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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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11.05.24

Elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos

mpgpadre

       1 – "Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também" (Jo 14, 1-3).

       O amor tende a permanecer, como refletíamos no domingo passado. Quem ama quer estar com a pessoa amada até ao fim da vida. Mais, quereria permanecer com ela até ao fim dos tempos. O amor de Deus para connosco, dá-nos um ROSTO, uma pessoa de carne e osso, Jesus Cristo. Espelhando o amor de Deus Pai logo Jesus Se predispõe a fazer tudo para nos inserir no projeto de amor divino, até a dar a vida por nós. Antes de partir, contudo, Jesus assegura o Seu permanecer até ao fim. Na Última Ceia deixa-nos o memorial da Sua morte e ressurreição, e depois da Ressurreição dá-nos o Espírito Santo, para que o Espírito O torne presente até à vida eterna. É a garantia das Suas palavras.

       A desilusão dá lugar à alegria e à esperança. Jesus apresenta-Se vivo no meio dos seus discípulos, cumprindo a promessa. Diz-nos São Lucas, nos Atos dos Apóstolos:

"Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus... recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos".

       Jesus recorda-lhes as palavras que lhes havia dito anteriormente sobre o reino de Deus e sobre a missão que lhes caberá em sorte. Não promete ausência de dificuldades, mas a Sua permanência, podem, podemos, contar com Ele, não nos deixa órfãos, dá-nos com abundância o Seu Espírito de amor. Liga-nos, não por telemóvel ou pela internet, mas pela Palavra e pelos Sacramentos que nos deixa e pelas pessoas que coloca na nossa vida.

       2 – Em forma de bênção, e de súplica, o apóstolo São Paulo, na segunda leitura que escutamos, pede ao Pai que nos dê o Espírito para reconhecermos Jesus e O acolhermos na nossa vida quotidiana.

       Atentemos às palavras do apóstolo:

"O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos".

       Só no Espírito Santo poderemos abranger a grandeza do mistério que Deus nos revelou por Jesus Cristo, a beleza da nossa filiação divina, da nossa fraternidade cristã, da nossa atração para a eternidade onde se encontra a nossa natureza humana, na humana natureza de Jesus Cristo. Com a Sua ressurreição/ascensão aos Céus, Jesus elevou-nos conSigo. Somos Igreja, Corpo de Cristo. Ele a cabeça, nós os membros; Ele o Bom pastor, nós o rebanho; Ele a verdadeira vide, nós os ramos.

 

       3 – O Espírito de Deus é-nos dado para nos transfigurar, para nos tornar verdadeiramente filhos de Deus, irmãos em Jesus Cristo. Mas existe nesta dádiva também uma dimensão instrumental, rejeitando toda e qualquer forma de egoísmo e vanglória.

       O Espírito Santo e os dons que com Ele recebemos, movem-nos para o bem, para a verdade, e para a caridade. Não são para auto regozijo, mas para que em nós e por nós brilhe o esplendor da misericórdia divina. Destarte, recusam-se as falsas contemplações de Deus, como se pode constatar na primeira leitura e no Evangelho deste domingo.

       Ao narrar a Ascensão de Jesus, o autor dos Atos dos Apóstolos vinca com insistência a necessidade, melhor, a urgência de ir ao encontro de Jesus no mundo real e concreto das pessoas. 

       Alguns dos seus contemporâneos esperavam a manifestação gloriosa de Jesus, descomprometendo-se com o mundo e com os outros. A narração da Ascensão mostra como Jesus Se esconde por detrás das nuvens, para que a tentação de pasmar diante do Céu se ultrapasse pela missão.

"E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu»".

       Com a mesma clareza, o Evangelho de São Marcos revela-nos que a ascensão de Jesus dá lugar, sem tempos de espera, à missão dos apóstolos:

"Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado...» E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam".

       Hoje, aqui e agora, os apóstolos somos nós. Não nos fixemos nas nuvens, mas em Deus a Quem podemos encontrar nas pessoas que fazem parte da nossa família e da nossa comunidade, e da sociedade do nosso mundo.


Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 1, 1-11; Ef 1, 17-23; Mc 16, 15-20.

17.02.24

O mais relevante não é o dilúvio, mas a ALIANÇA de Deus

mpgpadre

       1 – O povo da Bíblia, o povo judeu, pouco a pouco vai tomando consciência que Deus quer a felicidade e a salvação das pessoas e dos povos. Enquanto as civilizações vizinhas arranjam um deus por cada situação que não conseguem explicar, os judeus "percebem" que há um só Deus, que é criador, e que cria por amor. Logo, por amor não vai querer destruir a obra criada nem exigir sacrifícios que exijam a morte dos seus filhos.

       A descoberta que Deus é UM e é um Deus Pessoal que Se preocupa com a humanidade, e que Se ocupa daqueles que se desviam do Seu caminho, dando sinais e enviando mensageiros, dá aos judeus a garantia e a segurança que podem confiar n'Ele em todas as circunstâncias, concluindo que o mal existente resulta do pecado, do egoísmo e da inveja, ou das próprias leis da natureza. Há momentos duros que não entendem. Ainda assim, confiam que Deus não os abandona. Pedem que Deus volte, ou melhor, que os seus corações percebam a proximidade de Deus, como no salmo proposto para este domingo:

Mostrai-me, Senhor, os vossos caminhos,

ensinai-me as vossas veredas.

Guiai-me na vossa verdade e ensinai-me,

porque Vós sois Deus, meu Salvador.

 

Lembrai-Vos, Senhor, das vossas misericórdias

e das vossas graças que são eternas.

Lembrai-Vos de mim segundo a vossa clemência,

por causa da vossa bondade, Senhor.

 

O Senhor é bom e reto,

ensina o caminho aos pecadores.

Orienta os humildes na justiça

e dá-lhes a conhecer a sua aliança.

       O dilúvio é ocasião para o povo de Israel tomar consciência de Deus e da Sua Aliança a favor do Povo.

       Abraão, mais à frente, percebe e faz perceber ao seu povo que Deus não quis, não quer, a morte do seu filho. Nos povos vizinhos, o primeiro filho era oferecido aos deuses para aplacar a sua ira contra os filhos futuros e contra o povo ou o clã. Este é um grande avanço civilizacional: os filhos são uma bênção (de Deus), Deus não pode querer mal àqueles que cria e abençoa.

 

 

       2 – Na primeira leitura é evidente a distância da fé de Israel em relação aos povos daquela região e daquele momento da história. O dilúvio é entendido como castigo de Deus pelos pecados do povo. Durante alguns anos, e na discussão entre ciência e religião (bíblia), discutiu-se esta passagem, concluindo-se que era simbólica e nada tinha de correspondência histórica. Hoje aceita-se que terá havido dilúvio, com o degelo dos Pólos, e que deixou marcas nas pessoas. Não da forma como é descrito, nem nas proporções apresentadas, mas ainda assim marcante para os sobreviventes. E sabemos como as tradições passam de geração em geração e como a cada ponto, outro ponto se acrescenta. O texto remete para um tempo muito longínquo, conhecido pelas narrações orais. Também aqui seria impensável qualquer texto jornalístico (e mesmo que o fosse não estaria isento da interpretação do jornalista e/ou historiador).

       Para os judeus, porém, o mais relevante não é o dilúvio, mas a ALIANÇA de Deus com o Seu povo. Da humanidade destruída, Deus resgata aqueles que pode para viverem tempos novos. O dilúvio destrói. Muito maior, porém, é a destruição que brota do coração e das mãos humanas. É aqui que a ALIANÇA de Deus com o Seu povo há de incidir.

       "Estabelecerei convosco a minha aliança: de hoje em diante nenhuma criatura será exterminada pelas águas do dilúvio e nunca mais um dilúvio devastará a terra".

       O que devasta a terra, daquele e deste tempo, não são tanto os dilúvios e os desastres naturais, como o pecado dos homens e dos povos, crendo-se que hoje existem algumas "calamidades naturais" que poderiam ter sido evitadas, ou pelo menos minorar as suas consequências desastrosas.

       Exemplo disso, a poluição; a deposição de lixos tóxicos nas montanhas, nos rios, nos mares, nos Pólos; a desflorestação, que facilita as derrocadas, e estas, por sua vez, podem tornar-se um perigo para as habitações que se encontram no seu caminho; os incêndios, muitos deles na procura de transformar as florestas em terra de cultivo ou locais para habitação, ou simplesmente para obter madeira mais barata; a construção habitacional em zonas de risco elevado de ocorrerem sismos, tremores de terra, proximidade às placas tectónicas, zonas litorais com previsão de maremotos e tsunami (s); construções deficientes ao nível da segurança, para essas zonas de risco, numa tentativa de rentabilizar custos à custa de menosprezar os avisos, os estudos e as previsões de acidentes futuros.

       Acrescente-se a isso as calamidades provocadas, muito mais destruidoras: a guerra, os efeitos do comércio de droga e a toxicodependência, a fome, a escravização no trabalho, os maus tratos, os conflitos dentro das famílias e entre famílias, entre povos...

       A Aliança de Deus com a Humanidade parte do AMOR de Deus para nos redimir, para nos conduzir aos novos céus e nova terra de paz e harmonia, de aproximação e reconciliação, onde todos possam ver valorizados como filhos.

 

       3 – Em Jesus, Deus leva a Aliança à plenitude. N'Ele cumprem-se as promessas feitas a todo o povo, e do povo para a humanidade inteira. Com a Encarnação, Deus entra na história e no tempo, para rasgar novos horizontes de fraternidade e de vida nova. Juízes, reis e profetas, e muitas formas que Deus encontra para Se fazer presente. Na plenitude dos tempos envia o Seu próprio Filho.

       No Evangelho proposto para este primeiro Domingo da Quaresma, Marcos fala das tentações de Jesus, impelido ao deserto para rezar, e para que no despojamento de todas as comodidades materiais, Ele sinta mais suave e mais forte a presença de Deus Pai.

        "O Espírito Santo impeliu Jesus para o deserto. Jesus esteve no deserto quarenta dias e era tentado por Satanás. Vivia com os animais selvagens e os Anjos serviam-n’O. Depois de João ter sido preso, Jesus partiu para a Galileia e começou a pregar o Evangelho, dizendo: «Cumpriu-se o tempo e está próximo o reino de Deus. Arrependei-vos e acreditai no Evangelho».

