Elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos.
1 – A Ascensão do Senhor sublinha que a missão de Jesus conta connosco.
Jesus parte para o Pai sem nos deixar! Como é que isso é possível? Através do Espírito Santo. Encarnando, Jesus sujeita-Se à finitude, a fragilidade e às limitações humanas. Se está em Tabuaço, não pode estar em Penude. Se nasceu no ano 2000 não vai estar no mundo daqui a mil anos! Se não comesse e não bebesse, Jesus acabaria por morrer por inanição, como qualquer mortal.
A partida de alguém que estimamos gera desconforto, tristeza, incerteza. Há hoje muitas formas de atenuar a distância física, e obrigamo-nos a acreditar e a fazer acreditar os outros que nada muda, tudo permanece como antes, basta telefonar, fazer uma videochamada! Mas não é a mesma coisa. Nós sabemos isso. Olhar para um ecrã não é a mesma coisa que olhar olhos nos olhos a meio metro de distância. E ficará a faltar o beijo, o abraço, a carícia, o odor que nos liga, o tato da pele na pele do outro.
Quando a partida é provisória, começam a fazer-se contas aos dias que ficam a faltar para o regresso. Alimenta-nos mais a certeza do regresso, do encontro e da festa, do que a distância, e esta justifica-se pela necessidade. Problema maior é quando a partida é definitiva, para sempre, ou porque as condições e as opções de vida o exigem, ou por morte (e aqui o definitivo tem um carácter avassalador).
A partida de Jesus é definitiva! Previamente o anuncia, mas também a promessa do Seu regresso. Não um regresso ao "antes", físico, mas a partir de Deus, pela ação do Espírito Santo. Ele dá-nos, envia-nos de junto do Pai, o Espírito Santo.
2 – "Vós sois testemunhas destas coisas". Ontem eles, hoje nós, discípulos missionários deste tempo, 2019, onde nos encontramos, na família, nos estudos, no trabalho, na festa como no luto, de manhã ou ao entardecer do dia e da vida. Somos testemunhas da Boa Notícia que nos é revelada em plenitude por Jesus Cristo e no Seu mistério de entrega e oblação. Ele entregou-Se inteiramente por nós.
O discípulo segue as peugadas do Mestre. «Está escrito que o Messias havia de sofrer e de ressuscitar dos mortos ao terceiro dia e que havia de ser pregado em seu nome o arrependimento e o perdão dos pecados a todas as nações, começando por Jerusalém».
Vendo a vida de Jesus, podemos antecipar como será a nossa vida uma vez a Ele convertidos. Se Ele, qual manso Cordeiro, foi injustiçado, perseguido, maltratado, morto, como não o seremos nós também se ousarmos persistir na verdade, no amor e no serviço?!
Mas não há que temer. «Eu vos enviarei Aquele que foi prometido por meu Pai… Recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas até aos confins da terra».
3 – Não nos ocupemos em saber os tempos, comprometamo-nos a evangelizar todas as situações. «Não vos compete saber os tempos ou os momentos que o Pai determinou com a sua autoridade».
Na Galileia, Jesus encontra-Se com os discípulos, sempre O podemos encontrar, e "elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos". Os discípulos ficam estupefactos. Não querem ainda acreditar que Jesus já não está fisicamente entre eles! Foi tão pouco tempo! Um instante! Três anos preenchidos de bondade, compaixão, de serviço aos mais pobres, de anúncio permanente do Evangelho. Um instante e logo Jesus é preso, acusado de malfeitor e é crucificado. Um instante! Jesus volta, ressuscitado, com as marcas da paixão, o amor levado até ao fim e mostra-lhes que estará no meio deles, mas de uma forma totalmente nova, pelo Espírito Santo, já não limitado pelo tempo ou pelo espaço. Estará ao alcance de todos.
Num misto de alegria e de tristeza, veem-n´O partir. Não há lugar ao engano ou ao faz-de-conta, Jesus afasta-Se em direção ao Pai. Sabemos onde Ele Se encontra! À direita do Pai. E, por conseguinte, o nosso olhar terá de ser peregrino do Céu, a nossa pátria verdadeira, mas com os pés bem assentes neste mundo: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu». Cidadãos do Céu, mas comprometidos no anúncio do Evangelho, na transformação do mundo que Deus nos dá como morada provisória, mas ainda assim para a tornarmos bela, cuidada, fazendo-a nossa casa, a minha e a tua casa, lugar em que nos encontramos, nos descobrimos e nos tratamos como irmãos.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Atos 1, 1-11; Sl 46 (47); Ef 1, 17-23; Lc 24, 46-53.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço