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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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04.01.17

VL - E tudo se renova… ressuscitando!

mpgpadre

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       As Portas da Misericórdia encerram-se mas não a Misericórdia divina. Como referiu o nosso Bispo, na Solenidade de Cristo Rei, no passado dia 20 de novembro, o encerrar das Portas recorda-nos a urgência de ir e levar a misericórdia a toda a gente, a todo o mundo.

       No Arciprestado de Moimenta da Beira-Sernancelhe-Tabuaço, a Caminhada do Advento, proposta às paróquias que o constituem, sintonizando com o plano pastoral diocesano e com a liturgia dominical, inicia com uma porta fechada, para impedir os ladrões de entrar. No decorrer da Eucaristia, a porta abre-se para que Jesus entre, deixando que Ele nasça na nossa vida. Fechamo-nos ao mal, a todo o tipo de guerra, dispomo-nos à paz, a construir, a viver as obras de misericórdia, a despertarmos do sono para saborearmos o DIA que irradia com a vinda de Cristo.

       O Advento é tempo de graça e salvação. Sendo um tempo novo, o Advento não se desfaz do que está antes, mas dá-lhe o colorido da festa que se aproxima, comprometendo-nos mais, fazendo-nos recordar a razão da nossa esperança e do nosso compromisso com os outros. Preparamo-nos para celebrar o aniversário de Jesus. Não é algo que se repita. Nada se repete na nossa vida. Cada instante conta. Cada segundo. É a minha, a tua, a nossa vida. Todos os momentos são importantes. Todos os minutos valem!

       Um ciclo finda, outro se inicia, entrelaçando-se no anterior e projetando-nos para o futuro, em espiral. Nos textos da liturgia (cf. Mt 24, 37-44), Jesus a desafia-nos à vigilância para que a Sua vinda não passe despercebida como no tempo de Noé, em que as pessoas comiam e bebiam, casavam-se e davam em casamento e só se aperceberam do dilúvio quando este chegou. Era tarde demais!

       Jesus anuncia aos seus discípulos um tempo novo que está a chegar, aproxima-se a Sua morte. Logo advirá a Sua ressurreição, inaugurando, em plenitude, um Reino novo, de paz e de misericórdia, de justiça e de amor. Naquele tempo, o mistério da Sua morte e da Sua ressurreição passou indiferente para muitos. Também nos pode passar ao lado. Não podemos deixar o tempo correr. É preciso que saboreemos a vida e nos comprometamos uns com os outros.

       Ele continua a emergir na nossa vida e a ressuscitar connosco em todo o bem que praticamos. Por ora, preparamos a celebração da Sua primeira vinda, mas em dinâmica futura. Jesus volta. Não tardará. Como nos vai encontrar? Como O vamos receber?
 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4389, de 29 de novembro de 2016

04.01.17

VL – E tudo de renova… ressuscitando! – 2

mpgpadre

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       «Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia virá o vosso Senhor. Ficai sabendo isto: Se o dono da casa soubesse a que horas da noite viria o ladrão, estaria vigilante e não deixaria arrombar a casa. Por isso, estai também preparados, porque o Filho do Homem virá na hora em que não pensais» (Mt 24, 42-44).

       O que se avizinha não tem de ser atemorizador! A salvação está ao nosso alcance, foi-nos colocada na palma da mão. Jesus viveu e morreu por nós, por mim e por ti. E, por mim e por ti, por nós, ressuscitou. Introduziu-nos na eternidade de Deus. Deixemos que nasça em nós, na nossa vida, que nasça e nos ressuscite, nos desperte para a vida abundante de graça e de misericórdia.

