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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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16.11.15

Leitura: SONALI DERANIYAGALA - Vida Desfeita

mpgpadre

SONALI DERANIYAGALA (2015). Vida Desfeita. Braga: Nascente. 240 páginas.

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Na manhã do dia 26 de dezembro de 2004, um violento TSUNAMI com uma abalo de 9,3 na escala de Richter, ao largo da ilha Sumatra, na Indonésia, gerando três ondas gigantes pelo sudeste asiático. O fenómeno resultou da fricção das placas tectónicas indo-australiana e euroasiática, gerando energia equivalente à explosão de milhares de bombas atómicas. Sentiu-se em África, mas com maior incidência na Ásia do Sul. Países afetados: Indonésia, Sri Lanka, Índia, Tailândia, Malásia, Maldivas e Bangladesh.

 

230 mil mortos e desaparecidos. Na Indonésia, 166 mil mortos. No Sri Lanka 40 mil pessoas perderam a vida; na Índia, 18 mil, e a Tailândia 8 mil.

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(Marido e filhos)

Aqui começa este Livro autobiográfico de Sonali Deraniyagala. Uma ONDA (título original) aproxima-se. A amiga, com quem estava a conversar, Orlantha, vislumbrou a aproximação do mar. Estranho. A espuma cada vez mais perto transforma-se em ondas. Castanhas e cinzentas. O mar cada vez mais perto. Rapidamente saem, ela, a amiga, o marido, os dois filhos. Para trás ficam os pais de Sonali. Um jipe dá-lhes boleia. O jipe avança mas a água também, a água começa a estar dentro do jipe, subindo, acabando por capotar. Sonali sente uma aperto, uma forte dor no peito, não vê ninguém, nem a amiga, nem o marido, nem os filhos, parece um sonho. "O meu corpo  estava enrolado e eu girava a grande velocidade... Fui empurrada pelo meio de ramos de árvores e arbustos e, de vez em quando, os meus joelhos e cotovelos embatiam em algo duro".

Flutuando de costas, vendo o céu azul. "Uma criança flutuou na minha direção. Um rapaz. A sua cabeça estava à tona e ele gritava. Papá, papá. Ele agarrava-se a algo. Parecia o banco partido de uma carro... À distância pensei que este rapaz fosse o Malli [o filho mais novo]. Tentei alcançá-lo... Vem à mamã, disse eu, bem alto. Depois vi a sua cara de perto. Não era o Mal. No instante seguinte, fui arrastada para o lado e o rapaz desapareceu".

Vai flutuando, tentando agarrar-se a alguma coisa, até que consegue alcançar um ramo e ficar com os pés no chão. "Estava dobrada ao meio e não conseguia endireitar-me. Agarrei os meus joelhos, estava ofegante, a sufocar. Tinha areia na boca. Definhava e cuspia sangue. Não parava de cuspir e cuspir. Tanto sal. Senti o corpo muito pesado. As minha calças estão-me a pesar, pensei. Tirei-as".

Tenta-se manter de pé, com a lodo a circundá-la. Ouve vozes que se aproximam. "Eles não me viam e eu não os via a eles". Um voz faz-se ouvir: "Há alguém aqui, já pode sair, a água desapareceu, estamos aqui para ajudar". Atónita, não se mexeu. Uma criança pede socorro e que atrai os homens. Nesse momento também a descobrem e, pacientemente a socorrem. Um deles tirou a camisa e atou-lha à cintura.

Este é o começo. Pela frente uma longa história, intensa, sofrível, com encontros e desencontros. Tempo para confirmar que o marido, os filhos e os pais morreram. Ao longo destas dezenas de páginas, Sonali testemunha a dor intensa pela perda, na tentação da desistência, a culpabilização, primeiro evitando os mesmos lugares de outrora, para não sofrer, depois indo em busca de sinais nos lugares em que viveu com o marido e os filhos. Refazer a vida sem aqueles que lhe davam sentido.

É uma história emocionante, um testemunho vivido. Percebe-se que o Psicoterapeuta conclui que uma das formas de ajudar Sonali era desafiá-la a por por escrito tudo o que recordava. Voltar aos lugares em que fora feliz e descobri o medo de viver sozinha sem os filhos e sem o marido. Rever os filhos nos amigos dos filhos, da mesma idade e imaginando-os em diferentes situações.

Sonali nasceu e foi criada em Colombo, no Sri Lanka. É licenciada em Economia pela Universidade de Cambridge e doutorada pela Universidade de Oxford. Divide o tempo entre Universidades, entre Londres e Nova Iorque.

O livro foi publicado em 2013 e foi considerando o melhor do ano na categoria de não-ficção pelo New York Times. Temporalmente fixa-se em 2004 e estende-se até 2012, anos que se sucederam ao Tsunami.

28.10.15

Paróquia de Tabuaço: Todos os Santos e Fiéis Defuntos

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Dias 1 e 2 de novembro marcam o início do mês das almas, com a solenidade de Todos os Santos e Comemoração dos Fiéis Defuntos, que faz deslocar milhares de pessoas, que regressam onde repousam os restos mortais dos seus familiares e amigos falecidos. A memória, a gratidão, mas também a fé, a celebração da vida e da esperança em Deus, congregam crentes ou menos crentes.

Para dúvidas que possam surgir, para aqueles que estejam em Tabuaço ou queiram deslocar-se à nossa paróquia e participar nas diferentes celebrações, aqui ficam os horários. Juntam-se já a indicação de outras atividades pastorais / celebrações, que envolvem a comunidade paroquial de Nossa Senhora da Conceição.

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15.08.15

O DIÁRIO DE MARY BERG - sobrevivente do holocausto

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Mary Berg (2015). O DIÁRIO DE MARY BERG. Amadora: Vogais, 20|20 Editora. 352 páginas.

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      A segunda Guerra Mundial gerou milhares de vítimas, com plano nazi e conquistar o mundo e eliminar os judeus. Para o efeito bastava ter alguma ascendência judaica: se eram aptos para trabalhar, para se tornarem escravos, sobreviviam, pelo menos até morrerem de fome, de doença, ou em consequência do trabalho; se não eram aptos, então eram encaminhados para campos de concentração, para serem mortos. Muitas vezes eram mortos por brincadeira, por capricho ou simplesmente para provocar pânico aos outros judeus.

       O Diário da Mary Berg narra os dias passados no Gueto de Varsóvia, um conjunto de ruas, de casas, de bairros onde foram confinados os judeus, com regras restritas, em que se vivia com as ameaças, com a possibilidade de serem contratados para trabalhar, passaportes para sobreviverem mais tempo, buscando alguma normalidade, ajudando e sendo ajudado, metendo "cunhas" para ocupar melhores trabalhos, contrabandeando pão, comida e outros bens, dedicando-se à arte e à cultura.

       O projeto final era eliminar todo o gueto, todos os judeus. Os que tinha alguma ligação estrangeira, como a autora/protagonista, cuja cidadania americana da Mãe a tornam também uma privilegiada, apesar de tudo, com uma maior probabilidade de sobreviver.

       Será solta por troca dos prisioneiros de guerra alemães. Pouco tempo depois, os 12 caderninhos de apontamentos são publicados em livro para revelarem a atrocidade contra o povo judeu, mas também contra polacos (judeus ou cristãos) e alertar a comunidade internacional para se apressar e fazer alguma coisa.

       Para trás ficam amigos e um vislumbre de miséria, pobreza, violência gratuita e a tentativa de viver a normalidade da vida, estudando, cultivando-se, criando laços. É um diário "arrepiante" e sobretudo por visualizar a vida tal como foi vivida pelos intervenientes numa página negra da história e que se deseja que não volte a acontecer, ainda que os sinais apontem a um risco maior de intolerância, xenofobia, racismo, fanatismo religioso... 

       Passados poucos anos da publicação e do diário, e do fim da segunda guerra mundial, Mary Berg (1924-2013) desapareceu dos focos da ribalta, talvez para viver uma vida normal...

