Monica Hesse - A Rapariga do Casaco Azul

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ELIE WIESEL (2016). Noite. Lisboa: Texto Editores. 136 páginas.
Elie Wiesel sobreviveu para contar os horrores vividos nos Guetos de Sighet e depois nos campos de extermínio. Até ao fim, a ameaça permanente à vida. Para lá de todo o sofrimento infligido, a humilhação, os trabalhos forçados, a tortura, a fome, a sede, o tratamento desumano a que estavam sujeitos, a desinformação, a pressão psicológica, retirando toda a esperança. Momentos em que as forças faltas, o ânimo está de restos e só resta confiar-se à morte. Há momentos que chegam (quase) à loucura e outros enlouquecem de verdade, ao ponto de não saberem quem são, pelos horrores presenciados, pela impossibilidade de descansar em segurança, pela morte à frente, ao lado, atrás, vizinhos, amigos, família.
É um texto comovente, pois se percebe com clareza os horrores perpetrados pelos nazis, o controlo do corpo e da mente, semeando a divisão entre membros do mesmo povo, para que uns possam guardar, vigiar, controlar os outros.
Na contracapa, breve retrato do autor: "Nascido no seio de uma família judia na Roménia, Elie Wiesel era adolescente quando, justamente com a família, foi empurrado para um vagão de carga e transportado, primeiro para o campo de extermínio, Auschwitz, e, depois, para Buchenwald. Este é o aterrador e íntimo relato do autor sobre os horrores que passou, a morte dos pais e da irmã de apenas 8 anos, e da perda da inocência a mãos bárbaras. Descrevendo com grande eloquência o assassínio de um povo, do ponto de vista de um sobrevivente, Noite faz parte dos mais pessoais e comovedores relatos sobre o Holocausto, e oferece uma perspetvia rara ao lado mais negro da natureza humana".
A fé em Deus é posta em questão. Não tanto a existência em Deus, mas a discussão com Ele, que não ouve, e Se mantém em silêncio perante tanta violência. Alguns judeus ficam chateados com Deus, como se revoltam por que não conseguem perdoar-Lhe a distância e/ou a indiferença. Também neste aspeto, é um testemunho de fé provada pela vida, pelos horrores da fome, da humilhação, a dignidade que lhes foi roubada.
Algumas expressões do autor:
"Nunca esquecerei aquela noite, a primeira noite no campo, que fez da minha vida uma noite longa e sete vezes aferrolhada.
Nunca esquecerei aquele fumo.
Nunca esquecerei os pequeninos rostos das crianças cujos corpos eu vi transformarem-se em espirais sob um céu mudo.
Nunca esquecerei aquelas chamas que consumiram para sempre a minha Fé.
Nunca esquecerei aquele silêncio noturno que me provou para a eternidade, do desejo de viver.
Nunca esquecerei aqueles momentos qua assassinaram o meu Deus e a minha alma, e que transformaram os meus sonhos em cinza.
Nunca esquecerei, mesmo que tenha sido condenado a viver tanto tempo quanto o próprio Deus.
Nunca".
Em Auschwitz, depois de uma correria louca, o responsável pelo bloco em que ficaram, um jovem polaco diz-lhes:
“Camaradas, encontram-se no campo de concentração de Auschwitz. Um longo caminho repleto de sofrimento espera-vos. Mas não percam a coragem. Já escaparam ao perigo mais grave: a seleção. Reúnam as vossas forças e não percam a esperança. Todos veremos chegar o dia da libertação. Tenham confiança na vida, mil vezes confiança. Afastem o desespero e assim afastarão de vós a morte. O inferno não dura para sempre… E, agora, uma prece que é mais um conselho: qua a camaradagem reine entre vós. Somos todos irmãos e sofremos o mesmo destino. O mesmo fumo flutua sobre as nossas cabeças. Ajudem-se uns aos outros. É a única maneira de sobreviverem”.
“Alguns falavam de Deus, dos Seus caminhos misteriosos, dos pecados do povo judeu e da libertação futura. Quanto a mim, tinha deixado de rezar. Como estava parecido com Job! Não tinha negado a Sua existência, mas duvidava da Sua justiça absoluta.
