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11.05.14

ELISABETTA PIQUÉ - Francisco, Vida e Revolução

mpgpadre

ELISABETTA PIQUÉ (2014). Francisco, Vida e Revolução. Lisboa: Esfera dos Livros. 304 páginas.

        Este é um livro, sobre o atual Papa que vale mesmo a pena ler.

       Já muito se escreveu sobre Jorge Mario Bergoglio, eleito Papa no dia 13 de 2013, após a renúncia de Bento XVI, que se recolheu a simples peregrino a 28 de fevereiro de 2013. Curiosamente, no dia 28 de fevereiro de 1998 morreu o então Cardeal de Buenos Aires, Quarracino, que o tinha chamado para bispo auxiliar e, algum tempo depois, para Bispo Coadjutor, isto é, com direito de sucessão. É o que acontece com a morte de Quarracino. Bergoglio torna-se Arcebispo de Buenos Aires. Em 21 de fevereiro de 2001 passa a ser Cardeal da Santa Igreja, pelas mãos de João Paulo II.

       Quando surge na varanda, vestido de branco, é um ilustre desconhecido para a maioria das pessoas e mesmo os jornalistas são surpreendidos, ainda que existam várias pessoas que apontem para Bergoglio, os que o conhecem mais de perto, um ou outro jornalista, alguns sacerdotes de Buenos Aires. Por outro lado, e vem a saber-se maia claramente, no eleição de Bento XVI teria sido o segundo mais votado, tendo atingido uns 40 votos, mas dizendo claramente os votos deveriam ir para Bento XVI.

       Em 2013, muito rapidamente o nome de Bergoglio ganhou vantagem. Na 5.ª votação ultrapassou os 77 votos necessários à eleição. Escolheu o nome de Francisco, referido a São Francisco de Assis, pobreza, serviço aos pobres, paz, ligação à natureza. E mais uma vez é surpreendente, até na escolha do nome. Deus pediu a Francisco de Assis: Vai e reconstrói a minha Igreja que está em ruínas. De algum modo é o mesmo pedido e desafio ao Papa Francisco.

       Mas porque que é que esta é uma leitura que recomendamos vivamente?

       A jornalista, Elisabetta Piqué também é argentina. Vive em Itália. Terá sido a única jornalista a prever a eleição de Bergoglio e a divulgá-lo no twitter, depois de troca de impressões com o marido, também jornalista. Ganhou o prémio Mariano Moreno da Universidade Argentina da Empresa pela soberba cobertura da renúncia de Bento XVI. É amiga do Pe. Jorge Bergoglio, então Arcebispo e Cardeal, que sempre tem oportunidade de conviver em família, quando ele se deslocava o Vaticano.

       Há vários livros sobre Francisco, mais biográficos, ou lançando os desafios que enfrentará como Papa, com muitos dados que desconhecíamos. Mas também é livros menos conseguidos. A presa em publicar e rapidamente vender, pois não falta quem queira saber mais sobre o Papa vindo do fim do mundo. Este é a vantagem de uma investigação cuidada, no terreno, na Argentina, no Vaticano, através de fontes bem colocadas, pessoalmente. Tem vários episódios que são desconhecidos de outras publicações. Lê-se com muito agrado, constatando que Francisco "não caiu" do Céu. Como pessoa, como sacerdote, como Bispo e como Cardeal, a mesma postura de pobreza, despojamento, vivendo austeramente, muito próximo das pessoas, do povo, dos seus sacerdotes, ajudando sempre.

       O que mais me surpreendeu?

       Neste livro não se fala mal do Papa alemão. Muitas publicações, para acentuarem a diferença de estilos e de postura, contrapõem um ao outro. Para afirmarem a simpatia por Francisco, desvalorizam o papel, a proximidade, a humildade ou os gestos grandiosos de Bento XVI. Ao longo de todo o livro uma grande alegria pelo Papa da Argentina, mas um grande respeito e consideração pelo Papa da Alemanha. O texto repetidamente vai sublinhando como o então Cardeal Ratzinger se distinguia no trato, na simpatia, na educação, no meio de uma cúria romana fria, distante, sobranceira. Num registo pessoal, a jornalista mostra como os próprio filhos choraram a renúncia de Bento de XVI.

       Se outras razões não houvesse, para mim, esta já seria motivadora para uma leitura interessada, pois tenho , desde a primeira hora, o Papa Bento XVI como um homem de Deus, sábio, humilde, simpático, com gestos de grande simpatia. Levou tempo, para muitos, a aceitá-lo, pois sucede a um pontificado longo, o de João Paulo II, com um preconceito imediato: alemão e o responsável pela Congregação para a Doutrina da Fé.

       Para os que gostam muito de Francisco, como eu, esta é uma leitura muito clarificadora, que nos aproxima ainda mais daquele homem latino, carinhoso, próximo, humilde e de uma grande estatura intelectual.

       Para os que gostam muito de Bento XVI, como eu, esta leitura em nada belisca o carácter, a afabilidade, a humildade e a grandeza, a bondade do Papa alemão.

03.01.14

Papa FRANCISCO - Espírito de Natal

mpgpadre

Papa FRANCISCO. Espírito de Natal. Paulus Editora. Apelação 2013. 88 páginas.

       A Paulus Editora brinda-nos com este pequeno livro, com mensagens do Papa Francisco para o Natal, homilias na noite de Natal, mensagens à Diocese de Buenos Aires, reflexões sobre esta quadra.

       Diríamos desde logo que os textos apresentados são do papa Francisco e não são do Papa Francisco, pois referem-se a um período anterior, como Arcebispo de Buenos Aires, o então D. Jorge Maria Bergoglio. São do Papa Francisco pois a linguagem acessível, simples, familiar, transparecendo proximidade de fé é a mesma que atualmente utiliza como Bispo de Roma, como Papa. Assim também os temas estão na base do discurso, das mensagens e das homilias de Francisco. A este propósito se vê claramente uma continuidade. A pessoa é a mesma, como Arcebispo e Cardeal e como Papa, as coordenadas são semelhantes: fé em Cristo, alegria, proximidade sobretudo com os mais próximos, diálogo, cultura do encontro e da proximidade.

       Obviamente que a esta altura do campeonato há muito livros escritos sobre o Papa Francisco, muitos livros com as suas intervenções na Argentina, e agora como Papa. A Paulus faz-nos o favor de agregar textos para esta quadra, desafiando-nos a colocar Jesus Cristo no centro do Natal, com Maria e José, com as pessoas simples, como os pastores, em contágio com o mundo inteiro, como os magos do Oriente.

30.11.13

LEITURAS: Nello Scavo - A lista de Bergoglio

mpgpadre

NELLO SCAVO. A Lista de Bergoglio. Os que foram salvos por Francisco durante a ditadura. Paulinas editora. Prior Velho 2013. 208 páginas.

       Quem não ouviu falar da Lista de Schindler, cujo filme colocou em evidência o trabalho de Oskar Schindlerque terá salvo centenas de judeus. A lista dos que foram livres da matança Nazi sublinham a barbárie perpretada contra os judeus e a generosidade de pessoas muito concretas que tudo fizeram, o que estava ao alcance, para salvar vidas, correndo o risco de eles próprios serem arrestados para a tortura e para a morte. Há também um português de quem se poderia fazer uma lista, Aristides de Sousa Mendes.

       Vamos para o continente americano, mais ao sul, ditaduras ora à esquerda ora à direito, mas com os mesmos métodos: silenciar as vozes incómodas e de opinião ou prática contrária. A Argentina ainda sara as feridas desses tempos, meados dos anos 70 e 80, com milhares de desaparecidos depois do golpe militar que impôs uma ditadura de direita, com muitos silenciamentos, alguns dos quais cansados da bárbarie anterior.

       Quando foi eleito o Cardeal Ratzinger, escolhendo o nome de Bento (XVI), minutos depois já havia insinuações de que o papa eleito tinha integrado o exército Nazi e, nesse propósito, teria sido conivente com o regime. Não foi preciso qualquer desmentido, pois foi claro, num olhar mais honesto, que como jovem foi obrigado a entrar na vida militar, com 16 anos, desertando no ano seguinte, correndo o sério risco de ser morto. Por outro lado, era evidente na sua biografia que o próprio pai, O seu pai, comissário da polícia, oriundo de uma família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições económicas, por não estar sintonizado com as políticas governamentais foi mudado de posto em ocasiões sucessivas. Apesar de não haver dúvidas, a não ser por maldade, ainda hoje, por vezes na comparação com o Papa atual, se refere que Ratzinger era nazi, ou que teve alguma coisa a ver.

       Paralelamente, ou não, mal foi conhecido o nome do Cardeal Bergoglio, como Papa Francisco, logo se levantaram suspeitas sobre a sua vida e atuação, enquanto Provincial dos Jesuítas da Argentina, durante a ditadura de direita, nomeadamente insinuando-se que dois jesuítas, que se encontravam em processo de deixarem a Companhia de Jesus, tinham sido entregues por ele, ou pelo menos nada tinha feito para os libertar.

       Nello Scavo, jornalista, encetou uma investigação independente, sem recorrer ao Vaticano, ou a fontes católicas, mas a documentação existente, a pessoas que conheceram e lidaram com Bergoglio, a sobreviventes que ele ajudou, descobrindo com facilidade que Bergoglio tinha uma rede clandestina para sobretrair à prisão e a morte muitos dos que eram procurados pelo regime, sacerdotes, religiosos, catequistas e até pessoas sem fé ou sem identidade religiosa.

       É um livro verdadeiramente clarificador. O jornalista que lançou a "bomba" procurando mostrar que Bergoglio tinha sido cúmplice no rapto dos dois padres jesuítas retirou as suspeitas ao ouvir um dos sacerdotes a confessar claramente que Bergoglio nada teve a ver com o caso, pelo contrário, tudo fez até que os dois jesuítas foram libertados, ajudando depois ao seu exílio para evitar futuras prisões. Com efeito, Bergoglio, jovem sacerdote, ajudada muitos a esconder-se no Colégio dos Jesuítas, outros a sairem do país, sendo acolhidos no país de destino por outros contactos seus, incentivando-os a denunciar o que se passava na Argentina. Sempre de forma discreta, mas bastante eficaz.

       Depois de algumas personagens que fazem parte da Lista de Bergoglio terem capítulos dedicados, na parte final a transcrição de interrogatório feito pelo tribunal que deve julgar os crimes da ditadura, com juizes, advogados das vítimas, advogados de defesa, com o agora Papa Francisco a responder com clareza, sem medo, mostrando total abertura e acesso a toda a documentação existente no Arcebispado de Buenos Aires ou na Conferência Episcopal.

       Há testemunhos que mostram à saciedade o trabalho incansável do Pe. Bergoglio, conduzindo o carro pelas ruas da capital, procurando não atrair atenções. Por vezes nem os colegas sabiam o que ele fazia: levava jovens para o colégio e apresentava-os como sendo jovens que iam fazer um retiro.

        O livro ajuda a compreender muitas das intervenções duras de Francisco, enquanto Cardeal e Arcebispo de Buenos Aires e ajudam também a conhecer a história e o temperamento dos argentinos.

       Leitura obrigatória para quem quer conhecer a vida do Papa e o seu caráter decidido.

05.07.13

Mario Bergoglio/Papa Francisco - O verdadeiro poder é servir

mpgpadre

Jorge Mario BERGOGLIO - Papa FRANCISCO. O verdadeiro poder é servir. Por uma Igreja mais humilde. Um novo compromisso de fé e de renovação social. Nascente. 3.º edição. Amadora 2013, 384 páginas.

       Um pouco mais de 100 dias depois de ter sido eleito Papa, escolhendo como patrono do seu magistério São Francisco de Assis, num ideário que sublinha o despojamento, a simplicidade, a pobreza, o serviço ecológico a toda a humanidade, numa atenção redobrada aos mais pobres, como aliás é apanágio de Igreja e das comunidades, se a referência primeira e última é Jesus Cristo. Bem na linha dos Seus Predecessores, João XXIII, João Paulo II ou Bento XVI, cuja sabedoria e santidade colocaram ao serviço da Igreja, da humanidade, sendo vozes sonoras na defesa e promoção da paz, da justiça social, da verdade, na procura de sanar feridas e conflitos, protegendo a vida, a mais frágil.

       Com  o avançar dos dias, vê-se cada vez melhor a espontaneidade dos gestos, a verdade dos mesmos, a autenticidade de um homem de Deus que os senhores Cardeais "fizeram" vestir de branco no passado dia 13 de março. Gestos, palavras, alegria, sorriso, proximidade, abertura, firmeza. O fito: anunciar Jesus Cristo, mostrá-l'O vivo, próximo, amigo, compreensivo.

