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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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21.09.24

Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos

mpgpadre

1 – «Senhor, que fizestes consistir a plenitude da lei no vosso amor e no amor do próximo, dai-nos a graça de cumprirmos este duplo mandamento, para alcançarmos a vida eterna». A oração inicial da Eucaristia prepara-nos para escutar a Palavra de Deus e para, à partida, percebermos o fio condutor da mensagem nela contida, iluminando as nossas escolhas. A Palavra de Deus é sempre desafio, é luz, que nos provoca e compromete, nos envolve e nos transforma.

A oração pressupõe humildade de quem se reconhece frágil, invocando o poder e o amor de Deus. Em algumas situações, a oração pode ser contraproducente, quando agradecemos a Deus por sermos melhores que os outros e por não precisarmos de ninguém. Ou, em alternativa, só precisamos de Deus, garantia que sairemos vencedores. Os que estão ao nosso lado, mais que companhia ou ajuda, são um estorvo, fazem-nos perder tempo, incomodam-nos. Eu cá tenho a minha fé. Eu e Deus é que sabemos, os outros não importam!

Como confessa São Tiago, a fé sem obras é oca. Do mesmo modo a oração. Se rezamos voltados para Deus, mas sem ligação e sem abertura ao nosso semelhante, então a oração é um palavreado inútil, vazio, pois corta um pé do tripé em que assenta: Deus, o próximo e cada um de nós. Amar a Deus implica amar os que Ele ama, logo, a humanidade inteira, concretizável em cada pessoa.

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2 – Ao amor de Deus para connosco respondemos com amor em relação aos outros, em forma de serviço, de cuidado e de ajuda. É a nossa identidade, a nossa missão, o nosso compromisso. Não temos como fugir se a nossa opção de vida é seguir Jesus. Seguir Jesus, com efeito, é a nossa primeira vocação. Fomos batizados na Sua morte e ressurreição, para sermos plasmados pelo Seu Espírito.

Há momentos em que vem ao de cima a nossa fragilidade, o nosso pecado, o nosso egoísmo, mas também o medo, a desconfiança e a vontade de fazermos tudo à nossa maneira, e talvez que os outros se sujeitem aos nossos interesses. Não é de hoje.

Depois da confissão de fé de Pedro, Jesus diz-lhes o que vai acontecer: «O Filho do homem vai ser entregue às mãos dos homens, que vão matá-l’O; mas Ele, três dias depois de morto, ressuscitará».

Pedro reagiu da forma que vimos, repreendendo Jesus. Ao anúncio da paixão, Jesus acrescenta o anúncio da ressurreição. Mas já tinha feito estragos, os discípulos já não O escutaram direito. Em Cafarnaum, já em casa, Jesus interroga-os sobre o que vinham a discutir. Percebemos então que os discípulos discutiam sobre qual deles era o maior. Se o reino de Deus se vai manifestar, se Jesus vai ser morto, então há que avaliar qual é o mais apto para Lhe suceder.

Poderíamos pensar que a repreensão de Pedro a Jesus era muito dele, afinal os outros afinam pelo mesmo diapasão.

 

3 – Durante o caminho Jesus mantém-se em silêncio. Parece não ouvir. Talvez fosse a falar com os seus botões (se os houvesse naquele tempo!), ou a rezar! Em casa responde-lhes.

As respostas de Jesus não se pautam pelo excesso de palavras, por explicações complexas, por tentativas de convencer. Frequentemente recorre a imagens ou a situações concretas do dia-a-dia.

Sem rodeios, Jesus diz-lhes: «Quem quiser ser o primeiro será o último de todos e o servo de todos». Entre os líderes das nações, dir-lhes-á noutra ocasião, discutem-se os lugares e o poder de cada um; não seja assim entre vós, quem quiser ser o mais importante coloque-se ao serviço dos outros. Vale para eles, vale para nós. E mesmo os que detêm autoridade, devem exercê-la como serviço, desde o Papa ao mais simples trabalhador da vinha do Senhor.

Vem então o exemplo. Jesus toma uma criança, coloca-a no meio dos discípulos, abraça-a e diz-lhes: «Quem receber uma destas crianças em meu nome é a Mim que recebe; e quem Me receber não Me recebe a Mim, mas Àquele que Me enviou». Simplicidade, alguma ingenuidade, pobreza, despojamento, dependência, vulnerabilidade. Serviço, cuidado.

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Textos para a Eucaristia (ano B): Sab 2, 12. 17-20; Sl 53 (54); Tg 3, 16 – 4, 3; Mc 9, 30-37

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

06.09.24

Tudo o que faz é admirável. Faz que os surdos ouçam...

mpgpadre

       1 – Em tempos conturbados, a voz do profeta soa a esperança.

       Isaías, na primeira leitura, mostra, com palavras de alento, que a promessa de Deus não tarda em cumprir-se.

“Dizei aos corações perturbados: «Tende coragem, não temais. Aí está o vosso Deus; vem para fazer justiça e dar a recompensa; Ele próprio vem salvar-nos». Então se abrirão os olhos dos cegos e se desimpedirão os ouvidos dos surdos”.

       A convicção do profeta há de congregar o povo eleito e motivar os crentes para a fidelidade a Deus e aos Seus mandamentos. É tempo de recuperar a fé e a esperança em Deus.

 

       2 – No evangelho, Jesus é apresentado como o Messias esperado, o Deus que vem salvar-nos. Isaías identifica alguns dos acontecimentos que sucederão com a Sua chegada, como por exemplo os surdos voltarem a ouvir. Atentemos as palavras do Evangelho:

“Trouxeram-Lhe então um surdo que mal podia falar… Jesus, erguendo os olhos ao Céu, suspirou e disse-lhe: «Efatá», que quer dizer «Abre-te». Imediatamente se abriram os ouvidos do homem, soltou-se-lhe a prisão da língua e começou a falar corretamente…”

       “Ao fazer com que os surdos ouçam”, Jesus confirma que é o Messias que estava para vir. As palavras adquirem vida concreta nesta cura. Com Ele, solta-se a língua, abrem-se os ouvidos, ressoa a palavra de Deus, circula vida nova.

       “Effatá” é também um dos ritos do Batismo, lembrando que a graça recebida nos há de permitir escutar a Palavra de Deus e professar a fé. O que ouvimos e o que dizemos, como seguidores de Jesus, deve ser para louvor e glória de Deus. Se assim for, purificaremos o que ouvimos com a misericórdia de Deus, e diremos palavras que dimanem da caridade do Senhor.

 

       3 – O encontro com Jesus Cristo há de transformar-nos, comprometendo-nos. Interiormente. Ele não Se impõe, não chantageia. Convida, desafia, envolve. Obviamente, a resposta que daremos levar-nos-á a alterar hábitos, a postura diante dos outros.

       Não é uma mudança pela rama, como se trocássemos de roupa. Agora vestimos a roupa de cristãos e vamos à Missa, dizemos as nossas orações, e logo depois, se necessário, vestimos outra roupa, que diga mais com a ocasião ou com as pessoas que temos pela frente.

       Pelo batismo, estamos interiormente revestidos de Cristo. Ele habita-nos. Nas palavras de São Paulo, já não somos nós que vivemos, é Cristo que vive em nós. Ou em Santo Agostinho, ao comungarmos somos assimilados ao Seu corpo, somos transformados n’Ele.

 

       4 – O apóstolo São Tiago, na segunda leitura, ilustra como viver ao jeito de Cristo, em situações concretas. No domingo anterior exemplificava com o serviço aos órfãos e às viúvas, as pessoas mais fragilizadas do seu tempo. Hoje traduz a vivência em Cristo com o amor e respeito igual a todos os que nos aparecem pela frente.

“A fé em Nosso Senhor Jesus Cristo não deve admitir acepção de pessoas. Pode acontecer que na vossa assembleia entre um homem bem vestido e com anéis de ouro e entre também um pobre e mal vestido; talvez olheis para o homem bem vestido e lhe digais: «Tu, senta-te aqui em bom lugar», e ao pobre: «Tu, fica aí de pé», ou então: «Senta-te aí, abaixo do estrado dos meus pés». Não estareis a estabelecer distinções entre vós e a tornar-vos juízes com maus critérios? Escutai, meus caríssimos irmãos: Não escolheu Deus os pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do reino que Ele prometeu àqueles que O amam?”

       Sublinha-se uma vez mais como o serviço e a atenção aos mais pobres é a opção de Jesus Cristo, não para excluir, mas para promover e incluir os que não se sentem ou não são tratados como filhos.


Textos para a Eucaristia (ano B): Is 35, 4-7a; Tg 2, 1-5; Mc 7, 31-37.

24.08.24

Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna

mpgpadre

       1 – «Estas palavras são duras. Quem pode escutá-las?» A partir de então, muitos dos discípulos afastaram-se".

       Continuamos com o texto de São João, no qual Jesus Se apresenta como o verdadeiro Pão da Vida, o Pão de Deus. A afirmação de Jesus gera polémica na população, nos judeus e nos discípulos.

       Perante a dispersão dos judeus e dos discípulos, Jesus questiona os Doze: «Também vós quereis ir embora?». Pedro, em nome dos outros Apóstolos, responde inequivocamente: «Para quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna. Nós acreditamos e sabemos que Tu és o Santo de Deus».

       A dissidência dá lugar à firmeza, à convicção, ao seguimento consciente e livre. O projeto de Jesus Cristo é um projeto de salvação, de vida nova, desafiando os limites do tempo e do espaço.

       2 – Jesus Cristo, Deus entre nós, é o Pão que nos dá ânimo (alma) para vivermos confiantes, em momentos favoráveis como em ocasiões de tormenta, com alegria, sabendo que Ele é OLHAR que nos eleva, mão que nos segura, COMPANHIA que nos fortalece, é a VIDA nova que oxigena o nosso coração, por inteiro.

       Não Se impõe. Vive no tempo e na história. Habita a humanidade. Caminha nas nossas buscas. Insere-Se nos nossos sonhos. Sofre e diverte-se com os nossos filhos e irmãos e pais. Chora e ri nas praças e nas vielas dos nossos corações. Não Se impõe. Tem a força e o poder que Lhe vêm do alto, de DEUS, mas faz-Se pobre, frágil, mendigo da nossa vontade, ajoelha-Se diante do nosso olhar.

       "Quereis ir embora?"

       A liberdade integra o plano salvador de Deus. Sem ameaças. Cabe a cada um, ainda que com a ajuda dos irmãos, decidir. É este o jeito de Deus, como os pais em relação aos filhos seus. Querem o melhor para nós, mas cabe-nos fazer as nossas próprias escolhas.

"Josué disse ao povo: «Se não vos agrada servir o Senhor, escolhei hoje a quem quereis servir. Eu e a minha família serviremos o Senhor». O povo respondeu: «Longe de nós abandonar o Senhor para servir outros deuses; porque o Senhor é o nosso Deus..."

       3 – Quando uma criança descobre que não pode ter dois brinquedos, opta pelo melhor. O buscador de pérolas, ou de pedras preciosas, nas parábolas de Jesus sobre o Reino de Deus, quando encontra a mais bela pérola, ou a pedra mais preciosa, deixa/vende tudo o que tem de valioso para ficar com a que é mais preciosa e bela.

       As escolhas podem exigir renúncia. Há escolhas que devem fazer-nos sentir preenchidos, a transbordar de júbilo. Se escolho este marido, esta esposa, se escolho este caminho, não fico a chorar pelo que deixo, ou será que não encontrei o amor maior?! Quando escolho Jesus Cristo, escolho a vida, e abrir-me à graça de Deus.

       Confiemos! Não nos deixemos levar pela multidão. Vivamos! Neste concreto, não importa tanto a maioria, mas saber que o CAMINHO é verdade e vida para nós. E na certeza que os outros continuarão a ser atraídos por Deus, ainda que por meio da Sua luz em nós.

 

       4 – Ele é o Pão vivo. A Sua carne e o Seu sangue são alimento que nos salva. Comungamos o mesmo corpo, constituímos um só Corpo. Daí a certeza que a Eucaristia nos compromete com os outros. Recebemos para dar, para partilhar, para entrar em comunhão.

       Como nos diz Bento XVI, "o pão é para mim e também para o outro. Assim Cristo une todos a Si mesmo e une-nos uns aos outros".

       O caminho da Eucaristia é caminho do amor.

       A este propósito vale a pena mastigar as palavras de São Paulo, exemplificado o amor entre marido e mulher, expressão do AMOR único de Cristo à Igreja e pela humanidade, paradigma do amor que nos há de mobilizar uns para os outros e para Deus:

"Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Ninguém, de facto, odiou jamais o seu corpo, antes o alimenta e lhe presta cuidados, como Cristo à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo...".


Textos para a Eucaristia (ano B): Jos 24, 1-2a.15-17.18b; Ef 5, 21-32; Jo 6, 60-69.

16.08.24

A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida

mpgpadre

1 – “O que tens de partir para reunir uma família? Pão, evidentemente” (Jodi Picoult).

O pão é símbolo de todo o alimento biológico, antes de mais, mas também espiritual, afetivo, cultural. Mas em si mesmo o pão é alimento, rico em hidratos de carbono, pobre em açúcares e gorduras, fonte de fibras que ajudam ao equilibro intestinal, fonte de vitaminas (tipo B) e minerais (cálcio, magnésio e fósforo…). O pão tem menos sal que os seus substitutos como bolachas, biscoitos, bolos, cereais prontos a comer… e provoca mais rapidamente a sensação de saciedade, tornando-se parte essencial de qualquer dieta.

Ainda que haja muitas variedades de pão, a sua confeção é muito simples. Farinha, água, sal e fermento, na justa medida! Pode facilmente transportar-se e não precisa de grande esforço para se conservar. Algum do simbolismo do pão advém do próprio pão: o trigo ou centeio que é lançado à terra, cresce como planta, produz as espigas que a seu tempo darão os grãos maduros. Debulhados, os grãos serão moídos para se transformarem em farinha, tornando-se o ingrediente principal do pão, amassada (juntando o sal, o fermento, a água) e levedada, levada ao forno e, passado algum tempo, estará suficientemente cozido para ser comido, saboreado e saciar a fome de muito. Um pão é feito de muitos grãos. Um pão pode congregar muitos à volta da mesa e ser partilhado por muitos! Trabalho de muitas mãos. Unidade. Partilha e comunhão. Semente, planta, trigo, farinha, massa, pão, pessoas que comem do mesmo pão, condividindo-o!

O pão é um alimento prático, simples e bastante acessível. É nesta simplicidade que Jesus Se nos dá por inteiro.

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2 – «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».

A discussão adensa-se. Jesus afirma que é o Pão vivo descido do Céu, e logo acrescenta que o Pão que nos dá é a Sua própria carne. Ser o Pão da vida poderia tratar-se de uma comparação, uma imagem. Agora dizer que é a Sua carne? Como é possível que nos dê a Sua carne? Como é possível comer a Sua carne e beber o Seu sangue? Acaso podemos tornar-nos canibalistas?

«A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim…».

As palavras de Jesus são tão vivas e específicas que alguns discípulos seguem outro caminho.

 

3 – O Verbo encarnou e habitou entre nós. Em Jesus, Deus faz-Se carne, assume a nossa condição humana, sujeitando-se às coordenadas do tempo e do espaço. Carne, corpo, vida humana. No judaísmo quando se fala de carne ou de corpo fala-se precisamente da pessoa como um todo, corpo, alma e espírito. Quando Jesus Se consome a favor da humanidade entrega a Sua vida por inteiro.

Mas a expressividade vai ainda mais longe. O Corpo sublinha a vida. O sangue (derramado) aponta para a morte. Jesus oferece-nos a Sua vida e a Sua morte para nos salvar, para nos introduzir no mistério da Sua ressurreição.

O evangelista São João não descreve a instituição da Eucaristia no decorrer da Ceia, mas apresenta a multiplicação dos pães nos mesmos contornos. Logo Jesus Se revela como o Pão vivo: Carne, Corpo, Sangue, Vida entregue por nós. A Eucaristia torna presente o mistério pascal de Jesus. Faz com que Jesus seja nosso contemporâneo. Oferece-Se de uma vez para sempre, mas por ação do Espírito Santo, em Igreja, podemos participar hoje (sacramentalmente) no Seu mistério pascal. Também a nós Jesus nos diz: a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Eu Sou o Pão da vida. É precisamente no Pão e no Vinho, no mistério da Eucaristia, que Jesus nos dá o Seu Corpo e o Seu sangue, como alimento para esta vida e até à vida eterna.

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Textos para a Eucaristia (ano B): Prov 9, 1-6; Sl 33 (34); Ef 5, 15-20; Jo 6, 51-58.

10.08.24

O pão que Eu hei de dar é a minha carne...

mpgpadre

       1 – "Só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai. Em verdade, em verdade vos digo: Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida. No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram. Mas este pão é o que desce do Céu, para que não morra quem dele comer. Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo".