       O Diário de Anne Frank é dos mais conhecidos e divulgados, mas outras histórias que entretanto foram postas por escrito e divulgadas para que a nossa memória não esmoreça e se torne vigilante perante indícios de tamanha vilipêndia...

       Setenta anos depois já vários tentarem negar, esconder, suavizar a tragédia nazi. Por conseguinte, esta é mais uma leitura obrigatória para avivar o compromisso com a verdade e com a justiça, com a dignidade humana e com o respeito por todas as vidas, desde a concepção até à morte natural.

 

Vale a pena ler:

EVA SCHOLOSS - A Rapariga de AUSCHWITZ

12.10.14

HARUKI MURAKAMI - A peregrinação do rapaz sem cor

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HARUKI MURAKAMI (2014). A peregrinação do rapaz sem cor. Alfragide: Casa das Letras, 370 páginas.

 

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 "Porque não tenho identidade própria. Não tenho personalidade, sou de cor indefinida. Nada tenho para oferecer aos outros. Foi sempre esse o meu problema. Sinto-me um bocado como se fosse um recipiente vazio. De certa maneira, tenho fora, mas receio não possuir um conteúdo digno desse nome".

"Sempre me tive na conta de um tipo vazio, desprovido de cor e de identidade. Se calhar, era esse o meu papel dentro do grupo, representar o vazio...

Uma paisagem esvaziada de cor. Sem ter nenhum defeito, mas sem se destacar em nada...

Tu não eras o vazio. Ninguém te via assim... contribuías para nos tranquilizar... pelo simples facto de estares ali connosco, podíamos ser nós próprios... Era como se fosses uma âncora"

 

Cada um de nós terá um ou outro autor preferido. Por conseguinte, a sugestão de um livro ou de um autor é e será sempre muito relativo, o que a alguém poderá ser uma obra de arte, para outro poderá simplesmente ser uma seca, uma monotonia, ou algo banal.

Se tivéssemos que sugerir um romancista, Murakami seria uma das primeiras escolhas. É uma escrita acessível, fluida, em descrições envolventes, utilizando muitas imagens, histórias dentro da história principal, com avanços e recuos perfeitamente oportunos, com pontes culturais, entre o Japão e o Ocidente. Nesta história, Japão e Holanda, mas com a ambiência de fundo de um mundo global, com as referências a crenças japoneses mas também á religião cristão com a sua presença (nomeadamente) nas escolas privadas.

Cada personagem se pode identificar com cada um de nós.

O herói - digamos assim - nunca é tanto herói assim. Tem defeitos, dúvidas, hesitações. No caso concreto, é um estudante normal. Completa os estudos. Estuda só o necessário. Mas faz por seguir os seus sonhos, mesmo que tenha que se esforçar mais que o habitual. Aos trinta e seis anos, ainda tem uma vida toda por realizar, com muitas dúvidas. É feliz. Ou é mais ou menos feliz. Ocupado. Sonha e os sonhos atormenta-o. Parece que não consegue estabilizar, mantendo os amigos ou as amizades.

A história parte da adolescência. Um grupo de 5 jovens, que no compromisso com o voluntariado, nas férias, estreitam de tal forma os laços que não passam uns sem os outros. É um grupo coeso. Três rapazes e duas raparigas. Todos diferentes. Mas no entanto entendem-se às mil maravilhas. O rapaz sem cor, Tsukuru Tazaki, decide ir para Tóquio, para a universidade, onde se tornar engenheiro de estações de comboio. O seu sonho. Sempre gostou de estações, de observar as pessoas, a forma como as estações estão concebidas. No regresso a casa os 5 jovens voltam a encontrar-se, até que um dia não lhe atendem as chamadas e lhe dizem que cortam com ele, não querem mais falar com ele.

Não compreende. Num primeiro momento, não busca justificações, pois não lhas quiseram dar. Cortam simplesmente com ele. Vai-se abaixo. Foi um golpe brutal. Mas consegue sobreviver. O tempo apazigua as mágoas. Mas há mágoas que permanecem, ainda que pareça já não ter influência nas nossas vidas. É o que acontece com Tsukuru. Aquela ruptura continua a marcar a sua vida. Tem dificuldade em confiar nas pessoas da forma como confiava nos amigos, sempre o receio que novos amigos possam fazer o mesmo. Contudo, a sua busca está ainda no início. Resolve encontrar-se com os amigos, que seguiram caminhos diferentes, uma das raparigas foi assassinada, a outra casou e vive na Holanda, os outros dois mantiveram-se em Nagoia. O reencontro leva-lo-á a descobrir as razões que levaram à separação do grupo e a verificar que se nos momentos iniciais tivessem falado abertamente talvez a vida tivesse seguido um rumo diferente. Não é possível voltar atrás e também é impossível saber se as coisas seriam muito diferentes, ou muito próximas da atualidade. Há que prosseguir a vida. 

"É apenas uma questão de equilíbrio. De uma pessoa se acostumar a distribuir o peso que carrega. Pode acontecer que os outros considerem isto uma atitude de indiferença. Porém, manter o equilíbrio exige esforço e é mais difícil do que parece. Além disso, mesmo que se consiga atingir o equilíbrio, o peso suportado pelas balanças não diminuiu nem um bocadinho"

"Vamos fazer o possível por não perder o comboio"

"Sobrevivemos, tu e eu. E os que sobrevivem têm uma missão a cumprir. O nosso dever é continuar a viver, levar a vida o melhor que for possível. Mesmo que as nossas vidas estejam longe da vida".

 

Outros livros que li, de fio a pavio, que recomendamos.

26.04.14

Meu Senhor e meu Deus!

mpgpadre

       1 – Cristo ressuscitou, Aleluia! Este é o dia que o Senhor fez, alegremo-nos e exultemos de alegria. Aleluia. Jesus está vivo, no meio de nós. Corações ao alto. O nosso coração está em Deus. É a nossa luz e a nossa salvação. O anúncio da Páscoa, que chegou a nossas casas, que levamos aos vizinhos, aos amigos, à família, chegou, no primeiro dia da nova criação, aos apóstolos.

       As mulheres, nas primeiras horas do dia, foram ao sepulcro. E que viram elas? O sepulcro vazio? Diz-nos o nosso Bispo, D. António Couto, as mulheres, como os discípulos, encontram o sepulcro aberto, mas não vazio, "está, na verdade, cheio de sinais, que é preciso ler com atenção: um jovem sentado à direita com uma túnica branca (Marcos 16,4), dois homens com vestes fulgurantes (Lucas 24,4), as faixas de linho no chão e o sudário enrolado noutro lugar (João 20,6-7). É importante ler os sinais e ouvir as mensagens!"

       O Corpo não foi roubado. Deus O ressuscitou dos mortos. E os sinais tendem a multiplicar-se e a transformar aqueles que permitem que Deus se lhes revele. O túmulo abriu-se à luz, à esperança.

       2 – Os sinais visíveis no túmulo aberto levam-nos para outro lugar. Finda a noite, é DIA, tempo de procurar Jesus. Melhor, é altura de deixar que Jesus nos encontre: em casa, no campo, a caminhar.

       "Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, apresentou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco… Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados…»

       O segundo Domingo de Páscoa, o Domingo da Misericórdia, traz-nos a dúvida e o medo de Tomé. Medo comum aos outros discípulos. Deus não força. Deus não impõe nem Se impõe. Oferece-se como DOM de vida nova. Mas cabe-nos reconhecê-l'O e acolhê-l'O.

       A vida dos discípulos altera-se para sempre. O Ressuscitado é o mesmo que o Crucificado. Também a Mensagem é a mesma: A paz esteja convosco. Recebei o Espírito Santo. Eu vos envio a vós, para que vades e deis fruto em abundância.

 

       3 – A morte de Jesus provoca uma razia entre os apóstolos. Judas traiu. Pedro negou. Os discípulos fugiram. Portas e janelas fechadas. Será necessário que se encontrem outra vez, todos, com Cristo.

       Tomé não estava com os outros discípulos. Estes garantem-lhe Jesus vivo. Tomé precisa de ver, precisa de encontrar-se com Jesus.

