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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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20.07.24

«Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco»

mpgpadre

1 – A fé não é uma realidade abstrata. A fé liga-nos aos outros, no tempo e no espaço, ao passado, aos nossos contemporâneos e ao futuro, aos que estão perto e aos que estão longe.

Com efeito, "o para sempre é feito de agoras" (Emily Dickinson). Se vivêssemos idealmente como seres espirituais, sem fronteiras nem limites, sem corpos nem encontros, não seríamos o que somos, seríamos anjos, logo não seríamos deste mundo.

Somos de carne e osso, situamo-nos no tempo e na história. A nossa vida não se dilui em intenções, generalizações, globalizações, sem identidade nem rosto. A vida é concretizável no nascer, na interação com os nossos pais, irmãos, família, com os vizinhos, com os colegas de escola, com os colegas de brincadeira, e de trabalho.

Quando Jesus fala, ainda que fale às multidões, quando Jesus age, ainda que o faça a favor da humanidade inteira, fixa os olhos em pessoas concretas, com quem dialoga, a quem abraça, a quem sorri…

Jesus é uma pessoa simples, acessível, está por perto, cuidando de nós. Os apóstolos foram enviados a pregar, a curar, a expulsar os demónios. Partiram em nome de Jesus para fazer o bem às pessoas que encontrassem necessitadas. Regressam. Entusiasmados com a missão, contam tudo a Jesus, confidenciam-lhe o que viveram. Também nós somos chamados a confidenciar a nossa vida a Jesus.

Depois de os ouvir com atenção, a preocupação muito "banal" e humana de Jesus: «Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco». E São Marcos acrescenta: "De facto, havia sempre tanta gente a chegar e a partir que eles nem tinham tempo de comer. Partiram, então, de barco para um lugar isolado, sem mais ninguém".

Mc6,30-34.jpg

2 – A delicadeza de Jesus ocupa por inteiro o Evangelho deste domingo. Depois da confidência dos apóstolos poderíamos esperar um belo discurso de Jesus, uma oração poética, mais perguntas ou mais recomendações. Jesus está atento aos seus amigos: vinde, descansai e comei, que bem precisais.

É uma delicadeza que se alarga à multidão.

"Ao desembarcar, Jesus viu uma grande multidão e compadeceu-Se de toda aquela gente, porque eram como ovelhas sem pastor. E começou a ensinar-lhes muitas coisas".

Nem só de pão vive o homem, mas de toda a palavra que sai da boca de Deus. Jesus interpreta os tempos. Há um tempo para alimentar o corpo. Não adianta pregar a estômagos vazios.

Há um tempo para refletir, para orar, para dar sentido à vida, para apalavrar a existência.

Há pessoas miseráveis a viver em palácios, há pessoas felizes a viver em favelas. Quem tem muito pode pensar que a felicidade não passa pelos bens, ainda que não os dispense nem os partilhe com quem nada tem. A fé compromete-nos na transformação do mundo, na luta contra as injustiças, na promoção das pessoas e na inclusão dos mais frágeis.

A palavra já existia, Ela está no início, Jesus é a Palavra (o Verbo) de Deus que Se faz carne, Se faz corpo. Sem palavra, não há vida. É pela Palavra que Deus cria o mundo. Jesus põe-se a ensinar aquela multidão cujas pessoas são como ovelhas sem pastor. Jesus fala-lhes de Deus. Fala do Amor que é Deus e que abraça cada um. Fala-lhes de esperança e vida nova. Desafia-os a fazer da vida um milagre.

 

3 – Jesus Cristo dá a Sua vida para nos congregar como povo santo: um só rebanho com um só pastor. Uma verdadeira família para Deus. Para que todos sejam Um como Eu e Tu somos Um (cf. Jo 17, 21) De todos os povos dispersos, Jesus forma o Seu corpo.

O sublinhado de São Paulo é ilustrativo: “Cristo é, de facto, a nossa paz. Foi Ele que fez de judeus e gregos um só povo e derrubou o muro da inimizade que os separava… Cristo veio anunciar a boa nova da paz, paz para vós, que estáveis longe, e paz para aqueles que estavam perto. Por Ele, uns e outros podemos aproximar-nos do Pai, num só Espírito”.

O ponto de partida, o fundamento e o fim da nossa vida é a Santíssima Trindade.

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Textos para a Eucaristia (B): Jer 23, 1-6; Sl 22 (23); Ef 2, 13-18; Mc 6, 30-34.

 

Reflexão Domincial COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.

06.07.24

De onde Lhe vem tudo isto?

mpgpadre

1 – A pessoa-outra será sempre um mistério imperscrutável. Os apóstolos fazem essa experiência acerca de Jesus e acerca uns dos outros. O evangelho de Marcos procura responder à questão "Quem é Jesus?" e à medida que o tempo avança os discípulos vão descobrindo novas facetas, pelo que Jesus diz, pelo que faz, mas também de acordo com a sensibilidade de cada um. Nenhum de nós consegue ser objetivo quando emitimos um juízo de valor sobre o outro. Por isso, a mesma pessoa é amada, é odiada e/ou é indiferente. Nesse caso depende mais de quem avalia.

O grupo dos apóstolos é constituído por pessoas muito diferentes entre si; na maioria, são pessoas simples, da classe média-baixa, trabalhadores, assalariados, talvez à exceção de Tiago e João cujo pai é dono de várias embarcações e tem a seu encargo outros trabalhadores. Olhando para a aparência, dificilmente nós daríamos alguma coisa por eles. O mais qualificado – no dizer de Augusto Cury, o único a ser aprovado pelo departamento de recursos humanos de qualquer empresa – seria Judas Iscariotes, que se tornou, primeiro, um dos discípulos mais próximos de Jesus e, depois, odiado e apontado pela traição ao Mestre sem o consequente arrependimento e conversão de vida, como aconteceu com os demais.

Jesus vai à terra que o viu crescer. Todos sabem quem é. Já sabem o que vale. O que ouviram dizer acerca d'Ele não deve corresponder ao que sabem d'Ele. Começam as dúvidas. Ou Ele faz algo de espetacular e acreditamos ou então não passa do filho de José e de Maria, cujos irmãos e irmãs vivem entre nós.

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2 – Os conterrâneos de Jesus acolhem-n’O com sentimentos diferentes.

O evangelho deixa-nos perceber que já chegaram ecos dos ditos e feitos de Jesus a Nazaré. Como bom filho à casa volta, Jesus deve sentir-se animado e descontraído, como nós, quando estamos com aqueles que cresceram connosco e nos conhecem bem, com quem brincamos, com quem participámos em festas, nas reuniões familiares e em trabalhos comuns! Jesus está em casa e no sábado seguinte vai à sinagoga. Nos dias anteriores, sem forçar o texto, poderemos concluir que Jesus distendeu com os seus discípulos em casa da família, dos amigos e dos vizinhos, entre refeições, afazeres, conversas animadas, e talvez explicando ao que vinha e o que se dizia.

Chegamos ao sábado, o dia do descanso, da oração e do louvor, do encontro com os outros e da festa em família! Assim deveriam ser os nossos domingos! Jesus cumpre, com os seus discípulos, e apresenta-Se na sinagoga, ensinando. A povoação está ali reunida. A primeira impressão é francamente positiva. As numerosas pessoas presentes estão admiradas com a sabedoria e os feitos de Jesus. Mas estão perplexas, estranhando como alguém dos deles e como eles se pode agora destacar tanto! Como e quando nos ultrapassou?

Não será o que acontece com os nossos amigos ou colegas de carteira? Um ou outro com quem estudamos e que nunca se destacou e, quando voltamos a encontrar-nos, verificamos que teve sucesso, deu-se bem na vida. Como reagimos? Com alegria ou remoendo por dentro por se ter dado melhor do que nós?

O texto sucinto de Marcos não nos permite saber exatamente o que se passou entre o momento de admiração dos ouvintes e a reação de Jesus, pois esta não se ajusta ao bom acolhimento que estava a ter. Mas pelas Suas palavras depreendemos que muitos terão ficado de pé atrás, sem se deixarem tocar pela fé e exigindo, como em outros momentos, que Jesus usasse de espetacularidade como se fosse uma espécie de mágico. Diz-lhes Jesus: «Um profeta só é desprezado na sua terra, entre os seus parentes e em sua casa».

E conclui o evangelista: "Não podia ali fazer qualquer milagre; apenas curou alguns doentes, impondo-lhes as mãos. Estava admirado com a falta de fé daquela gente. E percorria as aldeias dos arredores, ensinando". O verdadeiro milagre é o da conversão.

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Textos para a Eucaristia (B): Ez 2, 2-5; Sal 122 (123); 2 Cor 12, 7-10; Mc 6, 1-6.

29.06.24

Deveis também sobressair nesta obra de generosidade

mpgpadre

       1 – Deus não é um Deus de mortos, mas de vivos, como claramente o afirma Jesus (cf. Mc 12, 18-27), é Deus de Abraão, de Isaac e Jacob, de Moisés e Elias, de Isaías e Jeremias, é o Deus de nossos pais (cf. Atos 3,13), de João Batista e de Jesus Cristo. É a vida em abundância que Deus quer para aqueles que criou por amor e cuja vinda ao mundo do Seu Filho Jesus Cristo o explicita: Eu vim para que tenham a vida e a vida em abundância (Jo 10,10). É o bom Pastor que dá a vida pelas ovelhas, que carrega com as mais débeis aos ombros e que as conduz às melhores pastagens.

       A primeira leitura, do livro da Sabedoria, mostra esta certeza inabalável:

"Não foi Deus quem fez a morte, nem Ele Se alegra com a perdição dos vivos. Pela criação deu o ser a todas as coisas, e o que nasce no mundo destina-se ao bem. Em nada existe o veneno que mata, nem o poder da morte reina sobre a terra, porque a justiça é imortal. Deus criou o homem para ser incorruptível e fê-lo à imagem da sua própria natureza. Foi pela inveja do Diabo que a morte entrou no mundo, e experimentam-na aqueles que lhe pertencem".

       Como é que continua a perpassar a ideia que Deus é terrífico, sequioso de vingança, de sacrifício dos homens e das mulheres, que é um vigilante justiceiro, sempre pronto para destruir, para castigar, para exigir?!

       O texto inspirado da Sabedoria não poderia ser mais clarificador. Deus não se alegra com o sofrimento das pessoas. Quantas vezes o dizemos: Ele sofreu, logo temos de sofrer com paciência?! É urgente modificar o paradigma: Ele amou, até ao fim, gastando-Se por inteiro. "Amo, logo existo" (Pe. João André, Da minha janela). De que forma, hoje, aqui e agora (hic et nunc), posso amar melhor? Tudo o que Deus criou e nos confiou destina-se à vida e ao bem. Somos imagem e semelhança de Deus, pertencemos-Lhe. A nossa natureza liga-nos à eternidade, à vida em Deus.

       2 – Compreende-se, portanto, que a missão de Jesus seja salvar, envolver, curar, reabilitar, incluir e inserir na comunidade dos filhos de Deus, promover o bem, a verdade, a justiça, a conciliação entre todos, a solidariedade, a partilha efetiva e concreta de bens materiais e espirituais. A defesa dos mais desfavorecidos não procura desfavorecer os demais mas criar iguais oportunidades para que todos possam viver em abundância, sentindo-se filhos e herdeiros de Deus, irmãos, família, incluídos, parte importante da sociedade atual, responsáveis pelo mundo a que pertencem. Por conseguinte, muitas vezes se refere, no ponto concreto da relação entre pessoas e povos, que só é possível diálogo e concertação entre iguais, e não entre uma pessoa/povo credor e uma pessoa/povo sujeito de ajuda. Aí haverá domínio e imposição!

       Enquadram-se nesta dinâmica as curas narradas no Evangelho de São Marcos:

“Jesus olhou em volta, para ver quem O tinha tocado. A mulher, assustada e a tremer, por saber o que lhe tinha acontecido, veio prostrar-se diante de Jesus e disse-Lhe a verdade. Jesus respondeu-lhe: «Minha filha, a tua fé te salvou». Ainda Ele falava, quando vieram dizer da casa do chefe da sinagoga: «A tua filha morreu. Porque estás ainda a importunar o Mestre?». Mas Jesus, ouvindo estas palavras, disse ao chefe da sinagoga: «Não temas; basta que tenhas fé»…

Ao entrar, perguntou-lhes: «Porquê todo este alarido e tantas lamentações? A menina não morreu; está a dormir». Riram-se d’Ele. Jesus, depois de os ter mandado sair a todos, levando consigo apenas o pai da menina e os que vinham com Ele, entrou no local onde jazia a menina, pegou-lhe na mão e disse: «Talita Kum», que significa: «Menina, Eu te ordeno: Levanta-te». Ela ergueu-se imediatamente e começou a andar, pois já tinha doze anos”. 

       No primeiro caso, uma mulher há muito afastada do convívio saudável, cujas maleitas físicas não lhe permitiam viver em sociedade, e integrar-se na vivência religiosa. A sua doença é também espiritual e "social". Vê-se obrigada a sobreviver. Jesus cura-a e integra-a. Doravante estará como igual na família e nas relações sociais e religiosas.

       No segundo caso, a certeza que Jesus vem salvar, redimir, devolver-nos a uma vida nova, pré-anunciada na ressurreição desta menina, ao mesmo tempo que dá tempo e vida a esta família. Ele está definitivamente do nosso lado. Caminha connosco. Também está connosco quando sofremos.

 

       3 – A vocação do cristão é seguir Jesus Cristo, imitá-l'O, acolhendo a vontade de Deus, fazendo com que seja o verdadeiro alimento, prosseguindo para se tornar perfeito e misericordioso como Deus, incluindo, sendo bênção para os outros, em palavras e em gestos, pela boca e pela vida, fazendo o que está ao seu alcance para acudir a todos, dando o melhor de si, comprometendo-se desde logo com as pessoas que Deus colocou à sua beira. Somos cristãos também em casa, ou sobretudo em casa, com a família. Como nos lembrava o Pregador da festa de São João, Pe. Giroto, por vezes somos pouco tolerantes e compreensivos para com aqueles estão mais perto, a família. Mas aí começa o testemunho e a veracidade da nossa fé e o seguimento de Jesus Cristo, prosseguindo para a vizinhança.

       Reflitamos, atenta e demoradamente, nas palavras do apóstolo São Paulo:

"Já que sobressaís em tudo – na fé, na eloquência, na ciência, em toda a espécie de atenções e na caridade que vos ensinámos – deveis também sobressair nesta obra de generosidade. Conheceis a generosidade de Nosso Senhor Jesus Cristo: Ele, que era rico, fez-Se pobre por vossa causa, para vos enriquecer pela sua pobreza. Não se trata de vos sobrecarregar para aliviar os outros, mas sim de procurar a igualdade. Nas circunstâncias presentes, aliviai com a vossa abundância a sua indigência para que um dia eles aliviem a vossa indigência com a sua abundância. E assim haverá igualdade, como está escrito: «A quem tinha colhido muito não sobrou e a quem tinha colhido pouco não faltou»".

       Mastiguemos bem, ruminemos estas palavras, abrindo-nos para o compromisso sério com os outros. É aqui que podemos e devemos intrometer-nos na vida dos outros. Somos guardas dos nossos irmãos. Somos corresponsáveis pela sua felicidade. A intromissão na vida alheia, para o cristão, vale apenas e quando há um claro empenho por ajudar, sem expor, por promover uma vida condigna e humana. Não podemos ser Abel nem Pilatos, não lavamos as mãos, não nos descartamos dos outros. É com os outros que vamos até ao Céu de Deus.


Textos para a Eucaristia: Sab 1, 13-15; 2, 23-24; 2 Cor 8, 7.9.13-15; Mc 5, 21-43.

15.06.24

O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se e a semente germina e cresce...

mpgpadre

1 – Bento XVI, no início do seu ministério petrino (24/04/2005), falava nos desertos exteriores que se multiplicavam (guerra, violência, fome…) e nos desertos interiores que se acentuavam, com a perda de sentido, havendo cada vez mais pessoas a não saber qual o seu lugar no mundo. Por outro lado, Deus já nem é questionado ou é secundarizado! Um risco que corremos também na Igreja: viver como se Deus não existisse, ou como se não fosse importante, ou só importasse no fim da vida ou nos apertos da vida!

Os santos experimentaram o que se apelida de noite de fé. Santa Teresa de Calcutá é a mais recente de um número de santos que se questionaram e questionaram Deus no confronto com uma realidade avassaladora de miséria, de exclusão, de sofrimento "inocente"! Santa Teresinha do Menino Jesus deparou-se com a doença "mortal", protestando com Deus, tal como Job: que mal tinha feito para que Deus permitisse tão grande sofrimento?! As respostas nem sempre são clarividentes e muitas vezes levam a novas perguntas. Para Santa Teresinha, a esperança pode falhar, a fé em Deus também, mas o caminho seguro para Deus será o amor. Assim Santa Teresa de Calcutá prossegue com a sua "noite da fé", sujeita a muitas interrogações, mas não vacilando na hora de amar Jesus em cada pessoa a cuidar.

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2 – Jesus desafia à confiança em Deus: «O reino de Deus é como um homem que lançou a semente à terra. Dorme e levanta-se, noite e dia, enquanto a semente germina e cresce, sem ele saber como. A terra produz por si, primeiro a planta, depois a espiga, por fim o trigo maduro na espiga. E quando o trigo o permite, logo se mete a foice, porque já chegou o tempo da colheita».

Numa leitura apressada dá a ideia que o trabalho humano (e braçal) é dispensável. O homem lança a semente à terra!

Antes disso é preciso cavar, ajeitar a terra e eliminar as ervas ruins, cavando mais fundo. No caso do trigo e do centeio é semear e deixar crescer… até chegar o tempo de cortar! Pelo meio, outros cuidados! Logo nos primeiros dias é necessário estar atento afastando as aves para que não comam as sementes visíveis ou esgravatem na terra à procura das que estão mais fundas! Por isso se colocam espantalhos! É preciso vigiar ratazanas e cava-terras que luram a terra e danificam a sementeira. Se antes há cuidados, depois é preciso "malhar" ou debulhar, separando o trigo da palha, aproveitando um e outro. O trigo será moído, obtém-se a farinha, e coze-se o pão! A palha ser, por exemplo, para alimento dos animais…

 

3 – Na segunda parábola, Jesus clarifica e acentua a confiança em Deus. O Reino de Deus «é como um grão de mostarda, que, ao ser semeado na terra, é a menor de todas as sementes que há sobre a terra; mas, depois de semeado, começa a crescer e torna-se a maior de todas as plantas da horta, estendendo de tal forma os seus ramos que as aves do céu podem abrigar-se à sua sombra».

A oração inicial provoca-nos à mesma confiança: «Deus misericordioso, fortaleza dos que esperam em Vós, atendei propício as nossas súplicas; e, como sem Vós nada pode a fraqueza humana, concedei-nos sempre o auxílio da vossa graça, para que as nossas vontades e ações Vos sejam agradáveis no cumprimento fiel dos vossos mandamentos».

A benevolência de Deus chama-nos à vida e sustenta-nos neste mundo que Ele nos dá como chão e como casa, atendendo às nossas súplicas mas implicando-nos na transformação de todas as realidades que estejam longe ou desfasados do reino de Deus que não é apenas uma realidade futura, mas está aí, está aqui, na história e no tempo. Jesus veio, em Pessoa, viver connosco. Não veio viver por nós, mas viver como um de nós. Assumindo-nos, para que com Ele possamos aprender, crescer, e O assumamos na nossa vida, criando as condições para que a semente em nós semeada possa germinar.

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Textos para a Eucaristia (ano B): Ez 17, 22-24; Sl 91 (92); 2 Cor 5, 6-10; Mc 4, 26-34.

08.06.24

Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe

mpgpadre

1 – É possível que ouçamos o rumor dos passos do Senhor a caminhar no nosso jardim! Por vezes os Seus passos assustam-nos porque estamos nus, temos medo do Seu olhar, e talvez pensemos que a Sua misericórdia tenha limites. Mas o problema não é estarmos despidos diante do Senhor, sem as nossas máscaras, o problema é a falta de confiança no Seu amor, a falta de cumplicidade com um Pai que nos ama com o coração de Mãe. É possível que não possamos voltar atrás, é possível que nos tenhamos desabituado do olhar de Deus e O sintamos como um intruso, um intrometido, que queremos afastar, manter longe da nossa vista. Talvez tenhamos deixado de ter aquela cumplicidade que nos fazia correr para os Seus braços, a intimidade com um olhar translúcido de amor, de carinho e de ternura! Há de chegar o tempo em que sentiremos saudades daquele olhar, daquele abraço, sem precisarmos de nos vestir, de nos disfarçarmos, de arranjarmos barreiras!

Houve um tempo em que as nossas Mães nos trouxeram ao colo, nos amamentaram, nos deram banho, nos mudaram as fraldas! Agora talvez tenhamos pudor e recato em falar desse tempo que não nos lembramos mas que sabemos que existiu! Com os anos fomos fazendo a experiência de uma privacidade que anulou aquela intimidade, pele com pele, fomos fechando o quarto, fomo-nos vestindo, deixamos de aparecer nus diante dos nossos pais. E já crescidos acharíamos estranho despir-nos diante deles, pois tal intimidade já não se expressa da mesma maneira.

«Onde estás?». Pergunta Deus a Adão. Onde estás, pergunta-nos Deus! A resposta de Adão mostra o medo e a vergonha: «Ouvi o rumor dos vossos passos no jardim e, como estava nu, tive medo e escondi-me». Como é que nós respondemos a Deus? Temos medo? Vergonha? Exigir-nos-á mais do que estamos dispostos a dar?

Domingo x do tempo comum, ano B.webp

2 – Jesus torna audíveis e visíveis os passos de Deus. Podemos continuar a esconder-nos. Deus não Se esconde, pelo contrário, procura-nos, vem ao nosso jardim, ao nosso mundo, chama-nos pelo nome, quer-Se perto de nós.

O nosso olhar pode ficar turvo, o nosso coração pode endurecer como pedra, a nossa memória pode adoecer, a nossa vontade pode fraquejar, mas Deus não desiste. Não desistiu de Adão nem de Caim. Não desistiu de Noé nem dos seus filhos. Apostou em Abraão, em Moisés e em Josué. Confiou em David e em Salomão, em Elias e em Amós. Não cessou de insinuar o Seu rosto e a Sua presença, não tanto na tempestade e na confusão, mas na brisa suave, respeitando-nos na nossa liberdade. Sem Se impor, mas não deixando de Se propor!

É então que, na plenitude dos tempos, Deus vem em carne e osso, encarnando, dando-nos o Seu Filho muito Amado! Não dá mais para ignorar, Deus está no meio de nós. O sim de Deus à humanidade encontra o "sim" de Maria e nasce Jesus, Deus connosco.

Jesus vem fazer a vontade do Pai! Seremos Seus discípulos e Seus parentes se O imitarmos: «Quem fizer a vontade de Deus esse é meu irmão, minha irmã e minha Mãe».

 

3 – Agora sei que o rumor no meu jardim eram os Teus passos,

agora percebi que era a Tua voz que me chamava pelo nome,

agora, Senhor, que o meu olhar encontrou o Teu olhar,

ou melhor, que Tu quiseste ver-Me...

agora sei que vieste ao meu encontro, quiseste habitar comigo,

Ilumina-me, Senhor, com o Teu Espírito, com o fogo do Teu amor...

faz com que me sinta perdoado e amado pelo Teu abraço,

Que nos momentos bons, saiba ser grato por tantas bênçãos!

Que nos momentos maus, saiba que não foste embora!

Agora que me encontraste, não me deixes afastar-me de Ti, do Teu olhar, do Teu amor

Agora sei que me assumiste como filho no Teu Filho Jesus...

Agora sei que faço parte da Tua família,

Que saiba fazer com que sejas parte da minha família...

Faz-me atento e disponível para Te escutar, Te amar e Te seguir;

faz-me dócil para acolher a Tua palavra e procurar a Tua vontade,

e como Maria saiba dizer-Te: faça-se em mim segunda a Tua palavra!

