A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida
1 – “O que tens de partir para reunir uma família? Pão, evidentemente” (Jodi Picoult).
O pão é símbolo de todo o alimento biológico, antes de mais, mas também espiritual, afetivo, cultural. Mas em si mesmo o pão é alimento, rico em hidratos de carbono, pobre em açúcares e gorduras, fonte de fibras que ajudam ao equilibro intestinal, fonte de vitaminas (tipo B) e minerais (cálcio, magnésio e fósforo…). O pão tem menos sal que os seus substitutos como bolachas, biscoitos, bolos, cereais prontos a comer… e provoca mais rapidamente a sensação de saciedade, tornando-se parte essencial de qualquer dieta.
Ainda que haja muitas variedades de pão, a sua confeção é muito simples. Farinha, água, sal e fermento, na justa medida! Pode facilmente transportar-se e não precisa de grande esforço para se conservar. Algum do simbolismo do pão advém do próprio pão: o trigo ou centeio que é lançado à terra, cresce como planta, produz as espigas que a seu tempo darão os grãos maduros. Debulhados, os grãos serão moídos para se transformarem em farinha, tornando-se o ingrediente principal do pão, amassada (juntando o sal, o fermento, a água) e levedada, levada ao forno e, passado algum tempo, estará suficientemente cozido para ser comido, saboreado e saciar a fome de muito. Um pão é feito de muitos grãos. Um pão pode congregar muitos à volta da mesa e ser partilhado por muitos! Trabalho de muitas mãos. Unidade. Partilha e comunhão. Semente, planta, trigo, farinha, massa, pão, pessoas que comem do mesmo pão, condividindo-o!
O pão é um alimento prático, simples e bastante acessível. É nesta simplicidade que Jesus Se nos dá por inteiro.
2 – «Eu sou o pão vivo que desceu do Céu. Quem comer deste pão viverá eternamente. E o pão que Eu hei de dar é minha carne, que Eu darei pela vida do mundo».
A discussão adensa-se. Jesus afirma que é o Pão vivo descido do Céu, e logo acrescenta que o Pão que nos dá é a Sua própria carne. Ser o Pão da vida poderia tratar-se de uma comparação, uma imagem. Agora dizer que é a Sua carne? Como é possível que nos dê a Sua carne? Como é possível comer a Sua carne e beber o Seu sangue? Acaso podemos tornar-nos canibalistas?
«A minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em Mim e Eu nele. Assim como o Pai, que vive, Me enviou e Eu vivo pelo Pai, também aquele que Me come viverá por Mim…».
As palavras de Jesus são tão vivas e específicas que alguns discípulos seguem outro caminho.
3 – O Verbo encarnou e habitou entre nós. Em Jesus, Deus faz-Se carne, assume a nossa condição humana, sujeitando-se às coordenadas do tempo e do espaço. Carne, corpo, vida humana. No judaísmo quando se fala de carne ou de corpo fala-se precisamente da pessoa como um todo, corpo, alma e espírito. Quando Jesus Se consome a favor da humanidade entrega a Sua vida por inteiro.
Mas a expressividade vai ainda mais longe. O Corpo sublinha a vida. O sangue (derramado) aponta para a morte. Jesus oferece-nos a Sua vida e a Sua morte para nos salvar, para nos introduzir no mistério da Sua ressurreição.
O evangelista São João não descreve a instituição da Eucaristia no decorrer da Ceia, mas apresenta a multiplicação dos pães nos mesmos contornos. Logo Jesus Se revela como o Pão vivo: Carne, Corpo, Sangue, Vida entregue por nós. A Eucaristia torna presente o mistério pascal de Jesus. Faz com que Jesus seja nosso contemporâneo. Oferece-Se de uma vez para sempre, mas por ação do Espírito Santo, em Igreja, podemos participar hoje (sacramentalmente) no Seu mistério pascal. Também a nós Jesus nos diz: a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira bebida. Eu Sou o Pão da vida. É precisamente no Pão e no Vinho, no mistério da Eucaristia, que Jesus nos dá o Seu Corpo e o Seu sangue, como alimento para esta vida e até à vida eterna.
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Textos para a Eucaristia (ano B): Prov 9, 1-6; Sl 33 (34); Ef 5, 15-20; Jo 6, 51-58.