Akiba Drumer dizia: Deus põe-nos à prova. Quer ver se somos capazes de dominar os maus instintos, de matar o Satanás que existe em nós. Não temos o direito de desesperar. E se Ele nos castiga impiedosamente é sinal de que nos ama ainda mais”.
Três condenados ao enforcamento. Os dois adultos gritaram – viva a liberdade. O pequeno manteve-se calado.
“Onde está o Bom Deus, onde está Ele? – Perguntou alguém atrás de mim…
Ainda estava vivo quando passei diante dele. A sua língua ainda estava vermelha, os seus olhos tinham ainda uma centelha de vida.
Atrás de mim, ouvi o mesmo homem perguntar:
– Onde está Deus, então?
E eu senti dentro de mim uma voz que lhe respondia:
– Onde é que Ele está? Ei-lo… está aqui pendurado nesta forca…
Naquela noite, a sopa sabia a cadáver”.
"Pobre Akiba Drumer! Se tivesse podido continuar a acreditar em Deus, a ver neste calvário um aprova de Deus, não teria sido levado pela seleção. Mas a partir do momento em que tinha sentido as primeiras brechas na sua fé, tinha perdido as suas razões para lutar e tinha começado a agonizar”
CHARLES BELFOURE (2015). O Arquiteto de Paris. Lisboa: Editorial Presença. 352 páginas.
Vindo da família, como presente por ocasião do aniversário natalício, logo esta obra se tornou de leitura obrigatória. A primeira coisa que fiz foi ler os comentários da contra-capa ou interior da capa, situar o autor, ver o argumento que convida à leitura.
Sendo Bestseller do New York Times, já diz algo do valor deste título.
A leitura é escorreita. Lê-se com muito agrado, mas sobretudo lê-se com a pressa de chegar mais à frente, avançar páginas, devorar frases, parágrafos, a trama adensa-se a impulsiona a uma leitura contínua, de fio a pavio.
O autor é arquiteto. Ainda que romance, tem também a cultura do próprio autor. Joga em casa, como se costuma dizer.
É empolgante. A linha condutora coloca-nos na anexação de França por parte da Alemanha de Hitler durante a 2.ª Guerra Mundial. Os franceses enfrentam como podem a invasão. Uns tornam-se colaboracionistas, outros "traidores", outros cínicos, justificando-se com a necessidade de sobrevivência. Alguns aproveitam a inveja que tinha dos judeus para se vingarem, expondo-os ao cárcere e à morte. Uns por medo, outros para beneficiarem de uma tratamento favorável.
O Arquiteto confronta-se com a possibilidade de ganhar algum dinheiro, uma vez que com a guerra deixou de ter trabalho e o dinheiro vai escasseando. É contratado para projetar fábricas para produzir armamento para a potência invasora. Vai justificando a necessidade de trabalhar, de criar, de ganhar dinheiro para sobreviver, e com a "desculpa" que as obras ficarão para os franceses depois que os alemães saírem da França, após a derrota.
É uma justificação que faz e si mesmo, e que faz à atual companheira, que o apelida de hipócrita. Com o envolvimento com os alemães, ao serviço de um empreiteiro francês, é-lhe pedido que projete alguns esconderijos, para salvar judeus. Vai-se envolvendo cada vez mais. Está a colaborar com os dois lados, fazendo obras para o Reich e ao mesmo tempo projetando criativos esconderijos. O perigo aproxima-se rapidamente e aquilo que para ele era uma espécie de contrabalança, torna-se missão. Envolve-se cada vez mais em salvar judeus e abdicando de qualquer pagamento. Ele próprio acabará por esconder uma criança....
Com o decorrer do trama, vai descobrindo como há muitas mais pessoas envolvidas, algumas de quem ele nunca esperaria tal... e há os que se dão bem com a presença dos alemães...
O Arquiteto mostra o que um arquiteto poderia fazer durante a segunda guerra mundial, aproximando-se de uma realidade que nos faz ver a face negra da humanidade, mas também o heroísmo de quem resiste à perseguição, enfrenta o medo, a tortura e a própria morte, para salvar outros porque são pessoas (antes de serem judeus).
Partindo de uma realidade não muito distante no tempo, mas esquecida em diferentes situações da história atual, vale a pena revisitar o drama, a violência e a desumanidade do nacional-socialismo / nazismo. É uma chamada de atenção para aqueles que, querendo ocupar o lugar de Deus, destroem tudo e todos os que possam ser uma obstáculo a um poder absoluto. No meio dos escombros, há sempre alguém que se levanta e diz não e se um tomba outro se levantará para prosseguir a história.
A segunda Guerra Mundial gerou milhares de vítimas, com plano nazi e conquistar o mundo e eliminar os judeus. Para o efeito bastava ter alguma ascendência judaica: se eram aptos para trabalhar, para se tornarem escravos, sobreviviam, pelo menos até morrerem de fome, de doença, ou em consequência do trabalho; se não eram aptos, então eram encaminhados para campos de concentração, para serem mortos. Muitas vezes eram mortos por brincadeira, por capricho ou simplesmente para provocar pânico aos outros judeus.
O Diário da Mary Berg narra os dias passados no Gueto de Varsóvia, um conjunto de ruas, de casas, de bairros onde foram confinados os judeus, com regras restritas, em que se vivia com as ameaças, com a possibilidade de serem contratados para trabalhar, passaportes para sobreviverem mais tempo, buscando alguma normalidade, ajudando e sendo ajudado, metendo "cunhas" para ocupar melhores trabalhos, contrabandeando pão, comida e outros bens, dedicando-se à arte e à cultura.
O projeto final era eliminar todo o gueto, todos os judeus. Os que tinha alguma ligação estrangeira, como a autora/protagonista, cuja cidadania americana da Mãe a tornam também uma privilegiada, apesar de tudo, com uma maior probabilidade de sobreviver.
Será solta por troca dos prisioneiros de guerra alemães. Pouco tempo depois, os 12 caderninhos de apontamentos são publicados em livro para revelarem a atrocidade contra o povo judeu, mas também contra polacos (judeus ou cristãos) e alertar a comunidade internacional para se apressar e fazer alguma coisa.
Para trás ficam amigos e um vislumbre de miséria, pobreza, violência gratuita e a tentativa de viver a normalidade da vida, estudando, cultivando-se, criando laços. É um diário "arrepiante" e sobretudo por visualizar a vida tal como foi vivida pelos intervenientes numa página negra da história e que se deseja que não volte a acontecer, ainda que os sinais apontem a um risco maior de intolerância, xenofobia, racismo, fanatismo religioso...
Passados poucos anos da publicação e do diário, e do fim da segunda guerra mundial, Mary Berg (1924-2013) desapareceu dos focos da ribalta, talvez para viver uma vida normal...
O Diário de Anne Frank é dos mais conhecidos e divulgados, mas outras histórias que entretanto foram postas por escrito e divulgadas para que a nossa memória não esmoreça e se torne vigilante perante indícios de tamanha vilipêndia...
Setenta anos depois já vários tentarem negar, esconder, suavizar a tragédia nazi. Por conseguinte, esta é mais uma leitura obrigatória para avivar o compromisso com a verdade e com a justiça, com a dignidade humana e com o respeito por todas as vidas, desde a concepção até à morte natural.
Vale a pena ler:
1 – «Meu Pai, se é possível, passe de Mim este cálice. Todavia, não se faça como Eu quero, mas como Tu queres». Oportuna e luminosa síntese da vida e da missão de Jesus: fazer a vontade do Pai.
Como qualquer ser humano, Jesus sente a dureza e fragilidade do caminho. Percebe que está próximo um desenlace fatal. Já não há como fugir. Há situações na vida em que enfrentamos ou nos perdemos, acobardando-nos. É preciso ter fibra.
Nas horas de maior aperto, Jesus reza e ensina-nos a rezar. E se a oração é essencial, também a companhia. Cada um sofre à sua maneira, mas partilhar o que nos dói, ajudar-nos-á a dar sentido à nossa persistência. Jesus roga aos Seus discípulos: «A minha alma está numa tristeza de morte. Ficai aqui e vigiai comigo».
Um pouco antes, Jesus prepara os discípulos, e a nós também, para que as trevas não vençam. «Este é o meu Sangue, o Sangue da aliança, derramado pela multidão, para remissão dos pecados. Eu vos digo que não beberei mais deste fruto da videira, até ao dia em que beberei convosco o vinho novo no reino de meu Pai».
