus Se manifesta.

"Elias entrou no deserto e andou o dia inteiro. Depois sentou-se debaixo de um junípero e, desejando a morte, exclamou: «Já basta, Senhor. Tirai-me a vida, porque não sou melhor que meus pais». Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Nisto, um Anjo tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come». Ele olhou e viu à sua cabeceira um pão cozido sobre pedras quentes e uma bilha de água. Comeu e bebeu e tornou a deitar-se. O Anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come, porque ainda tens um longo caminho a percorrer». Elias levantou-se, comeu e bebeu. Depois, fortalecido com aquele alimento, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, Horeb".

       Não apenas o pão, mas a presença de Deus que o conforta com o alimento e com as palavras do Anjo. Deus cuida dos Seus filhos, cuida de Elias, cuida de nós. "O Anjo do Senhor protege os que O temem e defende-os dos perigos. Saboreai e vede como o Senhor é bom: feliz o homem que n’Ele se refugia" (Salmo).

 

       4 – Se todos fomos remidos pela vida, pelo CORPO de Cristo, pela Sua morte redentora, para com Ele ressuscitarmos, então agora comemos do mesmo Corpo, do mesmo Pão que vem do Céu. O corpo de Cristo, descido da Cruz, é-nos entregue, é-nos confiado através de Maria, Sua Mãe, para que O preservemos intacto.

       Ao olharmos para o CORPO místico de Cristo que é a Igreja, certamente que encontramos um corpo dilacerado pela discórdia, pela divisão, pelos conflitos que a história e as culturas acentuaram. No entanto, seguindo os desejos do próprio Jesus Cristo, na oração Sacerdotal (Jo 17) – que todos sejam UM – não devemos cessar de procurar viver unidos, num só coração e numa só alma, em Cristo e com todos os cristãos, para testemunhar a vida nova que d’Ele recebemos.

       O Apóstolo São Paulo, de diversas maneiras, nos dá indicações claras para sintonizarmos (em HD – alta definição) Jesus Cristo e os seus ensinamentos:

"Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo, que nos amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se como vítima agradável a Deus".


Textos para a Eucaristia (ano B): 1 Reis 19, 4-8; Salmo 33 (34); Ef 4, 30 – 5, 2; Jo 6, 41-51.

06.04.24

Cristo Jesus não Se valeu da sua igualdade com Deus

mpgpadre

       1 – "Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz" (2.ª leitura).

       Este belíssimo hino, recolhido por São Paulo na sua missiva aos Filipenses, faz uma apresentação detalhada, sintética, clarividente, expressiva, da vida e missão de Jesus. A Sua condição inicial, que dá origem e alimenta o hoje do Seu compromisso, o trajeto de oblação, de entrega, de kénose (abaixamento), de amor pela humanidade. O amor por nós leva-O a assumir a nossa identidade e a nossa finitude.

       O mistério da Sua paixão, da Sua morte como oferenda, pleniza o Seu projeto de caridade a favor de todo o povo. Não apenas a favor dos amigos, ou dos bons, mas em benefício de todos, bons e maus, amigos e estranhos, judeus, gregos ou troianos.

       Vem de Deus, para habitar connosco, na história e no tempo. A divindade humaniza-se, o Universal particulariza-se num determinado período da história e num espaço civilizacional concreto. Faz-Se homem, para que descubramos por Ele e com Ele o caminho de regresso a Deus Pai, descobrindo a nossa origem, o nosso alimento e o nosso fim: Deus.

       Toda a Sua vida é serviço e doação. Assume-nos por inteiro. Identifica-Se homem. Em tudo igual a nós, exceto no pecado. Não Se alheia da obra criada por Seu amor. Por amor vem. Por amor permanece. Por amor dá a Sua vida. Por amor elevar-nos-á às alturas da glória, até Deus, Seu e nosso Pai.

 

       2 – Nas concepções tradicionais da religião, Deus mantém-se distante, alheado como Juiz impenetrável, impassível, pronto a irritar-se e a castigar, à espera das oferendas, sacrifícios e súplicas da humanidade, vergada à Sua omnipotência.

       Com Cristo Jesus, é Deus Quem procura a humanidade, imiscuindo-Se na nossa história. Deus está onde está a humanidade. As alegrias e as tristezas, as lutas e as esperanças, o sofrimento e a festa, a morte e a vida, que nos envolvem na nossa existência terrena e mortal, integram a história de Jesus, em todo o seu esplendor.

       A liturgia deste domingo é particularmente feliz. A SEMANA SANTA conduz-nos do sucesso e da fama à morte infame, numa cruz, para logo nos encher com a LUZ da Páscoa, em que nada ficará igual, e até o túmulo se encherá de luz e de vida nova.

       Visualizamos a entrada triunfal de Jesus na cidade santa de Jerusalém. É acompanhado por uma multidão imensa, que O aclama como Rei, filho de David, deixando entrever o reconhecimento do Messias prometido e esperado. É sol de pouca dura.

       Ainda ressoam os cânticos, os clamores, e já Jesus Se senta à volta da mesa, mais discretamente, quase silenciosamente. Estão lá apenas os mais íntimos. Como não nos revermos também nesta passagem. Quando as coisas correm bem, todos nos rodeiam e aplaudem, mas quando é necessário trabalhar, esforço e dedicação, com quantos dos nossos amigos poderemos contar?!

       A Ceia pascal é um interregno. Uma pausa para o café. Para descansar. Para ganhar coragem. Para sentir mais próxima a presença dos amigos e sentir o conforto dos mais chegados, preparando-os para a despedida, deixando-lhes as recomendações finais, como um testamento, um compromisso para a vida. Vou partir, mas a minha presença será ainda mais íntima, mais profunda, mais firme. Ainda a Ceia não terminou e já cheira a morte, a traição. O medo e a ansiedade começam a tomar conta dos discípulos. Sente-se aquele tremor no estômago e as pernas não querem obedecer. O vinho parece ter produzido efeito. Nem todos ficam para enfrentar as dificuldades maiores.

 

       3 – Em poucas horas, Jesus experimenta a euforia de uma multidão em festa e de uma multidão furiosa pedindo a Sua cabeça. No triunfo está lá toda a gente. Olhamos para o lado e vemos que não falta ninguém. Também lá nos queremos. Sentimo-nos confortáveis, pertencemos ali, aquele é o nosso povo, a nossa gente, e apesar dos encontrões, não desarmamos, deixamo-nos levar pelo entusiasmo.

       A vida tem altos e baixos e nos momentos do sofrimento, do suor e das lágrimas, nem todos estamos disponíveis. A casa é um espaço mais pequeno. Onde pulsa a vida, o espaço é mais íntimo, facilita o encontro, coração a coração, é mais afetivo, permite o abraço, o choro e o riso desbragado, a casa é o outro em quem coloco a minha vida, é o outro que me acolhe como irmão. Se pudéssemos ficaríamos em casa para sempre. Esta começa a desfazer-se quando alguém abandona o círculo familiar. Judas é o primeiro a sair. Saem os outros, para o Jardim das Oliveiras. A casa não pode ser profanada, há de ser o lugar do reencontro, da vida nova, da vida ressuscitada, quando de novo todos se reconhecerem como irmãos.

       Aqueles que contam acompanham Jesus. Mas ainda não estão amadurecidos o suficiente na sua fé. Maior é o medo. Quando nos sentimos ameaçados na nossa vida biológica, as reações passam pela paralisia, como em sonhos, não conseguimos mexer-nos, ou fugimos rapidamente para nos libertarmos do perigo iminente. Assim acontece com os discípulos. Adormecem, tal é a ansiedade, enquanto o seu Mestre reza, roga a Deus, transpira gotas de sangue, é a Sua hora. Levar o amor até ao fim, mesmo que isso custe a própria vida (biológica), é o alimento, a vontade de Jesus. Numa hora desta, só Deus Lhe pode valer, só Deus Lhe pode dar ânimo (alma) para prosseguir.

       É a vida. Agora que era tão útil a presença dos seus amigos mais íntimos, todos correm rapidamente para não serem "agarrados" por aquela onda de ódio e violência. Mantêm-se à distância. Com medo, com "pena" do Mestre, mas afastados o suficiente para preservarem as suas vidas.

 

       4 – Como não nos revermos nesta SEMANA SANTA de Jesus?! Transpira suor, sangue e lágrimas. Prossegue no limite do desfalecimento. Clama em altos brados. Leva as forças ao limite, por amor. É paixão. Redentora. Homem e Deus envolvidos na mesma história.

       Quantos pais não "morrem" todos os dias pelos filhos? E por causa deles. Canseiras, preocupações, trabalho, lágrimas. A vida até ao esgotamento! Onde parece que não há mais ânimo, lá se encontram argumentos para prosseguir. O amor supera as limitações físicas. Quantos não são testados, todos os dias, até ao limite da sua coragem – uma doença repentina, a falta de trabalho e de pão para a mesa, o sofrimento e a doença crónica de um familiar, o conflito que se agudiza dentro de portas, ou o ambiente desastroso com os colegas de trabalho –, uma via crucis sem solução à vista, um calvário que perdura no tempo, sem sinais esperançosos, sem abertura no céu enublado de lágrimas, de cansaço, de derrota.

       Jesus não passa ao largo das nossas lutas. Não desvia o olhar. Enfrenta connosco as angústias da sobrevivência. "O Senhor Deus abriu-me os ouvidos e eu não resisti nem recuei um passo. Apresentei as costas àqueles que me batiam e a face aos que me arrancavam a barba; não desviei o meu rosto dos que me insultavam e cuspiam. Mas o Senhor Deus veio em meu auxílio, e, por isso, não fiquei envergonhado; tornei o meu rosto duro como pedra, e sei que não ficarei desiludido" (1.ª Leitura).

       Está (quase) sozinho. Os apóstolos tornaram-se apóstatas. À distância. Sua Mãe e algumas mulheres, que sabem o que é sofrer, o que é sofrer por amor, o que é dar a vida pelos filhos e verem os filhos morrer (repentinamente ou aos poucos), elas não desviam o olhar. É doloroso. É a vida. Faz parte da vida. Dali ninguém as tira. Nem a força bruta dos soldados em fúria, nem a multidão cega pela gritaria. Elas que estavam na primeira hora permanecerão até à última hora, até ao suspiro final. 

       "O véu do templo rasgou-se em duas partes de alto a baixo. O centurião que estava em frente de Jesus, ao vê-l’O expirar daquela maneira, exclamou: «Na verdade, este homem era Filho de Deus». Estavam também ali umas mulheres a observar de longe, entre elas Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e Salomé, que acompanhavam e serviam Jesus, quando estava na Galileia, e muitas outras que tinham subido com ele a Jerusalém" (Evangelho).

 

       5 – Regressemos a nossas casas. O espetáculo terminou. Jesus morreu. Morreu por amor. Morreu por nós. Morreu para nos salvar. Morreu para nos mostrar que o amor há de ser mais forte, mais firme, mais "violento" e revolucionário que todas as forças do mal e da morte.

