«Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar»
1 – Página belíssima do Evangelho de São João. A descrição joanina faz-nos ver Jesus e acompanhá-l'O em diferentes momentos. Retira-Se para o monte das Oliveiras, para pernoitar, para descansar, para rezar, alimentando-Se da presença do Pai. Com Ele vão os discípulos. Vamos no Seu encalço, não nos percamos no caminho, não fiquemos para trás. A oração faz-nos sintonizar com Jesus.
De manhã cedo Jesus volta ao Templo, senta-Se e começa a ensinar o povo que se aproximara d'Ele. Alguns fariseus e doutores da Lei também se aproximam mas para O testar. Trazem-Lhe uma mulher apanhada em flagrante adultério. Desde logo a discriminação, pois falta o homem que com ela cometeu adultério e para quem a Lei de Moisés exigia o mesmo tratamento. Colocam-na no meio dos presentes. Humilhação completa. Não bastava ter sido surpreendida em falta era agora exposta perante todos.
«Mestre, esta mulher foi surpreendida em flagrante adultério. Na Lei, Moisés mandou-nos apedrejar tais mulheres. Tu que dizes?». Armadilha bem orquestrada. Se condenasse aquela mulher, Jesus não seria melhor que aqueles que lha apresentaram e cairia uma das facetas essenciais do Mestre da Sensibilidade, a Sua delicadeza, tolerância, acolhimento de pecadores e publicanos. Não condenando, estaria a ser conivente com o pecado e a contrariar a Lei de Moisés, que o povo judeu tem como referência imprescindível para a religião.
Jesus faz com que fariseus, doutores da Lei, discípulos, e todo o povo, onde nos incluímos, regressem à terra. "Jesus inclinou-Se e começou a escrever com o dedo no chão". E é então que Jesus contrapõe: «Quem de entre vós estiver sem pecado atire a primeira pedra». E novamente Jesus nos faz olhar para o chão das nossas misérias. Para atirar a primeira pedra é preciso alguém impecável, que não tenha fraquezas, nem pecados, nem telhados de vidro. Não julgueis e não sereis julgados. Não condeneis e não sereis condenados. Porque olhas para o argueiro na vista do teu irmão sem tirar a trave da tua vista?
2 – Um após outro, todos se retiraram, porque olhando para as suas vidas facilmente encontraram motivos de condenação, de censura, de arrependimento. Mal é quando desviamos a atenção para os outros para que não olhem para nós.
No final, diz Santo Agostinho, "todos saíram da cena. Somente ficaram Ele e ela; ficou o Criador e a criatura; ficou a miséria e a misericórdia... Ficou ali apenas a pecadora e o Salvador. Ficou a enferma e o médico. Ficou a miserável com a misericórdia". Jesus levantou-Se e disse-lhe: «Mulher, onde estão eles? Ninguém te condenou?». Ela respondeu: «Ninguém, Senhor». Disse então Jesus: «Nem Eu te condeno. Vai e não tornes a pecar».
A miséria desta mulher é absorvida pela misericórdia de Deus que em Jesus a perdoa e a acaricia. Vai e não voltes à mesma vida. Tens agora uma nova oportunidade. Refaz o trajeto, refaz e vida. Vai e sê mulher, sê feliz. A misericórdia não passa ao lado do pecado, o pecado é perdoado por Jesus; a misericórdia reabilita-a para uma vida nova. Jesus não desculpa o pecado, não desvaloriza ou disfarça o mal. Desculpabilizar não é perdoar, é contornar o problema, varrer para debaixo do tapete. Reconhecer o pecado, o mal feito, é levar a sério a pessoa, na sua liberdade, consciência e responsabilidade. Perdoar é aceitar a pessoa com as suas limitações e as suas falhas. Ela pecou, como o homem que estivera com ela também pecou. Jesus di-lo claramente: vai e não voltes a pecar. Não te condeno. Os teus pecados estão perdoados. Esta mulher é reabilitada como filha amada de Deus.
O desafio é para ela, para fariseus e doutores da lei, e para todos. Obriga-nos a olhar para nós para que não condenemos nem injusta nem levianamente. Perdoar as injúrias. Suportar com paciência as fraquezas do próximo. Perdoar porque primeiro Deus nos perdoa!
Onde abunda o nosso pecado superabunda a graça, a misericórdia, a benevolência de Deus.
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Textos para a Eucaristia (C): Is 43, 16-21; Sl 125 (126); Filip 3, 8-14; Jo 8, 1-11.
REFLEXÃO DOMINCIAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE