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...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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25.03.14

LEITURAS: José Maria Cabral - O desafio da Normalidade

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JOSÉ MARIA CABRAL. O Desafio da Normalidade. (Impressões do fim da vida). Rei dos Livros. Lisboa 1994, 2.ª Edição. 296 páginas.


       Ler um bom livro pode ajudar a abrir a mente e o coração, a pensar em ideias positivas, em deixar-se desafiar pela história vivida e contada em momentos de grande provação. Na parte final do livro MANUEL FORJAZ, Nunca desistas da Vida, que fizemos questão de ler e, após a leitura envolvente, achamos por bem sugerir, cujo testemunho do autor tinha como um dos propósitos incentivar outras pessoas com cancro a manter as rotinas, procurando manter a mesma agenda, fazer o que se costumava fazer, não alterar nem hábitos nem afazeres. Lembramo-nos então destoutro comovente testemunho. Lemo-lo há vários anos, lá para o ano de 1996. Depois disso voltamos a repescar algumas passagens.

       José Maria Cabral é médico, ligado precisamente à oncologia. Familiar e próximo de muitas pessoas com cancros e com cancros de muitas estirpes. No dia 8 de outubro de 1991, às três da tarde, no meio do trabalho, foi-lhe comunicado que sofria de uma doença maligna incurável (linfoma maligno). "O cancro parece representar o princípio do mal, a dissolução da unidade, a desindividualização. Por tudo isto e por razões mais obscuras, o cancro, entre outros males, constitui um verdadeiro desafio à normalidade".

       A primeira reação é de dor, de surpresa, de medo. A reflexão fá-lo fixar-se no outono, o declínio da natureza e do espírito. Como sempre, procura a calma serena. "Preparei a minha esperança para dar sentido a uma nova etapa da vida... Percebi a minha nudez... Sentia-me novo para morrer". 44 anos... "Antes, mais jovem tinha preguiça em deitar-me, agora tinha preguiça em permanecer ativo e só pensava em adormecer"... Os médicos são os doentes mais piegas.

       Com o progredir da doença e dos tratamentos, fica cada vez mais dependente, mais exposto aos outros. Agora está do outro lado. Não é médico, é o doente, com neessidade de atenção, de cuidado, de precauções variadas. Mas insiste com a vida. Não deixa de viver a família, com a mulher e os filhos, e de fazer viagens. Naquele que ele define como "o ano da minha morte", não deixa de ir numa viagem a Roma, embora seja o Porto, a sua cidade, e a família, os espaços onde se sente feliz.

       Perpassa muito sofrimento, certamente. A linha condutora, porém, é de grandeza corajosa, procurando viver bem, fazer as coisas mais normais como ir à casa de banho, apreciar pequenas vitórias, enfrentar os medos, os próprios mas sobretudo os da família. Custa mais ainda o sofrimento que a família possa vir a ter. Tem pouco tempo de vida. Mas quer esgotar as hipóteses que lhe são colocadas para minorar a dor ou a possibilidade de cura, calculando o preço/benefício. Sobrevém uma grande fé em Deus. Há um momento em que a normalidade parece ser aceitar a própria morte como inevitável, para não sofrer e não fazer sofrer os outros. É um testemunho muito lúcido sobre a vida, o amor, a família, a introspecção (o Porto e a família), a beleza, a alegria e a santidade, o trabalho e os amigos. Pedindo emprestado as palavras a Manuel Forjaz, diria que o cancro o matará mas não matará a sua a vida, relacionando-se com os amigos, com a família, com o mundo, com Deus. Enquanto houver tempo, há que viver o melhor possível, procurando viver, com as limitações da doença, a normalidade. Estuda com afinco os tratamentos. Às tantas dão-o como curado, que é sol de pouca dura... Novos tratamentos... transplante da medula óssea... debates acesos... perante 5% de hipótese, valerá a pena submeter-se a novo tratamento? Em Paris, ou em Portugal... sempre o Porto.

 

Da dedicatória do livro:

"Diverte-me a vida, aprecio a vida com intensidade todos os dias. Todo o tipo de vida: vegetal, animal, humana, espiritual..., a criação!
Agradeço aos que me ajudaram no aprofundamento deste sentimento que me arrebata.
Agradeço a dedico estas considerações em particular à minha mulher e aos meus filhos, à família que me faz viver".

 

Frases avulso:

"Como custa o silêncio! O silêncio da aceitação e obediência, o silêncio para me encher dos outros e me encher de nada de mim!" (p 58).

 

"As batalhas do meu temperamento desigual oscilavam assim dentro de uma grande amplitude, entre o fantástico e o péssimo, entre a realidade e o sonho, entre a alegria e a tristeza, entre a amizade e o isolamento, entre a glória e o arrependimento" (p 69)

 

Sobre Mafalda, a mulher: "Eu sofria por ver a dor dela e ela sofria por ver que sobre a minha dor eu tinha a dor pela dor dela. Cada um de nós como desaparecia na dor do outro" (p 82).

 

"O mês de janeiro chegou. Entrei no ano da minha morte. Era assim que eu interpretava a minha vocação" (p 100).

 

"Admirava cada vez mais a criação. Quanto mais sentia que nada do que existia era meu, que as minhas coisas e o meu corpo estavam hipotecados, mais gosto tinha pela vida e pelas coisas, pelas coisa em si, não porque fossem minhas... Eu não tenho nada, mas nada, nada meu! E que importa" (p 101).

 

"Sempre o tempo, sempre o espaço sem tempo, sempre o espírito sem a morada do tempo, sempre a qualidade sem medida... O homem sem tempo não pode ser homem! O tempo parece a alma do homem. Espaço e tempo, corpo e alma, dor e liberdade, obediência e vontade, ato e desejo, diversidade e unidade, dilemas longos e irreais como essas horas sem ritmo" (p. 125).

 

"É preciso amar inteiramente sem contrapartidas. Amar é querer estar sempre vivo para morrer. É preciso amar sem ver, sem possuir, viver com o estranho e o doloroso instrumento da fé, não a minha mas a que Deus me oferece" (p 196)

 

"Não poderei transportar uma árvore para o mar e plantá-la.mas poderei ver Deus face a face, poderei plantar-me na intimidade divina. Deus roçou o universo do querer humano. Deus procurou na pequenez do homem a grandeza divina. Deus quis-se na vontade do homem" (p 290).

28.02.14

GOMES MACHADO. Edith Stein: Pedagoga e Mística.

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António José GOMES MACHADO. Edith Stein: Pedagoga e Mística. Editorial A.O., Braga 2008, 304 páginas.

       António José Gomes Machado dá à estampa este livro correspondente à dissertação de Mestrado em Ciências Religiosas, sobre Edith Stein que viria a converter-se em Teresa Benedita da Cruz. Nasceu em Breslau, na Alemanha, em 12 de outubro de 1981. Este dia coincidia com o Dia do Perdão, para os judeus, uma das festas judaicas mais significativas.

       Como é sabido, o século XX é marcado pelas duas grandes guerras e também Edith Stein, como judia e como alemã, estará no centro destes dois conflitos. Na primeira, voluntariando-se como enfermeira para ajudar os muitos feridos que chegavam aos hospitais. Na segunda, como vítima da perseguição nazi. Pelo meio fica uma história de procura, de descoberta, de encontro, de conversão, de luta, de persistência.

       A sua família é judia. As festas principais são oportunidades para a família estar mais ligada ao povo da primeira Aliança, promovendo ritos, tradições, costumes. Cedo verificará que a vida não é consequente com a fé professada e celebrada, sendo que as festas judaicas se tornam sobretudo encontro com a família mas não tendo uma tradução prática na vida quotidiana. Por volta dos 14/15 anos chega assaltam em definitivo as dúvidas e a busca pela verdade, por um sentido mais pleno para a vida. Deixa a escola e passa por um tempo em que se mistura o agnosticismo, o indiferentismo religioso, e até o ateísmo, mas sem uma clara animosidade em relação à religião judaica ou outra.

       Como nos mostra o autor, a sua busca levá-la-á a Santa Teresa de Ávila (Teresa de Jesus), a mística que renovou o Carmelo. Nunca deixando de procurar um sentido para a vida, a verdade, Edith Stein volta a estudar, entra em contacto com o pai da Fenomenologia, tornando-se sua discípula, mas não se fixando aí. Contacta com outros filósofos como Max Scheler, católico. Lê a autobiografia de Santa Teresa de Jesus e dá-se o clique: é esta a verdade. A partir de então, embora continuando a investigar, a dar aulas, explicações, na área da educação e da pedagogia, procura assumir a conversão, compra o Catecismo da Igreja Católica e um Missal, pede a um sacerdote para ser batizada e torna-se católica. A sua busca continuará sempre. As suas investigações terão um ponto de apoio, Jesus Cristo, o Messias anunciando pela Sagrada Escritura, esperado pelos judeus, e que ela descobre em Jesus. Concorre para uma cátedra na universidade mas, por ser mulher, é impedida. Então resolve seguir em definitivo a sua vocação, torna-se religiosa, procurando imitar Santa Teresa de Jesus.

       Entramos na segunda guerra mundial. As religiosas acham por bem que se mude para a Holanda, para outro Carmelo. Os Bispos holandeses acharam por bem emitir uma Carta Pastoral denunciando as atrocidades cometidas pelos nazis. Esta carta foi lida em 24 de julho de 1942 em todas as Igrejas católicas da Holanda. Como resposta, os representantes do Reich ordenaram a deportação de todos os judeus católicos, arrancando-os dos conventos. Também Edith foi detida a 2 de agosto de 1942, juntamente com a irmã Rosa Stein. Passaram por alguns campos de concentração, até que no dia 7 de agosto foram deportadas para o mais famoso campo de extermínio Auschwitz-Birkenau, onde chegara no dia nove do mesmo mês. Nesse dia, as que chegaram nesta leva, foram conduzidas para uma câmara de gás para serem mortas. Durante a noite os seus corpos foram queimados.

       O livro apresenta os dados biográficos de Santa Teresa Benedita da Cruz, mas também os frutos da sua investigação acerca da educação e da pedagogia, sendo que ela própria procurar colocar em prática o que ensinava.

       É uma leitura que permite conhecer melhor a co-padroeira da Europa (ao lado de Santa Brígida da Suécia e Santa Catarina de Sena), com muitos textos da própria Edith Stein. O livro é um extraordinário testemunho de vida, na procura permanente pela verdade, pelo bem, por um sentido para a vida.

21.02.14

LEITURAS: Santa Teresa do Menino Jesus - História de uma Alma

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Santa TERESA DO MENINO JESUS. História de uma Alma. Manuscritos Autobiográficos. Editorial A. O., 14.º Edição. Braga 2009. 352 páginas.

       Padroeira das Missões, Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face, também reconhecida por Santa Teresa de Lisieux, é uma das figuras maiores do Carmelo e da Igreja, onde figuram por exemploe Santa Teresa de Jesus / Santa Teresa de Ávila, que lhe serve de inspiração em muitos momentos, ou Santa Teresa Benedita da Cruz / Edith Stein.

       Conhecer o que se escreveu sobre os santos, ou sobre o comum dos mortais, é uma forma de nos inteiramos das suas vidas. Contudo, mais importante será ler o que os próprios escreveram sobre a sua vida e sobre a sua vocação. Teresa do Menino Jesus nasceu em 2 de janeiro de 1873, e foi-lhe dado o nome de Maria Francisca Teresa Martin. Com quatro anos a família fixa-se em Lisieux. Vive num contexto de grande religiosidade, de tal forma que as cinco irmãs que sobreviveram à infância se tornaram religiosas. Teresa do Menino Jesus foi admitida no Carmelo antes da idade permitida, tendo recorrido ao Bispo e ao Papa. Consegue ser admitida com 15 anos, depois de muita persistência, orações, intercessões, súplicas ou como a própria refere depois de muito sofrer. Um dos momentos reveladores é a 13 de maio de 1883, domingo de Pentecostes, recebe o sorriso da Virgem Maria e a cura milagrosa e inexplicável,quando se encontrava gravemente doente.

       A sua delicadeza e a procura constante por viver identificada com Jesus Cristo, com a Sua Cruz, grangearam-lhe, ainda em vida, a admiração de irmãs e/ou sacerdotes que a acompanhavam. Por isso lhe foi solicitado que escrevesse as suas memórias, para que depois da morte outros possam benificiar do testemunho da sua vida. São muitos os padecimentos por que passa, procurando não deixar trasnparecer para os outros, para não dar trabalhos às irmãs de clausura. Por vezes mantém-se heroicamente de pé só para obedecer a alguma irmã. Por outro lado, a morte não assusta. Seguindo o testemunho de São Paulo, quer na morte quer em vida, o que importa é fazer a vontade de Deus, identidicando-se com Jesus Cristo.

       Morre em 30 de setembro de 1897, com 24 anos de idade. Muito jovem mas com uma longa história de vida que tem inspirado muitas conversões. Foi beatificada em 29 de abril de 1923 3 canonizada em 17 de maio de 1925, pelo Papa Pio XI, o mesmo que em 14 de dezembro de 1927 a declara Padroeira das Missões.

       Em 19 de outubro de 1997, o Papa João Paulo II declara-a Doutora da Igreja. Refira-se que o Santo Padre ja tinha ido em peregrinação a Lisieus em 2 de junho de 1980. Por outro lado, o mesmo Papa declara Veneráveis os pais de Teresa do Menino Jesus, em 26 de março de 1994. Serão beatificados em 19 de outubro de 2008, em Lisieux.

       Depois de muitas revisões, o texto que ora recomendamos procura ser o mais fidedigno, apresentando notas com a indicação de palavras acrescentadas, ou rasuradas, pela próprio ou pelas Madres. Mas mais importante, esta é uma leitura verdadeiramente fundamental para entender a vida e a santidade de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.

(Jesus bate à nossa porta - quadro pintado por Santa Teresa do Menino Jesus, em 1982, oferecido à sua irmã Celina)

(Teresa do Menino Jesus no papel de Santa Joana d'Arc, em 21 de janeiro de 1895)

(Retrato de Santa Teresa, pintado pela sua irmã Celina, alusivo à chuva de rosas que Teresa prometeu fazer cair sobre a terra quando chegasse ao Céu)

11.01.12

11. Só Deus é DEUS

mpgpadre

Só Deus é Deus.
Deus e a idolatria.
Religião e Maçonaria.
(Im)perfeição humana: ilusão e desilusão.
Só Deus é Deus. Só a Deus devemos considerar Deus. Só a Ele a nossa adoração.
O ser humano, por mais perfeito que seja, é sempre humano, limitado e finito.
A Sagrada Escritura diz-nos que Deus criou o ser humano pouco abaixo dos anjos, criou-os para se tornarem deuses. Mas a mesma Bíblia faz uma clara separação de águas. Deus é Transcendente, Criador. O ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, é chamado à comunhão com Deus, a aperfeiçoar-se, a assemelhar-se a Deus, com a mesma capacidade de amar e ser amado.
Por um lado, a nossa identidade liga-nos a Deus, trazemos em nós os gérmenes do divino. Por outro lado, vem ao mundo para nos ensinar a viver humanamente.
Se reconhecermos que esta ou aquela pessoa, esta ou aquela ideologia, podem ser absolutizadas, embarcamos no que se chama idolatria. Esta pode referir-se a adoração de uma pessoa, de uma ideologia, de um aspeto da vida.
Quando se exclui Deus, facilmente, assim pensamos, se substitui por outro Deus, por outro absoluto. Se olharmos para a história, os que foram endeusados ou que se endeusaram, tornam-se ditadores, assassinos, corruptos, violentos. E assim também, o foram em nome de ideologias.
Reconhecer que só Deus é Deus e que o ser humano é ser humano ajuda também a viver as nossas relações humanas com mais facilidade. Havemos de olhar para o outro como rosto de Deus, para o respeitarmos, para o amarmos. Mas sem absolutos. Continua a ser pessoa. Em qualquer altura pode errar. Errar é humano.
Religião e maçonaria.
Deixando de lado as polémicas que se têm acentuado, com maçonaria que considera a religião como ponto de partida e de chegada e a maçonaria a-religiosa, laica, dois pontos de contacto importantes:
a) Ordem existente. Reconhecimento de "ALGO", Alguém. Pode recusar-se Deus, e as estruturas e dogmas e ritos que orientam as religiões tradicionais, mas vai-se a ver e afinal a maçonaria tem regras bem rígidas (ou dogmáticas), estruturas formais, ritos rigorosos, degraus, hierarquia, estruturas de obediência e de poder.
b) Na Igreja, na maçonaria, nos grupos, em movimentos, associações, fundamentadas em regras voluntariosas, mas que se concretizam muitas vezes na imposição. Quando a tentação do poder ultrapassa o serviço ao semelhante, à sociedade, aos mais frágeis, os fins para os quais surgiram desaparecem. Importa, também aqui, a vigilância, a atenção, para não se "cair" rapidamente naquilo que se procurava combater. É necessário um discernimento constante.

Do que se disse até aqui, um outra acentuação.
Reconhecer Deus como Deus - só Ele é perfeito - reconhecer o ser humano na sua imperfeição e finitude, para viver saudavelmente com os outros.
Se apostarmos na perfeição de alguém, mais cedo ou mais tarde, podemos magoar-nos profundamente. A pessoa não é Deus. Não é omnipotente, todo o poderoso, omnisciente, omnipresente.
Quando pensamos que nos encontramos diante de uma pessoa perfeita devemos saber que poderemos estar diante de uma pessoa boa, generosa, humilde, honesta, mas não diante de alguém infalível.
Podemos iludir-nos, porque procurávamos alguém assim, alguém perfeito, alguém que superasse a nossa imperfeição, ou nos completasse, alguém que não nos desiludisse, alguém em quem não se encontrassem os defeitos e as limitações que tínhamos encontrado no passado. Mas a ilusão pode dar lugar à desilusão, à mágoa.
Augusto Cury lembra-nos para não depositarmos demasiada confiança nas pessoas.
Não significa que não se aposte nas pessoas, ou que não se confie nelas, mas não ao ponto de as considerar como a Deus, pois na volta a mágoa poderá ser destrutiva.
Há que confiar, vivendo humanamente, na procura pela superação, pedindo a Deus o discernimento para escolhermos o que nos liga aos outros, o que nos realiza como pessoas, e como filhos de Deus.

07.01.12

7. "Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste"

mpgpadre

"Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste" (Mt 5, 48).
"Sede misericordiosos como o vosso Pai é misericordioso" (Lc 6, 36).
Estamos no dia 7 de janeiro. Vamos no sétimo dia do ano. Para os judeus (para a Bíblia), os números têm um simbolismo muito próprio.
O 7 é o número da perfeição, da plenitude.
Deus criou o mundo em 7 dias.
Ao sétimo dia descansou. O descanso faz parte da criação, a contemplação da obra criada. Para nós, oportunidade para o louvor, para o encontro, para a partilha, para a comunhão.
Perdoar 7 vezes, ou até 70x7, significa perdoar sempre.
Deixando-nos interpelar pelo número 7, procuremos responder segundo a nossa vocação primordial: a santidade.
O desafio de Jesus no Evangelho aponta para as alturas, para o próprio Deus Pai.
Os cristãos não se devem resignar ao mínimo, garantido, mas à plenitude de Deus, almejando ir sempre mais além.
Por outro lado, como nos recorda o Concílio Vaticano II, a santidade não é uma característica das pessoas consagradas, dos religiosos e religiosas, mas é a vocação própria de todos os baptizados. A perfeição vem-nos de Jesus Cristo, pelo Espírito Santo, pelo Batismo tornamo-nos novas criaturas, somos santificados por Ele, o Cordeiro que tira o pecado do mundo.
Desde então o nosso olhar e o nosso coração estão voltados para a origem da santidade, o próprio Deus, para a nossa identidade primeira: filhos de Deus. A santidade é um caminho que havemos percorrer se queremos que a nossa vida não se feche, não se apague, não se perca, mas desemboque na eternidade de Deus.
Está ao alcance de todos. Como dizíamos ontem, nem todos podemos ser frondosas árvores na montanha, mas podemos tornar-nos pessoas extraordinárias se ousarmos guiar a nossa vida por um IDEAL, que para nós cristãos tem um rosto: Jesus Cristo, o rosto de Deus, e que se torna visível em cada pessoa que encontramos.
Quando Jesus diz aos seus discípulos para serem perfeitos, ou misericordiosos, como o Pai celeste, di-lo no desafio de amarem os outros como a si mesmos, amando até os inimigos.
Amar os inimigos é reconhecer que eles não são maiores, nem o nosso azedume, do que o amor que há na nossa vida e que há de habitar o meu, o teu, o seu coração.
O caminho da santidade é o regresso ao melhor de nós, à nossa identidade: tornarmo-nos aquilo que somos (pelo batismo): filhos amados de Deus.

22.06.11

Faz, ó Pai, com que Te ame

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Ó Deus,

Só a Ti é que amo.

Só a Ti procuro.

Só a Ti quero servir.

Só Tu deves ser o meu Amo.

Expulsa de mim a vaidade,

para que eu possa reconhecer-Te.

Diz-me para onde olhar, para Te ver.

Quero cumprir o que Tu esperas.

Faz, ó Pai, com que eu te procure, preserva-me do erro.

Que na minha busca, nada mais que Tu se me apresente.

Embora seja verdade que não desejo nada mais que Tu,

Faz com que, ó Pai, Te encontre.

E, se ainda houver em mim algum desejo supérfluo,

Que eu queira revestir-me de Ti mesmo

e tornar-me capaz de Te ver".

 

Santo Agostinho (in Família Paroquial da Paróquia de Rio Tinto - 5/06/2011)

28.05.11

A Santidade não passa de moda

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       1 – Nas palavras de Bento XVI: “A santidade não passa de moda, por isso, com o decorrer do tempo, resplandece de forma luminosa e manifesta a tensão perene do homem em relação a Deus”.

       A santidade, porém, não é uma escolha alternativa a outras, é a vocação primordial do cristão. Não é uma utopia, um ideal inatingível, é um compromisso da fé com a vida, com o mundo, com as pessoas, um caminhar constante para a felicidade.

       No Evangelho, Jesus é bem claro: “Sede perfeitos como perfeito é o vosso Pai que está no Céu” (Mt 5,48). A santidade não é um capricho de alguns ou de outros tempos, é a forma de ser daqueles que querem ser seguidores de Jesus Cristo.

       O Concílio Vaticano II acentua a vocação universal à santidade: “todos os cristãos, de qualquer condição ou estado, são chamados pelo Senhor a procurarem, cada um por seu caminho, a perfeição daquela santidade pela qual o Pai celeste é perfeito” (Lumen Gentium, 11).

 

       2 – O mês de Maio, já tão rico e belo, pela devoção e acolhimento a Maria, Mãe de Jesus e Mãe nossa, foi enriquecido por duas beatificações: João Paulo II, a 1 de Maio, em Roma, e de Maria Clara do Menino Jesus, a 21 de Maio, em Lisboa.

        Karol Wojtyla nasceu na Polónia, em Wadowice (Kracóvia), no dia 18 de Maio de 1920, sendo eleito Papa a 16 de Outubro de 1978. Morreu a 2 de Abril de 2005.

       A Polónia é espezinhada pelo poder nazista, durante a 2.ª Guerra Mundial, para logo depois ser dominada pelo comunismo. Duas ideologias que amordaçam a liberdade e a identidade das pessoas e do país. São experiências que marcam. Como Bispo e depois como Papa, João Paulo II pugnará pela liberdade de expressão e pela liberdade religiosa.

       O seu carisma e o testemunho da sua vida, tornam mais apelativa a Mensagem de Jesus e da Igreja. Um Papa global ao encontro das pessoas e dos povos, atento aos mais débeis, desafiando as autoridades e os poderosos para a urgência da paz e da justiça… Até no sofrimento, se tornou imagem de Jesus Cristo sofredor, pronto a testemunhar a Sua fé em toda a parte e em todas as circunstâncias.

 

       3 – Libânia do Carmo Telles de Albuquerque, nasceu na Amadora em 1843 e faleceu em Lisboa em 1 de Dezembro de 1899.

        Dos três grandes ataques do Liberalismo contra a Igreja, a Mãe Clara esteve directamente envolvida em dois deles. No entanto, quando a lei proibiu as Ordens religiosas, Madre Clara fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras, em 1871, atingindo um rápido florescimento.

       Saliente-se a atenção privilegiada aos milhares e milhares de pobres, doentes, desamparados, crianças e infelizes. Em tempo de perseguição sobrevém a caridade e a presença carinhosa de Deus através da Mãe Clara do Menino de Jesus. Ela é o sorriso de Deus que escarnece dos maçons portugueses, nessa época conturbada de perseguição feroz à Igreja.

       Diz João César das Neves, na Agência Ecclesia, “a vida e obra da Mãe Clara é um milagre do humor de Deus, que sorri com amor perante os esbracejos dos homens que O querem atacar, e responde às perseguições com carinho pelos pobres”.

 

       4 – No que se refere a Portugal e recentemente, a beatificação de Jacinta e Francisco, em Fátima, a 13 de Maio de 2000; da Irmã Rita Amada de Jesus, a 24 de Abril de 2005, e a canonização de Nuno de Santa Maria de Portugal, a 29 de Abril de 2009, ambos no Vaticano.

       Afinal a santidade mora aqui, também neste jardim à beira mar plantado. Pode morar em nós…

 

Boletim Paroquial Voz Jovem, Maio 2011.

07.05.11

Morte e vida de Wojtyla (João Paulo II)

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Um homem inteiro foi beatificado. Metade do mundo reconheceu esse mérito na sua fé. Outra parte na sua dimensão de homem decisivo na evolução dum século

       Não é fácil falar de João Paulo II após três dias de convívio próximo. Andou a nosso lado por toda a Roma, no meio de nós, na música, nas imagens, nos grandes momentos, nos cartazes, nas frases, no sorriso, no grande gesto, com uma intimidade fraterna sem qualquer véu de permeio. E na imaterialidade de quem partiu há pouco. Desde a cripta donde saiu a urna, à Basílica junto do túmulo de S. Pedro, à grande Praça e arredores apinhada de povo, solenidade e festa, vida, morte e "ressurreição" dum homem comum e invulgar a quem muito foi dado e aos poucos tudo foi tirado: a voz, o rosto, o gesto, a feição.

       Despojado como um Job, humilhantemente exposto naquela janela do seu gabinete onde lançou bênçãos, palavras doces e amargas, sorrisos e pombas de paz. E onde não conseguiu pronunciar a última Mensagem Pascal. Antes, foi um gemido "urbi et orbi" prenúncio duma morte acompanhada no exterior pelos jovens que o visitaram quando ele já não podia chegar junto deles.

       Um homem que veio de longe, do leste e do frio e trouxe ar do outro pulmão da Europa. Um homem forte que não ocultava a própria fragilidade. Com a referência constante a Deus e a dimensão permanente do homem. Atento ao mundo do trabalho e da contemplação. Senhor da palavra e do gesto profético e das mãos frágeis que quase não abriam a porta do ano 2000. Defensor da vida não apenas no primeiro e no último momento mas em todos os tempos e lugares onde se joga a dignidade de cada ser humano. O homem - a grande causa defendida nos templos e nos areópagos.

       Um poeta de Deus que não perdeu nunca a dimensão doutrinal do seu ministério e a exigência  da teologia actualizada. Um impulsionador do Concílio que nunca deixou de o amar, mesmo nas interpretações fantasiosas de alguns teólogos e pastoralistas. Um respeitador profundo da oração litúrgica, sabendo sempre como a encarnar nas culturas de África, Ásia ou Américas. Um homem severo na exigência e pródigo no uso e proclamação da misericórdia.

       Um duplo visitador de Assis na celebração da sua universalidade, onde não teve medo de rezar pela paz ao lado dos representantes das religiões do mundo. Um devoto de Fátima como o mais humilde peregrino que se não perde em preciosismos teológicos mas apenas, como as crianças crê, adora, espera e ama. Um testemunho e vítima  das maiores ditaduras do século XX ao mesmo tempo que um crente profundo na liberdade do homem.

       Um homem inteiro foi beatificado. Metade do mundo reconheceu esse mérito na sua fé. Outra parte na sua dimensão de homem decisivo na evolução dum século. Homem de Deus. Homem dos homens. Karol Wojtyla. João Paulo II. Beato. Na felicidade de Deus. Para, noutra dimensão, venerarmos tudo o que foi e, na nova vida, continua a ser. 

 

António Rego, in Editorial Agência Ecclesia.

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