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17.11.23

Sugestão de Leitura - Jon Fosse - Prémio Nobel da Literatura

mpgpadre

Jon Fosse.jpg

Jon Fosse nasceu em 1959, em Strandebarm, na Noruega.

Escritor e dramaturgo reconhecido, estreou-se em 1983 com o romance Raudt, svart [Vermelho, preto]. Ao longo da sua carreira, recebeu inúmeros prémios literários, entre os quais o Prémio Internacional Ibsen, o Prémio Europeu de Literatura e o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico. A sua está traduzida em mais de cinquenta línguas e inclui romance, teatro, poesia, livros para crianças e ensaio.

É o Prémio Nobel da Literatura 2023 e foi escolhido «pelas suas peças e prosa inovadora».

Para quem gosta de ler, este é um escritor que, na minha opinião, é de leitura obrigatória. É certo que, desde que foi anunciado como vencedor o Prémio Nobel da Literatura, os seus livros triplicaram de preço, com novas capas para aí constar o respetivo prémio, até por questões de marketing. Em todo o caso, a escrita de Fosse é muito viva, agradável, escorreita, que envolve e nos faz querer ler até ao fim, com rapidez.

Poderíamos sugerir um ou outro título em concreto, como por exemplo, “trilogia” e “manhã e noite”. Como, por certo, muitas pessoas, após o anúncio da atribuição do Prémio, logo procurei saber mais sobre o autor, que desconhecia por inteiro, e adquirir uma ou outra obra para ler. Assim, optei pelos dois títulos referidos, que li quase devorando.

A trilogia é composta de três histórias, novelas, editadas ao longo dos anos, Vigília (2007), Os sonhos de Olav (2012) e Fadiga (2014), fundindo-se numa única história. É, segundo se anuncia, uma parábola com inspiração bíblica sobre amor, crime, castigo e redenção. Valeu-lhe o Prémio de Literatura do Conselho Nórdico.

Os estudiosos poderão confirmar ou não, mas, a meu ver, há alguns pontos de contacto com José Saramago, com as devidas diferenças e características de cada um, a escrita é como que uma longa e viva conversa, em que não há pontos finais, havendo vírgulas ou espaços. O narrador mais que escritor é um contador de histórias, numa linguagem muito viva e direta, avançando progressivamente e recuperando frases, expressões, situações, como quando se está a falar e se repetem deixas ou argumentos. Um jovem e uma jovem que saem da sua terra e que na terra para onde vão ninguém lhes quer dar dormida, ela por estar grávida, os dois por não serem casados, predominando o preconceito. Pelo meio, crimes cometidos por Asle, que depois se torna Olav, que desembocará no seu enforcamento. A sua companheira, Alida, desconhecendo muito do que o seu amado fez, acaba na penúria, sendo resgatada na vida por uma antigo conhecido da sua terra natal. Na terceira novela, Ales, já velha, “vê” a mãe já velha também, que morreu alguns anos.

Em “manhã e noite”, Johannes é a personagem que atravessa toda a história. A primeira parte , narra o nascimento, os medos, a ansiedade, a expectativa, a chegada de um segundo filho. Se for rapaz o nome está escolhido. A parteira está ocupada em preparar o parto e trazer a criança ao mundo e o pai nervoso, com o que pode acontecer naquele quarto, quer os silêncios, quer os gritos, não lhe permitem qualquer tipo de sossego. Mas a hora do menino nascer chegou e, sendo rapaz, herda o nome do avô. A segunda parte narra o dia da morte de Johannes já velhinho, pai e avô, e viúvo, com a dúvida a instalar-se, se se levanta, como todos os dias faz, vai à cozinha, enrolar um e outro cigarro e fumar, beber o café da manhã e sair para dar o passeio a pé ou no seu barco de pescador. Todos os dias, o mesmo ritual, mas parece que hoje não sente dores. A filha mais nova vem visitá-lo quase todos os dias e liga-lhe muitas vezes, ela e o marido trabalho, e vivem perto, com o seu filho, neto de Johannes. Podia bater-lhe à porta, mas parece que é muito cedo, talvez esteja atrapalhada para ir trabalhar ou para deixar o menino na escola. Vai até à enseada e encontra Peter, o velho amigo, que morreu há alguns anos, mas apesar disso está ali, pronto para a pesca ou já regressado da pesca. Combinam encontrar-se em cada de Pete. Como sempre fizeram, vai lá cortar-lhe o cabelo. Assim fizeram durante muitos anos, cortavam o cabelo um ao outro, poupando umas coroas. Ficou combinado. Johannes regressa a casa, mas fica indeciso, se vai para casa ou vai já a casa de Johannes, que talvez ainda não tenha regressado, bate e ninguém atende, espera, mas ele não chega, volta a bater à porta, não vá ele não ter ouvido. Entretanto, preocupada, a filha, no final do dia vai ver do pai, que se cruza com ela e a chama, mas ela não o ouve e não se desvia, atravessando-o. Que coisa estranha, pois também ela sentiu um frio que a trespassou. Encontra o pai na cama, morto. Chama o médico que lhe diz que morreu de manhã, deitou-se para dormir e já não acordou. Peter volta à sua presença e Johannes percebe que está morto. O amigo veio para o receber e o acompanhar a outra vida. É verdadeiramente uma história fascinante, num discurso muito vivo, muito oralizante, que nos empolga a prosseguir a história até ao fim.

22.12.15

SVETLANA ALEKSIEVITCH - O fim do Homem Soviético

mpgpadre

SVETLANA ALEKSIEVITCH (2015). O fim do Homem Soviético. Um tempo de desencanto. Porto: Porto Editora. 472 páginas.

Svetlana Alexksievitch.jpg

Quando um/a escritor/a é considerado/a Nobel da Literatura logo desperta a atenção de milhares de leitores em todo o mundo. Por vezes essa atribuição reconhece autores já consagrados, outras vezes autores desconhecidos do grande público, mesmo que sejam considerados no meio literário, ou numa região do globo.

Como leitor estou sempre à espera que Haruki Murakami receba esta distinção, tal é, a meu ver, a criatividade, imaginação, as histórias que se multiplicam dentro de outras histórias, além da ponte entre a cultura ocidental, com as suas tradições, superstições, descobertas, tendência e a cultura oriental, nipónica sobretudo, mas abrangendo costumes e tradições e superstições do mundo oriental, com a sua história ancestral. Esta seria uma mais valia para lhe poder ser atribuído o Prémio Nobel da Literatura. Mas pelos vistos o Júri ainda não é dessa opinião.

O Prémio Nobel da Literatura foi atribuído a esta escritora, Svetlana Alexksievitch e certamente por mérito próprio, tal é, como este livro que agora sugerimos como leitura, a arte com que escreve e, como muitos outros autores que receberam esta distinção, o seu contributo para conhecermos a Rússia e todo o mundo soviético, a passagem de um império para uma república mas que quer continuar a impor-se como superpotência mundial.

O fim do Homem soviético (ou "O tempo em segunda mão" - título original traduzido à letra) faz parte de um quinteto, em que a autora escuta testemunhos de pessoas reais, em diferentes contextos, do mundo soviético, em que vem ao de cima sobretudo o desencanto, o vazio, a indefinição. As promessas de liberdade e de democracia defraudaram as expectativas e aqueles que foram para a rua manifestar-se desiludiram-se, os heróis das guerras travadas pela União Soviética, nomeadamente no Afeganistão chegaram a ser considerados assassinos, sem honra e sem causas para lutar. O desmoronar da URSS, com a independência dos diversos Estados que a constituíam trouxeram muitas dúvidas. Milhares de pessoas que cresceram num império, estudaram a sua história, cultura, tradições, e de repente estão uns contra outros por que agora pertencem a países diferentes.

A liberdade aplaudida não cumpriu as promessas de uma mundo melhor, em que todos pudessem desfrutar das potencialidades europeias e norte-americanas. As calças de ganga não trouxeram a felicidade. A miséria era imensa, mas todos viviam com dificuldades, com o advento da democracia, muitos enriqueceram, controlando a riqueza, e os que viviam na miséria perderam até o que tinham, continuaram a ser explorados e espoliados dos seus bens.

Terá valido a pena a revolução? A perestroika? Alguns ainda olham com esperança para este tempo, a maioria parece viver na nostalgia de uma passado mais ou menos glorioso. Por conseguinte, na atualidade, Putin pareça estar a recuperar o imperialismo e a ditadura, sem oposição de relevo.

É um livro extraordinário. Permite conhecer a alma russa e soviética. Parecem ser palavras de desencanto, mas que correspondem ao pulsar de centenas de pessoas entrevistadas pela autora. Histórias que nos fazem sentir dentro daquele contexto, daquele momento da História, ainda que estejamos à distância, temporal e culturalmente. O livro é um desafio, para percebermos melhor as diferenças dos mundos que compõem o mundo. Questões de humanidade e de fé e de poder e de controlo, de riqueza e exploração.

Como refere a autora, na entrevista que aparece no final do livro, foram cinco livros "vermelhos", daquele tempo de transição, em que os revolucionários saíram sem pátria nem identidade e muitas vezes crucificados aos ideais comunistas, um socialismo que não protegeu os seus. Findo este ciclo, a autora escreverá sobre o amor, a velhice, a morte, mas num registo diferente, pois também há esperança e há muitas pessoas otimistas.

Para quem goste de ler, é um livro que se lê de fio a pavio, histórias dentro da história, envolventes, com todos os ingredientes de uma realidade que se vive naquela zona do planeta, mas em tudo idênticas as outras vidas a a outras histórias vividas por muitos que sonharam um mundo novo e acordaram sem o mundo antigo e sem se sentirem parte integrante do mundo que entretanto chegou e que eventualmente ajudaram a construir. Nem pão nem liberdade. Pois liberdade sem ter que comer, sem casa nem trabalho, nem que vestir de pouco vale.

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