Não façais da casa de meu Pai casa de comércio!
1 – Existe a sensação que nada é sagrado, nem a própria vida!
O Templo deveria ser lugar de encontro, de fé e de festa, espaço sagrado de encontro do homem com Deus, mas tornou-se oportunidade de negócio, sobretudo por ocasião das festas, com inflação dos preços dos animais para os sacrifícios, mas também a usura no câmbio das moedas para o pagamento do imposto anual ao Templo.
O comércio floresce à volta dos grandes centros religiosos. Para acolher os peregrinos são necessárias estruturas, espaços para pernoitar, para comer, lojas de recordações. Isso beneficia a economia, gera empregos, envolve pessoas e famílias. Em épocas altas, porém, os preços aumentam considerável e até abusivamente. Assim terá sido em Fátima por ocasião da Visita do Papa Francisco.
É muito difícil colocar limites “arquitetónicos”. Alguns comerciantes eram bem capazes de retirar o altar e colocar lá a banca. Felizmente que a criação de regras permite uma relação mais saudável entre os lugares sagrados e os espaços comerciais.
Por outro lado, antigamente as igrejas funcionavam como asilo para os fugitivos e como albergue para os mendigos. Hoje são assaltadas, vandalizadas e usadas para protestos, para difundir ideologias ou princípios contrários à Igreja e ao cristianismo.
2 – Jesus vai ao Templo de Jerusalém. Havia, com efeito, um lugar reservado aos cambistas e aos vendedores de ovelhas e de pombas. Jesus sabia disso. Então porquê esta reação? A exploração dos peregrinos por parte dos comerciantes. Os mais indefesos são os mais pobres, simples e sem estudos, mas com grande devoção e piedade, cumprindo generosamente nas ofertas para o Templo.
«Tirai tudo isto daqui; não façais da casa de meu Pai casa de comércio». Já várias vezes Jesus tinha mostrado a Sua estranheza em relação à postura das autoridades religiosas e políticas, aos abusos de poder, ao autoritarismo, à corrupção, à inversão do que deveria ser um dirigente. Sobreavisa os Seus discípulos para a tentação do poder sobre os demais. O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida por todos. Como Eu fiz, fazei-o vós uns aos outros. Quem quiser ser o primeiro seja o último, o servo de todos. É esta a lógica de Jesus. O serviço e o amor como único poder para quem quiser ser Seu discípulo.
3 – Este episódio é conhecido como expulsão dos vendilhões do Templo, mas também como Purificação do Templo, indiciando o início de um novo culto. Este far-se-á em espírito e verdade. Jesus será o novo Templo e n’Ele o culto novo.
Nos evangelhos sinóticos, Marcos, Mateus e Lucas, o episódio situa-se depois da entrada triunfal em Jerusalém e parece ser a gota de água que faltava para decisão final: Jesus tem que ser eliminado!
No evangelho joanino, o episódio aparece no início da vida pública, dando a entender a consciência de Jesus, desde a primeira hora, do que está para acontecer: «Destruí este templo e em três dias o levantarei». Intuindo a própria morte, Jesus anuncia já a ressurreição.
Perplexidade: o Templo demorou 46 anos a construir, como é que Alguém poderá reconstruí-lo em três dias?! Seria uma loucura. Depois da ressurreição, os discípulos vão compreender que Ele falava do Seu corpo! O Templo é Jesus, lugar para o verdadeiro e definitivo culto, lugar privilegiado para o encontro com Deus. Pela história, o culto celebrar-se-á no Seu Corpo Místico, a Igreja.
Deus está em toda a parte e não pode ser encerrado dentro de um edifício ou de um santuário, mas sem o sagrado também não há presença, não há sacramento. É como o amor! Ama-se no concreto, pessoas concretas. Amar toda a gente é filosofia barata, é amar ninguém. Por outro lado, o amor não se vê, mas expressa-se em gestos, em palavras, em atitudes. Assim também o nosso encontro com Deus. Quando nada é sagrado, também deixa de haver lugar para Deus. Agora nem na manjedoura!
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço