«Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?»
1 – «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me».
Jesus compreende a nossa limitação, mas também a capacidade de progredirmos. Alguém se aproxima de Jesus, ajoelha-se e pergunta: «Bom Mestre, que hei de fazer para alcançar a vida eterna?».
Aquele homem tem pressa em chegar perto de Jesus e esperança de encontrar respostas para a inquietação que lhe vai na alma. Deixou o que estava a fazer! Ou não queria perder tempo porque tinha muitas ocupações! Jesus responde-lhe com a Sagrada Escritura: «Porque Me chamas bom? Ninguém é bom senão Deus. Tu sabes os mandamentos: Não mates; não cometas adultério; não roubes; não levantes falso testemunho; não cometas fraudes; honra pai e mãe’».
Só Deus é Deus, só Deus é bom. Como seres humanos estamos a caminhar. Jesus recorda os mandamentos, sancionando a mensagem mosaica. Porém, cumprir a lei só por cumprir, como obrigação imposta, ou como tradição convencionada, não traz alegria à vida. A vida enfaixada na lei, nos preceitos, nos medos, sem convicção. Falta a chama do amor, da paixão, da vida nova.
Cumprir regras, em obediência cega, não implica viver. Jesus lança-lhe e lança-nos o repto: «Falta-te uma coisa: vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu. Depois, vem e segue-Me». Nada se pode interpor entre nós e o seguimento. Se temos muitos afazeres, o seguimento de Jesus não é (ainda) para nós.
2 – «Como será difícil para os que têm riquezas entrar no reino de Deus!»
Jesus sendo rico fez-Se pobre para nos enriquecer com a Sua pobreza (cf. 2 Cor 8, 9). O chão do Evangelho: serviço aos outros e sobretudo aos mais pobres. Quem quiser ser o maior será o menor de todos e o servo de todos (cf. Mc 9, 30-37).
Este homem tinha muitos bens para “comprar” a vida eterna! Mas o que há de mais importante na vida não tem preço. Em contrapartida, Jesus oferece-lhe a vida eterna! Como dom!
Apesar de ser "materialmente" um homem muito rico, é espiritualmente um homem muito pobre, que não consegue ser feliz. Há mais alegria em dar do que em receber (cf. Atos 5, 35). A felicidade mede-se mais pelo número de amigos do que pela quantidade de bens.
3 – A opção preferencial pelos mais pobres, o compromisso social, a erradicação da pobreza, estão bem vincadas neste texto. Àquele homem é proposto o despojamento e a partilha; a pobreza como opção de vida. Uma pobreza para enriquecer os demais e para se enriquecer com o maior dos tesouros: a vida eterna. "De nenhum fruto queiras só metade" (Miguel Torga). Vive a vida por inteiro, e não à espera; como ator e não como espectador; age, atua, transforma o mundo que habitas. Não guardes somente para ti. Quando partires, segue contigo o que foste e viveste, nunca o que adquiriste. Verdadeiramente teu é o que partilhares com os outros. As coisas que guardas não as possuis, são elas que te possuem.
O que está em causa não são os bens ou a riqueza material, mas a avareza, a ganância desmedida. Naquele homem não há espaço para a vida, para a alegria, para a festa, para a partilha.
«Meus filhos, como é difícil entrar no reino de Deus! É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que um rico entrar no reino de Deus».
Todos precisamos de bens que permitam viver com dignidade. O trabalho honesto e retribuído com justiça dignifica o trabalhador e o proprietário. Importa não esquecer, parafraseando Jesus Cristo, que o trabalho é para engrandecer a pessoa e nunca para a escravizar.
4 – «Quem pode então salvar-se?». A resposta de Jesus é clarificadora: «Aos homens é impossível, mas não a Deus, porque a Deus tudo é possível». Não somos nós que nos salvamos, é Deus que nos salva para além do tempo e da história. É Deus, somente Deus, que nos resgata na nossa mortalidade e nos abre as portas da eternidade. A promessa de Jesus envolve também as perseguições, as dificuldades.
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Textos para a Eucaristia (B): Sab 7, 7-11; Sl 89 (90); Hebr 4, 12-13; Mc 10, 17-30.
Reflexão dominical COMPLETA no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE