Leituras - CHIMANDA NGOZI ADICHE - Americanah
CHIMANDA NGOZI ADICHE (2013). Americanah. Alfragide: D. Quixote. 720 páginas.
O livro mistura-se com a história da autora, Chimanda Ngozi Adiche, natural da Nigéria e que emigra para os EUA para frequentar a Universidade e que resulta de uma Bolsa de Estudos. Universitária na Nigéria, valoriza-se na América. Da cor do chocolate como ela própria refere, nos EUA, e entramos já no livro, depara-se com o racismo. Na Nigéria não é necessário falar de racismo, não se coloca a discussão da raça, pois são todos da mesma cor. O desejo de emigrar para Inglaterra e para os Estados Unidos caracteriza a geração da protagonista, que segue no seguimento de outros nigerianos. O seu apaixonado, Obinze, não emigrará devido ao 11 de setembro de 2001 e aos entraves colocados a estrangeiros e sobretudo estrangeiros de cor.
Nos EUA, a protagonista, Ifemelu, deparar-se-á pela primeira vez com a discussão da raça, no acesso a serviços, em muitos ambientes culturais e sociais. E o facto de haver obrigatoriedade de uma cota para alguns empregos serem atribuídos a pessoas de cor negra, da cor do chocolate ou ainda mais escuros, isso revela um outro aspeto de racismo, sendo que sobre eles haverá sempre a dúvida se "subiram" por ser negros ou por serem talentosos. Há um crime, foi um preto, então todos os pretos são suspeitos.
No ambiente do romance encontra-se o processo da primeira eleição de Obama para Presidente dos EUA, o que motiva os negros de diversas nacionalidades, emigrados na Américo, ou descendentes de africanos a congregarem esforços pela sua eleição. Pela primeira vez na história dos EUA um presidente negro. A protagonista até se inclina mais para Hilary Clinton, por ser mulher e por se sentir mais perto das suas ideias. Mas pouco a pouco vai ser acérrima defensora da eleição de Obama. A dúvida continua nos dois candidatos: um terá o apoio mais expressivo dos negros; a outra, terá o apoio mais expressivo por ser mulher e poder tornar-se a primeira mulher a ser Presidente dos EUA. Ou seja, não está tanto em causa as ideias, ou a pessoa, mas a motivação racial ou de género. Essa é apenas uma questão.
Todo o livro se assume à volta da questão racial, mas também da procura de melhores condições de vida. Alguns regressam a casa, como Ifemelu, a uma Nigéria marcada pela corrupção, onde as oportunidades resultam de conhecimentos e favores. Não é um exclusivo da Nigéria. Outros já não regressam. Quando regressa continua a ser olhada como americanah, com os seus tiques, mas também dela espera que dê, distriua beneces.
É um livro, diria, imenso, mas de agradável leitura. Para lá do romance em si, bem contruído, com um fio condutor que interliga personagens mas também a discussão à volta da raça. Efemelu ganha prestígio precisamente através de um blogue que explora a questão racial de uma forma aberta, sem dogmativos. O blogue permite-lhe também apresentar "receitas" para os negros. Por curiosidade que revela a autora: a maioria das revistas tem mulheres brancas, faz sugestão de cremes, de champôs, de tratamentos para a pele, para mulheres brancas. E há mulheres de cor que querem parecer-se com as mulheres brancas, esticando o cabelo. Numa entrevista para emprego segue a sugestão para se vestirem como se fossem brancas e pentearem como mulheres brancas. Por outro lado, é difícil encontrar cabeleireiras aptas para tratar do cabelo às mulheres de origem africana.
Outro dado curioso, presente também no livro. Um negro é sempre um africano, independentemente de ser da Nigéria ou da África do Sul, o que demonstram uma enorme ignorância como se um nigeriano conhecesse todos os costumes e tradições de todo o continente africano...
Para conhecer um pouco melhor a autora vale a pena parar uns minutos e escutar a apresentação que se segue, através da qual descobri a autora e que motivou a aquisição e leitura desta belíssima obra. Sobre os perigos da história única: