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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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19.06.17

VL – Como (não) idolatrar o Papa

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Ano de 1999: Viagem Apostólica de João Paulo II ao México e à cidade de St. Louis, nos EUA. O Papa apresentava-se já muito desgastado mas atraía cada vez mais multidões. Já não se tratava do que dizia, mas da pessoa e do que representava na Igreja e no mundo.

O início do pontificado de João Paulo II não foi fácil. Quando precisava de ser duro, mesmo em público, João Paulo II era-o de facto, como em certa ocasião a um sacerdote da América Latina que se tinha envolvido na política partidária e que se ajoelhou, preparando-se para o cumprimentar e lhe beijar o anel, o Papa passou-lhe uma reprimenda e avançou sem lhe estender a mão. Com os anos e sobretudo depois do atentado que sofreu a 13 de maio de 1981 na Praça de São Pedro, do qual sobreviveu por milagre que o próprio atribui a Nossa Senhora de Fátima, João Paulo II passou a ser seguido cada vez por mais pessoas com uma clara aura de santidade. Afinal tinha sobrevivido a um atentado e a nova tentativa no ano seguinte em Fátima.

Na Viagem aos EUA entrevistaram alguns jovens acerca da “personalidade” de João Paulo II e porque é que estavam nas ruas para o aclamar e as respostas assentavam precisamente no facto de ser uma figura mundial. Quando perguntaram se estavam sintonizados com as posições do e da Igreja acerca da vida, da moral, da família, a resposta foi perentória: isso já não!

Na Viagem Peregrina de Francisco a Fátima, no regresso ao Vaticano, a bordo do avião, na habitual conferência de impressa com os jornalistas, foram-lhe colocadas perguntas sobre questões fraturantes na sociedade atual. Sem se querer alongar muito, para que não fossem desvalorizados os motivos e o conteúdo da peregrinação a Fátima, respondeu que “a consciência católica não é, às vezes, uma consciência de pertença total à Igreja, por trás disto não há uma catequese variada, uma catequese humana”, no que concerne a temas sobre a vida e sobre a família.

Acrescentou o Papa que a Igreja tem de promover a formação, o diálogo, a catequese, a consciencialização de valores humanos.

O Papa Francisco é, hoje, para a Igreja e para o mundo, uma figura incontornável, com sinais e marcas que envolvem, desafiam, provocam, remetendo para Jesus e o Evangelho da Alegria e do Serviço. Logo no início o Papa Francisco dizia que um Bispo ou um Padre não tem que estar a falar do que o Papa disse ou diz, mas a falar do Evangelho e a apontar para Cristo.

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4413, de 23 de maio de 2017

12.06.16

Leituras: Irmã Faustina. A Santa da Misericórdia

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MARCIN KORNAS (2016). Irmã Faustina. A Santa da Misericórdia. Lisboa: Paulus Editora. 168 páginas.

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Com o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, e que decorre de 8 de dezembro de 2015 (Solenidade da Imaculada) a 20 de novembro de 2016 (Solenidade de Cristo Rei), o estudo e reflexão à volta das 14 Obras da Misericórdia, mas também o estudo de Santos que sublinharam nas suas vidas e escritos, a mensagem da misericórdia divina. Santa Faustina está na primeira linha, como discípula e apóstola da misericórdia de Deus.

Canonizada a 30 de abril de 2000, pelo Papa João Paulo II, que instituiu o Domingo da Divina Misericórdia, no segundo domingo de Páscoa, e que corresponde a uma dos desejos de Jesus, nas revelações da Santa Faustina. A Igreja demoraria 69 anos a concretizar o pedido de Jesus. Com efeito, o papa João Paulo II, também polaco, está ligado à misericórdia e à descoberta de Santa Faustina Kowalska. Uns anos antes, publicou a Carta Encíclica Dives in Misericordia (Rico em misericórdia), de 30 de novembro de 1980, preparando o caminho para a sua canonização.

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Nasceu em Glogowiec, na Polónia central, no dia 25 de Agosto de 1905, de uma família camponesa de sólida formação cristã. Desde a infância sentiu a aspiração à vida consagrada, mas teve de esperar diversos anos antes de poder seguir a sua vocação. Em todo o caso, desde aquela época começou a percorrer a via da santidade. Mais tarde, recordava: "Desde a minha mais tenra idade desejei tornar-me uma grande santa".
Com a idade de 16 anos deixou a casa paterna e começou a trabalhar como doméstica. Na oração tomou depois a decisão de ingressar num convento. Assim, em 1925, entrou na Congregação das Irmãs da Bem-aventurada Virgem Maria da Misericórdia, que se dedica à educação das jovens e à assistência das mulheres necessitadas de renovação espiritual. Ao concluir o noviciado, emitiu os votos religiosos que foram observados durante toda a sua vida, com prontidão e lealdade. Em diversas casas do Instituto, desempenhou de modo exemplar as funções de cozinheira, jardineira e porteira. Teve uma vida espiritual extraordinariamente rica de generosidade, de amor e de carismas que escondeu na humildade dos empenhos quotidianos.
O Senhor escolheu esta Religiosa para se tornar apóstola da Sua misericórdia, a fim de aproximar mais de Deus os homens, segundo o expresso mandato de Jesus: "Os homens têm necessidade da minha misericórdia".
Em 1934, Irmã Maria Faustina ofereceu-se a Deus pelos pecadores, sobretudo por aqueles que tinham perdido a esperança na misericórdia divina. Nutriu uma fervorosa devoção à Eucaristia e à Mãe do Redentor, e amou intensamente a Igreja participando, no escondimento, na sua missão de salvação. Enriqueceu a sua vida consagrada e o seu apostolado, com o sofrimento do espírito e do coração. Consumada pela tuberculose, morreu santamente em Cracóvia no dia 5 de Outubro de 1938, com a idade de 33 anos.
João Paulo II proclamou-a Beata no dia 18 de Abril de 1993; sucessivamente, a Congregação para as Causas dos Santos examinou com êxito positivo uma cura milagrosa atribuída à intercessão da Beata Maria Faustina, e no dia 20 de Dezembro de 1999 foi promulgado o Decreto sobre esse milagre.

Neste livro, que parte do Diário da Irmã Faustina, o autor guia-nos ao longo da sua vida, como se fosse uma espécie de blogue, com diferente entradas, cronológicas mas também temáticas, mostrando as decisões, as aparições, a dificuldades, as respostas de Jesus, a inserção à Igreja, e o forte apelo à conversão dos pecadores, mensagem semelhante à de Fátima e ao pedido feito por Nossa Senhora aos Pastorinhos. A misericórdia é o mais alto atributo de Deus. A justiça é um atributo mas que fica aquém da misericórdia divina. Mais que o pecado, importa confiar em Jesus, predispondo-se à confissão e à mudança de vida. Da imagem que Jesus solicitou se fizesse, dois raios, um branco, sangue e água. Ambos os raios saem das entranhas de misericórdia de Jesus, quando na Cruz, o Seu coração foi trespassado com um lança. O raio pálido refere-se à justificação das almas, o o raio de sangue é a vida das almas.

Outro aspeto que sobressai deste livro-blogue e da mensagem comunicada à Igreja e ao mundo, através de Santa Faustina é a confiança em Deus. Na Imagem que Jesus pediu, uma inscrição a acompanhar a mesma: Jesus, eu confio em Vós.

De salientar também o testemunho de Anna Golędzinowska, modelo, que andava pelas conhecidas passarelas de Milão. Após a Conversão, refugia-se em Medjugorje e toma contacto com o Diário da Irmã Faustina, através dela descobre o valor e o sentido do perdão e da misericórdia. "Depois de nove dias do meu jejum em Medjugorge, tinha na mão o Diário e no fundo do coração escutei uma voz que me falou com nitidez: «Deixa tudo e vem Comigo». Deixei então tudo e fui atrás dessa voz. Assim Jesus deu-me uma vida completamente nova".

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Anna Golędzinowska nasceu a 22 de outubro de 1982, em Varsóvia, Polónia. Em 1999 foi para Itália, vindo a descobrir que tinha sido vítima de um grupo de crime organizado internacional de tráfico de pessoas. Ajudou a identificá-los e a levá-los à justiça. Iniciou então a carreira de modelo. Participou com muitos programas de televisão. Uma visita a Medjugorge mudou-lhe a vida. Em 2011, em Medjugorge, ficou a morar numa comunidade mariana, dedicando-se ao silêncio e ao trabalho. Juntamente com um sacerdote, Renzo Gobbi, fundou um movimento, Coração Puro, que promove a castidade pré-matrimonial. Escreveu o livro "Salva do Inferno". Casou em 2014 e continua a participar em encontros com jovens, apontando ao ideal de viver em conformidade consigo próprio e com Deus.

15.05.16

A Páscoa e a Misericórdia de Deus

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ASCENÇÃO2.jpgA plenitude da misericórdia divina é visualizável no mistério da Encarnação, Deus cabe na palma da mão, cabe no meu e no teu coração. Em Jesus Cristo, Deus faz-Se Caminho para nós e entra nos caminhos da nossa vida. A Páscoa condensa e evidencia em definitivo a misericórdia de Deus que Se ajusta à nossa fragilidade. O coração de Deus compadece-se da nossa miséria e envolve-nos no Seu amor.

Com a Páscoa, uma enxurrada de vida nova. A morte não tem mais a última palavra. Esta é de Deus, é da vida, é do Amor. Jesus regressa trazendo-nos, na expressão feliz de Bento XVI, a vastidão do Céu. Um vislumbre de luz que incendiou o mundo, comunicando-se, alastrando. À minha luz, a luz do outro. O encontro com Jesus ressuscitado, a experiência da misericórdia de Deus na nossa vida, impele-nos a sermos luz uns para os outros.

A Páscoa é o expoente máximo da compaixão de Deus pela humanidade. Em Jesus, Deus abaixa-Se para nos elevar, como a Mãe que se agacha para pegar o seu filho ao colo! 

Em tempo oportuno, no ano 2000, o Papa João Paulo II renomeou o segundo domingo de Páscoa como Domingo da Divina Misericórdia. A Misericórdia há de ser um compromisso permanente. É uma característica essencial do Deus que Se deixa ver em Jesus Cristo. Não há outra forma de os cristãos e a Igreja viverem a fé.

Como tem acentuado o Papa Francisco, a misericórdia dá trabalho, porque nos leva a lutar pela justiça, todos os dias, optando pelos mais frágeis, por aqueles que vão sendo deserdados da vida e dos bens da criação, numa crescente cultura do descarte, globalizando a indiferença. A misericórdia passa por gestos concretos na vida diária, um sorriso, um abraço, a visita a um doente, o abrir a porta a alguém que se apressa para entrar.

Na véspera do Domingo da Misericórdia, 2 de abril, 11 anos depois da morte de João Paulo II, o Papa Francisco voltou a insistir que “a misericórdia é, antes de mais nada, a proximidade de Deus ao seu povo. Uma proximidade que se manifesta principalmente como ajuda e proteção”, e que nos leva a “olhar cada pessoa nos olhos” porque cada pessoa é única, concluindo que “uma fé que não é capaz de ser misericórdia, como são sinal de misericórdia as chagas do Senhor, não é fé: é ideia, é ideologia”.

 

publicado na Voz de Lamego, n.º 4357, de 5 de abril de 2016

31.03.16

Jesus, o Poeta da Misericórdia – 4

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O mistério pascal realiza a plenitude da misericórdia divina no meio de nós. Em Jesus Cristo, Deus vem ao nosso encontro, faz-Se mendigo do nosso amor, faz-Se peregrino com a humanidade. Traz-nos Deus, inicia um Reino novo, integrando-nos. Por um lado, Deus ama-nos absolutamente. Por outro, respeita-nos na nossa liberdade. Mas não desiste de nós, como a Mãe não desiste dos filhos mesmo quando a fazem sofrer.

 

Com a Encarnação Deus dá um passo gigantesco para nos encontrar. O Antigo Testamento revela um Deus interventivo, que não Se alheia da história e dos sofrimentos do Povo que escolheu para firmar uma Aliança (quase) unilateral. O pecado do Povo, as infidelidades, transgressões vão destruindo as ligações entre as pessoas, mas não quebram a Aliança. Deus mantém-Se fiel. A Sua misericórdia é infinita. O profeta Oseias exemplifica esta fidelidade/misericórdia de Deus. Tal como Oseias desposa e cuida da esposa que o trai repetidamente, nunca desistindo de a amar, assim Deus não desiste de nos amar.

 

Os Patriarcas, os Juízes, os Sacerdotes, os Profetas são mensageiros que relembram ao Povo o caminho da felicidade e da vida, que passa pela prática da justiça, da solidariedade, pelo cuidado dos mais frágeis, os pobres, os órfãos e as viúvas, os escravos e os estrangeiros.

 

Chegado o tempo, Deus envia o Seu próprio Filho. Desde então não há nada que nos separe do amor de Deus, pois Ele caminha connosco, assumindo-nos, faz-Se pecado para nos redimir, no elevar, para nos introduzir na vida divina. Jesus é Rosto e é Corpo da Misericórdia do Pai. Em Jesus a misericórdia divina ganha um Corpo, lingando-nos sensivelmente uns aos outros e a Deus.

 

Ao longo da Sua vida, Jesus passou fazendo, gastando-Se a favor dos mais desvalidos. A delicadeza e a bondade de Jesus preenchem as suas palavras e os seus gestos.

 

A misericórdia fica mais transparente na última semana de vida de Jesus. O amor é levado até ao fim, a compaixão de Jesus pela humanidade levam-n’O à Cruz, para uma identificação completa com o sofrimento mais atroz e com a própria morte.

 

Uma das passagens luminosas da misericórdia vivida por Jesus é o gesto do Lava-pés, durante a Última Ceia. São João Paulo II diz-nos que é uma cátedra da caridade divina, e mais, é uma lição, uma epifania, uma revelação: a justiça de Deus relaciona-se com Sua misericórdia infinita, ajusta-Se à condição do pecador. Ali, em Jesus, Deus abaixa-Se, ajoelha-Se e lava-nos os pés, abrindo o Caminho da Misericórdia…

 

publicado na Voz de Lamego, n.º 4355, de 22 de março de 2016

03.11.14

Leituras - GISELDA ADORNATO - PAULO VI | Biografia

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GISELDA ADORNATO (2014). Paulo VI. Biografia. A história, a herança, a santidade. Lisboa: Paulus Editora. 296 páginas.

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        Surpreendente. Um retrato muito completo de um Papa que trouxe a Igreja para a atualidade, no meio de grandes provações, na procura de a manter fiel ao Evangelho da Verdade e da Caridade, tornando-a próxima do nosso tempo, da cultura e da ciência, apostando na evangelização, no compromissso missionário, aberta ao mundo, promovendo o ecumenismo e o diálogo com outras religiões e outras sensibilidades.

       A recente beatificação de Paulo VI, no passado dia 19 de outubro, no encerramento da III Assembelia Extraordinária do Sínodo dos Bispos (instituído por Paulo VI no prosseguimento do Vaticano II) e dedicada à família, tema amplamente refletido por ele que lhe trouxe muitos dissabores nomeadamente com a publicação da Exortação Apostólica Humanae Vitae, que suscitou as mais variadas reações, algumas de violento ataque ao papado e à Igreja, e que mesmo dentro da Igreja suscitou oposição e rutura.

       O pontificado de Paulo VI transformou a Igreja, ainda que tenha ficado marcado por vários episódios de tormento e provação. Depois da morte do bom Papa João XXIII, o Cardeal Montini, depois de um tempo de fervor pastoral na maior Diocese do mundo, Milão, regressa a uma casa que conhece bem, no serviço aos seus antecessores, nomeadamente Pio XII. Regressa como Papa, escolhendo o nome de Paulo, sublinhando desde logo a missionaridade da Igreja. 1963, o concílio está a meio e com a morte do Papa saltam as dúvidas se continuará e terá um desfecho. Logo Paulo VI retomará as sessões do Concílio, com uma intervenção muito interventiva, procurando pontes, não cedendo a pressões, com visões muitas vezes antagónicas entre os chamados conservadores e os progressistas. Paulo VI procura que uns e outros dialoguem, e se aproximem da verdade que é Jesus Cristo.

       Com Paulo VI iniciam-se as Viagens Apostólicas do Papa a diversos países do mundo: Israel, EUA, Portugal, Índia, Colómbia, Uganda... e um intenso trabalho apostólico de diálogo com os Ortodoxos, com as diversas confissões cristãs, mas também o diálogo interreligioso, com judeus e muçulmanos, mas também com outras culturas religiosas, encontro com o Dalai Lama.

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       Para quem viveu e cresceu com a figura de João Paulo II, de depois Bento XVI, e agora Francisco, os Papas anteriores são uma memória longínqua que nos é recordada de tempos a tempos. No entanto, com o reconhecimento da heroicidade das virtudes de Paulo VI, em 20 de dezembro de 2012, pela mão de Bento XVI e agora a beatificação, pelas mãos de Francisco, tornou-se urgente redescobrir esta figura iminente da Igreja.

       Tantas foram as vicissitudes que atravessaram a Igreja no século XX. Num tempo de grande transformação, a Igreja contou, no Papado, com figuras extraordinárias, pela inteligência, pela cultura, pela bondade, pela fé. Alguns dos Papas foram entretanto canonizados: Pio X, João XXIII, João Paulo II, e beatificado Paulo VI, mas decorre também o processo de beatificação de Pio XII aberto ainda por Paulo VI.

 

       Curiosa, nesta biografia, a grande proximidade de Paulo VI com os Predecessores mas também com os Sucessores. Trabalhou diretamente, na Cúria Romana, com Pio XI, Bento XV, Pio XII.