       Aguardemos. Com Maria, a Quem Ele nos confia, e com as outras mulheres, voltemos ao lugar onde pulsa a vida, nas suas lutas e nas suas festas, a casa, a nossas casas. Façamos luto. Não deixemos, porém, que o medo e a angústia tomem conta da nossa alma (do nosso ânimo), rezemos com Ela, vigilantes, firmes na esperança, confiantes na promessa de Deus. Não temamos a noite. O SOL esconde-se por entre as lágrimas, os nossos olhos ficam nublosos, mas a LUZ há de ser tão intensa que prevalecerá para além das nossas dores e da nossa treva. A caminho da Páscoa!


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 50,4-7; Salmo 21 (22); Filip 2,6-11; Mc 14,1 - 15,47.

16.03.24

Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só...

mpgpadre

       1 – Cada vez mais perto, mais perto ainda, e logo depois a luz incandescer-nos-á, enchendo a nossa vida de luz, de paz, de vida nova, de presença de Deus, com o fulgor e o dinamismo da Páscoa, que nos atrairá para além da CRUZ, que tornará mais belo, mais profundo e mais generoso o nosso olhar e a nossa esperança. Os nossos olhos serão transformados pela magia do amor que Deus nos dá, para fazermos a experiência de encontro com o Ressuscitado.

       Em Jerusalém, Jesus passeia-se às claras por entre os homens e as mulheres, em festa. Vai onde germina a vida, ao encontro dos outros. Deus vem onde nos pode encontrar, a nossa casa, à nossa vida, às nossas praças e ruas. Em sentido inverso, muitos são os que se sentem também atraídos por Ele e O procuram, querem vê-l’O, ora por curiosidade ora tocados pela fé. Talvez neles arda o Espírito de Deus.

       As palavras de Jesus não podem ser mais explícitas:

       «Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo: Se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica só; mas se morrer, dará muito fruto. Quem ama a sua vida, perdê-la-á, e quem despreza a sua vida neste mundo conservá-la-á para a vida eterna. Se alguém Me quiser servir, que Me siga, e onde Eu estiver, ali estará também o meu servo. E se alguém Me servir, meu Pai o honrará. Agora a minha alma está perturbada. E que hei de dizer? Pai, salva-Me desta hora? Mas por causa disto é que Eu cheguei a esta hora. Pai, glorifica o teu nome».

       O Filho do Homem vai ser glorificado pelo sofrimento, pela cruz, melhor, vai ser glorificado pela entrega, pelo amor sem fim, pela dádiva da Sua vida, do seu Corpo, morrerá por amor. Se se pode morrer por amor, eis ALGUÉM que o faz. Sem apelo nem agravo. É hora do tormento e dor, de tristeza e angústia. É hora de confiança e de realizar-se a vontade do Pai, a vontade do Amor. É o grão de trigo que cai à terra, morre, para logo germinar na abundância de saborosos frutos.

 

       2 – Não é uma hora fácil, a de Jesus Cristo, ao contemplar o quão perto se encontra do fim biológico. "Agora a minha alma está perturbada" (Evangelho). Resolutamente sabe que não veio para fazer o caminho mais curto, mais fácil, mas para vivenciar connosco todas as experiências, também a da dor, do sofrimento, da solidão, do abandono e da morte. Também aqui Jesus, Deus feito Homem, nos assume por inteiro. Não fica à distância a contemplar a nossa morte. Vem morrer connosco. E por nós.

       Ele aprende como é amarga a passagem deste mundo para a eternidade. Angustiante. Há de transpirar gotas de sangue, tal a ansiedade e o medo. Mas não desfalece. Coloca-Se em Deus Pai. Cola-Se n'Aquele que O enviou. E que O livrará da morte eterna.

       "Nos dias da sua vida mortal, Cristo dirigiu preces e súplicas, com grandes clamores e lágrimas, Àquele que O podia livrar da morte e foi atendido por causa da sua piedade. Apesar de ser Filho, aprendeu a obediência no sofrimento e, tendo atingido a sua plenitude, tornou-Se para todos os que Lhe obedecem causa de salvação eterna" (2.ª Leitura).

 

       3 – O desiderato da Sua vida e missão é a salvação da humanidade. Toda. De todos os lugares e em todos os tempos. Vem para cumprir as promessas de Deus feitas ao Seu povo, e por Israel a todos os povos da terra.

       O momento presente, de sofrimento, de blasfémias, de prisão e da morte que se aproxima, não é, de todo, comparável à beleza do amor de Deus. Jesus resiste nessa intimidade com Deus. Sabe que se aproxima a hora da morte, mas também sabe que o amor que vai até ao fim selará a nova aliança da Redenção.

       Ele inscrever-nos-á para sempre no coração de Deus e em nós inscreverá a lei do amor.

       Como nos revela através de Jeremias:

       "Dias virão, diz o Senhor, em que estabelecerei com a casa de Israel e com a casa de Judá uma aliança nova... Hei de imprimir a minha lei no íntimo da sua alma e gravá-la-ei no seu coração. Eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo. Não terão já de se instruir uns aos outros, nem de dizer cada um a seu irmão: «Aprendei a conhecer o Senhor». Todos eles Me conhecerão, desde o maior ao mais pequeno, diz o Senhor. Porque vou perdoar os seus pecados e não mais recordarei as suas faltas".

       O início da nova Aliança dá-Se na oferenda de Jesus, da Sua vida, do Seu Corpo por inteiro. Pelo Seu sacrifício o perdão do nosso pecado. Acolhamos n'Ele a vida nova, novos céus e nova terra. É também pela Cruz que ficamos a conhecer a Lei de Deus, o rosto do Amor. 

