O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se e a semente germina e cresce...
1 – Bento XVI, no início do seu ministério petrino (24/04/2005), falava nos desertos exteriores que se multiplicavam (guerra, violência, fome…) e nos desertos interiores que se acentuavam, com a perda de sentido, havendo cada vez mais pessoas a não saber qual o seu lugar no mundo. Por outro lado, Deus já nem é questionado ou é secundarizado! Um risco que corremos também na Igreja: viver como se Deus não existisse, ou como se não fosse importante, ou só importasse no fim da vida ou nos apertos da vida!
Os santos experimentaram o que se apelida de noite de fé. Santa Teresa de Calcutá é a mais recente de um número de santos que se questionaram e questionaram Deus no confronto com uma realidade avassaladora de miséria, de exclusão, de sofrimento "inocente"! Santa Teresinha do Menino Jesus deparou-se com a doença "mortal", protestando com Deus, tal como Job: que mal tinha feito para que Deus permitisse tão grande sofrimento?! As respostas nem sempre são clarividentes e muitas vezes levam a novas perguntas. Para Santa Teresinha, a esperança pode falhar, a fé em Deus também, mas o caminho seguro para Deus será o amor. Assim Santa Teresa de Calcutá prossegue com a sua "noite da fé", sujeita a muitas interrogações, mas não vacilando na hora de amar Jesus em cada pessoa a cuidar.
2 – Jesus desafia à confiança em Deus: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».
Numa leitura apressada dá a ideia que o trabalho humano (e braçal) é dispensável. O homem lança a semente à terra!
Antes disso é preciso cavar, ajeitar a terra e eliminar as ervas ruins, cavando mais fundo. No caso do trigo e do centeio é semear e deixar crescer… até chegar o tempo de cortar! Pelo meio, outros cuidados! Logo nos primeiros dias é necessário estar atento afastando as aves para que não comam as sementes visíveis ou esgravatem na terra à procura das que estão mais fundas! Por isso se colocam espantalhos! É preciso vigiar ratazanas e cava-terras que luram a terra e danificam a sementeira. Se antes há cuidados, depois é preciso "malhar" ou debulhar, separando o trigo da palha, aproveitando um e outro. O trigo será moído, obtém-se a farinha, e coze-se o pão! A palha ser, por exemplo, para alimento dos animais…
3 – Na segunda parábola, Jesus clarifica e acentua a confiança em Deus. O Reino de Deus «é como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».
A oração inicial provoca-nos à mesma confiança: «Deus misericordioso, fortaleza dos que esperam em Vós, atendei propício as nossas súplicas; e, como sem Vós nada pode a fraqueza humana, concedei-nos sempre o auxílio da vossa graça, para que as nossas vontades e ações Vos sejam agradáveis no cumprimento fiel dos vossos mandamentos».
A benevolência de Deus chama-nos à vida e sustenta-nos neste mundo que Ele nos dá como chão e como casa, atendendo às nossas súplicas mas implicando-nos na transformação de todas as realidades que estejam longe ou desfasados do reino de Deus que não é apenas uma realidade futura, mas está aí, está aqui, na história e no tempo. Jesus veio, em Pessoa, viver connosco. Não veio viver por nós, mas viver como um de nós. Assumindo-nos, para que com Ele possamos aprender, crescer, e O assumamos na nossa vida, criando as condições para que a semente em nós semeada possa germinar.
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Textos para a Eucaristia (ano B): Ez 17, 22-24; Sl 91 (92); 2 Cor 5, 6-10; Mc 4, 26-34.