 

       João XXIII criou-o Cardeal, em 15 de dezembro de 1958. Por sua vez, Paulo VI cria Cardeal dois dos seus Sucessores, o futuro João Paulo II e Bento XVI.

       As intervenções de Paulo VI encontram eco alargado, pela clareza, pela insistência, pela frontalidade, pela humildade. Alguns temas são problemáticos e geram tensões. Ficará conhecido sobretudo pela Humanae Vitae, mas o seu magistério é muito mais abrangente, com a reforma litúrgica, a implantação do Concílio, a intervenção e compromisso social, o diálogo com a cultura e com a ciência, a aproximação aos jovens, a colegialidade dos Bispos em comunhão com o Papa, o ecumenismo, o diálogo interreligioso, as conferências episcopais, o dia Mundial da Paz, as viagens apostólicas, a intervenção na ONU, peregrino de Fátima, a internacionalização da Cúria Romana, e a reforma da mesma, o Ano da Fé (1968) e o Ano Santo (1975), acentuando precisamente a fé, a reconciliação, a centralidade de Jesus Cristo. As dissensões com os Bispos Holandeses, com Lefebrve, o beijar da terra em Milão, o beijar o pés a Melitone, metripolita de Calcedónia, estreitando os laços com a Igreja Luterana. A abertura da Igreja às mulheres e aos leigos. A Ação Católica.

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        Nasceu a 26 de setembro de 1987, em Bréscia, e faleceu a 6  de agosto de 1978, em Castel Gandolfo. Formado em Filosofia, Direito Canónico e em Direito Civil. Durante a Segunda Guerra Mundial é o chefe do Serviço de Informações do Vaticano e repsonsável por procurar soldados e civis presioneiros ou dispersos. A 1 de novembro de 1954, é eleito por Pio XII para Arcebispo de Milão, é ordenado a 12 de dezembro do mesmo ano, no Vaticano. A 15 de dezembro de 1958, é feito Cardeal. É eleito Papa a 21 de junho de 1963. A 8 de dezembro de 1965 encerra o Concílio Ecuménico Vaticano II.

       Em 21 de novembro de 1964, Consagra Nossa Senhora com o Título de Mãe da Igreja, isto é, Mãe de todo o Povo de Deus.

       Em 24 de dezembro de 1964, proclama São Bento como Padroeiro principal da Europa.

       Em 1971, atribui o prémio da Paz João XXIII a Madre Teresa de Calcutá.

       Morre "velho e cansado", mas com esperança na Igreja, conduzida por Cristo, o verdadeiro timoneiro. Alguns meses passa por mais uma grande provação: o rapto (16 de março de 1978) e morte do estadista democrata cristão Aldo Moro, cujo funeral se realiza na Basílica de São João de Latrão, a 13 de maio. Depois a aprovação da Lei do Divórcio, em Itália, no seu último ano de vida assiste ainda à entrada em vigor da Lei do Aborto. Morre às 21h40 de 6 de agosto de 1978.

 

       O futuro Papa João XXIII sobre Montini quando este vai para Arcebispo de Milão: "E agora, onde poderemos encontrar alguém que saiba redigir uma carta, um documento como ele sabia?"

 

       João XXIII, em Carta ao Arcebispo de Milão: "Deveria escrever a todos: bispos, arcebispos e cardeais do mundo [...]. Mas para pensar em todos contento-me de escrever ao arcebispo de Milão, porque nele levo-os a todos no coração, tal como diante de mim ele a todos representa".

 

       Montini-Paulo VI sobre João XXIII: "Que Ele fosse bom, sim, que fosse indiferente, não. Como ele se atinha à doutrina, como temia os perigos, etc. [...] Não foi um transigente, não foi um atraído por opiniões erradas. [...] O seu diálogo não foi bondade renunciatória e pacífica..."

 

       Em 27 de junho de 1977, nomeia Cardeal Joseph Ratzinger, arcebispo de Mónaco e Frisinga. Sobre o futuro Bento XVI:

"Damos atestado desta fidelidade também a V. Eminência, cardeal Ratzinger, cujo alto msgistério teológico em prestigiosas cátedras universitárias da Sua Alemanha e em numerosas e válidas publicações fez ver como a investigação teológica - na via maestra da fides quarens intellectum - não possa e não deva nunca andar separada da profunda, livre a criadora adesão ao Magistério que autenticamente interpreta e proclama a Palavra de Deus...".

       Sobre JOÃO PAULO II... Paulo VI nomeia-o Arcebispo de Cracóvia em 1964 e Cardeal em 1967. Recebeu-o pessoalmente 20 vezes e outras quatro com o Cardeal Wyszynski ou outros bispos polacos. Pedir-lhe-á para orientar os exercícios Quaresmais de 1976. 

       João Paulo II sobre Paulo VI: "Paulo VI trazia no seu coração a luz do Tabor, e com essa luz caminhou até ao fim, levando com alegria evangélica a sua cruz".

 

       Os os Bispos da América Latina que tomaram a iniciativa de promover o processo de Paulo VI para ser elevado aos altares. Por aqui se pode tirar um fio de ligação ao Papa Francisco...

21.05.14

LEITURAS - João César das Neves - Lúcia de Fátima...

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JOÃO CÉSAR DAS NEVES (2014). Lúcia de Fátima e os seus primos. Lisboa: Paulus Editora. 168 páginas.

       João César das Neves é um conhecido economista, e um reconhecido católico, com intervenções oportunas em diversas áreas, com o pano de fundo da mensagem do Evangelho. Mais um original contributo de um tema incontornável para os católicos (portugueses), o acontecimento de Fátima e as Aparições aos três Pastorinhos, dois deles já beatificados, em 2000, pelo Papa João Paulo II, que se deslocou a Fátima com esse propósito, no dia mais importante, 13 de maio, altura em que foi também revelada a terceira parte do segredo. A Irmã Lúcia viria a falecer cinco anos depois, a 13 de fevereiro de 2005, uns meses antes do Papa João Paulo II, que faleceu a 2 de abril de 2005. Três anos depois, Bento XVI dispensou do prazo para se iniciar o processo de beatificação, que são cinco anos, mas que passados três anos se iniciou o processo.

