41. OUVIR, FALAR, AMAR.
OUVIR, FALAR, AMAR.
A Compreensão é a única força de mudança.
Hoje partimos do título de um livro da conhecida jornalista e escritora Laurinda Alves, à conversa com o Pe. Alberto Brito, sacerdote jesuíta (sj), edição da Oficina do Livro. É um dos livros que recomendámos nas nossas notas do facebook.
A Laurinda Alves não precisa de apresentação, mas para quem desconhece pode sempre consultar o seu blogue pessoal: Laurinda Alves - A Substância da Vida.
O Pe. Alberto Brito orientou - esta é uma nota mais pessoal -, o nosso retiro de diaconal e sacerdotal. Melhor dizendo, em Agosto de 1998, eu, e os colegas padres, António José Ferreira, Leontino Alves, e José Manuel Correia, realizamos o retiro de preparação para "recebermos" os sacramentos da Ordem, eu de Diácono e eles de Presbítero, ainda que os 4 sejamos do mesmo curso de Seminário, mas por opção adiei um pouco mais...
Lembro-me perfeitamente de uma das conversas finais, na casa dos Jesuítas em Braga, com o Pe. Alberto. Disse-lhe claramente, e no que dizia respeito a avançar para o sacerdócio, que não tinha tirados dúvidas, pelo contrário, levava/trazia mais dúvidas, mais questões. Ao que ele respondeu - corresponde a respostas dadas também no livro/entrevista com Laurinda Alves -, que não tinha mal, por que as dúvidas me acompanhariam ao longo de toda a vida e que era benéfico quando as pessoas se interrogam, mesmo que não tenham respostas para tudo. Mas mesmo que as dúvidas persistam, a maturidade levar-nos-á a tomar uma opção. Sem medo.
Deixemos esta perspetiva mais pessoal (mas se calhar foi uma das razões que mais rapidamente me levaram a decidir comprar o livro, embora seja leitor da Laurinda Alves), para nos fixarmos nestas três palavras, ou três realidades importantes na nossa vida.
Ouvir/escutar, "porque ouvir os outros é a maior escola da vida". Escutar com o coração, prestar atenção não apenas ao que a pessoa diz e à sua história de vida, mas à pessoa em si mesma. Diz o Pe. Alberto que se nos fixarmos apenas nas histórias das pessoas e não nas pessoas, ficamo-nos pela fofoquice. Ficar-nos-íamos pelo ouvir, como se estivéssemos a ouvir um rádio e não uma pessoa concreta.
Falar. É assim que a comunicação acontece, é "a comunicar e a dialogar que nos entendemos e que se constroem relações". Temos uma boca e duas orelhas/ouvidos. Escutámos com interesse, a história da pessoa, mas sobretudo escutar com atenção o que a pessoa é, o que a pessoa sente, o que a pessoa vive, ouvindo o seu grito, o seu desabafo, acolhendo a sua partilha. Pode não ser fácil... queremos falar mais que escutar... queremos que alguém nos escute, nos compreenda, que por vezes esgotámos o tempo com as nossas palavras e não escutámos a pessoa que está diante de nós, como apelo e desafio. Quem não ouve, ou não quer ouvir, corre o sério risco de ficar a falar sozinho.
Amar, "porque é a partir da aceitação de nós próprios e dos outros que tudo é possível". Escutámos a pessoa, comunicamo-nos como irmãos, para acolhermos e aceitarmos os outros, aceitando-nos também a nós como pessoas, cidadãos, filhos de Deus. Como diz o Pe. Alberto, o que nos separa e divide não são as ideias ou as crenças, mas os sentimentos. O maior desejo do ser humano, de todo o ser humano, é amar e ser amado. E o maior medo é ser rejeitado pelo(s) outro(s). A escuta e a comunicação visam aproximar-nos dos outros, com amor, com paixão, celebrando a vida.
Enquadra-se aqui outra realidade: a compreensão. "As pessoas quando se sentem compreendidas, mudam". É o que pode resultar da escuta que ama, das palavras que se tornam comunicação amistosa, dos sentimentos que se partilham e se acolhem.
Seja/sê ouvinte (escutador não tanto de estórias, mas das pessoas que estão perto de ti); fala do que te vai na alma; confia, estimulando os outros à confiança, a libertarem-se do medo; ama, com toda a tua alma, faz do(s) outro(s) a tua casa, o teu refúgio, tendo sempre como horizonte originário e final o Senhor Deus.