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29.08.16

Leituras: PABLO d'ORS - Sendino está a morrer

mpgpadre

PABLO d'ORS (2014). Sendino está a morrer. A elegância do adeus. Prior Velho: Paulinas Editora. 80 páginas.

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       Pablo d'Ors nasceu em Madrid em 1963. É sacerdote católico e escritor. É consultor do Pontifico Conselho da Cultura (Vaticano), por designação do Papa Francisco. Fundou a Associação Amigos do Deserto, para viver e aprofundar a prática da meditação. Publicou, entre outros títulos, a triologia do silêncio: O amigo do deserto (2009), O esquecimento de si (2013) e A biografia do Silêncio, que já aqui recomendámos.

       No pequeno livro que agora sugerimos, o autor parte da sua condição de capelão hospitalar, onde encontra a Dra. África Sendino, que lhe pedirá para ajudar a escrever um testemunho sobre a vida, a doença, o sofrimento, a morte e, sobretudo, a fé, a confiança em Deus, a entrega confiante nas mãos do Pai.

       Médica descobre que tem cancro da mama. Começa então um diálogo profundo com Deus. «Fui à capela de Traumatologia e ajoelhei-me - escreve: - "Senhor (rezei), só me ocorre dizer-te que quero que sirva para tua maior glória o que me tocar viver a partir de agora. Tu saberás o caminho que inicias. Tu saberás aonde me conduzes»".

       Pablo d'Ors conhece-a nas últimas semanas de vida e acabará com a missão de escrever o seu testemunho, pegando nas notas que ela vai escrevendo, cada vez com mais dificuldade, menos texto, pouco perceptível. Para o autor, conhecendo e convivendo com Sendino vai tendo a perceção que ela é santa, com as suas imperfeições e limitações, mas também com a sua serenidade e confiança em Deus. "O que a meus olhos faz com que Sendino seja grande não é a morte, mas o morrer, o ir morrendo, o modo de morrer".

       Um dos primeiros aspetos que Pablo d'Ors sublinha é a elegância com que Sendino está deitada na cama do hospital. "Sim, Sendino era bela: tinha um olhar franco e limpo, um sorriso tímido e amável - nunca coquete -, uma pele branca e lisa. umas mãos gráceis - embora grandes - e uma feminilidade totalmente natural, nada importada ou estudada e, por isso, talvez, tão encantadora como desconcertante".

       Outro os aspetos que o autor sublinha é a clareza no falar, exprimindo as ideias de forma consistente, talvez demasiado analítica. Dedicado ao ensino de medicina, facilidade da comunicação oral. Curiosamente, maior dificuldade na escrita.

       Outro dos aspetos relevantes: o seu altíssimo nível espiritual, embora Sendino vivesse a sua fé com descrição. "Viveu a sua doença na perspetiva da Anunciação. Como a Virgem Maria, também ela deu à luz uma criatura: por virtude da graça, Sendino alumiou-se a si mesma para a eternidade. Eu sou testemunha".

        Como confidencia a  Pablo d'Ors, pediram-lhe para escrever sobre a sua enfermidade e, por isso, pede ajuda ao autor. "Nunca vi um processo de declínio e morte tão eloquentemente refletido nas folhinhas que Sendino me entregava sempre que a ia visitar... A progressão do seu cancro não se percebia somente na brevidade dos seus escritos, mas também na sua forma estilística, progressivamente mais frouxa, e até na caligrafia que, no final, era ilegível".

       Dos escritos confiados ao autor: "Chamo-me África Sendino e sou médica internista. Desde que me foi diagnosticado um cancro da mama, fui submetida a um tratamento cirúrgico de quimioterapia e radioterapia. Num sábado apalpo um nódulo e na segunda, às nove, fui recebida pelo patologista. Às nove e um quarto, saio do seu laboratório com um novo panorama vital: tenho cancro. De repente, eu era uma nova personagem: o médico adoece; e, depois, compreendi o que me tocava com a doença (uma conhecida com a qual até então eu tinha lutado diariamente) era dançar com ela. Também me veio à cabeça a imagem das duas margens de um rio. Inesperadamente, sem me consultar, tinham-me passado para a outra margem. Podia chorar, queixar-me, espernear... mas na verdade, o barco já se tinha ido embora. Teria de esperar que chegasse e, entretanto..., era apenas o que poderia fazer! Podia passear naquela margem, por exemplo, contemplar a outra minha nova perpetiva, deter-me tranquilamente diante desse rio, molhar os pés... O doente não deve ser apenas paciente; deve ser o protagonista da sua enfermidade" (Uma das primeiras entradas do diário de Sendino, dia em que lhe detetaram o cancro, 19 de outubro de 1999).

       As notícias que vão chegando não são animadoras. "Quero deixar claro - continua Sendino, quando relata a segunda fase do seu temor - que o facto de a doença pressupor um período de perdas não sentencia irremediavelmente que seja, realmente, um período de perda para mim mesma. Não, de modo nenhum! Mesmo sendo dolorosa a comprovação do fracasso do tratamento para erradicar o tumor, experimentei que a minha recaída tinha algumas vantagens: por exemplo, já não me esperariam tantas novidades, excetuando, naturalmente, a perpetiva de um desenlace final. Então, a morte apresentou-se como uma convidada para a festa".

       Mais adiante: "A doença vai ter connosco onde estamos. Quando me sobreveio a mim, soube que poderia vivê-la como uma circunstância adversa e até certo ponto irritante ou, ao contrário, como uma imensa e imerecida ocasião de aprendizagem. Decidi que a minha perpetiva seria a segunda. O meu primeiro desejo foi percorrer dignamente este caminho em benefício da Igreja. Aceitei ingressar num curso prático de patologia: a doença vivida na minha própria carne. Se superasse o cancro - disse a mim própria -, voltaria enriquecida à prática assistencial. Se saísse com vida, eu seria uma interlocutora vália para os doentes".2016-07-29 14.45.34.jpg

       Sendino apoia-se, para a oração, numa expressão de São Pedro: "Confiai a Deus todas as vossas preocupações, porque Ele tem cuidado de vós" (1 Ped 5, 7). "Desde o princípio da minha enfermidade - escreve neste mesmo sentido - compreendi que a minha forma de encará-la não era o resultado de uma grande fortaleza psicológica, mas um dom estritamente sobrenatural. Desde esse primeiro momento - continua - soube que só tinha um desejo: fazer esta minha peregrinação do melhor modo possível... Os enfermos são um tesouro para a Igreja".

       "O meu maior medo? Que a intensidade do meu sofrimento me tente a não louvar a Deus e a não dar graças ao seu nome. Só peço uma coisa: que a minha enfermidade não em afaste d'Ele; pois, se o fizesse, para quê e a quem serviria?... Aceito ser um despojo. Quero gastar-me e desgastar-me a cumprir a sua vontade".

 

Outro apontamento:

       "Um dos mistérios mais insondáveis da enfermidade é o do tempo: os sãos não têm tempo; em contrapartida, os doentes o que mais têm é precisamente tempo. Um dia pode ser infinito numa cama do hospital. Espera-se durante horas a visita de um médico que dura um minuto. Eu esperei esse médico e, agora, sou essa paciente que espera. Deus quis que eu dedicasse a minha vida a ajudar os outros, mas não quis que me fosse embora deste mundo sem deixar-me ajudar pelos outros. Deixar-se ajudar pressupõe um nível espiritual muito superior ao de simples ajudar. Porque, se ajudar os outros é bom, melhor é ser ocasião para que os outros nos ajudem. Quem se deixa ajudar parece-se mais com Cristo do que quem ajuda. Mas ninguém que não tenha ajudado os seus semelhantes saberá deixar-se ajudar quando chegar o seu momento. Sim, o mais difícil deste mundo é aprender a ser necessitado".

 

Leia entrevista a África Sendino: AQUI.

30.04.14

LEITURAS - sugestão - PABLO D'ORS - A Biografia do Silêncio

mpgpadre

PABLO D'ORS (2014). A Biografia do Silêncio. Breve ensaio sobre a meditação. Prior Velho: Paulinas Editora. 160 páginas.

       Este é certamente um livro diferente, e sobretudo na nossa mentalidade ocidental mais orientada para a ação, para a pressa, para o fazer coisas, participar em atividades, passear, viajar, ansioso por coisas novas. A não-ação, o silêncio e a paciência, a meditação, embora estejam presentes, são sobretudo vistas como descanso no meio das tarefas e das preocupações da vida.