       O título, desde logo, nos centra no papel preponderante de Lúcia, pela extensão de vida, grande parte dos quais como mensageira da Senhora de Fátima. É do seu testemunho, respondendo aos diversos processos paroquiais, diocesanos, ou em resposta ao Vaticano, seja pelos escritos e pelas respostas que vão dando. O centro de toda a mensagem é DEUS. Outra protagonista é Nossa Senhora. E no serviço de divulgar o amor e a misericórdia de Deus, através da veneração do Imaculado Coração de Jesus e de Maria, os Pastorinhos.

       Se o título nos aponta imediatamente para a irmão Lúcia, o autor não deixa de contextualizar os acontecimentos de Fátima, com o lugar e o ambiente do interior de Portugal, aquela época, a proximidade à primeira guerra mundial, os erros espalhados pela Rússia, os costumes da época, o que envolveu a auscultação dos factos e a evolução dos acontecimentos.

       Antes de Lúcia, os dois primos: Francisco - reservado, decidido, disposto a tudo fazer para consolar Nosso Senhor, sério, não se importando de perder nos jogos. Jacinta - a mais nova. Determinada. Emotiva. A que colhe mais simpatia por parte das pessoas. A primeira a revelar a aparição de Nossa Senhora. Oferece os seus sacrifícios pela conversão dos pecadores, para consolar o Imaculado Coração de Jesus e de Maria, e pelo Santo Padre, a quem vê em grande sofrimento. Sensível, mas ao mesmo tempo corajosa, permanecendo dócil a Nossa Senhora, mas guardando para si o que é necessário guardar. Com a pneumónica sabe que não há nada a fazer, revelação de Nossa Senhora, mas aguenta todos os tratamentos para a conversão dos pecadores e pelo Santo Padre. Morre sozinha.

       Certamente que as Memórias da Irmã Lúcia são imprescindíveis para compreender o acontecimento de Fátima e o desenvolvimento de devoções e da consagração do mundo a Nossa Senhora, o carácter dos seus primos, e o desenrolar das investigações, e os padecimentos a que estiveram sujeitos. No entanto, tem surgido um enorme volume de textos, reflexões, e outras devoções decorrentes da Mensagem de Fátima. João César das Neves apresenta aqui um belíssimo testemunho sobre Fátima, com as PESSOAS incontornáveis nesta Mensagem vinda do Céu, que concorre com Lúcia, Jacinta e Francisco, para fazer chegar o Evangelho mais longe.

        É uma leitura leve, no sentido que é acessível a todos. Em pouco texto diz muito, leva-nos ao essencial. É um daqueles livros sobre o qual não existe dificuldade em recomendar, e que nos permite perceber um acontecimento sobrenatural.

18.05.14

Leituras: RATZINGER e BALTHASAR - Maria, primeira Igreja

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Cardeal JOSEPH RATZINGER e HANS URS VON BALTASHAR (2014). Maria, primeira Igreja. Coimbra: Gráfica de Coimbra 2, 190 páginas.  

       Uma colaboração curiosa entre dois dos maiores teólogos do século XX. Aquele que viria a ser eleito Papa, adotando o nome de Bento XVI, Cardeal Ratzinger, alemão. Hans Urs Von Balthasar, teólogo e sacerdote suíço, morreu (1988) dois dias antes de ser escolhido para Cardeal pelo Papa João Paulo II.
       O livro foi publicado pela primeira vez na Alemanha em 1980. A versão que temos entre mãos é a tradução portuguesa da quarta edição alemã de 1997, aumentada com novos artigos dos dois amigos que enriqueceram o pensamento da Igreja na segunda metade do século XX.

 

       É certo que não se devem ler os livros só pelo nome dos seus autores. Mas estes dois, em conjunto, ou individualmente, são uma garantia de fidelidade a Jesus Cristo e ao Seu Evangelho, de fidelidade comprometida com a Igreja e com a sociedade. Hans Urs Von Balthasar foi considerado como o homem "mais culto" do século XX, e um dos maiores teólogos do seu tempo. De Ratzinger não existem dados novos: um dos teólogos mais brilhantes do século XX e nos começos do século XXI. Ligação dos dois ao papa que agora é santo, João Paulo II, que elevaria Balthasar a Cardeal e que escolheu o Cardeal para o ajudar no serviço da Igreja, nomeando-o como Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé e não lhe concedendo a reforma que algumas vezes lhe solicitou. Até ao fim, Ratzinger foi o "braço direito" de João Paulo II, sucedendo-lhe no ministério petrino.

       Mas vamos ao livro que motiva esta sugestão de leitura. Os textos recolhidos foram escritos como intervenções, artigos, homilias, sintonizados na figura ímpar de Maria, a primeira Igreja. São textos acessíveis, de fácil compreensão, como estamos habituados em Ratzinger/Bento XVI e que não difere muito no que se refere a Von Blathasar. Procuram-se dos dados bíblicos sobre a figura e a missão de Maria, procurando apresentar linhas e critérios para uma sã devoção. Um e outro mostram a evolução da devoção a Nossa Senhora, fazendo a ponte para o diálogo com os protestantes e com os ortodoxos. Mostram que Maria não apenas é a primeira discípula de Jesus, mas tem um papel especialíssimo, como primeira Igreja, a Igreja espiritual. Por exemplo, Balthasar, fala na Igreja petrina, ministerial, masculina, e na Igreja mariana, anterior, que nasce com a Encarnação, espiritual e feminina. Maria é Mãe de Jesus, e torna-se Mãe da Igreja. O que se diz da Igreja pode dizer-se de Nossa Senhora, e o que se diz de Maria pode dizer-se da Igreja. O SIM de Maria vem antes, Ela é a Igreja sem mácula, santa, pura. A Igreja é santa também neste fundamento. É pecadora nos seus membros.

       Um dos aspetos abordados e curiosos, e que temos ouvido expressar ao Papa Francisco, é precisamente o papel da Mulher na Igreja e que valeria uma reflexão mais aprofundada como desafio o atual Papa. Maria tem uma missão precedente em relação a Pedro, a Igreja Espiritual, santa, imaculada, feminina. Maria, criatura como nós, assume-se primeira discípulo, envolvida pelo mistério pascal do Seu Filho Jesus. Pelo Espírito Santo, nasce Jesus, nasce a Igreja. É verdadeira intercessora, mesmo onde Jesus a coloca no silêncio como nas Bodas de Caná: Mulher, que temos nós a ver com isso? Ainda não chegou a Minha hora. No entanto, Maria prossegue: Fazei o que Ele vos disser. É um papel que continua a desempenhar.

       A Igreja é, com Maria, sobretudo feminina, custodia a vida biológica e a vida espiritual. Mas a Igreja é também uma realidade sociológica, que se rege com regras e estrutura e daí a necessidade da dimensão masculina, o ministério petrino. Como Cristo encarnou, por Maria, também a Igreja tem que encarnar no tempo e na história.

       Outro aspeto importante, que ambos os autores sublinham, é a necessidade de não descurar as devoções populares que traduzem uma grande sensibilidade. A esse propósito, o então Cardeal Ratzinger sublinhava como os teólogos da libertação deram um contributo decisivo nomeadamente partindo do Magnificat, pelo qual se mostra a exaltação dos humildes e o derrube dos poderosos.

08.04.14

LEITURAS: JOÃO XXIII - Diário da Alma

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JOÃO XXIII. Diário da Alma. Paulus Editora. Lisboa 2013. 2.ª edição. 408 páginas.

       Ângelo José Roncalli, nasceu em Sotto il Monte, perto de Bérgamo, Itália, a 25 de novembro de 1881, terceiro de 10 filhos. Morreu a 3 de junho de 1963, em grande e penosa agonia. Em 1965, o Papa Paulo VI deu início à causa de beatificação, concluída por João Paulo II no dia 3 de setembro de 2000.

       No próximo dia 27 de abril, 2014, conjuntamente com João Paulo II, o Papa Francisco vai canonizar o bom Papa João XXIII, num processo amplamente incentivado por Bento XVI. Que bela paisagem, com o envolvimento de vários Papas, cuja a vivência da fé é um testemunho luminoso.

       João Paulo II ainda está vivo memória, mas para muitos João XXIII é um ilustre desconhecido. Obviamente que a canonização, reconhecimento das suas virtudes, e do trabalho frutuoso que realizou na Igreja e na Sociedade, vai permitir falar-se dele, do seu pensamento, da sua intervenção como sacerdote, Bispo, Núncio Apostólico na Turquia, na Grécia, em França, Arcebispo de Veneza e Cardeal da Santa Igreja, Papa. Por outro lado, é possível que a associação do atual Papa, Francisco, a João XXIII terá já suscitado redobrado interesse em conhecer a história da Sua vida.

       Se as biografias e estudos sobre determinada pessoa são importantes, permitindo enquadrar vários ângulos, da vida, das intervenções, da influência, das consequência de determinadas palavras e/ou atos, para se conhecer bem o bom Papa João é indispensável a leitura do DIÁRIO DA ALMA que o próprio foi escrevendo ao longo de quase setenta anos, desde a entrada no Seminário, 14-15 anos, até às vésperas da sua morte. Anotações, reflexões, informações. Paciência. Oração. Deus. Amor. Caridade. Paciência. Humildade. Tudo para louvor e glória de Deus. Paciência. Humildade. Obediência. Pureza. Prudência. Poucas palavras e apenas para dizer bem. Sofrer com paciência.

       A leitura do diário permite visualizar um Papa simples, humilde, preocupada em tudo fazer para agradar a Deus. Autocensura-se por ser "lendo", o que permite não se precipitar. O próprio vai dizendo que o seu temperamento é o da pessoa calma, paciente, humilde, que não faz questão em ficar com razão. Perseverante. Afável. Bom.

       Aceita de bom grado tudo o que lhe é pedido. Neste diário, ocupa uma espaço muito grande o tempo dos retiros mensais, anuais, ou os retiros de preparação para a ordenação, sacerdotal, episcopal,... Grande devoção a São José, a Nossa Senhora, ao Sagrado Coração de Jesus, ao Nome de Jesus, ao Precioso Sangue de Cristo, a São Francisco de Sales, São Luís Gonzaga, São João Dechamps. Leituras: Bíblia, Breviário, Rosário, Imitação de Cristo. Eucaristia. Santíssimo Sacramento. Jaculatórias.

       É eleito Papa a 28 de outubro de 1958, no quarto dia de conclave, sucedendo a Pio XII. Pensava-se que seria um Papa de transição. No entanto, a sua inspiração contribuiu para uma grande transformação da Igreja, com a convocação e o início do Concílio Ecuménico Vaticano II, que virá a ser encerrado já com o Sucessor, Paulo VI. É uma marca indelével da Igreja, na abertura ao mundo, à sociedade, à cultura, entendo-se a ela mesma como Povo de Deus.

       Sublinhe-se também que João XXIII esteve em Portugal, em Peregrinação ao Santuário de Fátima, ainda como Patriarca de Veneza, em 1956, no 25.º Aniversário da Consagração de Portugal ao Coração Imaculado de Maria, representando o Papa Pio X. Em 13 de maio de 1961 há de promulgar a primeira Encíclica, Mater et Magistra (Mãe e Mestra), um dos documentos mais importantes sobre a Doutrina Social da Igreja (DSI).

       A obra inicia com uma breve resenha biográfica, mas o corpo fundamental são as páginas que se segue, permitindo entrar no pensamento e no coração do Bom Papa João.

       "Obediência e Paz" é o lema de vida de João XXIII que procura levar por diante. Nas mais diversas circunstâncias Ângelo Roncalli prefere o silêncio, a obediência, seguindo o princípio da indiferença, para não esperar nem honras nem títulos.

Algumas expressões sintomáticas:

"A Jesus por Maria" 

"A simplicidade é amor; a prudência, o pensamento. O amor ora, a inteligência vigia. Velai e orai, conciliação perfeita, O amor é como a pomba que geme; a inteligência ativa é como a serpente que nunca cai na terra, nem tropeça, porque vai apalpando com a sua cabeça todos os estorvos do caminho"

"Desapego de tudo e perfeita indiferença tanto às censuras como aos louvores... Diante do Senhor sou pecador e pó; vivo pela misericórdia do Senhor, à qual tudo devo e da qual tudo espero".

Propósitos de retiro de 1952:

1. Dar graças...

2. Simplicidade de coração e de palavras...

3. Amabilidade, calma e paciência imperturbável...

4. Grande compreensão e respeito para com os franceses... (era Núncio Apostólico em França).

5. Maior rapidez nas práticas mais importantes...

6. Em todas as coisas tem presente o fim... A vontade de Deus é a nossa paz. Sempre na vida, mais ainda na morte.

7. Não me aborrece nem me preocupa o que me possa acontecer: honras, humilhações, negações ou o que quer que seja...

8. Só desejo que a minha vida acabe santamente...

9. Estarei atento a uma piedade religiosa mais intensa...

10. Parece-me que tenho a consciência em paz e confio em Jesus, na Sua e minha Mãe, gloriosa e amantíssima, em São José, o santo predileto do meu coração; em São João Batista, à volta de quem gosto de ver reunida a minha família... A cruz de Cristo, o coração de Jesus, a graça de Jesus; isso é tudo na Terra; é o começo da glória futura... 

"As palavras movem; os exemplos arrastam"

27.03.14

LEITURAS: Gutiérrez e Müller - Ao lado dos pobres

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GUSTAVO GUTIÉRREZ e GERHARD LUDWIG MÜLLER. Ao lado dos Pobres. A Teologia da Libertação é uma Teologia da Igreja. Paulinas Editora. Prior Velho 2014. 208 páginas.

       Com a eleição do então Cardeal Jorge Mario Bergoglio, em 13 de março de 2013, escolhendo o nome de Francisco, em homenagem a Francisco de Assis, colocando o acento tónico na Igreja pobre e dos pobres, a Teologia da Libertação ganhou nova visibilidade. Longe vão os tempos em que a Teologia da Libertação esteve sob suspeita, sendo acusada, por ignorância e preconceito, de uma teologia marxista, partindo da análise socioeconómica, na persecução do mesmo objetivo da luta de classes.

       Desde logo, no centro da Teologia da Libertação, cuja paternidade tem um rosto de fidelidade à Igreja e ao Magistério, e fidelidade e compromisso com os pobres do Peru, sua terra natal, englobando toda a América Latina e Caribe, a opção preferencial pelos pobres, expressão acarinhada pelos Bispos locais em diversas Assembleias, é uma opção que decorre do amor gratuito e misericordioso de Deus pelos pobres, não pela bondade dos mesmos. Em Jesus, Deus que encarna e Se "localiza", os pobres têm lugar à mesa, hão de ser os primeiros a ser servidos. A Teologia da Libertação é verdadeira teologia, parte de Deus, do Evangelho, acolhe o magistério eclesial, colocando o enfoque precisamente na opção pelos pobres, não como adenda, mas como compromisso irrenunciável. Por outro lado, mesmo servindo-se das ciências humanas e sociais, da análise socioeconómica, não visa, como no marxismo, a troca de uma classe social por outra, mas a dignidade da pessoa humana, de todas as pessoas. A economia de mercado, a globalização da economia, na maioria das vezes não levou a melhorias da vida da maioria, mas sobretudo a abertura dos mercados emergentes para obrigar o escoamento dos produtos das nações mais ricas.

       Vê-se como o autor - não renunciando ao enfoque próprio da Teologia da Libertação, mostrando com clareza que toda a teologia tem em conta a particularidade, a começar pelo próprio Jesus, judeu de nascimento - mantém uma pose de grande humildade e abertura, explicando uma ou outra vez, sublinhando que o mais importância nem é a relevância da Teologia da Libertação, mas o serviço aos mais pobres.

       O Papa Francisco tem precisamente sublinhado como a Igreja deverá ir às periferias geográficas e sobretudo existenciais, tendo vindo também ele de uma periferia.

       A reflexão resultante do Concílio Vaticano II, sobretudo com a Constituição Gaudium et Spes, com a abertura da Igreja ao mundo e a necessidade de uma leitura atenta e atual aos sinais dos tempos, é precisamente berço para o nascimento da Teologia da Libertação, que procura ler e responder aos sinais de uma América Latina pobre, empobrecida, periférica. Gustavo Gutiérrez não se deixou enredar em polémicas e respondeu sempre com abertura às estruturas da Igreja, nomeadamente perante a Congregação para a Doutrina da Fé, com o então Cardeal Ratzinger, como o próprio [Ratzinger] a empenhar-se pessoalmente no diálogo frutuoso com o pai da Teologia da Libertação, acolhendo a riqueza deste património, cuidando para minorar os riscos de desvio e apropriação da Teologia da Libertação por algum regime ditatorial.

       Curiosamente, o parceiro desta publicação é o atual Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Cardeal Gerhard Ludwig Müller (feito Cardeal no dia 21 de fevereiro de 2014, pelo Papa Francisco). Outra curiosidade, é que foi nomeado para Prefeito por Bento XVI, a 2 de julho de 2012, para substituir o cardeal norte-americano William Joseph Levada, por limite de idade.

        O próprio Gutiérrez sublinha o risco de alguns desvios teóricos e práticos da Teologia da Libertação, sem que seja essa a sua génese. No livro, Gerhard Müller, deixa claro que "o movimento eclesial e teológico latino-americano conhecido como "Teologia da Libertação", que se espalhou por outras partes do mundo depois do Concílio Vaticano II, deve, em minha opinião, ser incluído entre as correntes mais importantes da teologia católica do século XX".

