Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra?
1 – Seguir Jesus é a vocação primeira do cristão. Seguir e amar. Não podemos seguir quem não amamos. Não amamos para ficarmos de braços cruzados a ver se chove!
Seguir Jesus acarreta riscos. Renunciar a si mesmo. Não à sua identidade mais profunda, mas ao que mais facilmente vem ao de cima. Renunciar à aparência. Renunciar ao egoísmo. Centrar a vida em Cristo, ocupando-se dos outros. Amar, cuidar, servir. Para encontrar Jesus em cada pessoa. Para se dar a Jesus, nos outros, como Jesus Se deu, por inteiro, a favor da humanidade. Por nós. Para nossa salvação.
Vai valer a pena, pois Ele agirá em nós. Segui-l'O implica que, como Ele, abramos os braços e estendamos as mãos e demos ao pedal ao encontro dos outros com o fito de deles cuidarmos.
2 – «Eu vim trazer o fogo à terra e que quero Eu senão que ele se acenda? Tenho de receber um batismo e estou ansioso até que ele se realize. Pensais que Eu vim estabelecer a paz na terra? Não. Eu vos digo que vim trazer a divisão. A partir de agora, estarão cinco divididos numa casa: três contra dois e dois contra três. Estarão divididos o pai contra o filho e o filho contra o pai, a mãe contra a filha e a filha contra a mãe, a sogra contra a nora e a nora contra a sogra».
Jesus insiste numa paz que brota do amor, da garra em viver a vida e viver em prol da justiça e da verdade. A paz, como o amor, a verdade, a misericórdia, compromete-nos e desafia-nos. Não é passividade de quem cruza os braços a ver a maré passar. É luta e compromisso com o bem de todos. Quem luta por mais justiça, sabe de antemão que vai encontrar resistências, obstáculos, contrariedades.
Quem não quer chatices cruza os braços e enterra a cabeça na areia para não ver. A paz de Jesus é fogo que interpela, que nos responsabiliza uns pelos outros e por toda a criação.
3 – A primeira leitura traz-nos uma belíssima página sobre Jeremias, um dos profetas maiores do judaísmo. E herança comum para judeus e cristãos. Um profeta que apela à interioridade, à conversão e a agir em conformidade com os mandamentos de Deus.
Jeremias é uma pedra no sapato do rei e dos seus conselheiros que não escutam o clamor dos pobres, o sofrimento do povo que deveriam servir. Jeremias é luz que expõe as trevas.
Os ministros aconselham o rei: «Esse Jeremias deve morrer». O rei não se opõe: «Ele está nas vossas mãos; o rei não tem poder para vos contrariar». Faz-nos lembrar um episódio posterior, o de Pilatos. Lavo as mãos. Fazei como vos aprouver. Mas quem não age, por comodismo, também é responsável pelo mal realizado. Os ministros e seus sequazes prendem Jeremias e fazem-no descer a uma cisterna, onde morreria atolado no lodo, sem pão para comer. Um estrangeiro, o etíope Ebed-Melc, intervém junto do rei denunciando o mal feito a Jeremias e obtém permissão para tirar o profeta da cisterna.
Os que lutam pela paz, pela justiça, pela verdade, sabem que podem ser injuriados, maltratados, perseguidos e mesmo mortos, como aconteceu com Martim Luther King, com Mahatma Gandhi, com Dom Óscar Romero…
4 – O autor da Epístola aos Hebreus fala-nos da fé como um combate. Deixando o pecado, fixemo-nos em Jesus que suportou a Cruz, por amor, mas agora vive na glória do Pai. Portanto, refere a carta aos Hebreus, "pensai n’Aquele que suportou contra Si tão grande hostilidade da parte dos pecadores, para não vos deixardes abater pelo desânimo. Vós ainda não resististes até ao sangue, na luta contra o pecado". Ainda estamos a caminho.
Não estamos sozinhos. É n'Ele que nos apoiamos. É Ele que nos atrai. Para a Cruz? Não, para a Misericórdia! Todavia, sabemos a priori que todo o compromisso exige esforço, sacrifício, renúncia e está sujeito ao sofrimento. Quem se sujeita a amar, sujeita-se a padecer.
Da Palavra de Deus, a certeza que Ele não nos abandona, antes nos sustenta. "Esperei no Senhor com toda a confiança e Ele atendeu-me. Ouviu o meu clamor e retirou-me do abismo e do lamaçal, assentou os meus pés na rocha e firmou os meus passos" (salmo).
Textos para a Eucaristia (C): Jer 38, 4-6. 8-10; Sl 39 (40); Hebr 12, 1-4; Lc 12, 49-53.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE