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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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30.04.17

VL – O Jejum que Eu quero é a Misericórdia

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É mais importante não comer carne à sexta-feira ou ir à Missa ao Domingo?

Há tradições que são expressão da religiosidade mais popular. Mas, por vezes, parecem não passar de uma superstição entre outras como ver um gato preto, passar debaixo de uma escada, sentar-se a uma mesa com treze pessoas. É crucial não comer carne nas sextas-feiras da Quaresma porque é pecado e, pelo sim pelo não, mais vale prevenir e cumprir, não vá Deus chatear-Se. Temor sim, medo não. Deus ama-nos. É Pai de Misericórdia. Um Pai por certo não está à espera que o filho erre para o castigar, quando muito educa-o, dá-lhe ferramentas, aponta direções, caminhos…

Perguntam-me se comer carne às sextas-feiras da Quaresma é pecado! Apetecia-me responder: é mais importante ir à Missa ao Domingo. Uma pessoa não vai à Missa há dois ou três anos, só entra na Igreja num funeral, e depois pergunta se é pecado comer carne à sexta-feira? Claro que há muitas outras coisas essenciais, cuidar da família, comprometer-se com a justiça e com a verdade, ser honesto, ajudar os mais frágeis… Mas se falamos numa proposta feita pela Igreja, de abster-se de alguma coisa que se gosta muito, e que pode muito bem ser a carne, e que esse gesto (sacrifício) possa beneficiar uma causa, pessoas mais carenciadas, então talvez faça sentido interrogar-se sobre o que é essencial na vivência e expressão da fé!

Dois belíssimos textos no início da Quaresma. «Rasgai os vossos corações e não as vossas vestes, convertei-vos ao Senhor, vosso Deus, porque Ele é clemente e compassivo, paciente e rico em misericórdia» (Joel 2, 12-13). «O jejum que me agrada é este: libertar os que foram presos injus­tamente, livrá-los do jugo que levam às cos­tas, pôr em liberdade os oprimidos, quebrar toda a espécie de opres­são, repartir o teu pão com os esfo­meados, dar abrigo aos infelizes sem casa, atender e vestir os nus e não des­prezar o teu irmão» (Is 58, 6-7).

Pergunta o Papa Francisco: como se pode pagar um jantar de duzentos euros e depois fazer de conta que não se vê um homem faminto à saída do restaurante? «Sou justo, pinto o coração mas depois discuto, exploro as pessoas… Eu sou generoso, darei uma boa oferta à Igreja… diz-me: tu pagas o justo às tuas colaboradoras domésticas? Aos teus empregados pagas o salário não declarado? Ou como a lei estabelece, para que possam dar de comer aos filhos?».

Desafia Jesus: «Ide aprender o que significa: prefiro a misericórdia ao sacrifício» (Mt 9, 13).

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4405, de 28 de março de 2017

30.04.17

VL – Papa Francisco e as periferias no centro

mpgpadre

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Completam-se quatro anos da eleição do surpreende Cardeal Jorge Mario Bergoglio para a Cadeira de São Pedro. Com a escolha do nome, Francisco, na referência a São Francisco de Assis, a primeira marca do pontificado, a pobreza como caminho, “uma Igreja pobre para os pobres”, Igreja despojada ao serviço dos mais frágeis. Da América Latina, o papa argentino traz a teologia do povo, desligando a fé e a religião de qualquer tentativa de manipulação político-partidária. «A imagem da Igreja de que gosto é a do povo santo e fiel de Deus… Deus na história da salvação salvou um povo. Não existe plena identidade sem pertença a um povo. Ninguém se salva sozinho, como indivíduo isolado, mas Deus atrai-nos considerando a complexa trama de relações interpessoais que se realizam na comunidade humana. Deus entra nesta dinâmica do povo… E a Igreja é o povo de Deus a caminho na história, com alegrias e dores».

Cada Papa traz a sua marca espiritual, cultural, a sua riqueza pessoal, o seu amor à Igreja e a fidelidade a Jesus. Ao bom Papa João, que convocou o Concílio Vaticano II para “atualizar” o compromisso do Evangelho com o mundo, sucedeu o grande Papa Paulo VI, que concluiu o Concílio, enfrentando sérias dificuldades vincadas por uma cultura plural, livre, contestatária! Breve o pontificado de João Paulo I, mas significativo, o Papa do sorriso e da certeza de que Deus é Pai mas é mais Mãe. Logo o entusiasta João Paulo II, com a experiência de uma Igreja perseguida e silenciada, para uma presença global, nas viagens e nos meios de comunicação social, a ética, o corpo, a família, os jovens, a vida humana, a dignidade de cada pessoa. Pontificado mais curto, o do sábio Bento XVI, recentrando a Igreja e o mundo em Cristo, procurando fazer da Igreja a nossa casa, onde nos sentimos bem, atraindo outros para entrarem ou para regressarem, lançando pontes com a cultura e com a ciência. Há quatro anos, chegou a frescura de uma Igreja jovem, afetiva, próxima, vinda de uma região pobre… o Papa Francisco surpreendeu desde a primeira hora, com gestos de simplicidade, de alegria e de proximidade que continuam a conquistar pessoas.

Na primeira homilia, os propósitos: CAMINHAR, EDIFICAR, CONFESSAR: «Quando não se caminha, ficamos parados. Quando não se edifica sobre as pedras, que acontece? Acontece o mesmo que às crianças na praia quando fazem castelos de areia: tudo se desmorona, não tem consistência… Quando não se confessa Jesus Cristo, confessa-se o mundanismo do diabo, o mundanismo do demónio…».

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4403, de 14 de março de 2017

07.01.17

VL – Não deixeis que vos roubem a esperança

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       Expressão bem conhecida do Papa Francisco, dirigida aos jovens mas extensível a todos e proferida em diferentes ocasiões. Desafios semelhantes: no deixeis que vos roubem a alegria, o sonho, a vida, o futuro. Desafios que convocam à militância, a não baixar os braços, a não desistir diante das adversidades. A referência é sempre Cristo e a alegria do Seu Evangelho. Jesus está envolvido nos momentos mais adversos: situações de pecado e sofrimento, de exclusão e injustiça. Torna-Se Ele mesmo vítima do preconceito (religioso) e do fanatismo, vítima dos interesses instalados e da recusa da novidade.

       Ao iniciarmos um novo ano civil este é um grito veemente a não nos deixarmos sucumbir pelas desgraças, pelas notícias constantes de violência gratuita, de corrupção, de abusos de poder, de tráfico de pessoas e de órgãos humanos, da sobrevalorização da economia sobre a política – economia que mata, que pensa em termos percentuais, em margens de lucro, em produtividade, menos pessoas, menos gastos, mais dinheiro, mais poder –, devastação ambiental, terrorismo, abusos sobre migrantes e refugiados.

       Na Sua Mensagem para o Dia Mundial da Paz (1 de janeiro de 2017), o Papa identifica a dilaceração do mundo: violência feita «aos pedaços». Ao diagnóstico, todavia, contrapõe a esperança, lembrando que o próprio Jesus viveu em tempos de violência. Há uma batalha a travar desde logo dentro do coração humano. Com efeito, “a resposta que oferece a mensagem de Cristo é radicalmente positiva: Ele pregou incansavelmente o amor incondicional de Deus, que acolhe e perdoa, e ensinou os seus discípulos a amar os inimigos (cf. Mateus 5, 44) e a oferecer a outra face (cf. Mateus 5, 39)… Quem acolhe a Boa Nova de Jesus sabe reconhecer a violência que carrega dentro de si e deixa-se curar pela misericórdia de Deus, tornando-se assim, por sua vez, instrumento de reconciliação, como exortava São Francisco de Assis: «A paz que anunciais com os lábios, conservai-a ainda mais abundante nos vossos corações».

       Não deixeis que vos roubem a esperança. A esperança é vida. Morremos a partir do momento em que deixamos de ter esperança. Não é uma esperança vã, mas uma esperança que vem de Deus e que Se manifesta plenamente em Jesus Cristo. É aquela chama que não se apaga e mesmo que não elimine todas as trevas aponta uma direção, um caminho, é um lampejo de luz que não nos deixa desistir. A esperança não anula as dificuldades, mas dá-nos o ânimo para prosseguir lutando por um mundo mais humano.

 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4393, de 3 de janeiro de 2017

08.10.16

Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou

mpgpadre

1 – O discípulo de Jesus sabe agradecer tudo quanto de bom lhe é dado da parte do Senhor. A gratidão, com efeito, é o caminho da humildade de quem se reconhece mendigo, pronto para aprender, para acolher o bem que vem dos outros, disponível para mudar o que é necessário para se tornar transparência e testemunha de Jesus Cristo.

Só a humildade nos faz santos. A santidade constrói-se no serviço humilde e dedicado ao seu semelhante, sob a bênção de Deus.

O Evangelho faz-nos ver o caminho de Jesus, que não segue alheado de quem O rodeia, de quem Se aproxima, de quem pede ajuda, de quem nem sequer pede ajuda porque não tem forças ou porque tem vergonha. Desvia-se do caminho para a periferia, para das margens para os recuperar para a vida, para o centro.

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2 – No Evangelho, 10 leprosos aproximam-se o suficiente para se fazerem ver e ouvir por Jesus. Daqui se infere que a fama de Jesus se espalhara. Os leprosos não se aproximam de um ídolo, de uma estrela, mas de Alguém cuja docilidade, delicadeza, proximidade atrai.

A lepra é um estigma social. Os leprosos são mantidos à distância, isolados, deixados de fora… pelo sim pelo não, há que afastar as pessoas "contagiadas" para não contagiarem os outros.

Jesus não só não Se afasta como Se aproxima. Os leprosos disseram em alta voz – «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». Jesus simplesmente lhes diz: «Ide mostrar-vos aos sacerdotes». Jesus não precisa de levantar voz, está perto. Levantamos a voz quando estamos distantes, fisicamente, ou quando os nossos corações estão afastados.

A ordem de Jesus implica os próprios. O milagre acontece quando se colocam a caminhar. Ensimesmados adoecemos. Basta quem tem mobilidade reduzida. Mexamo-nos pela nossa saúde. Prefiro uma Igreja acidentada por sair, que uma Igreja doente, com mofo, estagnada por não sair. Palavras bem conhecidas do Papa Francisco.

 

3 – Quando se põem a caminho, os 10 leprosos ficam curados. Como reagem? "Um deles, ao ver-se curado, voltou atrás, glorificando a Deus em alta voz, e prostrou-se de rosto em terra aos pés de Jesus, para Lhe agradecer. Era um samaritano".

É um samaritano, um estrangeiro que regressa, louva a Deus e agradece a Jesus. Talvez não considere que Jesus seja Deus, mas reconhece que Deus Se manifestou através de Jesus. O dom que recebeu leva-o à precedência, à origem da dádiva.

A reação de Jesus é espontânea: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?». E disse ao homem: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou».


Textos para a Eucaristia (C): 2 Reis 5, 14-17; Sl 97 (98); 2 Tim 2, 8-13; Lc 17, 11-19.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

25.08.16

VL – A luz que ilumina também encandeia

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       “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de som­bras, mas uma luz brilhou sobre eles” (Is 9, 1). Este texto do profeta Isaías é lido e relido no Natal, sublinhando que Jesus é essa LUZ: “O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina... E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1, 4-5.9). Jesus é Luz que ilumina todo o homem! Logo acrescenta São João: nem todos se abrem à Luz verdadeira.
       Jesus vem libertar-nos de toda a espécie de escravidão, das superstições, do medo em relação às forças da natureza e a um Deus-Juiz iníquo, pondo a descoberto também aqueles que em nome da política ou da religião usurpam o lugar de Deus e espezinham aqueles que deveriam ajudar e servir.
       Jesus traz esperança. Devolve a dignidade às pessoas. Dá coragem aos mais frágeis para não desistirem dos seus sonhos e lutarem pelos seus direitos. O obstáculo nunca poderá ser Deus, que é Pai. Deus não pode ser nem desculpa nem justificação para amordaçar, para controlar, para subjugar, para agredir, para matar. Jesus leva até ao fim este propósito. Morre por amor, para nos libertar, para nos devolver por inteiro à nossa filiação divina, com a força de nos irmanar.
       O mundo ocidental levou tempo a assimilar esta mensagem libertadora e luminosa. A cristandade viveu momentos de trevas, de preconceito, sob ameaças do inferno. Contudo, a revolução francesa como a globalização cultural, as democracias modernas como a luta pela igualdade entre os géneros foram possíveis num mundo amplamente cristianizado.
       Hoje convivem no mundo judaico-cristão pessoas de todas as cores, raças, culturas, religiões. Verificou-se, porém, que o chão que se tinha como cristão permitiu duas guerras mundiais, a crise económico-financeira, que tem sacrificado milhões de pessoas, a crise dos refugiados, os atos terroristas. Não a LUZ mas as trevas. A luz não leva ao mal, mas o mal pode querer de regresso as trevas, a desconfiança, o medo, o preconceito. É um medo que se espalha pela violência gratuita perpetrada por interesses encapotados, como sublinhou o Papa Francisco, a caminho das Jornadas Mundiais da Juventude, na Polónia: encontramo-nos em guerra, mas não de religiões, mas de interesses estranhos e egoístas.
       O mal não vem da LUZ. Esta pode erradicar as trevas. Todavia, pode encandear aqueles que vivem nas trevas. As obras das trevas desejam trevas.
 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4374, de 2 de agosto de 2016

23.08.16

VL - Paciência que gera vida. Paciência pró-ativa - 2

mpgpadre

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       Na Exortação Apostólica «Amoris Laetitia», o Papa Francisco, fala da pressa e da ansiedade que destrói e da necessidade de educar a paciência, a espera. Tudo tem o seu tempo e seu lugar. Apressar não permite saborear a vida nem o caminho a percorrer. Ter tudo de mão beijada, sem esforço e sem sabor. Daí a vacuidade de tantas vidas, pois tudo acaba por não ter sentido. Rápido chega e rápido se perde. Já dizem os mais velhos, o que não custa a ganhar não custa a gastar! Assim também a vida, o que não exige esforço e dedicação logo se desvaloriza.
       «Na época atual, em que reina a ansiedade e a pressa tecnológica, uma tarefa importantíssima das famílias é educar para a capacidade de esperar. Não se trata de proibir as crianças de jogarem com os dispositivos eletrónicos, mas de encontrar a forma de gerar nelas a capacidade de diferenciarem as diversas lógicas e não aplicarem a velocidade digital a todas as áreas da vida».
       De forma ponderada, sem dogmatismos, mas firme e desafiador: «O adiamento não é negar o desejo, mas retardar a sua satisfação. Quando as crianças ou os adolescentes não são educados para aceitar que algumas coisas devem esperar, tornam-se prepotentes, submetem tudo à satisfação das suas necessidades imediatas e crescem com o vício do ‘tudo e súbito’. Este é um grande engano que não favorece a liberdade; antes, intoxica-a. Ao contrário, quando se educa para aprender a adiar algumas coisas e esperar o momento oportuno, ensina-se o que significa ser senhor de si mesmo, autónomo face aos seus próprios impulsos. Assim, quando a criança experimenta que pode cuidar de si mesma, enriquece a própria autoestima. Ao mesmo tempo, isto ensina-lhe a respeitar a liberdade dos outros. Naturalmente isto não significa pretender das crianças que atuem como adultos, mas também não se deve subestimar a sua capacidade de crescer na maturação duma liberdade responsável. Numa família sã, esta aprendizagem realiza-se de forma normal através das exigências da convivência».
       É conhecida a estória da laranja. Leva tempo até amadurecer. Pode ter o tamanho de uma laranja e ter uma cor aproximada do que será no final. Mas é insuficiente, se por dentro continuar verde. Será intragável. A laranja leva o seu tempo, a crescer, a amadurecer, precisa de sol e de chuva, como outros frutos, e de tempo. Mesmo que se expusesse a mais calor, não amadurecia nem produziria mais sumo. Há um tempo para tudo.
 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4364, de 24 de maio de 2016

23.08.16

VL - Paciência que gera vida. Paciência pró-ativa - 3

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       “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; habitavam numa terra de som­bras, mas uma luz brilhou sobre eles” (Is 9, 1). Este texto do profeta Isaías é lido e relido no Natal, sublinhando que Jesus é essa LUZ: “O Verbo era a Luz verdadeira, que, ao vir ao mundo, a todo o homem ilumina... E a Vida era a Luz dos homens. A Luz brilhou nas trevas, mas as trevas não a receberam” (Jo 1, 4-5.9). Jesus é Luz que ilumina todo o homem! Logo acrescenta São João: nem todos se abrem à Luz verdadeira.
       Jesus vem libertar-nos de toda a espécie de escravidão, das superstições, do medo em relação às forças da natureza e a um Deus-Juiz iníquo, pondo a descoberto também aqueles que em nome da política ou da religião usurpam o lugar de Deus e espezinham aqueles que deveriam ajudar e servir.
       Jesus traz esperança. Devolve a dignidade às pessoas. Dá coragem aos mais frágeis para não desistirem dos seus sonhos e lutarem pelos seus direitos. O obstáculo nunca poderá ser Deus, que é Pai. Deus não pode ser nem desculpa nem justificação para amordaçar, para controlar, para subjugar, para agredir, para matar. Jesus leva até ao fim este propósito. Morre por amor, para nos libertar, para nos devolver por inteiro à nossa filiação divina, com a força de nos irmanar.
       O mundo ocidental levou tempo a assimilar esta mensagem libertadora e luminosa. A cristandade viveu momentos de trevas, de preconceito, sob ameaças do inferno. Contudo, a revolução francesa como a globalização cultural, as democracias modernas como a luta pela igualdade entre os géneros foram possíveis num mundo amplamente cristianizado.
       Hoje convivem no mundo judaico-cristão pessoas de todas as cores, raças, culturas, religiões. Verificou-se, porém, que o chão que se tinha como cristão permitiu duas guerras mundiais, a crise económico-financeira, que tem sacrificado milhões de pessoas, a crise dos refugiados, os atos terroristas. Não a LUZ mas as trevas. A luz não leva ao mal, mas o mal pode querer de regresso as trevas, a desconfiança, o medo, o preconceito. É um medo que se espalha pela violência gratuita perpetrada por interesses encapotados, como sublinhou o Papa Francisco, a caminho das Jornadas Mundiais da Juventude, na Polónia: encontramo-nos em guerra, mas não de religiões, mas de interesses estranhos e egoístas.
       O mal não vem da LUZ. Esta pode erradicar as trevas. Todavia, pode encandear aqueles que vivem nas trevas. As obras das trevas desejam trevas.
 
Publicado na Voz de Lamego, n.º 4374, de 2 de agosto de 2016

02.07.16

Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos!

mpgpadre

1 – Seguir Jesus é a vocação primeira do cristão. Sem pausas nem descanso. Segui-l'O em todas as circunstâncias.

Para O seguir e para O imitar, para O viver e O anunciar é necessário abrir-Lhe o coração e a vida para que Ele nos habite e nos transforme, nos converta e nos redima. Não é possível amar o que não se conhece. O conhecimento é um primeiro passo para amar. Quanto mais se amar mais se quer conhecer e quanto mais se conhecer maior a possibilidade de amar a pessoa e não uma imagem da mesma.

A oração é o ambiente natural para saber quem é Jesus para nós. A oração, a escuta, a meditação da palavra de Deus. O cristão, como a Igreja, deve ter a consciência da sua identidade lunar. Jesus Cristo é o nosso Sol. Somos embaixadores e não chefes de estado. O embaixador não se comunica, mas comunica o seu povo. Somos de Cristo. Somos cristãos. Sermos embaixadores de Jesus é um compromisso, para que Cristo viva em nós e através de nós chegue a todo o mundo.

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2 – Somos discípulos missionários. Expressão que ganhou corpo na Assembleia Geral do Episcopado da América Latina e Caribe, em 2007, em Aparecida, no Brasil, sob o tema "Discípulos e missionários de Jesus Cristo, para que nele nossos povos tenham vida".

Bento XVI, no discurso inaugural, clarificou a estreita ligação: "O discípulo, fundamentado assim na rocha da Palavra de Deus, sente-se impelido a anunciar a Boa Nova da salvação aos seus irmãos. Discipulado e missão são como os dois lados de uma mesma medalha: quando o discípulo está apaixonado por Cristo, não pode deixar de anunciar ao mundo que somente Ele nos salva (cf. Atos 4, 12)… o discípulo sabe que sem Cristo não há luz, não existe esperança, não há amor e não existe futuro".

O Papa Francisco, relator-presidente de Aparecida, utiliza amiúde esta expressão, muitas vezes sem a conjunção aditiva "e", acentuando o perigo da autorreferencialidade do cristão e da Igreja. O centro, o SOL, é Jesus Cristo. Devemos d'Ele aprender a vida e o amor, a verdade e o serviço. Discípulos. Para O darmos aos outros, levando a todos os Evangelho de Jesus. Missionários. Não podemos ser missionários se não formos verdadeiros discípulos do Senhor. Sendo discípulos autênticos procuraremos imitá-l’O e como Ele anunciar a Boa Nova a todos. A luz que nos habita não se pode esconder.

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3 – "Ide: Eu vos envio como cordeiros para o meio de lobos. Não leveis bolsa nem alforge nem sandálias, nem vos demoreis a saudar alguém pelo caminho". Para seguir Jesus é necessário deixarmos de lado todos os acessórios que nos pesam. Ele envia-nos. Ele não nos chama para ficarmos instalados à sombra da bananeira, mas para irmos ao encontro dos outros. Por aldeias e cidades. De coração a coração. Não há desculpas nem justificações. "Quem tiver lançado as mãos ao arado e olhar para trás não serve para o reino de Deus". Podemos adiar, arranjar outras coisas que fazer, mas serão sempre passatempos, porque a missão é seguir Jesus e dá-l'O aos outros.

"Quando entrardes nalguma casa, dizei primeiro: ‘Paz a esta casa’… Ficai nessa casa, comei e bebei do que tiverem, que o trabalhador merece o seu salário. Não andeis de casa em casa". Não é uma mensagem qualquer que levamos, mas o próprio Jesus. Só Ele conta. Vamos para levar a Sua paz e bênção e salvação.

"Quando entrardes nalguma cidade e não vos receberem, saí à praça pública e dizei: ‘Até o pó da vossa cidade que se pegou aos nossos pés sacudimos para vós. No entanto, ficai sabendo: Está perto o reino de Deus’”. A fé não se impõe, propõe-se. Façamos o que nos compete: anunciar o Reino de Deus e a Sua proximidade. Deus fará o resto.

________________________

Textos para a Eucaristia (C): 1 Reis 19, 16b. 19-21; Sl 15 (16); Gal 5, 1. 13-18; Lc 9, 51-62.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

04.06.16

Jovem, Eu te ordeno: levanta-te.

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1 – "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos" (Lc 4, 18-19). "O Filho do Homem veio procurar e salvar o que estava perdido" (Lc 19, 10).

No início da Sua vida pública, na sinagoga de Nazaré, e no encontro com Zaqueu, vem ao de cima o propósito e a missão de Jesus: salvar, redimir, curar, ungir, recuperar, libertar. São dois exemplos, mas o evangelho está repleto de encontros, de gestos e de palavras de Jesus que assomam a misericórdia de Deus.

 

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2 – A América Latina desenvolveu a Teologia da Libertação, consagrando a opção preferencial pelos pobres, procurando responder às situações reais de pobreza e exclusão social. Um dos riscos é reduzir a fé a puro marxismo, com recurso aos mesmos instrumentos que as estruturas político-partidárias, criando novas divisões.

Na Argentina, uma acentuação diferente, reconhecida como Teologia do Povo, sob patrocínio do papa Paulo VI. Os pobres são parte da solução. O Beato Óscar Romero, em São Salvador, perfilha a opção preferencial pelos mais pobres, em lógica de libertação integral, na abertura ao transcendente. Não se podem mudar as estruturas sem a conversão, sem mudar os corações. Prefere a Teologia da Salvação. Cristo, pela Sua cruz, redime o homem todo.

Em Aparecida, 5.ª Assembleia Geral dos Bispos da América Latina e Caribe, o Cardeal Bergoglio (Papa Francisco) coordenou o Documento Final, renovou o compromisso social, sob alegria e força do Evangelho, contando com os excluídos, pobres, escravos, prostitutas, crianças de rua, explorados e espoliados, mulheres, toxicodependentes, na transformação da realidade, partilhando as alegrias e as tristezas, empenhando-se solidariamente uns com os outros, lutando pela justiça, pela libertação integral, pelos direitos fundamentais, procurando viver ao jeito de Jesus, anunciando-O em todas as situações.

O Papa Bento XVI colocou em evidência a fundamentação cristológica da Teologia da Libertação. Cristo vem salvar a humanidade e libertar-nos de todas as amarras da escravidão. O modo de ser e de agir de Jesus funda e fundamenta o compromisso dos cristãos.

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3 – O Evangelho hoje proclamado mostra-nos a sensibilidade e o agir de Jesus, sobressaindo a compaixão e a ternura como marcas constantes do Seu ministério de salvação.

À entrada de uma cidade chamada Naim, Jesus depara-se com um funeral, uma viúva que chora pela morte do seu filho único. Além da profunda tristeza pela morte do seu filho, também o desamparo em que se encontra, por ser viúva. Naquele tempo não havia segurança social ou outro tipo de apoio instituído. Poderia ter a dita de ser acolhida pela família do marido ou por algum dos seus irmãos, já que a esperança média de vida leva a supor que já não teria pais ou os teria por pouco tempo e cujo património passaria para os irmãos. O filho garantiria a sobrevivência, a proteção, o património. A viuvez, sem descendência, expõe-se à pobreza e à mendicidade.

"Ao vê-la, o Senhor compadeceu-Se dela". Esta não é uma atitude isolada, mas o sentir constante de Jesus perante situações de pobreza, doença, isolamento social. Dirigindo-se a ela, diz-lhe: «Não chores». Aproxima-se e toca no caixão, dizendo: «Jovem, Eu te ordeno: levanta-te». O morto sentou-se e começou a falar; e Jesus entregou-o à sua mãe.

Situemo-nos junto de Jesus e daquela Mãe. Que sentimos quando a vemos a torcer-se de sofrimento? Como vemos os gestos e as palavras de Jesus? Como lidamos com o sofrimento de alguém que nos é próximo? Aproximamo-nos e ajudamos o outro a levantar-se?

Com Jesus, Deus visita o seu povo! Como podemos agir para que através de nós Deus possa visitar a nossa família, os nossos colegas de trabalho, os nossos amigos?

_______________________

Textos para a Eucaristia (C): 1 Reis 17, 17-24; Sal 29 (30); Gal 1, 11-19; Lc 7, 11-17.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

10.05.16

Dizer bem de uns sem dizer mal dos outros

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Durante a Sua vida pública, Jesus vai, anuncia, cura, expulsa os demónios, aproxima-Se das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações de exclusão ou com a vida hipotecada, pobres, doentes, publicanos, crianças, mulheres, pessoas do campo, pecadores, ou deixa que se aproximem, para O escutarem, para beneficiarem da Sua bênção e, por vezes, para Lhe armarem ciladas.

Os discípulos estão por perto. Escutam-n’O, fazem perguntas, ouvem explicações mais detalhadas. São também destinatários das Suas palavras, com chamadas de atenção, reprimendas (sobretudo quando discutem lugares de poder), desafios. Vivem com Ele, veem a Sua postura, a forma como Se dá por inteiro, como fala, a Sua docilidade, a facilidade com que Se relaciona com as pessoas de todos os estratos sociais e a Sua opção preferencial pelos mais “pequenos”: os excluídos dos reinos deste mundo, a quem convida para a Sua mesa e a quem primeiro abre as portas do Reino de Deus.

Há de chegar o dia em que Ele já não estará fisicamente entre os Seus discípulos. Estará para sempre presente pela Palavra proclamada e vivida, no Seu Corpo mistérico que é a Igreja, do qual somos membros, pelos sacramentos, mas também através de nós e da nossa capacidade de O transparecermos. É o que Ele diz aos Seus discípulos daquele tempo histórico. Estagiam com Ele. Envia-os dois a dois, com o poder de curar e expulsar demónios, anunciando a proximidade do Reino dos Céus. Como viram Jesus fazer, devem reproduzir criativamente a Sua mensagem e o Seu poder misericordioso.

Um dia, ao regressaram, contam a Jesus que viram alguém a expulsar demónios em Seu nome e quiseram impedi-lo por não fazer parte do grupo. São surpreendidos, e nós também, pelo Mestre da Docilidade: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim. Quem não é contra nós é por nós» (Mc 9, 39-40).

É possível dizer bem de alguém sem necessidade de dizer mal dos outros. É possível gostar e dizer bem do Papa Francisco, gostando e dizendo bem do Seu Predecessor, Bento XVI. Infelizmente, muitos precisam de dizer mal de um para mostrarem que gostam mais do outro. Assim também em muitas dimensões da vida, na política, no desporto, com aqueles que pertencem aos mesmos grupos que nós, mesmo intraeclesiais.

Ainda estamos longe de transparecer Jesus e o Seu Evangelho da Delicadeza. Podemos lá chegar, ponhamo-nos a caminho!

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4359, de 19 de abril de 2016

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