       A dureza do deserto é igual para todos. Também Jesus sente essa dureza, não apenas em vésperas de iniciar a vida pública, mas ao longo de toda a jornada. Muitas serão as situações em que era mais fácil e apetecível seguir um caminho mais leve, mais breve, mais confortável, mais espetacular, mais evidente. Jesus resiste. Aquele que perseverar será salvo. Trilha o caminho da humanidade, em tudo, nas festas e na alegria, na secura e na fragilidade, no sofrimento e na morte, em família e na sinagoga, no campo e na cidade, procurando em tudo ser a transparência de Deus Amor.

       "Cristo morreu uma só vez pelos pecados – o Justo pelos injustos – para vos conduzir a Deus. Morreu segundo a carne, mas voltou à vida pelo Espírito. Foi por este Espírito que Ele foi pregar aos espíritos que estavam na prisão da morte e tinham sido outrora rebeldes, quando, nos dias de Noé, Deus esperava com paciência, enquanto se construía a arca, na qual poucas pessoas, oito apenas, se salvaram através da água".

       Com a paixão redentora de Jesus, Ele conduz-nos a Deus. A aliança chega ao seu termo, à sua plenitude. E é, neste concreto, NOVA ALIANÇA, fundada no sangue e no corpo de Jesus, selada na Ressurreição de entre os mortos.


Textos para a Eucaristia (ano B): Gn 9,8-15; Sl 24 (25); 1 Pe 3,18-22; Mc 1,12-15.

04.01.24

Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O

mpgpadre

«Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Nós vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-l’O». Vieram de longe, mas querem estar perto do Messias. Andam em busca. No Céu uma estrela brilhante aponta-lhes um caminho, uma estrada, um sentido novo para as suas buscas. Perguntam. Informam-se. Acreditam que outros possam ter informações mais precisas. Em definitivo é a Estrela que os conduz até Jesus, até Belém.

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Num olhar rápido sobre o Evangelho, algumas notas soltas:

  1. Procurar sempre, sem desfalecer. Por cada descoberta, novos desafios. Buscar Deus em toda a parte, na terra, nas pessoas, no céu.
  2. Atentos e vigilantes. Nunca nos darmos por satisfeitos. Despertos para perceber os sinais de Deus que surgem no horizonte.
  3. Levantar o olhar, o coração e a vida. Há mais mundo e mais vida para lá do nosso umbigo. Levantar o olhar para o horizonte, para o Céu, para Deus, donde nos virá a luz. Se olharmos apenas para baixo, para os pés, acabaremos por tropeçar e de nos perdermos dos outros que seguem connosco.
  4. Não ter medo de sair, de ir ao encontro de Deus.
  5. Pôr-se a caminho. Não basta um exercício intelectual sobre a busca. É necessário descruzar os braços e mover as pernas, sair do seu espaço de conforto, fazer-se à estrada que se faz tarde.
  6. Vigilância. Pelo caminho surgirão outras luzes. A confusão da cidade. Os apelos do mundo, da moda, do tempo. Algumas luzes serão brilhantes e ofuscarão a Luz que vem das alturas, podem levar-nos a errar, podem baralhar-nos na nossa busca.
  7. g)Não desistir. Se estamos baralhados. Se há muitas luzes, muitos caminhos, procuremos o que nos leva mais longe, o que nos leva a Belém, o que nos leva a Jesus. Ainda que tenhamos que abandonar a cidade e ir ao deserto, aos nossos desertos. Não desista. Procure. Há de encontrar.
  8. É sempre possível retomar o caminho (enquanto estamos vivos).
  9. Ir até à fonte. Beber nos afluentes pode ajudar-nos a prosseguir viagem, mas a sede só se saciará verdadeiramente quando chegarmos à fonte, ao Presépio, quando chegarmos junto do Deus Menino.
  10. A leveza dos passarinhos, que os faz voar, é precisamente a agilidade em dobrar as pernas. Prostremo-nos em adoração diante d'Aquele que Se abaixou à nossa dimensão.
  11. Demos o melhor que temos. Demos o nosso coração, a nossa vida por inteiro. Os magos deram as suas riquezas. A nossa riqueza é a nossa vida, a nossa fragilidade, a nossa pobreza e o nosso pecado.
  12. Façamos a experiência da Alegria no encontro com Jesus. Há momentos da nossa vida em que tudo parece estar contra nós. Deus está a nosso favor. Encontramo-nos com Ele e ainda não experimentámos uma alegria profunda? Talvez ainda não O tenhamos encontrado. A luz da Fé abre-nos para a alegria do encontro com Jesus.
  13. Não voltemos ao mesmo lugar, mesmo que aí já tenhamos sido feliz, como nos diz a canção. Se encontrámos Jesus, a nossa vida não mais será a mesma. Regressámos à nossa vida, mas por outros caminhos, com outro sentido e outra luz. Doravante temos um MOTIVO maior que preenche todos os nossos dias e os nossos afazeres e nos compromete com os irmãos. Há que buscar e prosseguir por novos caminhos. Mas sobretudo deixar que Jesus Se faça CAMINHO connosco.

22.12.18

... o menino exultou de alegria no meu seio!

mpgpadre

1 – A Boa Nova – Encarnação de Deus, nascimento de Jesus, Deus feito Homem, Páscoa – é o maior motivo da nossa alegria, reforçam-na, moldam-na e fazem-na explodir no anúncio a todos. Chamamento e envio: somos discípulos missionários, chamados deixar-nos contagiar pela proximidade a Jesus e enviados a difundi-l’O em toda a parte.