 

       4 – A liturgia deste quinto domingo da Quaresma deve levar-nos ao mesmo desejo dos judeus gregos que vieram a Jerusalém, conforme se diz no Evangelho: "alguns gregos que tinham vindo a Jerusalém para adorar nos dias da festa, foram ter com Filipe, de Betsaida da Galileia, e fizeram-lhe este pedido: «Senhor, nós queríamos ver Jesus»".

       O nosso privilégio facilita a nossa fé e adesão ao Evangelho, pois nascemos na hora de Cristo Senhor, fomos sepultados para o pecado e para a morte, pelo Batismo, e tornamo-nos novas criaturas, ressuscitando pelo Espírito Santo. Nesta tensão entre a vida presente e a eternidade, entre a Quaresma e a Páscoa da nossa existência mortal, o desejo por ver Jesus há de ser o desejo por nos vermos transformados pelo Seu amor redentor e vivermos como filhos e irmãos.

       Também com o salmista rezemos, pedindo:

       "Criai em mim, ó Deus, um coração puro e fazei nascer dentro de mim um espírito firme. Dai-me de novo a alegria da vossa salvação e sustentai-me com espírito generoso".


Textos para a Eucaristia (ano B): Jer 31,31-34; Sl 50 (51); Heb 5,7-9; Jo 12,20-33.

03.11.23

Não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem...

mpgpadre

Domingo XXXI do Tempo Comum, ano A, full.jpeg

1 – «Na cadeira de Moisés sentaram-se os escribas e os fariseus».

Com o decorrer dos anos, o carisma de Moisés, a beleza, a simplicidade e a grandeza dos Mandamentos desvanece-se com novos líderes e com a multiplicação de leis, de preceitos, com muitas exceções, exigências, derivações, pormenores cada vez mais picuinhas. A complexidade da Lei leva ao seu não cumprimento.

Refira-se que a história do povo de Israel não foi fácil nem linear. Constitui-se a partir de 12 tribos, com peculiaridades próprias que servem para unir mas também para dividir. Funcionam com alguma harmonia e compreensão nas lideranças fortes de Moisés, David, Salomão. Os reis e os líderes religiosos sucedem-se. Fracas e indecisas lideranças geram conflitos, que por sua vez tornam a nação vulnerável. Se cada um puxa para si e/ou para a sua tribo, o povo deixa de ter defesas para os ataques que chegam do exterior. Se interiormente está dividido, não oferece segurança contra os inimigos.

As lutas palacianas pelo poder, a corrupção, as influências das famílias mais poderosas e as negociatas entre os detentores da autoridade civil e militar conduzem a nação ao descalabro. Um alvo fácil das nações vizinhas, mais unidas, militarmente mais poderosas, com estratégias de invasão e de domínio, com um maior poderia económico, Israel é invadido, com os estrangeiros a imporem a sua presença e os casamentos mistos (forma de apaziguar ânimos, se se integram nas famílias judaicas, estas não se voltarão contra os seus familiares...). Por outro lado, os exílios a que estão sujeitos. As notícias que nos chegam do Médio Oriente, de Israel à Palestina, não são de hoje, têm séculos. Com efeito, o povo hebreu sempre lidou com muitas adversidades, os tempos de paz e independência rapidamente deram lugar a tempos de guerra e de violência, e de submissão a impérios vizinhos.

É também nestas condições adversas à Palavra de Deus, que se multiplicam os preceitos para preservar a identidade, cultura e religião judaicas, aquando das invasões, do exílio, ou em momentos de grande instabilidade. Os Profetas alimentam a esperança de Israel, desafiam à fidelidade à Aliança com Deus, no cumprimento dos Seus preceitos e da Sua vontade, por forma a assegurar a identidade do povo, cultural e religiosa, mesmo sujeitos ao domínio estrangeiro, dentro do seu território ou no exílio.

 

2 – A multiplicação de leis e preceitos confunde as pessoas mais simples e não "obriga" os mais instruídos e poderosos que sempre arranjam subterfúgios para contornar os seus deveres sociais e religiosos.

Jesus, como vimos no domingo anterior, repõe com clareza a simplicidade da Lei. Toda a Lei e os Profetas se resumem, nos seus ditames, a amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo. Se a cadeira (símbolo do ensino e da autoridade) de Moisés foi usurpada, agora é purificada por Jesus, com a autoridade do Mestre dos Mestres, que vive como ensina, dando prevalência ao amor, ao perdão, à conciliação entre todos, à inclusão, melhor, à integração de todos na vida social, política e religiosa, promovendo a justiça e o serviço aos mais pequenos.

A clareza e simplicidade obriga a uma escolha, limitando as desculpas e as justificações. Ou sim ou sopas. A compreensão fácil da Lei, neste caso, do duplo mandamento do amor, implica a sua aceitação ou a sua recusa. Não há “talvez”, ou “assim-assim”. A lei da caridade é inequívoca: amas a Deus de todo o coração amando-O nos irmãos.

Jesus alerta para o desfasamento entre o conhecimento da lei e o consequente cumprimento: "Fazei e observai tudo quanto vos disserem, mas não imiteis as suas obras, porque eles dizem e não fazem. Atam fardos pesados e põem-nos aos ombros dos homens, mas eles nem com o dedo os querem mover. Tudo o que fazem é para serem vistos pelos homens... Aquele que for o maior entre vós será o vosso servo. Quem se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado".