       Os meios de comunicação, como o então Cardeal Bergoglio refere num dos textos colhidos nesta obra, podem aproximar ou afastar. E aproximar bem ou mal. E bem, têm sido favoráveis na divulgação das palavras e dos gestos do Papa Francisco, aproximando-o das pessoas, e ajudando a que mais pessoas se aproximem dele e de Deus. Esta aproximação é merecida e equilibrada.

Para se conhecer alguém, que não vive perto de nós, ou ao qual não temos um acesso imediato, não há como ler sobre essa pessoa e, se possível, ler o que ela disse, escreveu, ou o que é que fez. Neste livros, os editores originais procuram recolher, para publicar na Argentina, os textos de José Mario Bergoglio, optando por publicar os que ainda o não tinham sido. Assim, neste livro coleccionam intervenções, homilias, mensagens do então Arcebispo e depois (2001) Cardeal Bergoglio, desde 1999 a 2007.

       A distribuição dos textos, segundo os próprio editores. Primeiro núcleo - textos catequéticos e dirigidos aos catequistas, textos sobre educação e sobre Maria; num segundo núcleo, as homilias de Natla, Quinta-feira Santa, Vigília Pascal e Corpo de Deus; no terceiro núcleo, textos dirigidos ao mundo da cultura, diálogo com o país, comprometimento social e político a favor dos mais frágeis.

Muitas das expressões, contextos, gestos que o Papa Francisco comunica agora ao mundo, são-lhe naturais, como quando era Arcebispo de Buenos Aires, com alegria, simplicidade, apelando à beleza, à intervenção política dos cristãos, ao compromisso de todos no combate à pobreza, na abertura para Deus, na identidade como povo e como Pátria (a Argentina).

       É uma coletânia que vai valer a pena ler, meditar, refletir. Por aqui se vê que o Papa Francisco não caiu do Céu, é um trabalhador da vinha, empenhado, interventivo, simples, usando uma linguagem de proximidade, convidativa, desafiadora, simples, acessível. Há expressões que são muito próprias do Papa, e que eram muito características do Cardeal Bergoglio.

       Para conhecer melhor, para se deixar tocar pela Mensagem de Cristo e do Evangelho, para dialogar, para abrir a mente e o coração, não deixe de ler estes ou outros escritos do Papa Francisco. Pelo meio vai encontrar alegria, fé, testemunho de vida, comunhão com as pessoas mais simples, comunhão com a Argentina, diálogo com o poder, serviço aos mais frágeis, proximidade com João Paulo II, cumplicidade crente com Bento XVI, grande intimidade com o Sacrário.

       O prefácio à edição portuguesa é do Cónego António Rego.

14.03.13

Habemus Papam - Francisco

mpgpadre

Irmãos e irmãs, boa-noite!

Vós sabeis que o dever do Conclave era dar um Bispo a Roma. Parece que os meus irmãos Cardeais foram buscá-lo quase ao fim do mundo… Eis-me aqui! Agradeço-vos o acolhimento: a comunidade diocesana de Roma tem o seu Bispo. Obrigado! E, antes de mais nada, quero fazer uma oração pelo nosso Bispo emérito Bento XVI. Rezemos todos juntos por ele, para que o Senhor o abençoe e Nossa Senhora o guarde.

 [Recitação do Pai Nosso, Ave Maria e Glória ao Pai]

E agora iniciamos este caminho, Bispo e povo... este caminho da Igreja de Roma, que é aquela que preside a todas as Igrejas na caridade. Um caminho de fraternidade, de amor, de confiança entre nós. Rezemos sempre uns pelos outros. Rezemos por todo o mundo, para que haja uma grande fraternidade. Espero que este caminho de Igreja, que hoje começamos e no qual me ajudará o meu Cardeal Vigário, aqui presente, seja frutuoso para a evangelização desta cidade tão bela!

E agora quero dar a Bênção, mas antes… antes, peço-vos um favor: antes de o Bispo abençoar o povo, peço-vos que rezeis ao Senhor para que me abençoe a mim; é a oração do povo, pedindo a Bênção para o seu Bispo. Façamos em silêncio esta oração vossa por mim. […]

Agora dar-vos-ei a Bênção, a vós e a todo o mundo, a todos os homens e mulheres de boa vontade. 

 

[Bênção]
 

Irmãos e irmãs, tenho de vos deixar. Muito obrigado pelo acolhimento! Rezai por mim e até breve! Ver-nos-emos em breve: amanhã quero ir rezar aos pés de Nossa Senhora, para que guarde Roma inteira. Boa noite e bom descanso!

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