Há oito dias éramos inundados pelas palavras que nos interpelavam à alegria. A razão era a proximidade da celebração do nascimento de Jesus. Agora estamos mais perto, à porta do Natal. Então a ansiedade (como espera feliz na certeza do encontro e da festa) torna-se maior e deve ser mais intensa, mais vívida, mais profunda.

Alegra-te, Maria, porque achaste graça diante de Deus. A saudação do Anjo envolve Maria na Boa Nova que n'Ela Se fará carne. A resposta de Maria, partindo do silêncio, do recolhimento e da oração, faz-Se Palavra, faz-Se Jesus.

E que fazemos quando algo de muito bom nos acontece? A maioria conta-o à primeira pessoa que encontra, a uma pessoa de confiança, indo visitá-la ou telefonando-lhe e poucos são os que guardam para si. Maria recebe a maior das boas notícias. Então corre apressadamente para a montanha, como o mensageiro corre pelos montes a anunciar a paz!

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2 – São Lucas informa-nos que logo depois da anunciação, e sabendo que Isabel também foi favorecida pelo Senhor, "Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha, em direção a uma cidade de Judá".

Porque foi Maria tão longe para estar com Isabel? Para ajudar, certamente, mas porque ambas tinham um segredo imerso no mistério de Deus. Maria sabe que não pode fazer alarde da sua condição de Mãe de Deus, pelo escárnio a que se sujeita, pela inveja que pode suscitar e pela perigosidade em que se colocaria. Vai ter com Isabel e não precisará de revelar o Seu segredo. Se Maria sabe de Isabel, também Isabel saberá o que se passa com Maria!

Ao entrar em casa de Zacarias, Maria começa por saudar Isabel e, mais uma vez nos informa o evangelista que «Isabel ficou cheia do Espírito Santo e exclamou em alta voz: ‘Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Logo que chegou aos meus ouvidos a voz da tua saudação, o menino exultou de alegria no meu seio. Bem-aventurada aquela que acreditou no cumprimento de tudo quanto lhe foi dito da parte do Senhor’».

Maria é feliz porque acreditou, porque confiou em Deus e porque acolheu os Seus desígnios: faça-se em Mim o que é do Teu agrado, Senhor, meu Deus e meu Tudo.

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Textos para a Eucaristia (ano C): Miq 5, 1-4a; Sl 79 (80); Hebr 10, 5-10; Lc 1, 39-45.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

16.12.18

Alegrai-vos sempre no Senhor... Seja de todos conhecida a vossa bondade»

mpgpadre

1 – «Alegrai-vos sempre no Senhor. Novamente vos digo: alegrai-vos. Seja de todos conhecida a vossa bondade». O 3.º Domingo do Advento é conhecido como Domingo da Alegria (Gaudete) e a liturgia da palavra dá-nos o fundamento e as razões para tal alegria.

A alegria dá trabalho, exige dedicação e até esforço. Esta maneira de dizer pode soar estranha, contudo, para lá da alegria espontânea, há a alegria que se conquista, que se procura, há a opção pelo copo meio cheio, a escolha da positividade. Uma pilha tem dois polos, um positivo e outro negativo. Também a vida, ainda que mais multifacetada, com matizes variadas, dependendo de muitas circunstâncias, crónicas e/ou pontuais, interiores ou exteriores, próprias ou alheias. E até o clima pode modificar a disposição e os comportamentos. Mas como somos seres racionais, com vontade própria, podemos insistir numa dinâmica positiva. Não precisamos de ser ingénuos, mas podemos escolher seguir adiante, apostar em tudo o que nos faz bem e nos aproxima dos outros.

O apóstolo Paulo convida à alegria, mas logo a agrafa à bondade. É que o bem que dizemos e que fazemos, e a habituação ao mesmo, ajuda-nos a solidificar a alegria com que acolhemos as maravilhas que o Senhor realiza em nós e através de nós.

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2 – Depois de João Batista pregar o arrependimento, a conversão, alguns perguntam-lhe o que fazer. Que fazer para a vida nos assemelhe a Deus? Como chegar a uma alegria que nos leve a acreditar na força do amor, do perdão e da confiança em Deus? E João responde-nos, concretizando: «Quem tiver duas túnicas reparta com quem não tem nenhuma; e quem tiver mantimentos faça o mesmo» (todos); «Não exijais nada além do que vos foi prescrito» (publicanos e nós); «Não pratiqueis violência com ninguém nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo» (soldados, eu e tu).

 

3 – João Batista prepara e anuncia a Boa Nova que está a chegar. É necessário preparar o coração e a vida para Aquele que está a chegar. «Eu batizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu, e eu não sou digno de desatar as correias das suas sandálias. Ele batizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo. Tem na mão a pá para limpar a sua eira e recolherá o trigo no seu celeiro».

Numa das passagens do Principezinho (de Antoine Saint-Exupéry), a raposa diz ao pequeno Príncipe: "Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, eu, a partir das três, já começo a ser feliz. Quanto mais se aproximar a hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já estarei agitada e inquieta; descobrirei o preço da felicidade!" É esta alegria que hoje evocamos, a alegria de sabermos que o Senhor está a chegar e que nos traz a salvação de Deus. Alegria que nos faz agir, aplanar os caminhos da nossa vida para que o Senhor possa passear-Se e viver em nós.