       Jesus apresenta-Se como o verdadeiro Pão, que alimenta, perdoa, purifica, e nos dá uma vida nova. Ele responde às necessidades básicas, propondo a partilha solidária como milagre para que todos tenham acesso aos bens da criação e da criatividade humana. Responde também aos anseios que plasmam o coração humano. Pão e esperança. E razões para viver. Terra e Céu. Compromisso e abertura ao Infinito. Dá o pão e motivos para crer no futuro e para se comprometer no presente com as pessoas que estão ao nosso lado. Ensina muitas coisas. A mente – o coração – é um largo campo de sementeira que pode levar-nos à perdição, à indiferença e cinismo, ou à salvação. Jesus lança a semente. Promove. Desafia. Convoca para um novo tempo, vida nova, reino que se estende desde agora até à eternidade, daqui até ao Céu.

       Se muitas são as razões daqueles que procuram Jesus – uns pelo pão, outros pelos milagres, outros pela descoberta das Suas palavras de vida eterna – a compreensão da Sua mensagem também provoca divisões. E que divisões! Muitos ficam escandalizados com a afirmação – Eu Sou o Pão da Vida, o Céu chegou a vós –, pressupondo-se a Sua identificação divina (EU SOU), e a possibilidade de SER comestível. Quem não se escandalizaria?

       2 – "O pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo".

       O pão é mais que o pão. Muito mais. É partilha, é vida, é comunidade. Em cada pão o trabalho de muitas pessoas, e muitos grãos. O pão é símbolo de todo o alimento. Pão é também carne e peixe e legumes e o sustento da família. Jesus refere que é Pão, e o Pão é a Sua carne. O pão tem a cor do trabalho, do suor, do sacrifício, e tem a cor da alegria, do convívio e da festa. Pão é mais que pão, é companhia (cum panis), faz de nós companheiros, comendo do mesmo pão, partilhando a vida.

       E que não falte pão nas nossas mesas. Quando falta o pão falta também a alegria, a serenidade, falham os argumentos para a felicidade a construir. Ainda hoje, seguindo uma tradição milenar, há casas em que se coloca sempre pão na mesa, símbolo da fartura que se quer proporcionar aos convivas, ou aos de casa.

       Na multiplicação do pão – o milagre da partilha solidária – Jesus antecipa (e prepara) o Pão da Vida, a Eucaristia, que ficará como memorial. Na última Ceia, Jesus antecipa a entrega suprema do amor que vai até ao fim, até à CRUZ. É na Cruz que Ele nos entrega para sempre o Seu corpo. Na Última Ceia, porém, Ele ordena que nos reunamos à volta do Seu Corpo e O comamos, comungando da Sua vida, da Sua entrega, do Seu Evangelho de salvação.

       No alto da Cruz, Jesus entrega-Se até à última gota de sangue. A vida não se extinguirá com a morte. É, antes, um momento crucial de oblação a Deus e à humanidade, pela humanidade. Logo, do sepulcro irradiará em luminosa claridade a Ressurreição. Deus Pai sanciona Jesus e o projeto de amor para a humanidade.

       Desde então, os discípulos reúnem-se no primeiro dia da Semana, dia da Páscoa de Jesus, e fazem o que Ele fez na Última Ceia, atualizam as palavras e os gestos, para que, pelo Espírito Santo, Jesus nos seja dado como Pão que nos alimentará até à vida eterna.

 

       3 – “O pão que Eu hei de dar é a minha carne, que Eu darei pela vida do mundo”.

       Não é fácil entender as palavras de Jesus. Não são meramente simbólicas. É a Sua vida que Ele dará pela humanidade inteira. A discussão adensa-se, como veremos nos domingos seguintes, com os judeus a discutir e com os discípulos a distanciarem-se claramente do Mestre. Quando a discussão se inicia parece uma brisa que passa sem deixar marcas. Quase se aceitava que Jesus não aprofundasse muito a questão, diplomatizando com os circunstantes, mas não o faz, não foge às questões como não fugirá da perseguição e da morte, por mais que doa.

       Quando se dá a multiplicação dos pães, Jesus aponta para um pão mais duradouro, alimento que sacia a VIDA nova que Ele nos dará em abundância. Aliás, toda a Sagrada Escritura nos prepara para a plenitude do Tempo, a vinda do Messias, o Pão vivo, o Bom Pastor, Deus entre nós.

       Elias, o profeta do fogo, é alimentado por Deus para a longa jornada que tem pela frente, experimentando um pão que dura o tempo necessário para a travessia, até ao monte Horeb, monte da revelação, monte das origens, onde Ele recobrará ânimo, onde Deus Se manifesta.

"Elias entrou no deserto e andou o dia inteiro. Depois sentou-se debaixo de um junípero e, desejando a morte, exclamou: «Já basta, Senhor. Tirai-me a vida, porque não sou melhor que meus pais». Deitou-se por terra e adormeceu à sombra do junípero. Nisto, um Anjo tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come». Ele olhou e viu à sua cabeceira um pão cozido sobre pedras quentes e uma bilha de água. Comeu e bebeu e tornou a deitar-se. O Anjo do Senhor veio segunda vez, tocou-lhe e disse: «Levanta-te e come, porque ainda tens um longo caminho a percorrer». Elias levantou-se, comeu e bebeu. Depois, fortalecido com aquele alimento, caminhou durante quarenta dias e quarenta noites até ao monte de Deus, Horeb".

       Não apenas o pão, mas a presença de Deus que o conforta com o alimento e com as palavras do Anjo. Deus cuida dos Seus filhos, cuida de Elias, cuida de nós. "O Anjo do Senhor protege os que O temem e defende-os dos perigos. Saboreai e vede como o Senhor é bom: feliz o homem que n’Ele se refugia" (Salmo).

 

       4 – Se todos fomos remidos pela vida, pelo CORPO de Cristo, pela Sua morte redentora, para com Ele ressuscitarmos, então agora comemos do mesmo Corpo, do mesmo Pão que vem do Céu. O corpo de Cristo, descido da Cruz, é-nos entregue, é-nos confiado através de Maria, Sua Mãe, para que O preservemos intacto.

