«Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco»
1 – A fé não é uma realidade abstrata. A fé liga-nos aos outros, no tempo e no espaço, ao passado, aos nossos contemporâneos e ao futuro, aos que estão perto e aos que estão longe.
Com efeito, "o para sempre é feito de agoras" (Emily Dickinson). Se vivêssemos idealmente como seres espirituais, sem fronteiras nem limites, sem corpos nem encontros, não seríamos o que somos, seríamos anjos, logo não seríamos deste mundo.
Somos de carne e osso, situamo-nos no tempo e na história. A nossa vida não se dilui em intenções, generalizações, globalizações, sem identidade nem rosto. A vida é concretizável no nascer, na interação com os nossos pais, irmãos, família, com os vizinhos, com os colegas de escola, com os colegas de brincadeira, e de trabalho.
Quando Jesus fala, ainda que fale às multidões, quando Jesus age, ainda que o faça a favor da humanidade inteira, fixa os olhos em pessoas concretas, com quem dialoga, a quem abraça, a quem sorri…
Jesus é uma pessoa simples, acessível, está por perto, cuidando de nós. Os apóstolos foram enviados a pregar, a curar, a expulsar os demónios. Partiram em nome de Jesus para fazer o bem às pessoas que encontrassem necessitadas. Regressam. Entusiasmados com a missão, contam tudo a Jesus, confidenciam-lhe o que viveram. Também nós somos chamados a confidenciar a nossa vida a Jesus.
Depois de os ouvir com atenção, a preocupação muito "banal" e humana de Jesus: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». E São Marcos acrescenta: "De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém".
2 – A delicadeza de Jesus ocupa por inteiro o Evangelho deste domingo. Depois da confidência dos apóstolos poderíamos esperar um belo discurso de Jesus, uma oração poética, mais perguntas ou mais recomendações. Jesus está atento aos seus amigos: vinde, descansai e comei, que bem precisais.
É uma delicadeza que se alarga à multidão.
"Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas".
Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Jesus interpreta os tempos. Há um tempo para alimentar o corpo. Não adianta pregar a estômagos vazios.
Há um tempo para refletir, para orar, para dar sentido à vida, para apalavrar a existência.
Há pessoas miseráveis a viver em palácios, há pessoas felizes a viver em favelas. Quem tem muito pode pensar que a felicidade não passa pelos bens, ainda que não os dispense nem os partilhe com quem nada tem. A fé compromete-nos na transformação do mundo, na luta contra as injustiças, na promoção das pessoas e na inclusão dos mais frágeis.
A palavra já existia, Ela está no início, Jesus é a Palavra (o Verbo) de Deus que Se faz carne, Se faz corpo. Sem palavra, não há vida. É pela Palavra que Deus cria o mundo. Jesus põe-se a ensinar aquela multidão cujas pessoas são como ovelhas sem pastor. Jesus fala-lhes de Deus. Fala do Amor que é Deus e que abraça cada um. Fala-lhes de esperança e vida nova. Desafia-os a fazer da vida um milagre.
3 – Jesus Cristo dá a Sua vida para nos congregar como povo santo: um só rebanho com um só pastor. Uma verdadeira família para Deus. Para que todos sejam Um como Eu e Tu somos Um (cf. Jo 17, 21) De todos os povos dispersos, Jesus forma o Seu corpo.
O sublinhado de São Paulo é ilustrativo: “Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava… Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito”.
O ponto de partida, o fundamento e o fim da nossa vida é a Santíssima Trindade.
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Textos para a Eucaristia (B): Jer 23, 1-6; Sl 22 (23); Ef 2, 13-18; Mc 6, 30-34.
Reflexão Domincial COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.