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Textos para a Eucaristia (ano C): Sof 3, 14-18a; Sl Is 12, 2-3. 4bcd. 5-6; Filip 4, 4-7; Lc 3, 10-18.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

26.05.18

Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo

mpgpadre

1 – O mistério acolhe-se, vive-se, reza-se, enquadra-se nas escolhas que fazemos, e também se racionaliza, mas continua a ser mistério. Jesus é o Logos (Verbo, verdade, Palavra, razão, Sabedoria do Pai), é Luz que nos guia, que clarifica o mistério de Deus, que traz Deus até nós tornando-O acessível, visível à história e ao tempo.

Quem Me vê, vê o Pai! Eu e o Pai somos Um! Ninguém vai ao Pai senão por Mim! Eu vou para o Pai e vou enviar-vos o Espírito Santo, o Paráclito, o Espírito de Verdade que vos revelará toda a verdade, Ele vos recordará o que vos disse, «Ele não falará por Si próprio, mas há de dar-vos a conhecer quanto ouvir e anunciar-vos o que há de vir… Tudo o que o Pai tem é meu; por isso é que Eu disse: ‘Receberá do que é Meu e vo-lo dará a conhecer’» (Jo 16, 13-15).

O mistério da Trindade santíssima é visualizável na vida e na missão de Jesus Cristo. Basta olhar para Ele, acreditar n'Ele, segui-l'O, amá-l'O, vivê-l'O, transparecendo-O, para estarmos por dentro do mistério trinitário, ou melhor, para a vida divina nos apossar com a Sua presença e com a Sua graça misericordiosa.

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2 – Ao longo da Sua vida, Jesus vive em dinâmica de doação, de entrega, de serviço, de cuidado aos outros, de atenção aos mais desfavorecidos, mulheres e publicanos, crianças e estrangeiros, pecadores e doentes (surdos, mudos, leprosos, coxos, cegos, endemoninhados). Este é o mistério da Trindade: o amor levado ao limite do possível, até ao último fôlego; oferecido, em sacrifício, eternizando-o, confiando a Deus Pai. A finitude e a fragilidade humanas, os limites do tempo e do espaço são integrados no Infinito, na eternidade de Deus, são elevados às alturas, ressuscitam com Jesus Cristo!

Deus é Amor! Deus são três Pessoas! Faz parte do ser-pessoa a relação com os outros e com o mundo. É o que nos revela Jesus: o amor de Deus que Ele concretiza com a Sua vida. Deus é mistério, mas é um mistério que em Cristo Se revela, Se dá, amando-nos! Será impossível saber quem é Deus em Si mesmo! Mas também é impossível saber quem é cada pessoa em si mesma! Conhecemo-nos pelo que revelamos, pelo que dizemos e pelo que fazemos (ainda que sejamos mais do que isso)! É também assim que conhecemos Deus, através da Sua Palavra, Jesus, Deus humano, e em Jesus é visível o amor de Deus. Ser assumidos pelo mistério da Santíssima Trindade é deixar-se conduzir e enformar pelo amor como oblação, entrega, serviço, mas também como amizade, como partilha e como comunhão, integrando as diferenças e a identidade de cada um!

 

3 – «Deus Pai, que revelastes aos homens o vosso admirável mistério, enviando ao mundo a Palavra da verdade e o Espírito da santidade, concedei-nos que, na profissão da verdadeira fé, reconheçamos a glória da eterna Trindade e adoremos a Unidade na sua omnipotência» (oração de coleta).

Professar a fé implica vivê-la. Não se trata de acreditar em algo, trata-se de acreditar e confiar em Alguém e querer que a Sua vida seja visível também na nossa! Queremos identificar-nos com Aquele que amamos ou, no mínimo, fazermos o que está ao nosso alcance para Lhe agradarmos! Vale na nossa relação com Deus, mas também vale na nossa relação com os outros!

Como o Pai me amou, também Eu vos amei! Como o Pai me enviou também Eu vos envio! «Ide e ensinai todas as nações, batizando-as em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo, ensinando-as a cumprir tudo o que vos mandei. Eu estou sempre convosco até ao fim dos tempos».

A resposta ao amor de Deus, que nos inclui na Sua família – somos Seus filhos no Filho Jesus – faz-se para a frente, amando os nossos semelhantes, levando-lhes alento e conforto, ajuda e esperança.

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Textos para a Eucaristia: Deut 4, 32-34. 39-40; Sl 32; Rom 8, 14-17; Mt 28, 16-20.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

30.12.17

Maria e José levaram Jesus a Jerusalém...

mpgpadre

1 – «Senhor, Pai santo, que na Sagrada Família nos destes um modelo de vida, concedei que, imitando as suas virtudes familiares e o seu espírito de caridade, possamos um dia reunir-nos na vossa casa para gozarmos as alegrias eternas».

No Seu amor imenso, Deus vem habitar connosco. Assume-nos por inteiro, nas nossas fragilidades e na nossa finitude. O nosso Deus, Deus de nossos Pais, Abraão, Isaac e Jacob, Moisés e David, o Deus que Se revela plenamente em Jesus, é um Deus de amor, que nos ama sem desistir de nós. Ama-nos como Pai e como Mãe. É este o mistério do Natal, expressão visível da Encarnação de Deus.

Deus criou-nos por amor, à Sua imagem e semelhança, capazes de amar e ser amados. Deus é Amor, Deus é família: Pai, Filho e Espírito Santo, comunidade de vida e amor.

Para entrar no mundo, Deus escolheu uma família humana. Jesus não é um extraterrestre, ou uma espécie de super-homem caído do espaço. Deus humaniza-Se, encarnando, por ação do Espírito Santo, no ventre virginal de Maria. Na normalidade da família de Jesus, Maria e José, Deus mostra-nos o caminho do amor que une e salva.

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2 – José e Maria são um casal jovem, judeus, descendentes da linhagem de David. Em Belém ou em Nazaré, ninguém dirá que Aquele Menino é Filho de Deus. Nada há de estranho na família de Jesus. Os Seus pais trabalham arduamente para terem o necessário para viverem com dignidade, participam na vida da comunidade, nas festas e nos lutos, entreajudam-se nos trabalhos do campo e da vinha, trocam saberes e bens que manufaturam segundo a arte de cada um.

Como praticantes judeus, completando-se os dias da purificação, Maria e José levam Jesus ao Templo de Jerusalém para O apresentarem ao Senhor, cumprindo as prescrições da Lei de Moisés. É um momento importante para os Pais, pois dessa forma confiam o seu filho a Deus e inserem-se na Aliança de Deus com o Seu povo.

No Templo, Maria e José vão escutar palavras promissoras acerca do Seu querido filho. Um filho é uma bênção, ou deveria ser, nunca um estorvo ou empecilho. O Filho de Maria e de José foi inesperado, talvez até fora de tempo, acolhido com todo o amor. No Templo vão perceber que Ele será uma bênção para todo o Povo, conforme as palavras de Simeão: «Agora, Senhor, segundo a vossa palavra, deixareis ir em paz o vosso servo, porque os meus olhos viram a vossa salvação, que pusestes ao alcance de todos os povos: luz para se revelar às nações e glória de Israel, vosso povo».

Também Ana, profetisa, mulher de idade avançada louva o Senhor Deus pelas maravilhas que fará através d'Aquele Menino.

 

3 – Mas a história não acaba aqui, muito pelo contrário.

Os pais tudo farão para evitar qualquer sofrimento ao(s) seu(s) rebento(s). As palavras de Simeão e de Ana acalentam a esperança de um futuro risonho para o Seu Menino. Porém, a vida é um mistério que se abre à nossa frente e que o futuro só a Deus pertence. Haverá sempre surpresas e nem todas fáceis de dirigir. É a vida! Um mistério a viver! Uma história a sonhar e a realizar. Os imponderáveis fazem parte da vida.

O Velho Simeão tem um recado para Maria e para José, ainda que se volte mais para Maria: «Este Menino foi estabelecido para que muitos caiam ou se levantem em Israel e para ser sinal de contradição; – e uma espada trespassará a tua alma – assim se revelarão os pensamentos de todos os corações».

A Luz de Israel – iluminará as Nações da terra inteira – ferirá os olhos habituados às trevas, à escuridão do pecado, do egoísmo e da vida cómoda; levará uns a lutar pela justiça e pela verdade, exporá outros que vivem à custa da exploração corrupta, à custa dos mais frágeis. A vida de Jesus, Aquele Menino-Deus, será uma caixinha de surpresas. Será uma bênção, entre muitas adversidades!


Textos para a Eucaristia (ano B):Sir 3, 3-7. 14-17a; Sl 127 (128); Col 3, 12-21; Lc 2, 22-40.

16.12.17

Vivei sempre alegres, orai sem cessar...

mpgpadre

1 – Há alegrias que cristalizam o momento: a vitória do nosso clube ou do nosso partido, o acertar em alguns números do euromilhões e ganhar € 12,75, uma raspadinha com € 8,00, o placard que nos permite oferecer um jantar aos amigos, um peça de roupa que comprámos, o regresso da série de televisão que seguimos atentamente, o animal de estimação que voltou para junto de nós.

Se não tivermos nenhuma patologia, as verdadeiras alegrias: a saúde, a paz em família e no trabalho, um familiar que recuperou a saúde, um amigo que visitamos ou que nos visita.

A ALEGRIA deste domingo preenche-se de Deus, que na Sua infinita Sabedoria e no Seu Amor infindo, nos dá o Seu Filho bem Amado, para nos preencher de alegria.

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2 – «Vivei sempre alegres, orai sem cessar, dai graças em todas as circunstâncias, pois é esta a vontade de Deus a vosso respeito em Cristo Jesus. Não apagueis o Espírito, não desprezeis os dons proféticos; mas avaliai tudo, conservando o que for bom».

Alegria comprometida com o bem, como acentua São Paulo à comunidade de Tessalónica: «Afastai-vos de toda a espécie de mal. O Deus da paz vos santifique totalmente, para que todo o vosso se conserve irrepreensível para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo».

Deus não nos falta com a Sua benevolência. Procuremos manter acesa a chama da fé, de uma fé que brilha com as obras, com a prática da caridade.

O profeta do Advento, Isaías, diz-nos os motivos do júbilo: «O espírito do Senhor está sobre mim, porque o Senhor me ungiu e me enviou a anunciar a boa nova aos pobres, a curar os corações atribulados, a proclamar a redenção aos cativos e a liberdade aos prisioneiros, a promulgar o ano da graça do Senhor». Palavras que Jesus assumirá como Suas na Sinagoga de Nazaré.

 

3 – Como salmo é-nos servido o Magnificat, que se vislumbra em Isaías e composto por Maria na visitação à Sua prima Santa Isabel: «A minha alma glorifica o Senhor e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador, porque pôs os olhos na humildade da sua serva: de hoje em diante me chamarão bem-aventurada todas as gerações. O Todo-poderoso fez em mim maravilhas… Aos famintos encheu de bens e aos ricos despediu-os de mãos vazias. Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia».

Isabel revela-nos a alegria de João Batista: mal que a voz da tua saudação chegou aos meus ouvidos, o menino exultou de alegria no meu seio, bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do ventre!

Maria, por sua vez, exclama a alegria porque nela Deus traduz a história da salvação, levando à plenitude as maravilhas que vinha manifestando ao longo do tempo. Com efeito, Maria deixa que através dela Deus possa mostrar-Se no Seu esplendor e na maior das maravilhas, a vinda do Seu Filho Unigénito para ser Um de nós, Um connosco. O Filho de Deus já está em advento no Seu seio virginal.

A presença do Filho de Deus congrega as maiores alegrias, mas como Se esconde na humanidade, teremos que O encontrar no cuidado aos que Deus coloca (precisamente) ao nosso cuidado.

 

4 – O primeiro encontro de Jesus e de João sublinha a alegria, a certeza que as maravilhas do Senhor Deus serão plenizadas, pois o coração do Seu Amado Filho já palpita como coração humano.

Passados mais ou menos 30 anos, quase estranhos e desconhecidos, Jesus e João voltam a encontrar-se. Talvez houvesse alguma intuição e alguma memória longínqua de encontros passados. Mas agora o tempo é novo, há uma nova "estrela" a brilhar, no caso o Sol que não tem ocaso. João veio como Precursor, mas no encontro com Jesus dá-se conta que a sua missão chegou ao fim, pois era provisória, ainda que seja incrustada à missão de Jesus. Por outras palavras, uma única missão: espalhar a Boa Nova que é Jesus, ora como promessa, para os que vieram antes, como realidade temporal e histórica na pessoa de Jesus, como concretização espiritual, sacramental e histórica para os que virão depois da Sua morte e ressurreição.


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 61, 1-2a. 10-11; Salmo: Lc 1, 46b-48. 49-50. 53-54; 1 Tes 5, 16-24; Jo 1, 6-8. 19-28.

09.12.17

Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas

mpgpadre

1 – Vigiai. Era a palavra-chave que escutámos há oito dias. Hoje a palavra-chave é PREPARAI, preparai o caminho do Senhor. É-nos servido o início do Evangelho de São Marcos que nos remete para Isaías, trazendo a promessa de Deus ao Seu povo. Ele enviará um mensageiro na frente para preparar o caminho d'Aquele que há ser enviado para nos trazer a salvação.

João Batista é a voz que no deserto proclama um batismo de penitência para a remissão dos pecados. Ele é voz da Palavra que está a chegar. Para que a Palavra Se seja percetível é urgente que a voz provoque os ouvidos e sobretudo os corações. Demasiada cera pode ser impeditivo de uma boa audição, um coração empedrado terá dificuldade em acolher e em amar Aquele que vem.

É tempo de preparar o caminho, o coração, a vida.

Um caminho que não é utilizado nem é limpo acabará por ficar intransitável. Se é um caminho muito usado, as pegadas e os rodados pisam as ervas que ameaçam nascer e crescer. Pedras que caiam ou silvas que despontam sempre se vão tirando. Mas de vez enquanto é necessário fazer uma limpeza mais a fundo, para que o caminho volte a ser caminho. E se por ele tiver que passar alguém especial então o cuidado será maior.

Está a chegar Jesus, Alguém que nos é muito caro, muito especial, então há que preparar bem o caminho da nossa vida para Ele passar e permanecer em nós. As famílias estavam habituadas no Natal e sobretudo na Páscoa a fazer uma limpeza a fundo nas casas – as barrelas – e nas ruas. É esta a preparação a que São João nos desafia.

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2 – Na 1.ª Leitura, Isaías, uma das figuras do Advento, anuncia a chegada do Emanuel, «O Senhor Deus vem com poder, o seu braço dominará. Como um pastor apascentará o seu rebanho e reunirá os animais dispersos; tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso». O poder de Deus far-se-á serviço, pois não vem para impor e dominar, mas como Pastor para congregar.

Os tempos de treva e dispersão não durarão para sempre. Já se vislumbra no horizonte uma luz a despontar como aurora, uma voz que clama tão forte que não podemos não escutar: «Preparai no deserto o caminho do Senhor, abri na estepe uma estrada para o nosso Deus. Sejam alteados todos os vales e abatidos os montes e as colinas; endireitem-se os caminhos tortuosos e aplanem-se as veredas escarpadas. Então se manifestará a glória do Senhor».

Se Ele vem, se está próxima a Sua chegada, como é que vamos recebê-l’O? Como é que nos vamos preparar? Como é que traduzimos o convite da palavra de Deus?