       Nada há a temer quando estamos preparados. Sabendo que Ele vem. Há 2.000 mil anos veio ao mundo. A Sua vinda conjuga-se agora no presente. Vem. E vem para ficar, para criar raízes. E para que n'Ele enraizemos a nossa vida. Lembremo-nos que os ramos crescem à medida que as raízes se fincam na terra. Ou, noutra imagem, a videira e a seiva que alimentam os ramos e as folhas. Quando a vida de Jesus Cristo circula em nós então a nossa vida está garantida, como promessa e como tarefa. Os sustos que apanhamos têm a ver com o facto de estarmos desprevenidos. Jesus previne-nos para estarmos preparados, para O reconhecermos e O acolhermos.

       No "Principezinho", a Raposa sublinha a alegria a crescer com o aproximar do encontro com o Principezinho quando sabe a hora do mesmo. "Teria sido preferível teres voltado à mesma hora. Se vieres, por exemplo, às quatro horas da tarde, eu, a partir das três, já começo a ser feliz. Quanto mais se aproximar a hora, mais feliz me sentirei. Às quatro em ponto já estarei agitada e inquieta; descobrirei o preço da felicidade! Mas se vieres a qualquer hora, ficarei sem saber a que horas hei de vestir o meu coração..."

       Ora, Jesus diz-nos que está a chegar. Revistamo-nos de alegria e de esperança. Preparemo-nos para que não nos surpreenda distraídos. Abramos os ouvidos, os olhos, o coração, a vida por inteiro. Ele está a chegar. Não aqui ou ali. Mas em nós. Em cada pessoa que se aproxima de nós, em cada pessoa de quem nos aproximamos. Em todo o tempo! A qualquer hora!

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4391, de 13 de dezembro de 2016

28.10.16

VL – O amor afasta o temor (Santa Faustina)

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Imaginemos um pai severo, com muitas regras e castigos. Tão distante dos filhos que se faz respeitar pelo medo. Basta um olhar! E se for preciso desapertar a fivela do cinto...
Imaginemos um pai compreensivo, dialogante, carinhoso com os filhos, estabelece regras explica-as, negoceia fronteiras e limites...
Passados 30 anos, quais os filhos estarão mais próximos dos pais?
Há pessoas que se atêm à religião mais pelo medo, pela presença demoníaca, pela escrupulosidade do pecado, que pelo convite acolhedor de Jesus e do Seu Evangelho de Paixão e de Misericórdia.
O Ano Jubilar acentuou a dinâmica do amor de Deus para com a humanidade, assumido e plenizado na vida de Jesus, na Sua morte e ressurreição, e o desafio à Igreja para ser Casa da Misericórdia, assomando a beleza e a alegria da Boa Nova da redenção. 
Há um caminho importante a fazer. O caminho de cada um – lembrando as palavras do então cardeal Ratzinger: há tantos caminhos quantas as pessoas – há de aproximar-nos de Jesus, Caminho, Verdade e Vida. Com Ele experimentamos libertação, docilidade, prontidão, serviço. Não ameaça, atemorização. Jesus não olha para o inferno mas para o Céu, para o Pai.
Ao longo dos séculos, muitos círculos eclesiais acentuaram o medo e à ameaça. As descrições do inferno pareciam ser testemunhos de quem lá tinha estado. O inferno era garantia da nossa vida. Era preciso fazer tudo para ganhar o céu, pelo sacrifício, pela mortificação, anulando-se como pessoas e colocando-se em atitude de subserviência, à espera que à custa de tantos sofrimentos Deus pudesse compadecer-se. É o contrário, o Céu é garantia e a vida eterna está aí como dom que nos responsabiliza com os outros.
A vida, a pregação e a oração dos cristãos há de estar preenchida com ternura e o amor de Deus. Nãos se trata de negar a doutrina da Igreja, assente nas palavras e nos gestos de Jesus. Porém, seguindo-O, veremos a bondade e a filiação amistosa com o Pai. O inferno é uma possibilidade real. Deus leva-nos a sério, respeita a nossa liberdade e o nosso não. Mas como cristãos e como Igreja vivemos do amor de Deus. Jesus procura libertar, elevar, envolver. A Cruz é a assunção do amor levado até à última gota de sangue. Com a Sua ressurreição, Jesus coloca a nossa natureza humana na glória do Pai, de onde nos atrai e desafia.
 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4380, de 27 de setembro de 2016

10.09.16

Este meu filho estava morto e voltou à vida...

mpgpadre

1 – "Diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és". Junta-te aos bons e serás como eles, junta-te aos maus e serás pior que eles! Qualquer um de nós está certo destes princípios. Facilmente nos colocaríamos do lado dos escribas e fariseus, contestando a promiscuidade de Jesus, que convive e come com publicanos e pecadores! Jesus anda em "más" companhias. Vai correr mal!

Conta-lhes, e a nós também, uma parábola, desdobrável em três. «Quem de vós, que possua cem ovelhas e tenha perdido uma delas, não deixa as outras noventa e nove no deserto, para ir à procura da que anda perdida, até a encontrar? Quando a encontra, põe-na alegremente aos ombros e, ao chegar a casa, chama os amigos e vizinhos e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a minha ovelha perdida’. Assim haverá mais alegria no Céu por um só pecador que se arrependa, do que por noventa e nove justos, que não precisam de arrependimento. Ou então, qual é a mulher que, possuindo dez dracmas e tendo perdido uma, não acende uma lâmpada, varre a casa e procura cuidadosamente a moeda até a encontrar? Quando a encontra, chama as amigas e vizinhas e diz-lhes: ‘Alegrai-vos comigo, porque encontrei a dracma perdida’. Assim haverá alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa».

O Pastor deixa tudo e vai procurar a ovelha perdida. Ao encontrá-la, coloca-a aos ombros e faz festa com os amigos. O ambiente é adverso, o deserto. As complicações da vida podem conduzir ao desnorte e à perdição. Mas também podemos perder-nos dentro de casa, dentro da Igreja, no caminho da fé. A mulher perde a dracma em casa. Quando encontra a moeda perdida, faz festa com as amigas. Deus sempre faz festa, no nosso regresso! Antes, precisamos de arrumar a casa, acender a lâmpada da fé, de varrer tudo o que é poeira e estorvo, desviar os empecilhos, para então encontrarmos a moeda perdida.

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2 – Na terceira parábola, Jesus fala num Pai que ama até ao limite e dois filhos que não se reconhecem como irmãos e lidam com o Pai como Patrão. O Pai procura salvá-los pelo amor. Os filhos relacionam-se em dinâmica de poder, disputando para ver quem é o melhor.

O pai reparte os bens pelos seus filhos. Poderia não o fazer, pois só a morte o exigiria. Mas abaixa-se à vontade dos filhos. Por amor. A sua tristeza é evidente. Não se revolta. Não contesta os filhos. Continua a amá-los com amor materno. Parte-se-lhe o coração. Mas não desiste. Deus nunca desiste de nós. Espera, espreita o horizonte contando que o filho regresse. Quando isso acontece, não se faz rogado, "ainda ele estava longe, quando o pai o viu: enchendo-se de compaixão, correu a lançar-se-lhe ao pescoço, cobrindo-o de beijos".

O filho continua a fixar-se em si mesmo e não no Pai. Quer ser acolhido como empregado. Regressa pela miséria em que caiu. Para o pai é suficiente um esboço de arrependimento: "Pai, pequei contra o Céu e contra ti. Já não mereço ser chamado teu filho". Está tão feliz que nem espera pelas justificações do filho: "Trazei depressa a melhor túnica e vesti-lha. Ponde-lhe um anel no dedo e sandálias nos pés. Trazei o vitelo gordo e matai-o. Comamos e festejemos, porque este meu filho estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado". A misericórdia de Deus cancela as nossas dívidas, o nosso pecado; só não atua se não lhe abrirmos qualquer brecha.

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3 – A festa começa e, quando tudo parece bem, eis que vem o filho mais velho… Ciumento e invejoso, não vê o irmão que regressa vivo, mas um concorrente – esse teu filho – a disputar as graças do patrão! "Há tantos anos que eu te sirvo, sem nunca transgredir uma ordem tua, e nunca me deste um cabrito para fazer uma festa com os meus amigos. E agora, quando chegou esse teu filho, que consumiu os teus bens com mulheres de má vida, mataste-lhe o vitelo gordo".

O filho mais velho reclama direitos. Sempre certinho, cumpridor, mas sem experimentar a alegria da proximidade com o pai. Não partilha alegrias, só trabalho. Não saboreia a vida, só obrigações. A relação com o Pai não assenta na familiaridade, mas em deveres.

Para o Pai, em todas as situações, prevalece o amor, a compaixão, a proximidade. Não há nada mais importante que os filhos. Podem maltratá-lo, esbanjar os bens, acusarem-no. O importante é que os filhos se sintam em casa e que estejam bem e sejam felizes. «Filho, tu estás sempre comigo e tudo o que é meu é teu. Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque este teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado».


Textos para a Eucaristia (C): Ex 32, 7-11. 13-14; Sl 50 (51); 1 Tim 1, 12-17; Lc 15, 1-32.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

28.08.16

Leituras: D. ANTÓNIO COUTO - A Misericórdia. Lugar e Modo

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D. ANTÓNIO COUTO (2016). A Misericórdia. Lugar e Modo. Lavra: Autores e Letras e Coisas. 84 páginas.

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       Vivemos o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, iniciado a 8 de dezembro de 2015, solenidade da Imaculada Virgem Maria, e a encerrar no dia 20 de novembro de 2016, solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo. O propósito do Papa Francisco foi que se vincasse em definitivo e com clarividência a misericórdia de Deus. Num tempo e mundo complexos, a misericórdia de Deus há de resplandecer como proposta de salvação, como desafio, como esperança, como compromisso. Jesus é o Rosto da Misericórdia. Os cristãos devem alimentar-se da misericórdia de Deus e irradia misericórdia para com os outros, para com toda a criação.

       Com a convocação deste Ano Santo da Misericórdia, a reflexão à volta deste atributo de Deus e a sua fundamentação na bíblia, na história do povo judeu, na vida da Igreja.

       D. António Couto anteriormente publicou o Livro dos Salmos, já dentro deste Jubileu e com a referência que os salmos estudados têm com a Misericórdia de Deus. Porém, este novo estudo é especificamente sobre a Misericórdia.

       Em conferências, jornadas bíblicas, formação do clero e de leigos, D. António Couto tem intervindo sobre esta temática, com o enquadramento do jubileu, com as obras de misericórdia, com a contextualização litúrgica. Aqui coloca nas nossas mãos um estudo mais detalhado sobre a misericórdia, a linguagem da bíblia, a origem das palavras utilizadas, a misericórdia no Antigo Testamento, a misericórdia revelada em plenitude da Pessoa e na Mensagem de Jesus Cristo, com o Seu proceder, compassivo, com as parábolas da misericórdia que mostram o modo de ser de Deus.

       Este pequeno livro subdivide-se em três capítulos: 1 - Deus também reza em clave de misericórdia; 2 - A magna charta do amor de Deus (Ex 34, 6-7), e 3 - Jesus misericordioso, transparência da misericórdia do Pai.

"Deus fiel, fiável, Sim irrevogável, matriz fidedigna, maternal amor preveniente, condescendente, permanente, paciente, palavra primeira e confidente, providente, eficiente, a dizer-se sempre e para sempre dita, rochedo firme, abrigo seguro, alcofa para o nascituro, luz no escuro, amor forte sem medo da morte e do futuro. Deus fiel e confidente, fala, que o teu servo escuta atentamente. Nada do que dizes cairá por terra. A tua palavra à minha mesa, minha habitação, minha alegria, minha exultação, energia do meu coração, luz que me guia e que me alumia. A minha luz é reflexa, a minha palavra é lalação, de ti decorre, para ti corre a minha vida, dita, dada, recebida e oferecida. O teu rosto, Senhor, eu procuro, não escondas de mim o teu rosto, o teu gosto, a tua música. Dispõe de mim sempre, Senhor"

16.08.16

VL - A misericórdia de Deus reabilita-nos

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       O Jubileu da Misericórdia alimenta-se da liturgia, permitindo acolher a Palavra de Deus ao longo do ano, refletindo-A e renovando propósitos que nos levam a ser misericordiosos como o Pai.
       Nos últimos três domingos (IX, X, XI, do Tempo Comum, ano C) fomos surpreendidos pela ternura, compaixão e proximidade de Jesus, que nos reabilita do pecado e da morte, “contaminando-Se” com a nossa fragilidade, deixando-nos contaminar com a Sua santidade.
       No primeiro episódio (Lc 7, 1-10), um centurião intercede por um dos seus servos, revelando uma grande humildade e uma grande fé, que o próprio Jesus testemunha. A compaixão do centurião leva-O a Jesus, cuja compaixão devolve a saúde ao servo. Atente-se à disponibilidade para partir. Nós temos que ver a agenda. Jesus parte e vai ao encontro de quem precisa da Sua ajuda! Sem hesitar.
       Num segundo momento (Lc 7, 11-17), Jesus, ao entrar na cidade de Naim, depara com um funeral. Uma pobre Mãe, viúva, leva o seu filho único a sepultar. Uma desgraça. A perda de um filho, arrasa qualquer pai. Acrescente-se o facto de ser filho único e a mãe ser viúva! O Evangelho mostra a comoção de Jesus. “Ao vê-la, o Senhor, compadeceu-Se dela”. Jesus não se fica pela contemplação da dor. Diz àquela mãe: “Não chores”. Aproxima-Se. Toca no caixão. E ordena: «Jovem, Eu te ordeno, levanta-te». Jesus levanta-nos, ressuscita-nos dos caixões que nos aprisionam, dos medos, do sofrimento e da perda e diz-nos que a última palavra não é da morte mas da vida.
       Neste último domingo (Lc 7, 36-50), uma mulher, pecadora, aproxima-se de Jesus, banha-lhe os pés com as lágrimas, derrama um vaso de alabastro, perfume de alto preço, enxuga-lhe os pés com os cabelos. Gestos que ressalvam a sua humildade e a predisposição para mudar de vida. Sente-se impelida por Jesus. Não tem muito a perder. Comprada às escondidas, rejeitada às claras. Vive e alimenta-se da escuridão. Não tem vida pessoal. Os afetos comprados não são afetos, são comércio que não tocam a alma, a não ser para a destruir. Quem a vê (de dia) desvia-se, com medo de ser contaminado e/ou que os outros levantem alguma suspeição. Se é pecadora pública, reconhecida como tal, outros contribuem para o seu pecado, comprando-a, expondo-a, promovendo a maledicência.
        Jesus deixa-Se tocar por esta mulher. Não Se desvia. Atrai-a para a Sua Luz. O amor tudo alcança. «A tua fé te salvou. Vai em paz». Os seus muitos pecados são-lhe perdoados porque muito amou.
 
Publicado na Voz de Lamego, de 14 de junho de 2016

15.05.16

A Páscoa e a Misericórdia de Deus

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ASCENÇÃO2.jpgA plenitude da misericórdia divina é visualizável no mistério da Encarnação, Deus cabe na palma da mão, cabe no meu e no teu coração. Em Jesus Cristo, Deus faz-Se Caminho para nós e entra nos caminhos da nossa vida. A Páscoa condensa e evidencia em definitivo a misericórdia de Deus que Se ajusta à nossa fragilidade. O coração de Deus compadece-se da nossa miséria e envolve-nos no Seu amor.

Com a Páscoa, uma enxurrada de vida nova. A morte não tem mais a última palavra. Esta é de Deus, é da vida, é do Amor. Jesus regressa trazendo-nos, na expressão feliz de Bento XVI, a vastidão do Céu. Um vislumbre de luz que incendiou o mundo, comunicando-se, alastrando. À minha luz, a luz do outro. O encontro com Jesus ressuscitado, a experiência da misericórdia de Deus na nossa vida, impele-nos a sermos luz uns para os outros.

A Páscoa é o expoente máximo da compaixão de Deus pela humanidade. Em Jesus, Deus abaixa-Se para nos elevar, como a Mãe que se agacha para pegar o seu filho ao colo! 

Em tempo oportuno, no ano 2000, o Papa João Paulo II renomeou o segundo domingo de Páscoa como Domingo da Divina Misericórdia. A Misericórdia há de ser um compromisso permanente. É uma característica essencial do Deus que Se deixa ver em Jesus Cristo. Não há outra forma de os cristãos e a Igreja viverem a fé.

Como tem acentuado o Papa Francisco, a misericórdia dá trabalho, porque nos leva a lutar pela justiça, todos os dias, optando pelos mais frágeis, por aqueles que vão sendo deserdados da vida e dos bens da criação, numa crescente cultura do descarte, globalizando a indiferença. A misericórdia passa por gestos concretos na vida diária, um sorriso, um abraço, a visita a um doente, o abrir a porta a alguém que se apressa para entrar.

Na véspera do Domingo da Misericórdia, 2 de abril, 11 anos depois da morte de João Paulo II, o Papa Francisco voltou a insistir que “a misericórdia é, antes de mais nada, a proximidade de Deus ao seu povo. Uma proximidade que se manifesta principalmente como ajuda e proteção”, e que nos leva a “olhar cada pessoa nos olhos” porque cada pessoa é única, concluindo que “uma fé que não é capaz de ser misericórdia, como são sinal de misericórdia as chagas do Senhor, não é fé: é ideia, é ideologia”.

 

publicado na Voz de Lamego, n.º 4357, de 5 de abril de 2016

10.04.16

Leituras: WALTER KASPER - TESTEMUNHA DA MISERICÓRDIA

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WALTER KASPER (2016). Testemunha da Misericórdia. A minha viagem com Francisco. Em conversa com Raffaele Luise. Prior Velho: Paulinas Editora. 208 páginas.

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       O Cardeal Walter Kasper já é apelidado como teólogo do Papa Francisco, tal a proximidade espiritual e sintonia teológica e pastoral. Na primeira vez que o Papa falou da varanda do Palácio Apostólico, no Angelus, confidenciou que estava a ler um livro, que mostrou, sobre a misericórdia, de um dos seus cardeais, Walter Kasper, e que a leitura lhe estava a fazer muito bem, sublinhando uma das linhas fundamentais do seu pontificado: A misericórdia. Agendado o Sínodo Extraordinário dos Bispos para refletir sobre a família, o Papa Francisco pediu ao Cardeal alemão que apresentasse um conjunto de perguntas, questões, problemáticas, abrindo dessa forma o debate. E o que é certo é que a intervenção de Walter Kasper suscitou reações diversas, a favor e contra. Algumas sugestões que foi levantando e que provocaram celeuma, o que ajudou a fazer uma reflexão mais aberta e mais alargada.

       Nesta entrevista, guiada por Raffaele Luise, o Cardeal passa em revista diversos temas da vida da Igreja e da sociedade do nosso tempo e como a chegada do Papa Sul-americano, de surpresa em surpresa, tem como que levantando o pó, para que venha ao de cima o Evangelho de Jesus Cristo, na Sua opção pelos pobres. Nenhum tema problemático é deixado de fora: a família, a contracepção, a homossexualidade, a comunhão do recasados, o diálogo inter-religioso e o terrorismo, o ecumenismo. Os gestos proféticos do Papa Francisco, que está a fazer a revolução da amizade e da ternura, com a Sua simplicidade, doçura, com a prevalência de uma atitude dialogante de respeito, de escuta, de serviço. O magistério de Francisco, inequivocamente, tem aberto muitas portas, aproximado muitas pessoas.