       Continua a haver muitos críticos da Teologia da Libertação, que o fazem uma e outra vez por ignorância e preconceito. Mas também a polémica se gera do lado dos que arremessam com esta Teologia contra a Igreja e o Magistério. No entanto, a coletânea dos textos recolhidos neste livro, publicada em 2004, na Alemanha, mais os textos do de Gerhard Müller, afastam-se claramente de qualquer polémica, num equilíbrio ímpar. Sublinhe-se também, que durante a reflexão/análise na Congregação para a Doutrina da Fé, sob a batuta do então Cardeal Joseph Ratzinger, nunca o movimento foi criticado. Por outro lado, o Papa João Paulo II recorrerá por diversas vezes à linguagem nova que vem das Conferências Episcopais da América Latina e Caribe, reunidas em Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingo (1992). A "opção preferencial pelos pobres" entra definitivamente no vocabulário da Igreja e a necessidade da Nova Evangelização enraíza-se precisamente nas Assembleias do episcopado latino-americano, sancionando a Teologia da Libertação. Posteriormente, a Assembleia da CELAM (Episcopado Latino-Americano) em Aparecida, no Brasil, em 2007, e tal como o fez João Paulo II, também Bento XVI lhe dirigiu palavras de estímulo num discurso muito cristológico.

       Para melhor compreender o que significa Teologia da Libertação, mas sobretudo a opção preferencial pelos pobres, que ao tempo de Cristo tinham nome - Lázaro -, e que agora são uma maioria sem nome e sem chão, este é um excelente texto, de fácil compreensão. O propósito da Teologia da Libertação, com um enfoque específico, visa o mesmo que toda a Teologia, que Cristo seja tudo em todos.

22.03.14

Senhor, dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede

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       1 – «Todo aquele que bebe desta água voltará a ter sede. Mas aquele que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede: a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma nascente que jorra para a vida eterna». «Senhor, – suplicou a mulher – dá-me dessa água, para que eu não sinta mais sede e não tenha de vir aqui buscá-la».

       2 – Jesus encontra aquela mulher, samaritana e, por conseguinte, estranha, estrangeira, inimiga, por questões históricas, por preconceitos religiosos. Anda atarefada. Os seus dias não têm sido fáceis. A sua vida afetiva é uma tremenda trapalhada, já vai no sexto marido, vive suspensa, insatisfeita. Ocupa-se para não questionar a vida!

       Jesus chega ali esgotado, por volta do meio-dia, quando faz mais calor. Os discípulos foram à cidade buscar alimento. Ele fica a descansar. «Dá-Me de beber» – diz Jesus à Samaritana, que logo suspeita do pedido, sublinhando estranheza com o facto de judeus e samaritanos andarem de candeias às avessas. Jesus avança um pouco mais: «Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz: ‘Dá-Me de beber’, tu é que Lhe pedirias e Ele te daria água viva».

       Em tom de ironia, a mulher questiona Jesus: «Senhor, Tu nem sequer tens um balde, e o poço é fundo: donde Te vem a água viva? Serás Tu maior do que o nosso pai Jacob, que nos deu este poço, do qual ele mesmo bebeu, com os seus filhos e os seus rebanhos?».

       Ela continua a falar da água do poço, Jesus fala da Água que vem do Céu, e que germina no mais íntimo de cada um de nós. Jesus abre um pouco mais o véu, falando-lhe do que ela não lhe disse, da sua vida passada e atual, não para a condenar, mas para a provocar, para a despertar, para que ela escute melhor…

       3 – Jesus adentra-se na sua vida, dizendo-lhe, e a nós também, coisas muito importantes, nas palavras proferidas e na postura assumida:

a) Não importa se viemos de perto ou de longe, qual a nossa terra ou a nacionalidade, a condição moral e/ou religiosa, se somos homens ou mulheres, se temos muitas ou poucas posses, ou o ponto em que nos encontramos na nossa relação com Deus;

b) O que vale mesmo, para Jesus, é o que podemos ser, os dias que temos pela frente, o que decidimos HOJE para a nossa vida, ainda que o passado nos ajude a um compromisso mais libertador;

c) A conversão é interior, é uma opção livre. A nossa relação com Deus resolve-se, antes de mais, num diálogo íntimo com Ele. "Os verdadeiros adoradores hão de adorar o Pai em espírito e verdade, pois são esses os adoradores que o Pai deseja. Deus é espírito e os seus adoradores devem adorá-l’O em espírito e verdade". Os espaços e os tempos podem ajudar a encontrar com Deus. E também as pessoas e, por maioria de razão, a comunidade crente, mas a decisão é minha, é tua, é de cada um;

d) A descoberta de Deus e do Seu amor por nós gera alegria, júbilo, que por sua vez provoca e exige o anúncio do Evangelho. A alegria tende a transbordar. Ninguém faz festa sozinho. Só o que se partilha, também a vida, é realmente nosso. "A mulher deixou a bilha, correu à cidade e falou a todos: «Vinde ver um homem que me disse tudo o que eu fiz. Não será Ele o Messias?». Eles saíram da cidade e vieram ter com Jesus";

e) "Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus" (Mt 4, 1-11). Eis o verdadeiro alimento para Jesus: «O meu alimento é fazer a vontade d’Aquele que Me enviou e realizar a sua obra». Os discípulos tinham ido à cidade buscar alimentos e quando chegam junto de Jesus verificam que Ele está satisfeito, recobrou energias. Alguém Lhe terá dado de comer?

f) A autenticidade tem consequências duradouras e gera discípulos. Os samaritanos deixam-se surpreender pelas palavras daquela mulher, mas é no encontro com Jesus que a verdadeira transformação acontece: «Já não é por causa das tuas palavras que acreditamos. Nós próprios ouvimos e sabemos que Ele é realmente o Salvador do mundo».


Textos para a Eucaristia (ano A): Ex 17, 3-7; Sl 94 (95); Rom 5, 1-2. 5-8; Jo 4, 5-42.

 

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