       Ao olharmos para o CORPO místico de Cristo que é a Igreja, certamente que encontramos um corpo dilacerado pela discórdia, pela divisão, pelos conflitos que a história e as culturas acentuaram. No entanto, seguindo os desejos do próprio Jesus Cristo, na oração Sacerdotal (Jo 17) – que todos sejam UM – não devemos cessar de procurar viver unidos, num só coração e numa só alma, em Cristo e com todos os cristãos, para testemunhar a vida nova que d’Ele recebemos.

       O Apóstolo São Paulo, de diversas maneiras, nos dá indicações claras para sintonizarmos (em HD – alta definição) Jesus Cristo e os seus ensinamentos:

"Seja eliminado do meio de vós tudo o que é azedume, irritação, cólera, insulto, maledicência e toda a espécie de maldade. Sede bondosos e compassivos uns para com os outros e perdoai-vos mutuamente, como Deus também vos perdoou em Cristo. Sede imitadores de Deus, como filhos muito amados. Caminhai na caridade, a exemplo de Cristo, que nos amou e Se entregou por nós, oferecendo-Se como vítima agradável a Deus".


Textos para a Eucaristia (ano B): 1 Reis 19, 4-8; Salmo 33 (34); Ef 4, 30 – 5, 2; Jo 6, 41-51.

02.08.24

Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome.

mpgpadre

1 – Depois da multiplicação dos pães e dos peixes, a multidão quer aclamar Jesus como Rei, que se retira sozinho para o monte. A multidão procura-O e encontra-O na outra margem do lago. Diz-lhes Jesus: «Em verdade, em verdade vos digo: vós procurais-Me, não porque vistes milagres, mas porque comestes dos pães e ficastes saciados. Trabalhai, não tanto pela comida que se perde, mas pelo alimento que dura até à vida eterna e que o Filho do homem vos dará».

Atendamos às palavras do Papa Francisco: «Jesus não elimina a preocupação nem a busca do alimento diário, não, não elimina a preocupação de tudo o que pode tornar a vida mais progredida. Mas Jesus recorda-nos que o verdadeiro significado da nossa existência terrena consiste no fim, na eternidade, consiste no encontro com Ele, que é dom e doador, e recorda-nos também que a história humana com os seus sofrimentos e as suas alegrias deve ser considerada num horizonte de eternidade, ou seja, no horizonte do encontro definitivo com Ele. E este encontro ilumina todos os dias da nossa vida».

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2 – Somos muito mais do que aquilo que comemos, que vestimos, muito mais do que as coisas que temos, por mais valiosas que sejam. Na verdade, todos nós conhecemos pessoas que tendo tudo são verdadeiramente miseráveis. Interrogamo-nos: como é possível que esta pessoa tenha tudo e ande sempre com uma cara de sexta-feira santa? E quando vemos, em situações extremas, uma pessoa do mundo da música ou do cinema, da moda ou das revistas cor-de-rosa porem termo à própria vida ou envolvidas em rixas, em droga, em prostituição?! Claro que não é o muito que têm que as faz assim, mas a perda de sentido e, talvez, nalguns casos, também o facto de não sentirem a alegria do esforço, da dedicação, do trabalho e como compensa ver os respetivos resultados. Por outro lado, a dificuldade em perceber se as amizades são autênticas ou interesseiras.

Mas não enveredamos pela cultura da miséria! Como se aqueles que vivem na pobreza material tivessem todas as condições para serem felizes! De modo nenhum, a não ser que seja por opção. Nem só de pão vive o homem, mas também vive de pão. A multiplicação dos pães é um desafio a sermos dádiva para os outros, com o que temos e com o que somos. Jesus não faz um discurso bonito e depois despede a multidão para que esta se governe, conforme desejo dos discípulos. Não. Alimenta aquela gente, juntando o que há disponível, 5 pães e 2 peixes, contando com o contributo do rapazinho e dos apóstolos, invocando a poder de Deus, e mandando distribuir para que todos fiquem saciados.

Pessoas e famílias com parcos recursos económicos também passam por momentos de dúvida, de luta, por vezes, de discussão, caindo na depressão pelas dificuldades extremas e pelo medo do futuro ou por quererem dar um futuro melhor aos filhos e não estarem a conseguir. Em muitos casos, todavia, a luta fortalece a vontade de viver! A vida de mão-beijada não costuma dar bons resultados. Conseguimos ouvir os pais a dizerem aos filhos: quando ganhares para ti, vais saber o que custa a vida e vais dar valor ao que tens!

 

3 – Os discípulos como a multidão veem o pão que se multiplica na partilha e que não se esgota, mas não veem Aquele que é o verdadeiro Pão da Vida, veem os dons da vida mas não o Dom que é Jesus Cristo.

Simples, além do pão que partilhamos, devemos tornar-nos pão e vida uns com os outros. Jesus multiplicou o pão e a partilha, mas a grande novidade e a verdadeira revolução é que Ele próprio Se torna pão, levedado pelo amor, pelo serviço, pela docilidade, pela compaixão, dando-Se por inteiro.

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Textos para a Eucaristia (ano B): Ex 16, 2-4. 12-15; Sl 77 (78); Ef 4, 17. 20-24; Jo 6, 24-35.

28.07.24

Está aqui um rapazito com 5 pães de cevada e 2 peixes. Mas que é isso para tanta gente?

mpgpadre

1 – O bem faz milagres e centuplica-se. O que se partilha, mesmo que pouco, dá para muitos! A docilidade e delicadeza de Jesus hão de mover-nos para a bondade para com todos, para que as palavras e os gestos produzam a abundância da ajuda e da partilha.

Na semana passada víamos como Jesus atende à necessidade de descanso dos Seus discípulos e logo dá atenção à multidão. Hoje o mesmo enfoque do cuidado, da atenção, da proximidade de Jesus e da Sua resposta pronta às necessidades da multidão que se aproxima ora para O escutar, ora por ver os milagres que Ele fazia, por curiosidade ou arrastados pelos amigos e vizinhos. As multidões que vão a Fátima ou que vão ao encontro do Papa são movidas por diferentes razões, algumas vão quase por desporto ou para manter a linha, mas pode acontecer que Deus lhes dê a volta!

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2 – «Onde havemos de comprar pão para lhes dar de comer?». Os discípulos vão-se apercebendo que não podem lavar as mãos diante dos contratempos. Perante as dúvidas – «Duzentos denários de pão não chegam para dar um bocadinho a cada um» – a ordem de Jesus é clara: «Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mt 14, 16).

Os discípulos fazem as contas. As possibilidades são diminutas! Nem dinheiro nem pão suficiente, como se vê pela intervenção de André: «Está aqui um rapazito que tem cinco pães de cevada e dois peixes. Mas que é isso para tanta gente?». Os discípulos fazem sobretudo um diagnóstico, fixam-se nos problemas. Também nos acontece por vezes! Jesus procura respostas, aponta caminhos possíveis: «Mandai-os sentar». É tarefa que também nos cabe!

Jesus faz o que está ao Seu alcance. Toma os pães e os peixes, dá graças e distribui-os pelos 5 mil homens (além das mulheres e das crianças). Comeram quanto quiseram. Todos ficaram saciados. Por fim, Jesus manda que se recolha o que sobrou para que nada se perca. As sobras, com os bocados dos pães de cevada, deram para encher 12 cestos. Abundância da multiplicação ou da partilha? Sobressai a certeza que com Cristo o alimento se multiplicará, sobejando em abundância. Dará para todos os presentes e para os que venham depois!

 

3 – O milagre da multiplicação continua a produzir-se na atualidade! Falta o milagre da partilha.

Jesus faz o que está ao Seu alcance. E nós?

Como discípulos deste tempo temos em mão a tarefa de distribuir o pão que Deus nos dá em abundância.

Num primeiro momento vemos que os discípulos procuram situar Jesus diante dos obstáculos. A seguir, Jesus coloca-os, e a nós também, diante do compromisso com os outros, procurando respostas. André olha em volta e vê que há um rapazito que tem alguns pães (5) e alguns peixes (2), ainda que não perceba que já é uma ajuda enorme. Tendo em conta a simbologia hebraica, o 7 é o número da perfeição, da plenitude. Têm o que é necessário para agir.

Mas não termina ali o trabalho dos discípulos. Eles são responsáveis por levar a Jesus o jovem rapaz com os pães e os peixes. Subentende-se que serão eles a distribuir os pães e os peixes pela multidão. Nota evidenciada nos evangelhos sinóticos. E depois de todos estarem saciados, sãos os discípulos que recolhem o que sobrou, para que nada se perca!

Ao longo do tempo, muitos se debruçaram sobre estes milagres da multiplicação dos pães, uns fixando-se mais no milagre da multiplicação, outros sobretudo no milagre da partilha. Mas seja qual for a acentuação, o milagre existe, sendo que é mais difícil a partilha que a multiplicação.

____________________________________________________________________________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): 2 Reis 4, 42-44; Sl 144 (145); Ef 4, 1-6; Jo 6, 1-15.

20.07.24

«Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco»

mpgpadre

1 – A fé não é uma realidade abstrata. A fé liga-nos aos outros, no tempo e no espaço, ao passado, aos nossos contemporâneos e ao futuro, aos que estão perto e aos que estão longe.

Com efeito, "o para sempre é feito de agoras" (Emily Dickinson). Se vivêssemos idealmente como seres espirituais, sem fronteiras nem limites, sem corpos nem encontros, não seríamos o que somos, seríamos anjos, logo não seríamos deste mundo.

Somos de carne e osso, situamo-nos no tempo e na história. A nossa vida não se dilui em intenções, generalizações, globalizações, sem identidade nem rosto. A vida é concretizável no nascer, na interação com os nossos pais, irmãos, família, com os vizinhos, com os colegas de escola, com os colegas de brincadeira, e de trabalho.

Quando Jesus fala, ainda que fale às multidões, quando Jesus age, ainda que o faça a favor da humanidade inteira, fixa os olhos em pessoas concretas, com quem dialoga, a quem abraça, a quem sorri…

Jesus é uma pessoa simples, acessível, está por perto, cuidando de nós. Os apóstolos foram enviados a pregar, a curar, a expulsar os demónios. Partiram em nome de Jesus para fazer o bem às pessoas que encontrassem necessitadas. Regressam. Entusiasmados com a missão, contam tudo a Jesus, confidenciam-lhe o que viveram. Também nós somos chamados a confidenciar a nossa vida a Jesus.

Depois de os ouvir com atenção, a preocupação muito "banal" e humana de Jesus: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». E São Marcos acrescenta: "De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém".

Mc6,30-34.jpg

2 – A delicadeza de Jesus ocupa por inteiro o Evangelho deste domingo. Depois da confidência dos apóstolos poderíamos esperar um belo discurso de Jesus, uma oração poética, mais perguntas ou mais recomendações. Jesus está atento aos seus amigos: vinde, descansai e comei, que bem precisais.

É uma delicadeza que se alarga à multidão.

"Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas".

Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Jesus interpreta os tempos. Há um tempo para alimentar o corpo. Não adianta pregar a estômagos vazios.

Há um tempo para refletir, para orar, para dar sentido à vida, para apalavrar a existência.

Há pessoas miseráveis a viver em palácios, há pessoas felizes a viver em favelas. Quem tem muito pode pensar que a felicidade não passa pelos bens, ainda que não os dispense nem os partilhe com quem nada tem. A fé compromete-nos na transformação do mundo, na luta contra as injustiças, na promoção das pessoas e na inclusão dos mais frágeis.