 

3 – A nossa grandeza há de ser o reflexo da grandeza de Deus, pelo que é na pequenez, na humildade e no abaixamento que deixamos que Deus seja visto em nós como num espelho. "A minha alma engrandece o Senhor". Palavras de Maria que sublinham como a grandeza de Deus Se revela através da humilde serva do Senhor. Isso mesmo foi colocado em evidência por Joseph Ratzinger, futuro Bento XVI, não é Maria que torna Deus maior, mas Ela deixa que Deus Se mostre. Isso mesmo nos é pedido. Parafraseando Santo Agostinho, o nosso egoísmo faz-nos crescer ao ponto de nos entrepormos entre Deus e os outros. A nossa opacidade não permite que os outros vejam em nós ou através de nós. A humildade torna-nos transparentes e, por conseguinte, Deus será visível em nós e para os outros.

Vejamos como São João Batista aponta para Aquele que há de vir em glória e poder. «Vai chegar depois de mim quem é mais forte do que eu, diante do qual eu não sou digno de me inclinar para desatar as correias das suas sandálias. Eu batizo-vos na água, mas Ele batizar-vos-á no Espírito Santo»

Preparar o caminho do Senhor também é isto: treinar a humildade, a capacidade para transparecer Jesus, testemunhar Jesus, deixar que Jesus fale em nós e através de nós. O nosso centro é Jesus e o Seu Evangelho de amor, de perdão e de serviço.


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 40, 1-5. 9-11; Sl 84 (85); 2 Pedro 3, 8-14; Mc 1, 1-8.

05.08.17

Levantai-vos e não temais...

mpgpadre

1 – «Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias». Jesus toma conSigo Pedro, Tiago e João e sobe com eles a um alto monte, lugar privilegiado para encontrar-se com Deus.

Jesus retira-se muitas vezes para a montanha, para lugares ermos, para o deserto. Lugares onde se sente mais a sós com o Pai. Em momentos-chaves, a intimidade de Jesus com o Pai é reforçada, para que a firmeza O conduza à missão de transparecer o Reino de Deus.

Os escritores sagrados dos primeiros tempos sublinham o olhar de Jesus, profundo, luminoso, um olhar que cativa e atrai. É uma luz que vem dentro, do coração, que vem do alto, que vem do Pai.

É esta a luminosidade que transparece em Jesus. Na Transfiguração, Jesus deixa ver mais claramente a intimidade com Deus Pai. Luz, mais luz, mais luz, que também nos trespassa, que também nos ilumina, enchendo-nos o coração de luz. O coração e a vida. Cabe-nos, como àqueles discípulos, fazer com que a Luz que nos vem de Jesus, ilumine o nosso caminho.

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2 – Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias.

Quando estamos bem, quando nos sentimos em casa, o tempo passa célere, nunca é noite, é sempre dia, há sempre luz. Há momentos de sol e de chuva, de bonança e de tempestade. Quando chega a bonança, descansamos da ansiedade, do medo, do desgaste, para nos fortalecermos para o que possa vir a seguir.

O contexto da Transfiguração de Jesus evoca a vida como ela é. Há uma primeira evidência: Jesus aponta para o Pai, para que nos momentos mais sofríveis não nos esqueçamos d'Ele e da Luz que há em nós. Antes, Jesus revelara aos discípulos o que Lhe estava destinado: o Filho do Homem vai ser entregue às autoridades, vai ser julgado e vai ser morto. Jesus logo acrescenta que três dias depois de morto voltará à vida. O estrago já estava feito e os discípulos já não ouvem este novo dado. É como nós, dão-nos uma boa notícia e outra má, a notícia negativa ocupará toda a nossa atenção.

Depois deste anúncio, Jesus leva os discípulos mais próximos ao alto da montanha e transfigura-Se diante deles, sinalizando a vida em comunhão plena com Deus Pai, apontando para a vida definitiva.

 

3 – Senhor, como é bom estarmos aqui! Se quiseres, farei aqui três tendas: uma para Ti, outra para Moisés e outra para Elias.

Antes do fim há ainda muita vida, muito caminho a percorrer. A eternidade, a ressurreição, inicia no tempo presente, no compromisso histórico com todos os que seguem connosco. Em Jesus, há um reino a germinar, um projeto em andamento, um vida a florir. Antes, Moisés e Elias, que confluem para Jesus. Ele resume, assume e pleniza as promessas feitas por Deus ao povo eleito. Chega agora o tempo de escutar e de seguir outro Mestre: «Este é o meu Filho muito amado, no qual pus toda a minha complacência. Escutai-O».

Como no Batismo, Deus declara a Sua afeição pelo Filho, convocando-nos a todos para O escutar e para O seguir. Não há tempo a perder. São horas de partir e de seguir Jesus: «Levantai-vos e não temais». Quando os discípulos olham novamente, veem apenas Jesus, caem na realidade. Jesus desperta-os do assombro, para que desçam ao mundo concreto e deixem a ressurreição dos mortos para Deus, para quando chegar a hora de Se manifestar em plenitude.

 

Pe. Manuel Gonçalves


Textos para a Eucaristia (ano A):  Dan 7, 9-10. 13-14; Sl 96 (97); 2 Pedro 1, 16-19; Mt 17, 1-9.
 
 

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