       Sendo assim, esta será também uma leitura provocante. O autor, em jeito de testemunho pessoal, vai mostrando como a meditação revolucionou pacificamente a sua vida, pois meditar é viver e viver sem meditar significa não ir ao fundo do nosso autêntico eu. Pode custar a começar, por vezes exigindo algum esforço físico e mental. Mas pouco a pouco surge a necessidade de sentar e meditar, esvaziar-se de si e neste esvaziar-se de si a possibilidade de se encontrar com o verdadeiro eu, e com Deus. Maria acolhe no Seu ventre, Jesus Cristo, porque soube esvaziar-se de Si para se encher de Deus. "Deves esvaziar-te de tudo o que não és tu... Deus só pode entrar no que está vazio e está puro. Por isso, entrou Jesus Cristo no seio da Virgem Maria" (p 136).

       Meditar ajuda-nos a encontrar a fonte dos nossos medos. Quando não meditamos reagimos, discutimos, conflituamos, por vezes sem saber o que nos levou a isso. Meditando podermos encontrar o que deu origem a este ou aquele sentimento, a esta ou aquela reação, precavendo-nos para situações futuras, antecipando qualquer manifestação de ansiedade e tensão. "Pode-se viver sem lutar contra a vida. Mas, porque se há de ir contra a vida, se se pode ir a seu favor? Porquê apresentar a vida como um ato de combate, em de de um ato de amor?" (p 123).

(José Antonio Pagola e Pablo d'Ors)

 

O próprio a falar sobre a Biografia do Silêncio:

Vejamos o discurso do próprio Pablo d'Ors:

"Não penso que o homem seja feito para a quantidade, mas para a qualidade..." (p 14)

"Creio que para escrever, como para viver e amar, não nos devemos reter, mas desprender-nos. A chave de quase tudo está na magnanimidade do desprendimento. O amor, a arte e a meditação, pelo menos estas três coisas funcionam assim.

Quando digo que convém que estejamos soltos ou desprendidos, refiro-me à importância de confiar. Quando maior confiança tivermos em alguém, tanto melhor poderemos amá-lo; quanto mais o criador se entregar à sua obra, tanto mais ela lhe corresponderá. O amor - como a arte ou a meditação - é pura e simplesmente confiança... A meditação é uma prática da espera. Mas o que realmente se espera? Nada e tudo. Se se esperar alguma coisa concreta, essa espera deixará de ter valor, pois seria alimentada pelo desejo de uma coisa de que se carece... as esperas costuma ser aborrecidas e incómodas...  (pp 24-25)

"Nós, os seres humanos, costumamos definir-nos por contraste ou oposição, que é o mesmo que dizer, por separação ou por divisão" (p 34).

"É absurdo condenar a ignorância passada a partir da sabedoria presente" (p 35).

"Quando sou consciente, volto a minha casa; quando perco a consciência, afasto-me, sabe-se lá para onde. Todos os pensamentos e ideias nos afastam de nós mesmos. Somos o que resta, quando desaparecem os pensamentos" (p 42).

"NO amor autêntico não se espera nada do outro; no romântico, sim. E mais: o amor romântico é essencialmente a esperança de que o nosso parceiro nos dará a felicidade. Quando nos apaixonamos sobrecarregamos o outro com as nossas expectativas... O ser amado não existe para que o outro não se perca, mas para se perderem juntos, para viverem, em companhia, a libertadora aventura da perdição" (pp 46-47).

"Tanto a arte como a meditação nascem sempre da entrega; nunca do esforço. E o mesmo acontece com o amor. O esforço põe em funcionamento a vontade e a razão; a entrega, pelo contrário, a liberdade e a intuição..." (p 54).

"TRISTE NÃO É MORRER, MAS FAZÊ-LO SEM TER VIVIDO" (p 95).

"Não importa qual tenha sido o teu passado. Não conta que bagagem levas contigo. Tu, só tu é que contas, e tudo o resto é indiferente ou, até, pode chegar a ser um estorvo" (p 106).

"Só sofremos porque pensamos que as coisas deveriam ser de maneira diferente. Quando abandonamos essa pretensão, deixamos de sofrer" (p 126).

"Um ser humano é tanto mais nobre quando maior for a sua capacidade de hospedagem ou de acolhimento. Quanto mais vazios de nós estivermos, mais caberá dentro de nós. O vazio de si, o esquecimento de si, é diretamente proporcional ao amor aos outros" (p 127).

"A meditação concentra-nos, devolve-nos a casa, ensina-nos a conviver com o nosso ser, fende a estrutura da nossa personalidade até que, de tanto meditarmos, esta fenda vai crescendo e a velha personalidade rompe-se e, como a flor, começa a emergir outra nova. Meditar é assistir a este fascinante e tremendo processo de morte e renascimento" (contracapa).

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