       Oito dias depois, Jesus novamente no meio dos apóstolos. Também lá está Tomé. Estão juntos, em casa. As portas continuam fechadas. O medo permanece por algum tempo. Jesus coloca-se no meio. Jesus deve estar sempre no meio, da casa, da comunidade, ocupando o nosso coração e o nosso olhar, a nossa vida por inteiro. É Ele que verdadeiramente nos reúne, nos congrega, nos aproxima. Quanto mais perto estivermos d’Ele tanto mais perto estaremos uns dos outros, e quanto mais nos aproximarmos uns dos outros, mais visível se torna a Sua presença no meio de nós. Jesus traz a paz. Anunciada ao longo da Sua vida pública, é dada de novo na ressurreição.

       Diz Jesus a Tomé, e também a nós: «Põe aqui o teu dedo e vê as minhas mãos; aproxima a tua mão e mete-a no meu lado; e não sejas incrédulo, mas crente». A profissão de fé de Tomé, breve, traz o coração às palavras: «Meu Senhor e meu Deus!». Ainda hoje é esta a oração e a profissão de fé que muitos católicos rezam diante do Corpo e do Sangue de Jesus Cristo, o milagre maior da nossa fé. Jesus está vivo, especialmente no Sacramento da Eucaristia…


Textos para a Eucaristia (A): Atos 2, 42-47; Sl 117 (118); 1 Ped 1, 3-9; Jo 20, 19-31

ou no nosso blogue CARITAS IN VERITATE

19.04.14

Este é o dia que Senhor fez...

mpgpadre

       1 – "Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria". É o DIA maior da nossa fé, o Dia do Senhor, Domingo da nossa salvação. Em Jesus, Deus recria a humanidade desgastada pelo pecado, imergindo-a na Sua morte, para com Ele nos ressuscitar. "A pedra que os construtores rejeitaram tornou-se pedra angular. Tudo isto veio do Senhor: e é admirável aos nossos olhos". Aquele que foi morto, está vivo, voltou para nós. Por momentos roubaram-nos a Luz, ficámos, como discípulos, adormecidos na noite, nas trevas, desenganados. Pensávamos, discípulos de Emaús, que Ele seria a nossa esperança, a esperança para todo o povo. Acompanhamo-l'O ao Calvário, vimos como foi violenta a Sua morte. O mensageiro da paz, da justiça e da igualdade entre todos, como filhos bem-amados de Deus, afinal foi mais uma vítima da história, dos poderes instituídos, vítima da própria religião. Quando demos por nós já Ele dava o último suspiro.

       Regressámos a nossas casas, recolhemo-nos, enrolados sobre o nosso medo. Fechamos portas e janelas, fechamos o nosso coração ferido pelo suplício da Sua cruz. Nem queríamos acreditar! Como foi possível que matassem um homem justo? Como é que Deus, que Ele anunciava como Pai misericordioso e compassivo, deixou que Lhe acontecesse uma coisa destas? Pregava que os últimos seriam os primeiros, como é que Se tornou definitivamente um dos últimos e não protestou contra os que lhe batiam e arrancavam a barba (cf. Is 50, 6)?

       Mas afinal, o que é que correu mal? Não dizia Ele que tinha de acontecer para Se manifestar a glória de Deus? Cumprir-se-iam as Escrituras, mas este "é já o terceiro dia depois que isto aconteceu". Onde está Aquele sobre Quem desceu o Espírito de Deus, para anunciar a Boa Nova aos pobres e libertar os cativos e proclamar um ano favorável da parte do Senhor, cumprindo a profecia de Isaías?

       Manhã cedo, o primeiro Dia da Semana, ainda escuro, uma das mulheres que acompanhavam e serviam Jesus, Maria Madalena, foi ao sepulcro e viu a pedra retirada. Mais um contratempo: «Levaram o Senhor do sepulcro e não sabemos onde O puseram». Já não bastava terem morto o Mestre, ainda nos roubam o Seu corpo. Era tempo de fazer o luto e mais um sobressalto!

       2 – "Este é o dia que o Senhor fez: exultemos e cantemos de alegria". Pedro, um dos discípulos mais genuínos, mais espontâneo, e o discípulo amado, que não tendo nome, poderá ser cada um de nós, se tivermos a humildade de nos inclinarmos sobre o peito de Jesus, para O escutar, correm para ver o que terá acontecido com o corpo de Jesus. E o que veem quando chegam ao sepulcro? "As ligaduras no chão e o sudário que tinha estado sobre a cabeça de Jesus, não com as ligaduras, mas enrolado à parte". Nada de sobrenatural. Só então começam a entender a "Escritura, segundo a qual Jesus devia ressuscitar dos mortos", e que o Próprio, em diversas ocasiões, tinha anunciado. Será então verdade? Ao debruçarem-se e ao entrar no sepulcro, acreditaram no que Jesus lhes tinha dito anteriormente. Foi para este dia, o mais santo, o Dia do Senhor, que Jesus os preparou. Certos que a imensa Luz da Páscoa não anula a fragilidade e a dureza dos nossos dias, mas um lampejo de esperança poderá ser suficiente para que as trevas e o desencanto não ocupem o lugar da vida e da felicidade, como caminho a percorrer, com esforço e sacrifício, por vezes, mas conscientes que Jesus venceu a morte e nos introduz na vida divina.

       Desde então, as portas começaram a abrir-se. Os discípulos deixam de estar dobrados sobre si mesmos, a reclamar com vida, a protestar com Deus, a interrogar-se sobre o desenrolar dos acontecimentos, para pouco a pouco deixarem que a Luz de Cristo inunde toda a casa, toda a sua vida e lhes solte a língua para proclamem o Evangelho a todos os povos, fazendo discípulos.

 

       3 – Presença luminosa das mulheres, junto à Cruz, junto ao sepulcro, sempre perto de Jesus, para O servir, para darem testemunho acerca d’Ele até junto dos Seus apóstolos. Mulheres e Mães custodiam a vida. Eva, a primeira Mulher, a mãe de todos os viventes. Maria, a nova Eva, Mãe de todos os crentes em Cristo. Desde o primeiro dia da criação, desde o “dia que o Senhor fez”, na primeira hora do dia, ainda escuro, as mulheres (ou na versão joanina, Maria Madalena), na vida e na morte, se mantêm perto de Jesus. Maria, Mãe de Jesus, com o seu SIM coopera com Deus, iniciando-se a nova criação. Firme, com outras mulheres, Nossa Senhora reúne à sua volta os discípulos desiludidos, mantendo acesa a chama da esperança em Deus, em clima de oração.


Textos para a Eucaristia (ano A): Atos 10, 34a, 37-43; Sl 117 (118); Col. 3, 1-4; Jo 20, 1-9.

 

09.11.13

Para Deus todos estão vivos...

mpgpadre

       1 – Deus «não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».

       O centro gravitacional do cristianismo é a Ressurreição de Jesus. Sem Ressurreição, a morte de Jesus teria sido uma entre milhares, sem história para contar que não a de um indivíduo sepultado nas tumbas de Jerusalém. Com a aparição do Ressuscitado surge a Igreja, comunidade dos Seus apóstolos e discípulos. O anúncio do Evangelho inicia após e por causa da ressurreição.

       A luz da Páscoa permite re-ler a vida e missão de Jesus. Muitos dos acontecimentos ficariam como meras recordações para os amigos mais próximos. A ressurreição é a razão de ser da fé cristã, sem a qual não adiantaria falar de vida nova, de eternidade, de futuro, de Alguém que garantisse a nossa identidade para lá do tempo e da história.

       Nos primeiros dias deste mês, a ida aos Cemitérios seria desoladora e desagregadora. Se esta fosse a última morada, seria muito pouco para os nossos anseios humanos, para a nossa esperança. Melhor, seria uma esperança vã. E uma esperança vazia equivaleria a uma fé vazia, sem sentido, inútil, ilusória. A nossa fé baseia-se na Ressurreição de Jesus. É Ele a nossa esperança, a esperança de n'Ele ressuscitarmos e reencontrarmos aqueles a quem queremos bem e já partiram. Por isso rezamos por eles, trazendo-os à mesa da Eucaristia.

       2 – Depois da Ressurreição, Jesus reúne os discípulos, dá-lhes o Espírito Santo, constitui-os como Seu Corpo. E com eles também nós. Somos a Sua Igreja. Ele a Cabeça. Nós os membros. A vida eterna, a promessa de uma morada junto do Pai, a garantia que nenhum dos Seus discípulos se perderia, o desafio para fabricar bolsas que não se rompessem – tudo isto é sancionado com a Sua ressurreição.

       Recuemos um pouco, ao tempo histórico de Jesus, aproximemo-nos d'Ele, como fizeram muitas pessoas naquele dia. Habituados a transacionar bens materiais, os saduceus olham para Ele com desconfiança, alguns mais preocupados com a própria carteira: tudo se resolve cá em baixo. A ressurreição poderá ser uma ilusão psicótica. À socapa alguém pergunta: «Mestre, Moisés deixou-nos escrito: ‘Se morrer a alguém um irmão, que deixe mulher, mas sem filhos, esse homem deve casar com a viúva, para dar descendência a seu irmão’. Ora havia sete irmãos. O primeiro casou-se e morreu sem filhos... o mesmo sucedeu aos sete, que morreram e não deixaram filhos. Por fim, morreu também a mulher. De qual destes será ela esposa na ressurreição, uma vez que os sete a tiveram por mulher?»

       Bela maneira de pregar uma partida a Jesus, socorrendo-se dos Escritos Sagrados. Jesus, a Palavra de Deus em Pessoa, responde também com a Palavra de Deus: «Os filhos deste mundo casam-se e dão-se em casamento. Na ressurreição dos mortos, nem se casam nem se dão em casamento. E que os mortos ressuscitam, até Moisés o deu a entender no episódio da sarça-ardente, quando chama ao Senhor ‘o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacob’. Não é um Deus de mortos, mas de vivos, porque para Ele todos estão vivos».

       A ressurreição é um acontecimento NOVO. Não é conquista humana, é dádiva de Deus, em Cristo Jesus.

 

       3 – Não é fácil falar de morte e de vida depois da morte. Mas mais difícil seria aceitar que tudo desaparece com a morte. Então, tudo se resumiria ao cemitério, a vida dos nossos antepassados e a nossa vida, cujo futuro seria sombrio, pois desembocaria no desaparecimento definitivo de tudo o que fomos/somos, ficando, quando muito, uma memória residual da nossa passagem pelo mundo.

       A fé na Ressurreição só em Cristo recebe a LUZ definitiva. A ressurreição de Jesus abre-nos definitivamente as portas da eternidade e a comunhão plena com Deus. E não é apenas um acontecimento futuro, é realidade em Cristo e na Sua Igreja. Fomos batizados na morte e ressurreição de Cristo, morremos para o pecado para n'Ele ressuscitarmos como novas criaturas, pela água e pelo Espírito Santo.


Textos para a Eucaristia (ano C): 2 Mac 7,1-2.9-14; Sl 16 (17); 2 Tes 2,16-3,5; Lc 20,27-38.

 

Reflexão Dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE

24.08.13

LEITURAS: Dr. Eben Alexander - Uma prova do Céu

mpgpadre

EBWN ALEXANDER. Uma prova do Céu. Testemunho de neurocirurgião sobre a vida além da morte. Lua de Papel. Alfragide 2013, 200 páginas.

       Um neurocirurgião que passa por uma experiência de quase morte. 10 de novembro de 2010. Uma dor aguda, do outro mundo, convulsões, revirar de olhos, desmaio, fá-lo parar nas Urgências de um hospital onde já trabalhou. 7 dias em coma. Quatro dias é o tempo além do qual não há regresso possível ou a haver a pessoa ficará num estado vegetativo ou com muitas mazelas mentais e físicas. Ao sétimo dia a esperança, do lado de cá, está no fim. É tempo de reunir e desligar as máquinas. A família toma consciência disso. Os médicos prolongaram esta decisão para lá do tempo.

       Entretanto, do outro lado, o Dr. Alexander vive uma experiência extraordinária. Sem saber é conduzido pela irmã biológica, que já tinha morrido. Como tinha sido adotado, não reconhece a irmã, mas apenas uma figura luminosa, cheia de bondade. Descobrirá, quando outra irmã biológica lhe enviar uma foto. Ascende ao Céu, guiado por um som, música celestial, onde tudo é paz, harmonia. É um mundo ultrareal. Contacta com Deus, não Lhe vê o rosto mas sabe que é Deus. Está finalmente em paz.

       A sua experiência é muito semelhante a outras que ele já tinha escutado de pacientes mas sem grande crédito, com diversas explicações que a ciência tenta dar. Ainda que não haja respostas definitivas, a ciência abre as portas a um fenómeno que por ora não tem explicação. O Dr. Alexander encontra a explicação que falta à ciência no outro lado.

       À volta da sua cama, durante sete dias, sempre pessoas, que não lhe largam a mão. Um dos filhos, o mais novo, ao sétimo dia, e enquanto a equipa médica, com a família, decide interromper os tratamentos, salta em cima da cama, abre as pálpebras, garantindo ao pai que vai ficar bom. De repente abre os olhos. Junta-se a mãe/esposa, e os médicos. Responde aos presentes: estou bem. Que é que aconteceu, porque é que está aqui tanta gente? O cérebro reiniciou funções. Nas horas e dias seguintes haverá uma grande confusão na sua mente. Pouco a pouco recuperar totalmente, preparando-se para falar do outro mundo, da luz à qual foi conduzido. Da verdade revelada: És amado. O envio: ainda és necessário. Tens de regressar. Alguém precisa de ti.

       O filho mais velho recomenda que antes de ler outros testemunhos e para ser levado a sério que escreva tudo o que se lembra e só depois confronte com outros testemunhos. É o que faz.

       O livro resulta desta experiência de 7 dias em coma profundo, em que a infecção por E. Coli, que dificilmente afeta os adultos, lhe provocaria a morte, ou o deixava com grandes sequelas físicas e mentais, afinal revela-lhe o Céu, a eternidade, e que a consciência sobrevive para lá do corpo, depois da morte, já sem fronteiras. Como em outros casos é difícil traduzir em palavras humanas a grandeza e a beleza das experiências sobrenaturais.

       Um dos livros mais conhecidos sobre experiências de quase morte é A vida depois da Vida, de Raymond Moody, que que resultou em documentários televisivos. Já recomendámos outros testemunhos: O Céu existe mesmo, um menino que regressa do Céu, ou A Cabana, de Paul Young, uma história que relata uma história semelhante.

       Ao longo dos tempos, muitos tentam compreender estes fenómenos. Para uns, é uma das formas do cérebro lidar com situações extremas. Para outros, é uma prova ou um indício que a consciência sobrevive à morte. Há vida para lá da morte.

       Uma última palavra para sublinhar a perspetiva católica sobre o Céu. Fé na vida eterna. Pessoas ou santos que viveram experiências místicas e que relatam visões, de Jesus, de Nossa Senhora, de Anjos, do Céu, do Inferno e/ou Purgatório, como no caso dos Pastorinhos de Fátima. Em todo o caso, a Ressurreição coloca-nos no plano da fé. A prova é sobretudo um indício, uma porta aberta, uma luz que nos guia. Uma coincidência da qual Deus se serve para manifestar a Sua vontade e a Sua presença. Nunca poderá ser visto como uma prova irrefutável. A fé é DOM, não é clarividência física e/ou científica. Deixaria de ser fé, para ser uma realidade demonstrável.

       Este livro traz um excelente testemunho de fé na vida eterna, do Amor que Deus nos tem. Mostra também a força da oração e como a própria cura necessita de algo mais que medicamentos, a presença dos amigos, a reconciliação consigo mesmo. É uma leitura envolvente.

 

Para saber mais: EXTRA - entrevista com Dr. Eben Alexander

Visite também: São as vozes que mandam

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