A palavra já existia, Ela está no início, Jesus é a Palavra (o Verbo) de Deus que Se faz carne, Se faz corpo. Sem palavra, não há vida. É pela Palavra que Deus cria o mundo. Jesus põe-se a ensinar aquela multidão cujas pessoas são como ovelhas sem pastor. Jesus fala-lhes de Deus. Fala do Amor que é Deus e que abraça cada um. Fala-lhes de esperança e vida nova. Desafia-os a fazer da vida um milagre.

 

3 – Jesus Cristo dá a Sua vida para nos congregar como povo santo: um só rebanho com um só pastor. Uma verdadeira família para Deus. Para que todos sejam Um como Eu e Tu somos Um (cf. Jo 17, 21) De todos os povos dispersos, Jesus forma o Seu corpo.

O sublinhado de São Paulo é ilustrativo: “Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava… Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito”.

O ponto de partida, o fundamento e o fim da nossa vida é a Santíssima Trindade.

________________________

Textos para a Eucaristia (B): Jer 23, 1-6; Sl 22 (23); Ef 2, 13-18; Mc 6, 30-34.

 

Reflexão Domincial COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.

06.07.24

De onde Lhe vem tudo isto?

mpgpadre

1 – A pessoa-outra será sempre um mistério imperscrutável. Os apóstolos fazem essa experiência acerca de Jesus e acerca uns dos outros. O evangelho de Marcos procura responder à questão "Quem é Jesus?" e à medida que o tempo avança os discípulos vão descobrindo novas facetas, pelo que Jesus diz, pelo que faz, mas também de acordo com a sensibilidade de cada um. Nenhum de nós consegue ser objetivo quando emitimos um juízo de valor sobre o outro. Por isso, a mesma pessoa é amada, é odiada e/ou é indiferente. Nesse caso depende mais de quem avalia.

O grupo dos apóstolos é constituído por pessoas muito diferentes entre si; na maioria, são pessoas simples, da classe média-baixa, trabalhadores, assalariados, talvez à exceção de Tiago e João cujo pai é dono de várias embarcações e tem a seu encargo outros trabalhadores. Olhando para a aparência, dificilmente nós daríamos alguma coisa por eles. O mais qualificado – no dizer de Augusto Cury, o único a ser aprovado pelo departamento de recursos humanos de qualquer empresa – seria Judas Iscariotes, que se tornou, primeiro, um dos discípulos mais próximos de Jesus e, depois, odiado e apontado pela traição ao Mestre sem o consequente arrependimento e conversão de vida, como aconteceu com os demais.

Jesus vai à terra que o viu crescer. Todos sabem quem é. Já sabem o que vale. O que ouviram dizer acerca d'Ele não deve corresponder ao que sabem d'Ele. Começam as dúvidas. Ou Ele faz algo de espetacular e acreditamos ou então não passa do filho de José e de Maria, cujos irmãos e irmãs vivem entre nós.

Sinagoga.jpg

2 – Os conterrâneos de Jesus acolhem-n’O com sentimentos diferentes.

O evangelho deixa-nos perceber que já chegaram ecos dos ditos e feitos de Jesus a Nazaré. Como bom filho à casa volta, Jesus deve sentir-se animado e descontraído, como nós, quando estamos com aqueles que cresceram connosco e nos conhecem bem, com quem brincamos, com quem participámos em festas, nas reuniões familiares e em trabalhos comuns! Jesus está em casa e no sábado seguinte vai à sinagoga. Nos dias anteriores, sem forçar o texto, poderemos concluir que Jesus distendeu com os seus discípulos em casa da família, dos amigos e dos vizinhos, entre refeições, afazeres, conversas animadas, e talvez explicando ao que vinha e o que se dizia.

Chegamos ao sábado, o dia do descanso, da oração e do louvor, do encontro com os outros e da festa em família! Assim deveriam ser os nossos domingos! Jesus cumpre, com os seus discípulos, e apresenta-Se na sinagoga, ensinando. A povoação está ali reunida. A primeira impressão é francamente positiva. As numerosas pessoas presentes estão admiradas com a sabedoria e os feitos de Jesus. Mas estão perplexas, estranhando como alguém dos deles e como eles se pode agora destacar tanto! Como e quando nos ultrapassou?

Não será o que acontece com os nossos amigos ou colegas de carteira? Um ou outro com quem estudamos e que nunca se destacou e, quando voltamos a encontrar-nos, verificamos que teve sucesso, deu-se bem na vida. Como reagimos? Com alegria ou remoendo por dentro por se ter dado melhor do que nós?

O texto sucinto de Marcos não nos permite saber exatamente o que se passou entre o momento de admiração dos ouvintes e a reação de Jesus, pois esta não se ajusta ao bom acolhimento que estava a ter. Mas pelas Suas palavras depreendemos que muitos terão ficado de pé atrás, sem se deixarem tocar pela fé e exigindo, como em outros momentos, que Jesus usasse de espetacularidade como se fosse uma espécie de mágico. Diz-lhes Jesus: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa».

E conclui o evangelista: "Não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores, ensinando". O verdadeiro milagre é o da conversão.

______________________

Textos para a Eucaristia (B): Ez 2, 2-5; Sal 122 (123); 2 Cor 12, 7-10; Mc 6, 1-6.

29.06.24

Deveis também sobressair nesta obra de generosidade

mpgpadre

       1 – Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos, como claramente o afirma Jesus (cf. Mc 12, 18-27), é Deus de Abraão, de Isaac e Jacob, de Moisés e Elias, de Isaías e Jeremias, é o Deus de nossos pais (cf. Atos 3,13), de João Batista e de Jesus Cristo. É a vida em abundância que Deus quer para aqueles que criou por amor e cuja vinda ao mundo do Seu Filho Jesus Cristo o explicita: Eu vim para que tenham a vida e a vida em abundância (Jo 10,10). É o bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, que carrega com as mais débeis aos ombros e que as conduz às melhores pastagens.

       A primeira leitura, do livro da Sabedoria, mostra esta certeza inabalável:

"Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos. Pela criação deu o ser a todas as coisas, e o que nasce no mundo destina-se ao bem. Em nada existe o veneno que mata, nem o poder da morte reina sobre a terra, porque a justiça é imortal. Deus criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da sua própria natureza. Foi pela inveja do Diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na aqueles que lhe pertencem".

       Como é que continua a perpassar a ideia que Deus é terrífico, sequioso de vingança, de sacrifício dos homens e das mulheres, que é um vigilante justiceiro, sempre pronto para destruir, para castigar, para exigir?!

       O texto inspirado da Sabedoria não poderia ser mais clarificador. Deus não se alegra com o sofrimento das pessoas. Quantas vezes o dizemos: Ele sofreu, logo temos de sofrer com paciência?! É urgente modificar o paradigma: Ele amou, até ao fim, gastando-Se por inteiro. "Amo, logo existo" (Pe. João André, Da minha janela). De que forma, hoje, aqui e agora (hic et nunc), posso amar melhor? Tudo o que Deus criou e nos confiou destina-se à vida e ao bem. Somos imagem e semelhança de Deus, pertencemos-Lhe. A nossa natureza liga-nos à eternidade, à vida em Deus.

       2 – Compreende-se, portanto, que a missão de Jesus seja salvar, envolver, curar, reabilitar, incluir e inserir na comunidade dos filhos de Deus, promover o bem, a verdade, a justiça, a conciliação entre todos, a solidariedade, a partilha efetiva e concreta de bens materiais e espirituais. A defesa dos mais desfavorecidos não procura desfavorecer os demais mas criar iguais oportunidades para que todos possam viver em abundância, sentindo-se filhos e herdeiros de Deus, irmãos, família, incluídos, parte importante da sociedade atual, responsáveis pelo mundo a que pertencem. Por conseguinte, muitas vezes se refere, no ponto concreto da relação entre pessoas e povos, que só é possível diálogo e concertação entre iguais, e não entre uma pessoa/povo credor e uma pessoa/povo sujeito de ajuda. Aí haverá domínio e imposição!

       Enquadram-se nesta dinâmica as curas narradas no Evangelho de São Marcos:

“Jesus olhou em volta, para ver quem O tinha tocado. A mulher, assustada e a tremer, por saber o que lhe tinha acontecido, veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade. Jesus respondeu-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou». Ainda Ele falava, quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga: «A tua filha morreu. Porque estás ainda a importunar o Mestre?». Mas Jesus, ouvindo estas palavras, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas; basta que tenhas fé»…

Ao entrar, perguntou-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu; está a dormir». Riram-se d’Ele. Jesus, depois de os ter mandado sair a todos, levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse: «Talita Kum», que significa: «Menina, Eu te ordeno: Levanta-te». Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos”. 

       No primeiro caso, uma mulher há muito afastada do convívio saudável, cujas maleitas físicas não lhe permitiam viver em sociedade, e integrar-se na vivência religiosa. A sua doença é também espiritual e "social". Vê-se obrigada a sobreviver. Jesus cura-a e integra-a. Doravante estará como igual na família e nas relações sociais e religiosas.

       No segundo caso, a certeza que Jesus vem salvar, redimir, devolver-nos a uma vida nova, pré-anunciada na ressurreição desta menina, ao mesmo tempo que dá tempo e vida a esta família. Ele está definitivamente do nosso lado. Caminha connosco. Também está connosco quando sofremos.

 

       3 – A vocação do cristão é seguir Jesus Cristo, imitá-l'O, acolhendo a vontade de Deus, fazendo com que seja o verdadeiro alimento, prosseguindo para se tornar perfeito e misericordioso como Deus, incluindo, sendo bênção para os outros, em palavras e em gestos, pela boca e pela vida, fazendo o que está ao seu alcance para acudir a todos, dando o melhor de si, comprometendo-se desde logo com as pessoas que Deus colocou à sua beira. Somos cristãos também em casa, ou sobretudo em casa, com a família. Como nos lembrava o Pregador da festa de São João, Pe. Giroto, por vezes somos pouco tolerantes e compreensivos para com aqueles estão mais perto, a família. Mas aí começa o testemunho e a veracidade da nossa fé e o seguimento de Jesus Cristo, prosseguindo para a vizinhança.

       Reflitamos, atenta e demoradamente, nas palavras do apóstolo São Paulo:

"Já que sobressaís em tudo – na fé, na eloquência, na ciência, em toda a espécie de atenções e na caridade que vos ensinámos – deveis também sobressair nesta obra de generosidade. Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza. Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros, mas sim de procurar a igualdade. Nas circunstâncias presentes, aliviai com a vossa abundância a sua indigência para que um dia eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância. E assim haverá igualdade, como está escrito: «A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou»".

       Mastiguemos bem, ruminemos estas palavras, abrindo-nos para o compromisso sério com os outros. É aqui que podemos e devemos intrometer-nos na vida dos outros. Somos guardas dos nossos irmãos. Somos corresponsáveis pela sua felicidade. A intromissão na vida alheia, para o cristão, vale apenas e quando há um claro empenho por ajudar, sem expor, por promover uma vida condigna e humana. Não podemos ser Abel nem Pilatos, não lavamos as mãos, não nos descartamos dos outros. É com os outros que vamos até ao Céu de Deus.


Textos para a Eucaristia: Sab 1, 13-15; 2, 23-24; 2 Cor 8, 7.9.13-15; Mc 5, 21-43.

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