É este o brasão de D. António José da Rocha Couto, Bispo de Lamego.
Predomina o verde, com besante de ouro no ponto de honra, carregado de uma flor de amendoeira, à cor branca natural. Filactéria inferior de prata, debruada a verde com a legenda em vermelho: Vejo um ramo de amendoeira.
O ornato superior feito com a cruz a rematar a elipse e o chapéu preto de seda de copa redonda e abas direitas, forrado de ver, com cordões de seis nós de cada lado.
As armas procuravam mostrar a nobreza e a ascendência de quem as possuía. Aqui trata-se sobretudo de um programa de vida e um grito de esperança.
O verde exprime a esperança, dirigida aos humildes e oprimidos, num mundo muito instável, em que os mais débeis são os mais sacrificados e/ou esquecidos.
O besante de ouro, cuja simbologia aponta para a fidelidade ao rei até à morte, aqui fidelidade a Deus e ao seu povo.
O círculo central pode ainda ser interpretado como referência à divindade, mas também ao cosmos e ao mundo.
A flor de amendoeira exprime esperança, mesmo em situações adversas e desfavoráveis. Em pleno inverno, brota a flor de amendoeira, num misto de cor, alegria e festa.
A expressão é do profeta Jeremias (1, 11-12):
"Depois foi.me dirigida a palavra do Senhor nestes termos: «Que vês, Jeremias?» E eu respondi: «Vejo um ramo de amendoeira». «Viste bem - disse o Senhor - porque Eu vigiarei sobre a minha palavra para a fazer cumprir»".
Da homilia de D. António Couto, na tomada de posse, no passado dia 29 de janeiro, na Sé Catedral de Lamego:
Numa página sublime do Livro dos Números (17,17-26), Deus ordena a Moisés que recolha as varas de comando dos chefes das doze tribos de Israel, para, de entre eles, escolher um que exerça o sacerdócio em Israel. Em cada vara foi escrito o nome da respectiva tribo. Por ordem de Deus, o nome de Levi foi substituído pelo de Aarão. As doze varas foram colocadas, ao entardecer, na presença de Deus, na Tenda do Encontro. Na manhã seguinte, todos puderam ver que da vara de Aarão tinham desabrochado folhas verdes, flores em botão, flores abertas e frutos maduros (Números 17,23). Dos frutos é dito o nome: amêndoas! Vara de amendoeira em flor e fruto, que, por ordem de Deus, ficará para sempre na sua presença, diante do Propiciatório (cf. Hebreus 9,4), entre Deus e o povo, para impedir que o pecado do povo chegue a Deus, e para facilitar que o perdão de Deus chegue ao povo. Já ninguém estranhará agora que o candelabro (menôrah) que, noite e dia,/ ardia/ na presença de Deus, estivesse ornamentado com flores de amendoeira (Êxodo 25,31-35; 37,20-22). E também já ninguém estranhará que a tradição judaica tardia refira que a vara do Messias havia de ser de madeira… de amendoeira.
Aí estão as coordenadas exactas do lugar do sacerdote e do bispo: entre Deus e o povo. Mais concretamente: pertinho de Deus, mas de um Deus que faz carícias ao seu povo, um Deus que ama e que perdoa; pertinho do povo, o suficiente para lhe entregar esta carícia de Deus.
(O Báculo tem desenhadas as flores de amendoeira)
Frei Isidoro Barreira (+ 1634), fala desta como a árvore vigilante, cujo fruto é símbolo da vida de Cristo:
«A amendoeira é a árvore que na Sagrada Escritura se acha muitas vezes referida, encobrindo mistérios profundos, como ela sabe encobrir seu fruto e ser misteriosa nele. Assim o ter Jeremias aquela visão da vara vigilante, que outra versão diz que foi amendoeira, coisa então lhe deu muito em que cuidar (...) porque esta árvore não somente apregoa fertilidade em mostrar flores, tanto na manhã da primavera, mas também em prognosticar fartura de pão, que esse ano se há de seguir; porque escrevem os naturais que, quando virmos as amendoeiras carregadas de fruto, depois que lhe cai a flor, é sinal de grande fertilidade, e abundância de pão, que esse ano haverá. (...) A amêndoa antes de ser madura, e prestar para se comer, cresce devagar, e está mais tempo na árvore que os outros frutos, sendo ela a primeira que sai com flores e [a que] ultimamente os recolhe. A sua casca interior é muito dura, e a de fora muito amarga, e enfim o fruto ainda que seja doce, não se chega a comer sem trabalho; o fruto que após a esperança vem, devagar vem, e mais tempo se espera do que se goza. Nunca esse chega sem ânsias e cuidados, porque vencida uma dificuldade, se levanta outra, após um inconveniente se segue outro, após uma tardança, maior tardança. Assim que esse fruto se não colhe sem custar, e sempre custa muito, se se espera muito; muito cansa, se chega devagar... Doce é a amêndoa, mas amarga a casca (...)
(...) A amêndoa é fruto de muito mistério: na primeira casca amargoso, na segunda resguardado, e fortalecido, e no interior comer suavíssimo, que sustenta e conforta, dando saúde, e vida. A cruz à primeira vista mostra trabalhos, e aflições, após isso já descobre fortaleza, e amparo, que é do género humano; é torre e castelo, e espada com que o Senhor sopeou o mundo, e triunfou dos inimigos: além disso é muito suave, e saboríssima no fruto, que de si dá, como a Igreja canta o louvor da mesma Cruz, chamando-lhe santo lenho, doce Planta que dá tão doce e suave fruto (...) A casca da amêndoa trabalhosa é de quebrar, o fruto fácil de comer. O rigor da Cruz dificultoso é de passar, mas vencido ele, segue-se o gostar doçuras eternas, às quais ninguém chega sem esperanças, que sempre vai fundando na fé, e caridade»
In (D.) José Manuel Cordeiro, O bispo, servidor da esperança. Paulinas 2011