Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador
1 – Sincera, a oração aproxima-nos de Deus e dos outros.
O combustível da fé é a oração, pois coloca-nos diante de Deus, tal como somos, com a nossa pobreza, as nossas fragilidades, o nosso pecado, mas também com a beleza que nos filia em Deus, pois somos Sua imagem e semelhança. Se nos achegamos a Deus fechados no que somos, impedimos que Ele nos limpe a alma, nos ilumine o coração com a Sua graça infinita. A desgraça de Adão e Eva não é o pecado, para a falta de confiança em Deus e a incapacidade de se reconhecer com as suas faltas, deixando-se trespassar pelo Seu olhar misericordioso. O pecado não afasta Deus de nós. O pecado afasta-nos de Deus, pela vergonha do encontro, pelo temor por termos traído o Seu amor e acharmos que Ele nos vai destruir, ou não vai olhar para nós com a mesma predileção. A oração é remédio contra o medo e vergonha que nos impede de nos abrirmos à luz de Deus.
A oração é encontro connosco, com a realidade que nos identifica nas sombras e nas luzes, nas qualidades e nas imperfeições, nos sonhos e nos medos, nos projetos e nos fracassos. Encontramo-nos connosco para nos deixarmos embalar pelo olhar de Deus.
A oração é encontro, ou oportunidade de encontro, com os outros. A oração dilata o nosso coração para acolhermos os outros, reconhecendo-os como irmãos, tratando-os como iguais, cuidando deles como de Cristo. Há pessoas que acolheram Anjos sem o saber... Se nos colocarmos diante de Deus, com sinceridade de coração, reconhecê-l'O-emos como Pai e, consequentemente, nos assumiremos como irmãos. Não faz sentido que tratemos Deus por Pai sem reconhecermos e assumirmos os outros como irmãos. O amor a Deus, resposta ao amor de Deus por nós, exige, como resposta, o amor ao nosso semelhante. Cabe-nos amar os que Deus ama como filhos.
2 – A oração purifica o nosso olhar, tornando-nos mais cientes do que somos. Jesus conta-nos a parábola de dois homens que sobem ao Templo para rezar, um fariseu e um publicano. A motivação para esta parábola, diz-nos o evangelista, é para aqueles que se consideravam justos, desprezando os outros. Estamos dentro da parábola.
O fariseu apresenta-se a Deus considerando-se acima de qualquer imperfeição, contrapondo o pecado dos outros: "Meu Deus, dou-Vos graças por não ser como os outros homens, que são ladrões, injustos e adúlteros, nem como este publicano. Jejuo duas vezes por semana e pago o dízimo de todos os meus rendimentos". O foco da sua oração não é Deus, não é o louvor ou a ação de graças, não é a intercessão por si, pela família ou pelos outros, a sua oração é crítica mordaz e destrutiva em relação ao seu semelhante. Poderia interceder, mas acusa sobranceiramente os outros.
A oração há de ser transparente, humilde, de quem reconhece a sua pobreza para se deixar enriquecer pela pobreza de Deus, pelo Seu amor, pela Sua graça infinita. Deus é Pai e como Pai bem sabe o que precisamos, bem sabe quem somos. E como Pai não está à espera que denunciemos os irmãos, que são igualmente Seus filhos, mas, quando muito, que intercedamos a favor deles, defendendo-os.
O publicano apresenta-se a Deus com a sua miséria, sem muitas palavras, mas com a sinceridade do seu coração: "Meu Deus, tende compaixão de mim, que sou pecador". Não precisamos de fingir diante dos nossos pais. Não precisamos de fingir diante de Deus que é Pai. Basta abrir o coração e deixar que Deus nos purifique.
A concluir Jesus diz que o publicano saiu justificado enquanto o fariseu tem um caminho longo a percorrer, "porque todo aquele que se exalta será humilhado e quem se humilha será exaltado".
3 – A soberba isola-nos, empobrece-nos, afasta-nos dos outros, impede que aprendamos, que cresçamos, amadurecendo. A pobreza dispõe-nos perante Deus e perante os outros, capacita-nos para aprendermos com os outros, enriquecendo o nosso vocabulário humano.
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Textos para a Eucaristia (ano C): Sir 35, 15b-17. 20-22a; Sl 33 (34); 2 Tim 4, 6-8. 16-18; Lc 18, 9-14.
REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço.