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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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14.09.12

Leituras: O Deus da Ausência

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Joaquim Sarmento, O Deus da Ausência. MinervaCoimbra, Coimbra 2012.

       De novo nos surpreende o Dr. Joaquim Sarmento, com este belíssimo exercício literário. Já nos habituou a escrever bem, de forma escorreita, ao correr da pena, enformado por uma profunda cultura, numa linguagem acessível, em diálogo com a história, com a religião e a fé, com a vida do campo e da cidade, com o país e a Europa, com a psicologia e a política, com os costumes e tradições do povo, com a evolução dos tempos, com este nosso Douro, onde se passa grande parte da história e do enredo do Romance, diálogo com a filosofia e com o quotidiano.

       Já o dissemos oportunamente, os romances de Joaquim Sarmento ombreiam facilmente com nomes da nossa literatura portuguesa e se tivesse a mesma divulgação/projeção mediática por certo se tornariam sucesso de vendas. Os romances de Joaquim Sarmento, para lá da originalidade dos enredos, entram na nossa identidade bem portuguesa, de brandos costumes, mas com grandes paixões. Lamego (Balsemão) e o Douro projetam-se na sua candura, na sua beleza, no trabalho árduo e comprometido, na vinha e no sol, na pobreza e em paisagens deslumbrantes. E nas influências que se trocam, e se vendem, em interesses e no suor daqueles e daquelas que construíram/constroem o Douro, os socalcos do sacrifício e do pão de cada dia. Outros beberam e bebem refastelados à sombra o néctar que esta região, património da humanidade, ajuda a produzir, com as suas encostas e encantos e com as costas e as mãos e os pés de muita gente.

       A família Quitiliano tem segredos, tem vida, tem sonho, tem paixão. Joaquim Sarmento envolve-nos numa trama, em que o narrador se situa bem perto dos personagens, conhecedor de sentimentos divulgados ou escondidos. E se a trama romanceada é por demais bem conseguida, também a contextualização temporal, passagem do século XIX para o século XX, num Portugal em ebulição, no fim de um regime (monárquico) e no início de outro (republicano) e nas experiências que custam muito sofrimento a muitas pessoas

       Quem tiver oportunidade, quem gostar de ler, este é um livro que se devora com muito agrado, lê-se e compreende-se sem necessidade de estar sempre a reler o que se acabou de ler.

 

Veja blogue da MinervaCoimbra.

13.09.12

Leituras: A Revolução de António e Oriana

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      Este é o segundo romance da autoria do Dr. Joaquim Sarmento, ilustre conterrâneo de Lamego, ex-deputado à Assembleia da República, ex-Presidente da Assembleia Municipal de Lamego, formado em Direito, Advogado aposentado, tem-se dedicado nos últimos anos à escrita. O primeiro romance - O crime de cerejeiro- consagrou-o como romancista, com a idiossincrasia do Douro e da cidade de Lamego, com um enredo envolvente.

       Neste novo romance - A revolução de António e Oriana, Campo da Comunicação, Lisboa 2009 - o contexto é o da revolução dos cravos com toda a envolvência dos anos imediatamente antes e depois de 1974. O fundo é a revolução de Abril, mas com a revolução micro-cósmica, partindo para o Douro das quintas, das fortunas, dos patrões e dos "escravos" da vinha, para Lamego (cidade de Balsemão), cidade onde a Igreja tem forte implementação e onde o comunismo não se afirma...

       É uma leitura envolvente do principio ao fim. O autor mostra uma enorme maturidade intelectual, dialogando com a arte, com a fé, com a política, com o direito, com os usos e costumes, com as características do Douro e, especificamente com a cidade de Lamego e arrabaldes, em tempo delicados para a nação, mas também para este cantinho do Douro....

12.01.12

12. PAI-NOSSO que estais na terra.

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PAI-NOSSO que estais na terra.
Pai-nosso aberto a crentes e a não crentes.
José Tolentino Mendonça, sacerdote poeta.
Pai-nosso que estais na terra é mais um título e mais um livro do Pe. Tolentino.
Deus é Pai, isso nos diz claramente Jesus Cristo.
Em definitivo um Pai que nos acompanha na terra.
Ainda continuamos a olhar para Deus como Juiz, poderoso e distante, alheio ao mundo e ao homem, como que sentado em Seu trono de onde comanda a vida do universo inteiro, mas alheio e despreocupado.
A oração do Pai-nosso é um exemplo simples, envolvente, com que Jesus nos ensina a rezar, mas também a tratar Deus por Pai, pedindo-Lhe que atenda às nossas necessidades.
O Pe. Tolentino Mendonça, para quem conhece, para quem o lê, habitou-nos a uma linguagem simples, envolvente. Também na reflexão que faz da ORAÇÃO que Jesus reza connosco.
A prioridade é DEUS. Iniciamos a oração dirigindo-nos ao Pai, do Céu e da terra, que está em toda a parte. É Pai de todos. Em causa, nesta oração, está sobretudo Deus e a imagem que temos de Deus.
Reconhecer Deus como Pai nosso, é reconhecer a Sua proximidade e a nossa pertença comum.
Rezar o Pai-nosso, assumi-lo, implica-nos na prática do bem e da caridade, reconhecendo que somos irmãos. Não pedimos para Deus nos resolver os problemas, mas para que seja nosso alimento, dando-nos força e discernimento para vivermos no caminho do bem.
Eis que venho, Senhor, para fazer a Vossa vontade.
É a oração e a opção de vida de Jesus.
Ele vai à frente como Bom Pastor.
Nós seguimos na Sua peugada.

Quando nos faltam as palavras... Ele continua a escutar o nosso coração.
Quando já nem no silêncio percebemos a Sua presença, Ele continua a visitar-nos.
É o nosso alimento. A vida de Cristo é a plenitude da entrega, do amor de Deus por nós. Também ali, no alto da Cruz, com Jesus nos sentimos desamparados - porque Me abandonaste? Também nós temos vontade de dizer - se é possível afasta de mim este cálice!
Mas também com Jesus aprendemos a colocar-nos nas mãos de um Pai que nos quer bem: faça-se a Tua vontade.
Ele mesmo Se torna o nosso pão de cada dia.

O PAI está no início da oração do Pai-nosso, o MAL está no fim.

Quanto mais nos afastamos de Deus, do Pai, mais nos aproximamos do mal. Lembremo-nos da parábola do Filho pródigo. De repente, o apelo de um mundo longe do Pai,... até ao dia em que se apercebe que a distância faz perigar a sua vida. Afinal a felicidade estava mesmo ali, em casa, junto do Pai.
Também a nossa vida está segura junto ao Pai, de todos nós. Ele que não fica no Céu distante, mas está em toda a terra que sustenta os nossos pés, o nosso andar.
Deixemos que Ele seja verdadeiramente o nosso Pai. Vivamos nessa certeza. Alimentemo-nos desta pertença e quando nos faltarem as forças, quando não tivermos palavras, que o nosso coração possa ainda balbuciar: PAI, que estais na minha vida, vinde, socorrei-me e salvai-me, para que não me perca nas distâncias da vida que me dás e renovas constantemente a Tua vida em mim.

06.12.11

Livros: INVENCÍVEL, de Laura Hillenbrand

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       "Maio de 1943: um bombardeiro americano despenha-se, deixando atrás de si apenas destroços, manchas de óleo e sangue. Pouco depois um jovem tenente iça-se para uma balsa salva vidas. Começa aí uma das mais extraordinárias odisseias da II Guerra Mundial. O tenente Louie Zamperini, em criança, tinha sido um delinquente, mas foi salvo pela paixão pela corrida. Chegou a correr nas Olimpíadas de Berlim - onde Hitler lhe apertou a mão. Mal sabia que, por causa do ditador nazi, viria a sofrer o acidente que o deixou perdido no Pacífico. Vagueou 7 semanas na balsa salva vidas, percorreu 3.500 quilómetros num oceano infestado de tubarões. Resistiu a tudo, com engenho, tenacidade, humor. Mas o pior estava para vir. Finalmente em terra, caiu nas mãos dos japoneses e tornou-se a presa favorita de um sádico oficial nipónico (conhecido como Pássaro). Zamperini tem hoje 93 anos. É um herói. Sobreviveu à guerra, à monstruosidade dos homens. E sobreviveu a si mesmo, aos seus fantasmas, ao desejo insano de vingança, ao alcoolismo, a uma vida destroçada pela memória do Horror".

       A autora, Laura Hillenbrand é considerada uma das mais talentosas autoras de não ficção norte-americana. Outro livro que fez história foi "Seabiscuit - Alma de Herói", sobre um cavalo, que deu origem a um filme inesquecível.

       Neste livro, que agora sugerimos, a autora pesquisou a história durante 7 anos, recolhendo testemunhos, fazendo entrevistas, ouvindo gravações... conta a História de Louie Zamperini, mas com ele outras histórias, outros heróis, a família, os colegas de destino, os náufragos - três, com ele, mas só dois sobreviriam 47 dias no mar revolta, sujeito a ataques do inimigo, aos tubarões, à fome, à sede, ao frio, aos ferimentos causados pela queda do avião; como prisioneiros, em vários campos, onde foram escravizados, humilhados, cuja dignidade humana não foi minimamente respeitada.

       É uma história incrível de luta, de sobrevivência, como se anuncia na capa do livro, de redenção e de resistência (extrema). Um homem levado ao limite do humanmente suportável. Não quebra, mas está no limite.

       Depois da libertação, a guerra continuou entranhada nos ex-prisioneiros, por muitos anos, em pesadelos, em vidas que nunca mais se organizaram. Também Louie enfrenta os pesadelos do passado, casa, entra em negócios ruinosos, bebe desenfreadamente, e há-de ser na religião que encontra um sentido definitivo para viver, perdoar, recomeçar.

       Para quem gosta de ler, para quem aprecia romances (embora não seja romance), para quem devora biografias, para aficionados da história, esta é uma história admirável, lê-se com agrado, as muitas páginas não assustam, basta começar, não se quer parar. Fica-se preso à história, até ao fim.

       No YOUTUBE, na página da DOM QUIXOTE pode encontrar vídeos sobre Loiue Zamperini: AQUI.

25.10.11

Notas sobre o livro "O último segredo", de José Rodrigues dos Santos

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Primeira nota:

       Ainda não li o livro, mas a entrevista de José Rodrigues dos Santos à revista Sábado. Permite concluir desde logo que é mais um romance oportunista, querendo tornar dogmático o que são suposições já muito exploradas - apresenta alguns dados como sendo novos e escondidos pela Igreja, quando são estudados há decénios, e alguns, há séculos. Tratando-se de uma obra ficcionada nada a opor. Mas quando se faz querer que a teologia e a Igreja vivem na mentira e o José  Rodrigues dos Santos é a verdade descoberta e definitiva, no mínimo é presunção. Tantos estudiosos, historiadores, teólogos, e outros, cujas descobertas e/ou reflexões não têm nem valor nem credibilidade porque há ou pode haver outras interpretações!

       Pelo que li, o romance não traz, para a história, nada de novo. A filiação de Jesus, a sua família, os evangelhos gnósticos, a figura ímpar de Maria Madalena, são temas amplamente discutidos. Diga-se a propósito e como exemplo: Maria Madalena, popularmente continua a dizer-se que era uma prostituta ou a mulher apanhada em adultério; o filme de Mel Gibson assume esta versão; na Igreja contudo ninguém ensina semelhante inverdade. Maria Madalena era uma mulher bastante doente que Jesus curou e depois disso tornou-se uma das benfeitores de Jesus e dos seus discípulos. Alguns Padres da Igreja fizeram confusão entre Maria Madalena e outras mulheres de quem não nos chega o nome - talvez para não serem expostas. Muitas vezes, incluindo José Saramago, é apresentada como pessoa íntima de Jesus. Bom, por ser suspeita vale mais dos que os testemunhos do Evangelho? Ou do que os estudos teológicos?

