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02.06.16

Papa Francisco, a revolução da misericórdia e do amor

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WALTER KASPER (2015). Papa Francisco. A revolução da Misericórdia e do Amor. Prior Velho: Paulinas Editora. 136 páginas.

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       O Cardeal Walter Kasper já é conhecido como o teólogo do Papa Francisco. Na primeira oração do Angelus, à janela do palácio apostólico, o Papa revelou aos fiéis reunidos na praça de são Pedro que estava a ler um livro, do Cardeal Kasper, sobre a misericórdia e que lhe estava a fazer muito bem. A misericórdia é o tempero das intervenções e gestos do Papa Francisco. E o livro do Cardeal teve um boom de vendas. O Cardeal, bem conhecido nos meios académicos e mais eclesiais passou a ser conhecido e requisitado para entrevistas, comentários, conferências. Na preparação dos Sínodos sobre a família, o Papa solicitou-lhe uma reflexão, com questionamentos, sobre a famílias, os principais problemas e desafios. Abriu o debate, sustentado pelo "relatório" do Cardeal Kasper. Curiosa é a ponte que faz para Bento XVI e sobretudo para o "teólogo" Joseph Ratzinger", aludindo às suas reflexões sobre as problemáticas da famílias.

       Curiosamente, sabendo-se que são dois teólogos de renome, alemães, com algumas "disputas", mormente na relação "Igreja Universal - Igrejas particulares", o Cardeal Kasper, que acentua a revolução extraordinária com o pontificado de Francisco, a meu ver e pelo que li, faz uma rasgado, reconhecido e merecido elogio a Bento XVI. Kasper fala da continuidade do papado, preparado e antecipado por Bento XVI e, como expectável, da rutura, quanto à linguagem, ao método, e ao ambiente que os moldou. Pode ver-se a proximidade e afinidade com Francisco mas vê-se que não há qualquer necessidade de contrapor negativamente o pontificado de Bento XVI ou de João Paulo II. Simplesmente a acentuação é diferente e as realidades originárias também. A preocupação é a mesma: servir a Palavra de Deus, comprometida com a humanidade.

Walter Kasper Mar-05-2014.jpg

"Uma surpresa, sim, como um raio no céu sereno fora já o anúncio do papa Bento XVI a 11 de fevereiro de 2013... esta renúncia foi um ato de coragem, de grande generosidade e de humildade, que merecia a máxima estima e pareço".

"O Papa Bento XVI, em muitas questões, preparou teologicamente o presente pontificado muito mais que à primeira vista possa parecer".

"O Papa Bento representa, de modo bem delineado, a melhor tradição europeia. Parte da fé, procura torná-la acessível, intelectual e espiritualmente, à compreensão, para depois, de harmonia com a tradicional relação entre teoria e práxis, traduzir e transpor a doutrina da fé para a prática... o Papa Francisco, pelo contrário, é guiado pela teologia querigmática. Aqui ele não é, porventura, um franciscano mascarado; é de cima a baixo um jesuíta... não parte da doutrina, mas da situação concreta; não quer, decerto, ajudar-se simplesmente a ela, mas tenta antes, como previsto no livro dos Exercícios de Inácio, julgar segundo as regras do discernimento dos espíritos..."

"Apesar de todas as diferenças de origem e de personalidade, para Francisco, Paulo VI é o Papa do qual, entre os seus predecessores, ele se sente mais próximo. O seu estilo dialógico comunicativo manifesta-se na Encíclica Ecclesiam Suam (1964). Nas suas posições ético-socais, ele alude, várias vezes, à importante encíclica social do Papa Paulo VI, Populorum Progressio, de 1967, e à sua Carta Apostólica Octasegima adveniens, de 1971".

"O Papa Francisco move-se no seio da grande tradição. Na história da Igreja, o Evangelho esteve na origem de muitos movimentos de renovação, desde o monaquismo antigo aos movimentos de reforma da Idade Média. O mais conhecido é o movimento evangélico de São Francisco de Assis e São Domingo de Gusmão. Francisco, juntamente com os seus irmãos, quis apenas viver o Eavngelho sine glosa, sem nada lhe roubar ou acrescentar"

"O papa Francisco insere-se numa tradição que remonta aos inícios, em especial dos seus predecessores imediatos... O retorno à origem não é, todavia, um desdobrar-se sobre o ontem e o anteontem, mas força para um início para amanhã... lançar pontes para as origens é construtor de pontes (pontífice) rumo ao futuro".

"Para o Papa Francisco, no centro do Evangelho está a mensagem da misericórdia...a misericórdia de Deus é infinita; Deus nunca se cansa de ser infinitamente misericordioso com cada um para que também nós não nos cansemos de implorar a sua misericórdia. Deus não exclui e não abandona ninguém. Um pequeno gesto de misericórdia entre os homens pode mudar o mundo".

"A misericórdia é a justiça própria de Deus, não condena o pecador desejoso de conversão, mas justifica-o. No entanto, entendamo-nos, a misericórdia justifica o pecador, não o pecado. O mandamento da misericórdia quer também que a Igreja não torne a vida difícil aos seus fiéis, e não transforme a religião numa espécie de escravidão. Ela quer - assim o afirma São Tomás de Aquino, na linha de Agostinho - que sejamos livres dos fardos que nos tornam escravos. É o fundamento da alegria que o Evangelho nos oferta".

"O arquiteto do documento de Aparecida foi o cardeal Jorge Bergoglio como presidente da comissão de redação. Não causa, pois, supresa que Aparecida seja citada em muitas passagens da Evangelium Gaudium. A opção preferencial pelos pobres não permaneceu uma especialidade latino-americana. João Paulo II e Bento XVI acolheram-na no seu próprio magistério. Bento XVI dotou-a de uma fundamentação cristológica. Na alocução final da sua visita à Alemanha, a 25 de setembro de 2011, em Friburgo, com a palavra-chave «desmundanização», já quis dizer o que afirma hoje o papa Francisco. Na altura não foi bem compreendido ou, então, nem sequer existiu a vontade de o compreender. Francisco diz agora, com total clareza e de modo programático, de que é que se trata, e di-lo não só com a sua palavra, mas também com o seu simples e sóbrio estilo de vida".

"O Papa pronuncia um quádruplo não: não a uma economia de exclusão em que os seres humanos são apenas remetidos para as margens e se tornam escória e rebotalho; não a um aidolatria do dinheiro e à ideologia da absoluta autonomia dos mercados; não ao dinheiro que, em vez de servir, domina; não à desigualdade social que gera violência".

"... o Papa fala de uma tempestade do amor, o único que é capaz de transformar o mundo desde dentro. A revolução da ternura e do amor acontece, sim, com paixão, mas sem violência, sem fanatismo e ressentimento".

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