O medo pode agigantar-se. Havendo alguma centelha de luz – a fé, a confiança em Deus, a presença dos amigos –, isso fará que não nos percamos no meio (e apesar) das trevas.
2 – "Não se faça como Eu quero, mas como Tu queres". Vem ao de cima o instinto de sobrevivência, mas há de ser mais forte a obediência. "Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte…"
A realeza e a grandeza de Jesus revela-se no despojamento, esvaziando-se de Si – não se faça o que EU quero –, enchendo-se do Amor do Pai – faça-se o que TU queres. Jesus recusa salvar-Se a Si mesmo, livrando a própria pele da Cruz; pelo contrário, estende os braços para o Pai e para a humanidade. Até à morte e para lá da morte vencerá o amor, a obediência, a Presença de Deus.
3 – Uns dias antes, a entrada triunfal de Jesus na cidade de Jerusalém clarifica o mesmo despojamento. O Rei que aí vem não passa de (mais) um Profeta, e passaria despercebido não fora uma multidão de pobres que O acompanham desde a Galileia. Pessoas pobres e humildes, que cada ano, por ocasião da Páscoa, deixam as suas casas, e se deslocam para celebrar a sua fé em Deus, com os sacrifícios que terão de fazer e dos perigos que terão que enfrentar.
"Eis o teu Rei, que vem ao teu encontro, humildemente montado num jumentinho, filho de uma jumenta... Numerosa multidão estendia as capas no caminho; outros cortavam ramos de árvores e espalhavam-nos pelo chão… em altos brados: «Hossana ao Filho de David! Bendito O que vem em nome do Senhor!».
4 – Podemos incluir-nos dentro daquela multidão, entre os apóstolos, com a autoridade judaica e com a autoridade romana, com a multidão da Galileia que antes O aclamava, ou com a multidão da Judeia que se deixa levar pela inventiva de alguns poucos. Acusando ou lavando as mãos. Traindo ou negando. Gritando em fúria no meio da multidão anónima ou a usar os instrumentos de flagelação. Ajudar a levar a cruz ou ser forçado a isso. Quais as mulheres e mães que não arredam, a espreitaram para o caso de as deixarem ajudar Jesus.
"Estavam ali, a observar de longe, muitas mulheres que tinham seguido Jesus desde a Galileia, para O servirem. Entre elas encontrava-se Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu. Ao cair da tarde, veio um homem rico de Arimateia, chamado José, que também se tinha tornado discípulo de Jesus. Foi ter com Pilatos e pediu-lhe o corpo de Jesus".
No final sobrevêm novas escolhas. Enquanto vivemos, estamos a tempo de nos convertermos e aderirmos a Jesus Cristo. Pedro refaz o seu testemunho e o seguimento de Cristo. José de Arimateia não se envergonha e recolhe o corpo de um condenado. O Centurião, e os que por ali estavam, faz audível a sua fé: «Este era verdadeiramente Filho de Deus».
Textos para a Eucaristia (ano A):
Mt. 21, 1-11; Is 50, 4-7; Sl 21; Fl 2, 6-11; Mt 26, 14 – 27, 66.
Reflexão Dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
ou no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.
Depois da Sua eleição, no passado dia 13 de março, tem surgido diversos escritos do atual papa Francisco. Era expectável, que muitos procurassem de imediato saber o que já disse, fez, o que escreveu, as mensagens mais emblemáticas, gestos mais relevantes, acontecimentos mais transformadores, e, claro, para outros, ver o que poderia gerar crítica ou escândalo.
Começamos por sugerir uma primeira leitura, juntando as primeiras palavras de Francisco, com as últimas de Bento XVI: BENTO XVI, Embora me retire continuo unido a vós. Discursos de Bento XVI e SAVERIO GAETA. Papa Francisco. A vida e os desafios. Este constitui uma primeria abordagem biográfica de Jorge Bergoglio, agora Papa Francisco, com algumas citações de frases, intervenções, mensagens, homilias...
Mais completo, quanto aos temas tratados, a célebre entrevista ao então Cardeal Jorge Bergoglio, assumindo o título "O Jesuíta", que recebeu nova edição: SERGIO RUBIN e FRANCESCA AMBROGETTI, Papa Francisco. Conversas com Jorge Bergoglio.
Este título que agora apresentamos é uma extraordinário encontro de um cristão e de um judeu, um cardeal e um rabino, num diálogo muito profícuo, com muitos pontos de contacto, de respeito, admiração, humildade, mostrando que a sabedoria leva à concórdia e a buscar o que verdadeiramente é ponte para os outros. Para haver diálogo é inevitável e necessário que cada um se apresente com os seus princípios, ideias, convicções, com abertura, não para desistir da sua identidade, mas para a enriquecer com as convicções dos outros. Se há pura cedência de uma das partes, não há diálogo. Se há imposição também não. Mas se existe humildade é possível encontrar pontos de contacto que ajuda a entender o mundo e a humanidade, procurando soluções ou pelo menos caminhos.
JORGE BERGOGLIO e ABRAHAM SKORKA, Sobre o Céu e a Terra. Clube do Autor. Lisboa 2013, 224 páginas.
O então cardeal Jorge Bergoglio e Abraham Skorka já se tinha encontrado em diversas ocasiões, tornando-se amigos, abordando diversos temas da fé, da vida, da política. Inclusive, já tinham escrito prefácios para livros um do outro. Por que não colocar por escrito os diálogos entre ambos.
Este livro nasce dessa vontade comum de partilhar com outros as conversas tidas ao longo dos anos, sinalizando desde logo que é possível, e até necessário, que pessoas de diferentes credos, comungarem o essencial da vida.
São variados os temas: sobre Deus, o Diabo, a oração, a culpa, a morte, a eutanásia, o aborto, a mulher, os idosos, o fundamentalismo, o divórcio, a política, a educação, o dinheiro, a pobreza, sobre o holocausto, sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, sobre o conflito israel-árabe, ou sobre a evolução política e social da Argentina.
Muito clarificador. Mais um livro que se lê com muito agrado, quer nas intervenções do atual Papa, quer nas palavras do rabino Skorka. Com sabedoria e simplicidade, numa abordagem que desafia, e envolve, pois traz a experiência de vida de cada uma dos intervenientes.
Por outro lado, e no que diz respeito ao Papa Francisco, pode constatar-se que a mensagem que tem chegado ao mundo inteiro é genuína, não surge de repente, é fruto da vida, da experiência, do estudo, da oração, de milhentas situações concretas. Lendo o Jesuíta, ou lendo este (bom seria ler os dois títulos - já há outros) fica-se a conhecer bem melhor o pensamento de Francisco, os seus gestos e as suas mensagens sobre humildade, serviço, pobreza, diálogo, pontes em vez de muros.
No Youtube podem encontrar-se outras conversas, do Papa com Abrahm Skorka:
"... O texto apresenta o ambiente de 1943: o gueto de Varsóvia está cercado e em chamas. Um após outro, caem todos os seus defensores. Numa das últimas casas em que ainda resiste está presente o filho de Israel. E mete numa garrafa vazia um escrito com as suas últimas palavras:
...
Creio no Deus de Israel, embora Ele tenha feito de tudo para arrasar a minha fé n'Ele. As minhas relações com Ele já não são as de um servo diante do seu senhor, mas a de um discípulo perante o seu mestre...
Morro, mas não satisfeito; como um homem abatido, mas não desesperado; crente, mas não suplicante; amando a Deus, mas sem dizer cegamente: Ámen. Segui a Deus, mesmo quando Ele me repeliu. Cumpri o seu mandamento, mesmo quando, para premiar a minha observância, Ele me castigava. Amei-o, amava-o e amo-o ainda, embora me tenha abaixado até ao chão, me tenha torturado até à morte, me tenha reduzido à vergonha e ao escárnio. Podes torturar-me até à morte, acreditarei sempre em ti; amar-te-ei sempre, mesmo que não queiras. E estas são as minhas últimas palavras, meu Deus de cólera: Não conseguirás fazer com que Te renegue.
Tentaste de tudo para fazer-me cair na dúvida, mas eu morro como vivi: numa fé inabalável em Ti. Louvado seja o Deus dos mortos, o Deus da vingança, o Deus da verdade e da fé que imediatamente mostrará os fundamentos com a sua voz omnipotente. Shema' Israel, Adonai Elohenu, Adonai echad! Escuta, Israel, o Senhor é nosso Deus, o Senhor é um!
in BRUNO FORTE, As quatro noites da salvação, Prior Velho, Paulinas 2009.
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