        Também poderia abordar, não sei se aparecerá no romance, que Jesus nasceu 7 anos antes da era cristã... que morreu pelo ano 30, mas com 37 anos... qualquer estudante de teologia sabe isso... que Judas poderia ter sido o discípulo predilecto de Jesus... que a expulsão dos sete demónios de Maria Madalena poderá significar que tinha muitas doenças, ou uma doença muito grave... veja-se que o sete é muito simbólico... poderia também referir que afinal em Belém, Jesus nasce numa gruta ou num estábulo por generosidade de São José, que teria aí uma casa, e a gravidez de Maria, o terá levado a disponibilizar a casa para os que se deslocavam para o recenseamento. Se Maria ocupasse a casa, todos na casa ficariam contaminados (era assim a lei judaica), com o parto. Então, a opção terá sido o "estábulo", a parte debaixo da casa, onde se resguardaram... e tantas outras coisas sobre as quais há hoje uma luz diferente, mas que no essencial e para os crentes não são obstáculo, mas a constatação que a Sagrada Escritura tem um contexto espacio-temporal, situada na história, redigida por homens, em palavras humanas...

 

       Mais uma nota introdutória:

       Li romances anteriores de José Rodrigues dos Santos (que vale a pena ler). Nada a opor ao romancista... como li várias obras de José Saramago (a escrita sobre Jesus Cristo é mais uma tentativa de mostrar factos novos, mas nada do que li para mim foi novo, tinha estudado no seminário, mas foi um bom negócio "literário", como também Caim)... como li Dan Brown, O Código Da Vinci (facilmente o que nos é apresentado como a última verdade, factual, se verifica que mesmo nos dados históricos e nas referências aos monumentos há muitos erros e alguns de palmatória... depois disso, as suas publicações, aproveitando o sucesso, versaram sobre as mesmas suposições, mas ficaram por isso mesmo, para mim, desinteressante...)

       Se pesquisarem na NET vão encontrar muitos "últimos segredos"... de qualquer coisa, mas a maioria versa sobre religião... continua a vender bem!

       BENTO XVI, na obra de Jesus de Nazaré, aborda muitos dos temas polémicos, mas vai além do método crítico-histórico. Vale a pena ler a obra, onde se pode verificar claramente que a Igreja e os seus maiores "teólogos" não fogem às questões colocadas nas insinuações, na história, nas tradições paralelas, nos grupos sectários que se afastaram da Igreja...

 

      

NOTA DO SECRETARIADO NACIONAL DA PASTORAL DA CULTURA:

 

       O romance de José Rodrigues dos Santos, intitulado “O último segredo”, é formalmente uma obra literária. Nesse sentido, a discussão sobre a sua qualidade literária cabe à crítica especializada e aos leitores. Mas como este romance do autor tem a pretensão de entrar, com um tom de intolerância desabrida, numa outra área, a história da formação da Bíblia por um lado, e a fiabilidade das verdades de Fé em que os católicos acreditam por outro, pensamos que pode ser útil aos leitores exigentes (sejam eles crentes ou não) esclarecer alguns pontos de arbitrariedade em que o dito romance incorre.

 

       1. Em relação à formação da Bíblia e ao debate em torno aos manuscritos, José Rodrigues dos Santos propõe-se, com grande estrondo, arrombar uma porta que há muito está aberta. A questão não se coloca apenas com a Bíblia, mas genericamente com toda a Literatura Antiga: não tendo sido conservados os manuscritos que saíram das mãos dos autores torna-se necessário partir da avaliação das diversas cópias e versões posteriores para reconstruir aquilo que se crê estar mais próximo do texto original. Este problema coloca-se tanto para o Livro do Profeta Isaías, por exemplo, como para os poemas de Homero ou os Diálogos de Platão. Ora, como é que se faz o confronto dos diversos manuscritos e como se decide perante as diferenças que eles apresentam entre si? Há uma ciência que se chama Crítica Textual (Critica Textus, na designação latina) que avalia a fiabilidade dos manuscritos e estabelece os critérios objetivos que nos devem levar a preferir uma variante a outra. A Crítica Textual faz mais ainda: cria as chamadas “edições críticas”, isto é, a apresentação do texto reconstruído, mas com a indicação de todas as variantes existentes e a justificação para se ter escolhido uma em lugar de outra. O grau de certeza em relação às escolhas é diversificado e as próprias dúvidas vêm também assinaladas.

       Tanto do texto bíblico do Antigo como do Novo Testamento há extraordinárias edições críticas, elaboradas de forma rigorosíssima do ponto de vista científico, e é sobre essas edições que o trabalho da hermenêutica bíblica se constrói. É impensável, por exemplo, para qualquer estudioso da Bíblia atrever-se a falar dela, como José Rodrigues dos Santos o faz, recorrendo a uma simples tradução. A quantidade de incorreções produzidas em apenas três linhas, que o autor dedica a falar da tradução que usa, são esclarecedoras quanto à indigência do seu estado de arte. Confunde datas e factos, promete o que não tem, fala do que não sabe.

 

       2. Chesterton dizia, com o seu notável humor, que o problema de quem faz da descrença profissão não é deixar de acreditar em alguma coisa, mas passar a acreditar em demasiadas. Poderíamos dizer que é esse o caso do romance de José Rodrigues dos Santos. A nota a garantir que tudo é verdade, colocada estrategicamente à entrada do livro, seria já suficientemente elucidativa. De igual modo, o apontamento final do seu romance, onde arvora o método histórico-crítico como a única chave legítima e verdadeira para entender o texto bíblico. A validade do método de análise histórico-crítica da Bíblia é amplamente reconhecida pela Igreja Católica, como se pode ver no fundamental documento “A interpretação da Bíblia na Igreja Católica” (de 1993). Aí se recomenda o seguinte: «os exegetas católicos devem levar em séria consideração o caráter histórico da revelação bíblica. Pois os dois Testamentos exprimem em palavras humanas, que levam a marca do seu tempo, a revelação histórica que Deus fez… Consequentemente, os exegetas devem servir-se do método histórico-crítico». Mas o método histórico-crítico é insuficiente, como aliás todos os métodos, chamados a operar em complementaridade. Isso ficou dito, no século XX, por pensadores da dimensão de Paul Ricoeur ou Gadamer. José Rodrigues dos Santos parece não saber o que é um teólogo, e dir-se-ia mesmo que desconhece a natureza hipotética (e nesse sentido científica) do trabalho teológico. O positivismo serôdio que levanta como bandeira fá-lo, por exemplo, chamar “historiadores” aos teólogos que pretende promover, e apelide apressadamente de “obras apologéticas” as que o contrariam.

 

       3. A nota final de José Rodrigues dos Santos esconde, porém, a chave do seu caso. Nela aparecem (mal) citados uma série de teólogos, mas o mais abundantemente referido, e o que efetivamente conta, é Bart D. Ehrman. Rodrigues dos Santos faz de Bart D.Ehrman o seu teleponto, a sua revelação. Comparar o seu “Misquoting Jesus. The Story Behind who Changed the Bible and Why” com o “O Último segredo” é tarefa com resultados tão previsíveis que chega a ser deprimente. Ehrman é um dos coordenadores do Departamento de Estudos da Religião, da Universidade da Carolina do Norte, e um investigador de erudição inegável. Contudo, nos últimos anos, tem orientado as suas publicações a partir de uma tese radical, claramente ideológica, longe de ser reconhecida credível. Ehrman reduz o cristianismo das origens a uma imensa batalha pelo poder, que acaba por ser tomado, como seria de esperar, pela tendência mais forte e intolerante. E em nome desse combate pelo poder vale tudo: manobras políticas intermináveis, perseguições, fabricação de textos falsos… Essa luta é transportada para o interior do texto bíblico que, no dizer de Ehrman, está texto repleto de manipulações. O que os seus pares universitários perguntam a Ehrman, com perplexidade, é em que fontes textuais ele assenta as hipóteses extremadas que defende.

 

       4. Resumindo: é lamentável que José Rodrigues dos Santos interrogue (e se interrogue) tão pouco. É lamentável que escreva centenas de páginas sobre um assunto tão complexo sem fazer ideia do que fala. O resultado é bastante penoso e desinteressante, como só podia ser: uma imitação requentada, superficial e maçuda. O que a verdadeira literatura faz é agredir a imitação para repropor a inteligência. O que José Rodrigues dos Santos faz é agredir a inteligência para que triunfe o pastiche. E assim vamos.

 

24.09.11

Haruki Murakami: as pessoas estão sempre a morrer

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      "...a do ser humano é breve, e muito mais frágil do que se imagina. As pessoas estão sempre e a morrer. Por isso, devemos tratar os outros de forma a não dar azo a grandes arrependimentos. De maneira justa e, se possível, com a máxima sinceridade. Eu, pessoalmente, não aprecio aqueles que não se esforçam quando têm oportunidade para isso e depois ficam a chorar baba e ranho e a torcer as mãos pelos cantos, cheios de remorsos, quando morre alguém".

 

Haruki Murakami, Dança, Dança, Dança. Casa das Letras, Cruz Quebrada: 2008.

28.09.10

Murakami: auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo

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       Haruki Murakami é um escritor de créditos firmados, nasceu em Quioto em 1949. Depois da faculdade, abriu um Clube de Jazz, no Japão. Quase por brincadeira torna-se escritor, romancista. Concorre a um prémio e passado dois meses toma conhecimento dos resultados: 1.º Lugar, o que lhe permite a primeira publicação. Decide depois tornar-se romancista, deixando o Clube... Torna-se também quase em simultâneo corredor/maratonista...

       Neste livro, que ora recomendamos - H. Murakami, Auto-retrato do escritor enquanto corredor de fundo. Casa das Letras: 2009 - o autor reflecte a sua vida como corredor e quanto se tornou importante a corrida, o exercício físico, a persistência na sua escrita... É um retrato descontraído, despreconceituoso, divertido, envolovente, para quem gosta de Murakami, para quem gosta de autobiografias, para quem gosta de ler, vale a pena mais esta obra do autor japonês.

       No final da narrativa diz-nos o autor: "Vejo este livro como uma espécie de memórias... Através do acto da escrita, tive a intenção de ordenar os meus pensamentos, à minha maneira, de descobrir de que forma vivi durante os últimos vinte e cinco anos, como escritor e como um ser humano igual aos outros..."

       Outras obras bem conhecidas e que já lemos erecomendaríamos: Em busca do Carneiro Selvagem; Crónica do Pássaro de Corda; A Rapariga que Inventou um Sonho; After Dark. Os passageitros da Noite; A sul da Fronteira, a Oeste do Sol...

07.08.10

Pietá ou a Imitação do Mestre

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       A estátua da Pietá e o seu autor, o célebre pintor/escultor Miguel Ângelo, também autor do Juízo Final da Capela Sistina no Vaticano, são o mote para este romance: Pietá ou a Imitação do Mestre, de Francisco Gouveia (Editalma. Porto: 2000).

       Já tínhamos recomendado para leitura o seu romance Escadas do Céu. Neste Pietá o tema é outro, ainda que as terras do interior e a proximidade ao Douro seja visível. Ana é uma mulher do povo, simples, devota, trabalhadora. Na capela onde vai rezar, existe um quadro com a imagem/réplica da Pietá, onde muitas vezes vai rezar. Pergunta ao Pe. Mário como se chama o autor daquela obra e assim coloca ao seu único filho o nome desta celebridade. O filho seguirá as pisadas do seu patrono.

       No Porto, entra para a Escola de Belas Artes, mas cedo verificará que a sua veia de artista não lhe traz muito sucesso, com uma crítica feroz, vende sobretudo quadros de imitação. É uma artista a imitar Miguel Ângelo. Cada raço, cada insinação.

       A vida de artista não é fácil. O álcool é um refúgio cada vez mais frequente. Depois chegará a droga.

       Aqui se concentra este romance, o mundo obscuro e degradande da toxicodependência e a extrema dificuldade em alguém se livrar desse mundo. E por outro, a família que é arrastada para o submundo. Ana identifica-se com a mãe da Pietá, com Maria com o seu filho morto no Seu regaço...

       Intenso; é, como se diz na contracapa, um hino à coragem maternal e á redenção humana... 

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Velho - Mafalda Veiga

Festa de Santa Eufémia

Pinheiros, 16/17 de setembro de 2012

Primeira Comunhão 2013

Tabuaço, 2 de junho

Profissão de Fé 2013

Tabuaço, 19 de maio

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