Filho, vai hoje trabalhar na vinha
1 – Deus chama. Chama-nos. Sempre. A todas as horas. Não desiste. Nunca desiste de nós. Não desiste de nos procurar. Procura-nos. Vem ao nosso encontro. Faz-Se um de nós. Assume-nos. Por inteiro. Como inteiro é o Seu amor por nós. Em Jesus Cristo, Deus entra na história. Torna-Se carne da nossa carne, osso dos nossos ossos.
"Ele, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Assumindo a condição de servo, tornou-Se semelhante aos homens".
Poderíamos pensar que vinha apenas para os que O conheciam há mais tempo. Ou para um grupo de iluminados. Ou que viria para os puros, os sãos, os santos. Mas não. Não. Deus vem para todos. Primeiramente, Deus vem para os pequeninos, para os pecadores…
A benevolência de Jesus só esbarra com a hipocrisia.
A misericórdia de Jesus não enjeita ninguém. Encontramo-l’O junto de leprosos, coxos, cegos, publicanos, mulheres de má vida, pecadores públicos, estrangeiros, crianças, mulheres, viúvas, pobres… Não tem telefone. Nem caixa de correio. É aí que O encontramos, onde ninguém vai sem se incomodar. Podemos encontrá-l'O em nossa casa, no nosso coração. A condição social, económica, cultural, religiosa, não é entrave para Jesus. A prioridade de Jesus são os pobres. Na hora de cuidar, de prestar atenção, é com eles que Ele Se quer. E nós?
2 – Segunda parábola de Jesus tendo como pano de fundo a vinha.
Lá está a multidão. Na primeira fila, os príncipes dos sacerdotes e os anciãos do povo. Os que sabem mais. Os que (aparentemente) sabem tudo e que têm o poder em mãos: «Que vos parece? Um homem tinha dois filhos. Foi ter com o primeiro e disse-lhe: ‘Filho, vai hoje trabalhar na vinha’. Mas ele respondeu-lhe: ‘Não quero’. Depois, porém, arrependeu-se e foi. O homem dirigiu-se ao segundo filho e falou-lhe do mesmo modo. Ele respondeu: ‘Eu vou, Senhor’. Mas de facto não foi. Qual dos dois fez a vontade ao pai?». Prontamente Lhe respondem, convictos e resolutamente: «O primeiro».
Cumpre a vontade do Pai não aquele que Lhe diz sim com os lábios, negando-O com a vida, mas todo aquele que, mesmo errando, procura corrigir o seu caminho, ajuda os outros, insiste no bem, na verdade, aproximando-se da justiça, é exigente consigo e tolerante com os outros, não se coloca acima, estende as mãos para os outros.
Caso de haver dúvidas: «Em verdade vos digo: Os publicanos e as mulheres de má vida irão diante de vós para o reino de Deus».
Lá voltamos nós! Não importa a origem, a condição social, ou até a religião, não importa a riqueza ou a pobreza, não importa se somos cidadãos nativos ou estrangeiros, homens ou mulheres, não importa como chegamos aqui. Então o que importa? Um coração disposto a segui-l'O. Eis que o Mestre está a chamar! Como Lhe respondemos? Tentamos cada dia sermos mais parecidos com Ele?
3 – Seguir Jesus, implica, antes de mais, a identificação com Ele – "Para mim viver é Cristo". Jesus precede-nos, identificando-Se connosco. Ele que era de condição divina, fez-Se servo por nossa causa. Agora é tempo de nós nos identificarmos com Ele.
Trabalhar na vinha do Senhor significa também, inevitavelmente, procurarmos a unidade, a comunhão com todos. Se estamos ligados a Cristo, teremos de estar ligados aos irmãos de Cristo, que nossos irmãos são. Como uma fiada de luzes em série, como nas luzes de Natal, falha uma, todas falham, ou falham daí para a frente.
Escutemos atentamente o Apóstolo:
"Completai a minha alegria, tendo entre vós os mesmos sentimentos e a mesma caridade, numa só alma e num só coração. Não façais nada por rivalidade nem por vanglória; mas, com humildade, considerai os outros superiores a vós mesmos, sem olhar cada um aos seus próprios interesses, mas aos interesses dos outros. Tende em vós os mesmos sentimentos que havia em Cristo Jesus".
Textos para a Eucaristia: Ez 18, 25-28; Sl 24 (25); Filip 2, 1-11; Mt 21, 28-32.