Aquele velho ditado que tão bem conhecemos: bem prega frei Tomás, faz o que ele diz, mas não o que ele faz. Como sublinhou o santo Padre Paulo VI, um dos maiores divórcios do nosso tempo é a separação entre a fé e a vida.

Malaquias, na primeira leitura, alertava para esta incongruência: "Vós desviastes-vos do caminho, fizestes tropeçar muitos na lei e destruístes a aliança de Levi, diz o Senhor do Universo. Por isso, como não seguis os meus caminhos e fazeis aceção de pessoas perante a lei, também Eu vos tornarei desprezíveis e abjetos aos olhos de todo o povo". Não cumprem. Exigem aos outros. São um contratestemunho.

Por conseguinte, as palavras de Jesus incentivam a cumprir a lei, com palavras e com obras, seguindo o caminho da humildade e do serviço ao próximo, como expressão e concretização do amor a Deus. Não faz sentido exigir aos outros o que não se faz menção de cumprir.

 

3 – A referência é Jesus Cristo, com as Suas palavras, com os Seus gestos e com a Sua vida, na oferenda constante a favor da humanidade, até à morte na Cruz.

Foi com este fito que o Apóstolo procurou em tudo imitar Jesus Cristo, para que através do seu testemunho outros aderissem ao Evangelho. Diz-nos são Paulo: "Fizemo-nos pequenos no meio de vós. Como a mãe que acalenta os filhos que anda a criar, assim nós também, pela viva afeição que vos dedicamos, desejaríamos partilhar convosco, não só o Evangelho de Deus, mas ainda própria vida, tão caros vos tínheis tornado para nós".

O Apóstolo assume uma postura que contraria a dos mestres de Israel que ensinam e exigem aos outros, mas não cumprem nem fazem o mais pequeno esforço para cumprir. O Apóstolo faz-se pequeno, para que Cristo cresça nas comunidades. O maior, para Jesus Cristo, e que é testemunhado por são Paulo, é aquele que se faz pequeno, aquele que serve os seus irmãos.

 

Pe. Manuel Gonçalves

____________

Textos para a Eucaristia (ano A): Mal 1,14b-2,2b.8-10; 1 Tes 2,7b-9.13; Mt 23,1-12.

14.07.18

Jesus chamou os doze Apóstolos e começou a enviá-los dois a dois.

mpgpadre

1 – A nossa vocação, discipulado e apostolado partem de Jesus, assentam em Jesus e encaminham-se para Jesus. Somos chamados para O seguir. Somos discípulos para aprendermos com Ele, uma e outra vez. Somos enviados para anunciar a Boa Nova aos pobres e, com Ele, fazermos do mesmo jeito, libertando os outros das amarras da pobreza, da exclusão, da solidão e de todo o mal.

Seguir Jesus não visa sentar-nos com Ele na cavaqueira à espera que o tempo passe, que a vida aconteça, enquanto vamos passando entre os pingos da chuva, procurando não nos molharmos, assobiando para o lado, lavando as mãos, cruzando os braços, encolhendo os ombros, fazendo de conta que não é nada connosco!

A vida, o mundo, os outros, são responsabilidade nossa. Desde o início. Desde sempre. Deus criou-nos para os outros, por causa dos outros. Somos auxiliares semelhantes. Da mesma costela, da mesma carne. Do mesmo sangue. Com a mesma origem. Temos origem em Deus. Mas a meta da nossa vida também é Deus. Pelo meio não podemos e não devemos andar arredados daqueles que são parte essencial da nossa vida. Não podemos andar de costas voltadas quando queremos chegar ao mesmo lugar, ao coração do Pai.

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2 – Jesus chama os 12 Apóstolos e envia-os dois a dois. O compromisso missionário não nos permite ir sozinhos, nem em nome próprio. Vamos dois a dois, uns com os outros, fazemos parte da Igreja, e vamos em nome de Cristo, para fazer como Ele fez.

O próprio Jesus lhes/nos dá as instruções para o apostolado, para a missão. Dá-lhes o poder sobre os espíritos impuros, mas também a responsabilidade da cura, da inclusão, da paz!

Para irmos precisamos de leveza. Quantas mais coisas tivermos para levar, a quantas mais coisas estivermos presos, mais difícil será partirmos em missão. O que é necessário? O bastão, para nos apoiarmos, para nos sentirmos como pastores! "Nem pão, nem alforge, nem dinheiro... Calçados com sandálias", levando apenas uma túnica. Só o essencial, só o que não nos impede de chegar aos outros, de nos aproximarmos dos outros. As coisas podem pesar-nos, podem interpor-se entre nós. Uma imagem rápida: levamos dois sacos pesados, com coisas preciosas, um em cada mão, como fazemos para nos abraçarmos?! E se temos medo que alguém nos roube o que temos nos sacos? Colocámos no chão ou optamos por não abraçar?

Para seguirmos Jesus, não devemos deixar que o pão, o dinheiro, o vestuário, ou as nossas roupagens obstaculizem à missão, ao serviço aos irmãos, ao anúncio da paz, ao compromisso com a justiça. Que tudo seja oportunidade para nos entreajudarmos.

 

3 – O Evangelho é Boa Notícia. É uma proposta de vida. Não é uma imposição, uma desculpa, uma fuga. Não é um analgésico para os contratempos, ou uma bolha que nos protege nas dificuldades. É um acontecimento, é uma Pessoa, é Jesus Cristo na nossa vida! Não é uma guerra que se ganha pela força, pela retórica, pela chantagem ou pela ameaça. É um desafio e um compromisso. Desafia-nos a darmos o melhor de nós mesmos, não contra os outros, mas a favor de todos. É um compromisso com aqueles que estão no mundo, no mesmo barco que nós, e especialmente como os mais desfavorecidos.

Eis a recomendação: «Quando entrardes em alguma casa, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos em alguma localidade, se os habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés como testemunho contra eles».

O encontro com os outros há de comprometer-nos a ficar, a permanecer, e não a saltar de casa em casa, de lugar em lugar. Há tempo para tudo. A fé também se fortalece com os laços de amizade que nos aproximam e nos irmanam. Por outro lado, se as nossas palavras e o nosso testemunho forem recusados, nem por isso devemos deixar de transparecer Jesus.

Naquele tempo, os Apóstolos procuraram corresponder às recomendações de Jesus, partindo e pregando o arrependimento, expulsando os demónios, ungindo com óleo os doentes e curando-os. Hoje cabe-nos fazer como eles, cabe-nos seguir Jesus, procurando agir do mesmo modo, anunciando-O e transparecendo o Seu amor.

____________________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Amós 7, 12-15; Sl 84 (85); Ef 1, 3-14; Mc 6, 7-13.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

07.07.18

Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa

mpgpadre

1 – «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa». Nazaré é uma cidade pequena. Todos se conhecem, têm relações familiares, ao ponto de no Evangelho os parentes de Jesus serem referenciados como irmãos e irmãs e Ele ser conhecido como filho de Maria e de José, o carpinteiro!

Quando nos conhecemos bem uns aos outros, é natural que não esperemos mais do que aquilo que estamos habituados a ver. A ausência de alguém durante determinado período de tempo pode alterar o conhecimento e as expetativas. Jesus tinha iniciado a Sua vida pública e antes de chegar a Nazaré já lá tinha chegado a fama de pregador, profeta e fazedor de milagres. Alguns dos seus conterrâneos, amigos e familiares vão até Ele com certa curiosidade.

Num primeiro momento, contudo, ressalva-se a admiração: «De onde Lhe vem tudo isto? Que sabedoria é esta que Lhe foi dada e os prodigiosos milagres feitos por suas mãos?»

A perplexidade toma conta dos seus ouvintes. O texto não pressupõe qualquer atrito até Jesus lhes dizer: «Um profeta só é desprezado na sua terra…».

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2 – A sobriedade de Marcos não nos permite saber o que terá acontecido entre a admiração inicial dos ouvintes e a reação provocatória de Jesus. Nem sempre precisamos que nos respondam com palavras para percebermos as reações, basta um olhar, um sorriso, um encolher de ombros, um franzir das sobrancelhas…

Jesus percebe a reação fria e inquisitória dos seus ouvintes. Na conclusão, o evangelista diz-nos claramente que Jesus estava admirado com a falta de fé daquela gente e, por conseguinte, não podia fazer ali qualquer milagre.

 

3 – Apesar de tudo, Jesus curou alguns doentes e prosseguiu a ensinar por outras aldeias e cidades. Questionamo-nos: então as curas não são milagres? Sem dúvida, são sinais de que Deus continua a agir no mundo. O verdadeiro milagre, contudo, é a conversão, a mudança de vida, a resiliência diante das dificuldades, a aceitação das próprias limitações e fragilidades, a solidariedade e o apoio aos mais frágeis, o serviço a favor dos mais simples e pobres.

Durante a vida pública de Jesus, a começar pelos Seus discípulos, são frequentes as disputas de poder, a procura do milagre fácil, a expetativa de um reino novo que se imponha pela força. Jesus persiste na necessidade de amar, servir, cuidar do outro, dar a outra face, perdoar em todas as circunstâncias, acolher, incluir, dar a vida! No reino que Ele preconiza o primeiro lugar é para quem serve!

 

4 – Em que ponto o Evangelho nos desafia e compromete?

Não podemos dar o outro como garantido, na família, no trabalho, na profissão, nos grupos a que pertencemos. A pessoa é mistério! Em todo o caso devemos apostar, acreditar, confiar. Mas nunca endeusar. Contar que os outros podem desiludir-nos, pois não são deuses. Contar que, em algum momento, podemos magoar os outros e desiludi-los. Apesar disso, apostar, acreditar e confiar na bondade dos outros, como fez Jesus, que escolhe os Seus discípulos, sabendo que podem falhar! Ainda assim previne-os e não desiste deles.

Ninguém é profeta na sua  terra ou em sua casa! Todos conhecemos pessoas extremamente afáveis, simpáticas, generosas para os de fora, mas verdadeiros trastes em casa, indelicadas, indispostas, rabugentas! De fora ninguém sonha. O que se passa no convento só sabe quem está dentro. Por um lado, o convívio coloca-nos mais à vontade, relaxa-nos, dá-nos segurança. Isso é bom, desde que continuemos a ser atenciosos e capazes de dizer "obrigado", "com licença", "desculpa", as três palavrinhas que fazem bem às famílias, como tem sublinhado o Papa Francisco em diversas ocasiões. É tempo de começarmos por ser profetas na própria casa. Seria uma hipocrisia tremenda transparecermos o que não somos. Mesmo sabendo que há momentos em que o cansaço ou as diferenças geram aborrecimentos. Momentos não são o tempo todo!

____________________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): Ez 2, 2-5; Sl 122 (123); 2 Cor 12, 7-10; Mc 6, 1-6.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

05.01.17

VL – Se Deus falasse…

mpgpadre

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       Quando ouvimos uma afirmação desta logo somos tentados a responder rapidamente que Deus nos fala pela criação, pelas pessoas, pela beleza e harmonia da natureza, pelos acontecimentos, fala-nos pela Palavra revelada, palavra de Deus em palavras humanas, e, para nós cristãos, fala-nos em Jesus Cristo, a Palavra de Deus encarnada.
       É uma certeza que nos vem da fé e que é comum a outras religiões ou convicções religiosas. Também o Antigo Testamento, que nos une aos judeus, na primeira Aliança e na revelação da vontade de Deus através das gerações, se narram as intervenções de Deus, por sinais, por anjos, pelos acontecimentos históricos, pelos patriarcas, juízes, profetas e reis, que acolhem a Palavra de Deus e a comunicam ao povo.
       Os profetas são o expoente máximo desta comunicação de Deus ao seu Povo. Chamados e enviados por Deus, são os Seus mensageiros especiais. Alertam. Chamam à atenção para os desvios, os pecados e os afastamentos dos mandamentos, cujas consequências são nefastas para uma sadia convivência social. Vão junto dos reis para os aconselharem, para denunciarem injustiças, prepotências, para lhes relembrar que a realeza é derivada, isto é, são reis em nome de Deus e é em nome de Deus que devem servir e cuidar de todo o povo, especialmente dos seus membros mais frágeis, promovendo a coesão social, que permitirá, por sua vez, a defesa contra os ataques dos inimigos. Acalentam a esperança. Nos momentos de maior dificuldade, nomeadamente no Exílio, recordam tudo quanto Deus fez pelo povo, o que aconteceu para que estivessem nessa situação e o que os aguarda no futuro. Há que perseverar, pois Deus continuará a guiá-los para a felicidade, no regresso à terra prometida.
       Jesus é o Profeta por excelência. É a própria Palavra de Deus, feita vida, feita pessoa, encarnando. É rosto e presença do Pai. É a eternidade que se entranha no tempo.
       Mas voltemos ao desafio inicial… Se Deus falasse, poderia dizer claramente o que tinha acontecido e não precisávamos de ir a tribunal! Mas pronto, a justiça acabou por prevalecer… Deus sabe o que faz, não dorme. Se não for cá, há de ser no outro mundo!
       Fé simples, mas profunda! A sabedoria do coração que dá esperança, ilumina, sossega, desafia, mas que também pode confundir! A fé nem sempre é fácil, sobretudo quando as coisas não são como projetamos, quando as injustiças prevalecem apesar e além da fé, da confiança em Deus e nos seus desígnios, além da oração e dos sacrifícios… E então há que redobrar a oração e a confiança em Deus!
 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4388, de 22 de novembro de 2016

24.09.16

O pobre foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão...

mpgpadre

1 – O que nos distancia de Jesus Cristo e do Seu Evangelho não são os bens materiais, mas a ganância, a avareza, a prepotência, a sobranceria, a autossuficiência, a presunção, a soberba.

O contrário da pobreza de espírito não é a riqueza material mas a avareza. E aqui há cenários variados. Há pobres avarentos, que só não têm tudo porque não podem. Há pobres generosos, simples, despojados e o pouco que têm dá para ajudar os outros… Há ricos avaros, "chupam" tudo quanto lhes é possível, sem olhar a meios… Há ricos, cuja riqueza material é fruto do trabalho honesto, geram riqueza, criam emprego; beneficiam dos próprios bens e alargam os benefícios para os outros.

Jesus responsabiliza-nos pelos mais pobres. Refira-se uma vez mais que Jesus não está a falar para o vizinho. É para mim. É para ti. É para nós. Não nos é pedido o impossível. É-nos exigido o melhor de nós mesmos.

Jesus contesta o homem rico não pela riqueza que possui mas pela sua cegueira e egoísmo, pela incapacidade de sair do seu castelo e compartir a vida com os outros.

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2 – A descrição do homem rico e do pobre Lázaro, o contraste gritante que existe entre ambos e o muro levantado que protege um e deixa o outro na rua, é visível na atualidade. Também hoje convivem lado a lado a miséria e a opulência, a degradação humana e o luxo escandaloso. Os governos, por vezes, protegem apenas os poderosos e esquecem-se dos pobres.

Do homem rico não se conhece o nome. Pode ser qualquer um de nós. Por outro lado, mais que apontar nomes, importa denunciar situações de injustiça e prepotência. Vestia de púrpura e linho fino e banqueteava-se esplendidamente todos os dias, fechado dentro dos portões, alheio ao sofrimento dos outros.

Um pobre, chamado Lázaro. O nome já diz da sua pobreza. Os pobres não podem ser números. Não servem para usar como arma de arremesso. Não contam apenas por ocasião das eleições. Têm nome e têm rosto. E ainda hoje há tantos Lázaros, excluídos, sem casa, sem pão, sem família. Este jazia junto ao portão do homem rico, e estava coberto de chagas. Não pede muito, apenas as migalhas que caem da mesa do rico. Mas nem a migalhas lhe são permitidas.

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3 – O que fizerdes ao mais pequeno dos meus irmãos é a Mim que o fazeis. O que fizermos agora tem consequências amanhã. As escolhas do tempo influenciam a inserção na vida eterna. Qual efeito borboleta: segundo a teoria do caos, o bater das asas de uma borboleta em Portugal poderá provocar um terramoto do outro lado da terra.

«O pobre morreu e foi colocado pelos Anjos ao lado de Abraão. Morreu também o rico e foi sepultado. Na mansão dos mortos, estando em tormentos, levantou os olhos e viu Abraão com Lázaro a seu lado».

Finalmente este homem rico viu Lázaro. Antes não o tinha visto. A ganância e a superioridade presunçosa cegaram-no. Só se preocupava com o seu umbigo. Um pobre ali tão perto, do lado de fora, a padecer, e não foi capaz de o ver e de o ajudar. Agora tão longe, já o vê e até deseja que Lázaro, enviado por Abraão, possa vir, entrar, aliviar o seu sofrimento. Enquanto podia alterar as coisas, esqueceu-se dos outros. Agora que tudo está concluído quer alterar as regras do jogo, em seu benefício e dos seus, servindo-se de Lázaro a quem não serviu com os seus bens!

 

4 – Mais que nos preocuparmos com o desfecho final, que a Deus confiamos, importa, no tempo presente, aqui e agora – não amanhã ou depois, não em outro lugar ou circunstâncias – viver o melhor, gastando a vida em favor de todos os que Deus coloca à nossa beira, testemunhando a beleza e a alegria da Boa Nova que Jesus nos traz com a Sua vida e com a oferenda de Si mesmo.


Textos para a Eucaristia (C): Am 6, 1a. 4-7; Sl 145 (146); 1 Tim 6, 11-16; Lc 16, 19-31..

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

07.11.15

Ela, na sua pobreza, ofereceu mais que todos os outros

mpgpadre

1 – Quando o pouco é tudo e quando o muito é insignificante!

A vida não é quantificável pela quantidade, mas qualificável pela qualidade, pela intensidade, pelos momentos que fazem a história de uma pessoa, de uma família, de uma comunidade. Há vidas cronologicamente longas que se resumem a muito pouco, sem marcas relevantes na história; há vidas cronologicamente curtas em que são precisas muitas páginas e muitas vidas para absorver tudo o que foi vivido e cuja herança humana perdura para lá do tempo presente.

Do mesmo jeito a generosidade. Não é comensurável em cálculos matemáticos, mas visualizável no envolvimento da pessoa: está totalmente comprometida com o que dá e a quem dá? Ou é apenas um descargo de consciência? Ou um gesto mecânico de tradição?

Jesus colocou-se em frente da arca do tesouro e observa que muito ricos deitam com ostentação avultadas quantias. Aproxima-se uma viúva (pobre) e deita duas pequenas moedas. Antes Jesus alertava-nos: «Acautelai-vos dos escribas, que gostam de exibir longas vestes, de receber cumprimentos nas praças, de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos banquetes. Devoram as casas das viúvas, com pretexto de fazerem longas rezas».

Aqueles que tinham a obrigação moral de zelar por todos e sobretudo pelos mais pobres, entre os quais se contavam viúvas e os órfãos, ocupam os lugares para se servirem e usarem de diversas artimanhas para explorar as pessoas mais simples.

Atento ao gesto daquela viúva, Jesus diz aos seus discípulos: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».

O próprio Jesus explica por que é que aquela mulher dando tão pouco deu tanto, deu muito mais que outros. Dizia a Madre Teresa de Calcutá, que "o amor, para ser verdadeiro, tem de doer. Não basta dar o supérfluo a quem necessita, é preciso dar até que isso nos machuque... o importante não é o que se dá, mas o amor com que se dá”. De forma semelhante relembrava o Papa Francisco: "Não esqueçamos que a verdadeira pobreza dói: não seria válido um despojamento sem esta dimensão penitencial. Desconfio da esmola que não custa nem dói" (Mensagem para a Quaresma, 2014).

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2 – Elias, um dos profetas mais ilustres do povo eleito, experimenta a generosidade e a grande fé de um pobre viúva, que na míngua de bens, se prepara, juntamente com o filho, para se entregar à morte.

Elias afasta-se de Israel, povo ao qual pertence e que se encontra sujeito a um tempo de provação e purificação por se ter afastado de Deus. Elias refugia-se em Sarepta, cidade da Fenícia, onde será acolhido por uma viúva, que sobrevive à custa das esmolas, cada vez mais escassas em tempo de fome, pelo que lhe soa estranho o pedido de Elias: «Por favor, traz-me uma bilha de água para eu beber... Por favor, traz-me também um pedaço de pão».

Começa a desenhar-se um tempo novo em que a confiança em Deus prevalece além das dificuldades atuais. Responde-lhe a mulher: «Tão certo como estar vivo o Senhor, teu Deus, eu não tenho pão cozido, mas somente um punhado de farinha na panela e um pouco de azeite na almotolia. Vim apanhar dois cavacos de lenha, a fim de preparar esse resto para mim e meu filho. Depois comeremos e esperaremos a morte».

Certo da promessa de Deus, Elias replica: «Não temas; volta e faz como disseste. Mas primeiro coze um pãozinho e traz-mo aqui. Depois prepararás o resto para ti e teu filho. Porque assim fala o Senhor, Deus de Israel: ‘Não se esgotará a panela da farinha, nem se esvaziará a almotolia do azeite, até ao dia em que o Senhor mandar chuva sobre a face da terra’».

Genericamente sabemos que contamos sobretudo com a generosidade daqueles que passaram ou passam privações, pois sabem melhor o que custa a vida. Refira-se, obviamente, que a pobreza (espiritual) autêntica é, antes de mais, a abertura a Deus e a disponibilidade para cuidar do outro, usando a vida, os dons e os bens, como instrumento beneficente de todos.

_______________________

Textos para a Eucaristia (B): 1 Reis 17, 10-16; Sl 145 (146); Hebr 9, 24-28; Mc 12, 38-44.

 

REFLEXÃO COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

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Velho - Mafalda Veiga

Festa de Santa Eufémia

Pinheiros, 16/17 de setembro de 2012

Primeira Comunhão 2013

Tabuaço, 2 de junho

Profissão de Fé 2013

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