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       Um dos temas que surge como pano de fundo é a misericórdia. Walter Kasper sublinha como sintoniza com o projeto do Papa de acentuar a misericórdia, desde a primeira intervenção, o Papa Bergoglio tem recuperado esta característica essencial de Deus, que transparece no Rosto e em toda a vida de Jesus e que há de transparecer na Igreja e nos seus membros. O Cardeal permite-nos ver de perto o Papa Francisco nesta revolução do coração. É um belíssimo testemunho que não ignora as dificuldades e os escolhos, mas apostando na persistência, na fidelidade ao Evangelho de Cristo, na firmeza dos princípios, mas colocando as pessoas em primeiro lugar, seguindo a postura de Jesus.

       As bem-aventuranças, segundo Kasper, constituem o programa pastoral do Papa Francisco, onde os mais pobres têm um lugar privilegiado, é deles o Reino dos Céus, são eles que devem estar na primeira linha das preocupações da Igreja e dos cristãos que a compõem. Uma Igreja pobres, dos pobres e para os pobres.

10.04.16

Leituras: WALTER KASPER - A MISERICÓRDIA

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Cardeal WALTER KASPER (2015). A Misericórdia. Condição fundamental do Evangelho e chave da vida cristã. Cascais: Lucerna. 264 páginas.

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       No primeiro ANGELUS, a 17 de março de 2013, o Papa Francisco citou este livro de Walter Kasper, sobre a misericórdia de Deus, e que lhe tinha feito muito bem. Milhões de pessoas, das que estavam na Praça de São Pedro às que acompanhavam pelos meios de comunicação social, repetição do momento, partilhas e comentários, o Cardeal Kasper ficava, por mérito próprio certamente, no centro das atenções. A partir de então tem sido citado muitas vezes. Segundo o próprio, logo naquele dia vendeu milhares de livros, esgotando os stocks. O Papa Francisco fazia-lhe a melhor das publicidades. Mais tarde, o Papa pediu-lhe para apresentar um relatório/reflexão sobre a Família, iniciando-se o debate de preparação para os Sínodos Extraordinário e Ordinário sobre a Família, realizados no mês de outubro de 2014 e de 2015.

       O autor procura mostrar que a misericórdia está no centro do Evangelho. Muitas vezes relegada para segundo plano, esquecida, acentuando-se a justiça em detrimento do perdão e da compaixão de Jesus Cristo. O Cardeal procura situar a misericórdia na atualidade, mostrando a urgência e a necessidade de refletir e colocar em andamento a misericórdia de Deus, visível em Jesus Cristo. O medo de acentuar a misericórdia, pensando-se que dessa forma a religião se tornaria laxista e desculpabilizante. Nada mais errado, a religião precisa de ser purificada pela misericórdia de Deus, pelo perdão, pela compaixão. A justiça é apenas um atributo de Deus, mas não o mais elevado, quando muito uma atributo que conduz sempre à misericórdia de Deus. Aliás, poder-se-á concluir que em Deus a justiça e a misericórdia se interligam. Deus é justo usando de misericórdia.

       A abordagem deste trabalho leva-nos à filosofia, à história das religiões ou à regra de ouro, ponto de partida e referência comum. A regra de ouro parece referir-se sobretudo à justiça, mas o seu propósito era evitar a vingança e a desproporção perante as ofensas recebidas. De algum modo se reveste de misericórdia, apelando para a compreensão.

       Por outro lado, o Cardeal mostra com clareza que o Deus do Antigo Testamento não é primeiramente um Deus absoluto, Juiz implacável, mas é um Deus que usa de misericórdia até à milésima geração. Como se canta no salmo: eterna é a Sua misericórdia.

       Com a Encarnação, a misericórdia de Deus ganha um rosto e um corpo, Jesus Cristo, que com palavras e gestos vive, anuncia e pratica a misericórdia do Pai. A compaixão de Jesus por cada pessoa que encontra é um jeito de ser, não é uma opção para alguns momentos, mas é a postura habitual do Mestre dos Mestres. A misericórdia da Trindade espelha-se em Jesus Cristo. Bem-aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia. Sede misericordiosos como o Vosso Pai celeste é misericórdia. Se em Jesus a Misericórdia é uma constante que o caracteriza, também a Igreja terá que se alimentar da misericórdia, do serviço, do perdão, da compaixão, imitando o Seu Divino Mestre.

       Alguns meses depois, e depois de alguns encontros com Walter Kasper, o Papa Francisco convocou o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, colocando-a como centro do Seu pensamento e da Sua intervenção, recorrendo a Jesus como o Rosto da Misericórdia, a Maria, como Mãe de Misericórdia, e à Igreja como testemunha e dispensadora da Misericórdia divina.

31.03.16

Jesus, o Poeta da Misericórdia

mpgpadre

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Jesus passou fazendo o bem (Atos 10, 38), anunciando o Reino de Deus, misturando-se e envolvendo-se com doentes, leprosos, publicanos, pecadores públicos, crianças, mulheres, pobres, os excluídos dos reinos deste mundo. Assume-Se como o Bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, que busca a que anda perdida até a encontrar e carrega aos ombros a ovelha ferida. É o poeta que bendiz o Pai por Ele Se manifestar aos pequenos deste mundo porque são grandes no Reino de Deus, são grandes porque são filhos de Deus.

 

Anda sobretudo pelo campo e pelas aldeias. Vai a casa de todos os que o convidam, mas por sua iniciativa não vive nem em palácios nem em casas luxuosas, não tem onde reclinar a cabeça, não tem casa própria, porque quer morar em nossa casa, não tem dinheiro porque Ele é a maior riqueza que podemos sonhar e mendiga a nossa generosidade; não tem outra muda de roupa, porque espera que O vistamos com o nosso abraço. Identifica-Se com os mais pobres da Galileia, pequenos artesãos, pescadores, agricultores, pastores, e todos os que não contam. Vive feliz por transparecer o Amor do Pai, triste porque nem todos conhecem a misericórdia e o cuidado do Pai.

 

Não é um filósofo ou um mestre que busque o sucesso e o aplauso. Fica feliz por cada pessoa que encontra no caminho e a quem fala com delicadeza, compadecendo-Se, procurando olhar a vida a partir do sofrimento que encontra para poder ser cura e salvação. Vem para os doentes, para os pecadores, a todos envolve com o olhar da misericórdia de Deus. Mostra-nos o Pai, na parábola do Bom Samaritano, no abraço à Mulher samaritana, na parábola do Pai misericordioso que faz festa pelo regresso do filho pródigo e a todos nos quer na Sua presença; mostra-Se próximo na alegria da mulher que encontra uma dracma, no encontro com Zaqueu, querendo ficar em sua casa; na surpresa da mulher apanhada em adultério e por Ele envolvida num olhar de amizade e num abraço que a resgata de todos os abraços pecaminosos.

 

Contrariamente a João Batista, a missão de Jesus não é denunciar e eliminar o pecado mas comungar a nossa vida e o nosso sofrimento, assumindo-nos como irmãos. Não nos pergunta pelo pecado, mas pelo bem que estamos dispostos a comunicar. Jesus é o poeta da Misericórdia nas palavras, nos encontros, nos gestos de proximidade, de cura, de integração, nos gestos de perdão e de paz.

 

publicado na Voz de Lamego, n.º 4352, de 1 de março de 2016

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