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Textos para a Eucaristia (ano B): Gen 3, 9-15; Sl 129 (130); 2 Cor 4, 13 – 5, 1; Mc 3, 20-35.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

02.06.24

Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?

mpgpadre

1 –  O Evangelho traz-nos mais um debate entre Jesus e os fariseus. Os discípulos, enquanto caminham, apanham algumas espigas. Popularmente dizemos que "roubar para comer não é pecado".

Nas nossas terras é conhecido o costume do "rebusco". Quando se arrancavam as batatas e depois de serem apanhadas, as pessoas podiam passar a apanhar as que ficavam perdidas. Assim o trigo, o milho… Depois de varejar os castanheiros ou as nogueiras, ou depois de vindimar, as pessoas podiam entrar nas propriedades e apanharem castanhas, nozes, maças, uvas, o que encontrassem. Alguns proprietários, que não eram unhas de carne, deixavam propositadamente mais frutos na terra e nas árvores para que os pobres pudessem recolher alimentos.

Os fariseus também não colocam isso em causa. Quem não fosse proprietário ou quem andasse em viagem comia frugalmente, pela escassez dos alimentos disponíveis mas também pelas dificuldades em transacionar pela troca direita ou por dinheiro. O que os fariseus questionam é por ser ao sábado, supondo que ao sábado seria preferível passar fome ou até morrer!

Sugestões | O Canto na Liturgia

2 – Os fariseus usam a lei do descanso sabático para questionar Jesus acerca dos seus discípulos. Tudo serve para O questionarem e pôr em causa a Sua postura!

Jesus serve-se da Sagrada Escritura relembrando uma personagem importantíssima para os judeus, o Rei David, e como ele e os companheiros entraram no templo e comeram as oferendas que era oferecidas a Deus para sustento dos sacerdotes! A conclusão de Jesus é lapidar: «O sábado foi feito para o homem e não o homem para o sábado. Por isso, o Filho do homem é também Senhor do sábado». A lei, o sábado hão de estar ao serviço da pessoa, da sua dignidade, da promoção da vida!

Jesus prossegue. Entra na sinagoga onde encontra um homem com uma mão atrofiada. Os fariseus fixam-se em Jesus a ver se ele tem o atrevimento de em dia de sábado o curar. É a vez de Jesus questionar: «Será permitido ao sábado fazer bem ou fazer mal, salvar a vida ou tirá-la?». E logo Jesus trata de fazer o que está ao Seu alcance, curando-o.

Jesus sente indignação e tristeza pela dureza dos seus corações. Os fariseus vão reunir-se com os partidários de Herodes e decidem acabar com a vida de Jesus. De que lado nos posicionamos? Claro, simpaticamente ao lado de Jesus, embora talvez também sejamos fariseus em muitas circunstâncias. Deixemos que Jesus nos cure do nosso egoísmo e da indiferença perante o sofrimento dos outros.

3 – A primeira leitura enquadra e justifica o sábado como dia santo. «Trabalharás durante seis dias e neles farás todas as tuas obras. O sétimo, porém, é o sábado do Senhor, teu Deus. Não farás nele qualquer trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu escravo, nem a tua escrava, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem nenhum dos teus animais, nem o estrangeiro que mora contigo. Assim, o teu escravo e a tua escrava poderão descansar como tu».

É de sublinhar a sabedoria da lei, sob a inspiração divina, numa época tão distante da nossa. O sábado é dia santificado para louvar o Senhor, mas também para o descanso de todos. O sábado não é apenas para alguns, mas para todos, até para os animais. As leis laborais, como a psicologia moderna, consagram a necessidade do descanso para retemperar forças, para equilibrar a saúde física e psicológica, mas por forma a potenciar o convívio entre as pessoas. O descanso valoriza o trabalho e, em contraponto, o trabalho valoriza o descanso.

Sendo o texto elaborado por alguém académica e socialmente com um estatuto elevado, a abrangência da lei é divinal, pois não se fixa apenas nos judeus ou nos homens livres, mas abarca os escravos e os estrangeiros, evocando a condição em que os judeus viveram no Egipto como estrangeiros e como escravos. Se Deus os libertou, se Deus está na origem do sábado, então o sábado é para todos, em ordem à libertação integral!

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Textos para a Eucaristia (ano B): Deut 5, 12-15; Sl 80 (81); 2 Cor 4, 6-11; Mc 2, 23 – 3, 6.

18.05.24

Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós...

mpgpadre

      1 – A Páscoa é o mistério maior da fé cristã. A morte, em definitivo, não tem a última palavra. A última palavra é de Deus: da Vida e do Amor. A Ressurreição é o Amor mais forte que a morte. A morte faz parte da humanidade, mortal e finita. Com a Sua Ressurreição, Jesus coloca a nossa natureza junto de Deus, de onde nos atrai. Como em tantas situações da vida, mais dramático que os problemas e dificuldades, é a solidão e a falta de justificação da vida. Jesus dá-nos, com a Sua vida, morte e ressurreição, uma justificação e faz-nos companhia: a morte não é o fim, é passagem a uma vida nova, não ficamos sós, Ele conduz-nos ao coração de Deus, no qual nos descobrimos irmãos. 

       Ressurreição/Ascensão/Pentecostes são faces da mesma moeda. É o mesmo acontecimento pascal. Passagem. Vida nova. Vida no Espírito Santo. Missão. Ele connosco, pelo Espírito, em comunidade, mas doravante somos nós os portadores da Boa Notícia. Ele vem salvar-nos. Morre. Ressuscita. Ascende para Deus. Envia-nos o Seu Espírito, que por sua vez, nos dá (de novo) Jesus Cristo na Palavra proclamada e acolhida, nos Sacramentos e em todas as boas obras.

       A primavera desemboca no verão. A flor dará lugar ao fruto. Se o trigo não morrer não germinará vida nova. Se a flor permanecer sempre em flor, não descobrirá a beleza do fruto que está para chegar.

"Na tarde daquele dia, o primeiro da semana, estando fechadas as portas da casa onde os discípulos se encontravam, com medo dos judeus, veio Jesus, colocou-Se no meio deles e disse-lhes: «A paz esteja convosco». Dito isto, mostrou-lhes as mãos e o lado. Os discípulos ficaram cheios de alegria ao verem o Senhor. Jesus disse-lhes de novo: «A paz esteja convosco. Assim como o Pai Me enviou, também Eu vos envio a vós». Dito isto, soprou sobre eles e disse-lhes: «Recebei o Espírito Santo: àqueles a quem perdoardes os pecados ser-lhes-ão perdoados; e àqueles a quem os retiverdes serão retidos»".

       O Evangelista São João relata com clareza o acontecimento Páscoa: Jesus aparece no meio deles, não à parte, fora, ou de lado, mas no meio. Ele vem para o meio de nós. Mostra-lhes os sinais da paixão. O corpo glorioso de Jesus não anula as marcas do amor, presentes na crucifixão e na morte. A mensagem é a mesma: a paz. Os sorumbáticos apóstolos enternecem-se ao ver o Senhor e ficam cheios de alegria. Jesus sopra sobre eles, dá-lhes o Espírito Santo e envia-os, como o Pai O enviou.

       A linguagem do amor e do bem não tem fronteiras/barreiras, é facilmente percetível e universal. Todos nos entendemos facilmente nas palavras e nos gestos de carinho e de perdão, de amor e de partilha solidária.

 

       2 – São Lucas, evangelista, e autor do Livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta-nos uma narração mais detalhada, com a preocupação de visualizar à comunidade cristã a grandeza do mistério vivido por Jesus Cristo, Deus feito homem. E, por outro lado, parte da constatação de que precisamos de tempo para amadurecer, para acolher, para compreender em toda a sua amplitude a grandeza do amor de Deus.

       Numa linguagem bíblica, usa os números para nos ajudar a compreender os passos de Jesus. Como víamos no Domingo passado, acerca da Ascensão, depois da ressurreição, Jesus permanece 40 dias com os Seus, elevando-se então ao Céu. Por outras palavras, Jesus prepara os discípulos e permanece o tempo necessário para eles crescerem e para os enviar em missão. Hoje, o relato do Pentecostes, na versão lucana, situa-nos 50 dias depois da Páscoa, chegou a plenitude da manifestação pascal. Os discípulos estão preparados para se tornarem apóstolos.

       Prestemos atenção às palavras da Escritura:

"Subitamente, fez-se ouvir, vindo do Céu, um rumor semelhante a forte rajada de vento, que encheu toda a casa onde se encontravam. Viram então aparecer uma espécie de línguas de fogo, que se iam dividindo, e poisou uma sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que se exprimissem. Residiam em Jerusalém judeus piedosos, procedentes de todas as nações que há debaixo do céu. Ao ouvir aquele ruído, a multidão reuniu-se e ficou muito admirada, pois cada qual os ouvia falar na sua própria língua. Atónitos e maravilhados, diziam: «Não são todos galileus os que estão a falar? Então, como é que os ouve cada um de nós falar [proclamar as maravilhas de Deus] na sua própria língua…?»".

 

       3 – O Espírito Santo que Deus nos dá há de inundar de alegria, de paz e de amor, toda a nossa vida; como rajada de vento que tudo "arrasta" assim o Espírito de Deus nos "arrasta" para uma vida transformada, nova, comprometida. Como em outras ocasiões acentuámos, a dádiva do Espírito Santo assume uma dinâmica instrumental: converte-nos e leva-nos aos outros, insere-nos no mundo, mais e mais, na transformação das realidades que nos envolvem ou chegam até nós. Quem faz a experiência de encontro com Jesus ressuscitado, pela força do Espírito Santo, como escutámos no Evangelho, transborda de alegria. E quem transborda de alegria quer comunicar o sucedido a todo o mundo.

       O Espírito Santo liberta-nos das amarras do medo, das portas e das janelas fechadas, do egoísmo que nos destrói, do pessimismo que inquina o nosso quotidiano, da desconfiança que nos agita e nos distancia dos outros, da arrogância que nos isola. Não nos livra das dificuldades, mas fortalece-nos e acompanha-nos para ressuscitarmos em cada momento de morte e de desalento, de incerteza e fracasso, de insegurança e de perda.

       O Apóstolo São Paulo fala do Espírito como oportunidade para o bem comum, para fundar ou refazer laços fraternos e duradouros. Cada pessoa é querida por Deus e dotada de qualidades que postas ao serviço dos outros mais se desenvolvem.

       Mas fixemo-nos nas palavras de São Paulo.

"Ninguém pode dizer: «Jesus é o Senhor», a não ser pela ação do Espírito Santo. De facto, há diversidade de dons espirituais, mas o Espírito é o mesmo. Há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. Há diversas operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. Em cada um se manifestam os dons do Espírito para o bem comum. Assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros, apesar de numerosos, constituem um só corpo, assim também sucede com Cristo. Na verdade, todos nós – judeus e gregos, escravos e homens livres – fomos batizados num só Espírito, para constituirmos um só Corpo. E a todos nos foi dado a beber um único Espírito".

       Belíssima a comparação! Como Igreja, comunidade dos seguidores de Cristo Jesus, somos como corpo e tal como o corpo é uma unidade/organismo com diversos membros, cada um de nós, com a sua vida, é membro do Corpo místico de Cristo, que é a Cabeça. 


Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 2,1-11; 1 Cor 12,3b-7.12-13; Jo 17, 20-26.

11.05.24

Elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos

mpgpadre

       1 – "Não se perturbe o vosso coração. Credes em Deus; crede também em mim. Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fosse, como teria dito Eu que vos vou preparar um lugar? E quando Eu tiver ido e vos tiver preparado lugar, virei novamente e hei de levar-vos para junto de mim, a fim de que, onde Eu estou, vós estejais também" (Jo 14, 1-3).

       O amor tende a permanecer, como refletíamos no domingo passado. Quem ama quer estar com a pessoa amada até ao fim da vida. Mais, quereria permanecer com ela até ao fim dos tempos. O amor de Deus para connosco, dá-nos um ROSTO, uma pessoa de carne e osso, Jesus Cristo. Espelhando o amor de Deus Pai logo Jesus Se predispõe a fazer tudo para nos inserir no projeto de amor divino, até a dar a vida por nós. Antes de partir, contudo, Jesus assegura o Seu permanecer até ao fim. Na Última Ceia deixa-nos o memorial da Sua morte e ressurreição, e depois da Ressurreição dá-nos o Espírito Santo, para que o Espírito O torne presente até à vida eterna. É a garantia das Suas palavras.

       A desilusão dá lugar à alegria e à esperança. Jesus apresenta-Se vivo no meio dos seus discípulos, cumprindo a promessa. Diz-nos São Lucas, nos Atos dos Apóstolos:

"Foi também a eles que, depois da sua paixão, Se apresentou vivo com muitas provas, aparecendo-lhes durante quarenta dias e falando-lhes do reino de Deus... recebereis a força do Espírito Santo, que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém e em toda a Judeia e na Samaria e até aos confins da terra». Dito isto, elevou-Se à vista deles e uma nuvem escondeu-O a seus olhos".

       Jesus recorda-lhes as palavras que lhes havia dito anteriormente sobre o reino de Deus e sobre a missão que lhes caberá em sorte. Não promete ausência de dificuldades, mas a Sua permanência, podem, podemos, contar com Ele, não nos deixa órfãos, dá-nos com abundância o Seu Espírito de amor. Liga-nos, não por telemóvel ou pela internet, mas pela Palavra e pelos Sacramentos que nos deixa e pelas pessoas que coloca na nossa vida.

       2 – Em forma de bênção, e de súplica, o apóstolo São Paulo, na segunda leitura que escutamos, pede ao Pai que nos dê o Espírito para reconhecermos Jesus e O acolhermos na nossa vida quotidiana.

       Atentemos às palavras do apóstolo:

"O Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Pai da glória, vos conceda um espírito de sabedoria e de revelação para O conhecerdes plenamente e ilumine os olhos do vosso coração, para compreenderdes a esperança a que fostes chamados, os tesouros de glória da sua herança entre os santos e a incomensurável grandeza do seu poder para nós os crentes. Assim o mostra a eficácia da poderosa força que exerceu em Cristo, que Ele ressuscitou dos mortos e colocou à sua direita nos Céus, acima de todo o Principado, Poder, Virtude e Soberania, acima de todo o nome que é pronunciado, não só neste mundo, mas também no mundo que há de vir. Tudo submeteu aos seus pés e pô-l’O acima de todas as coisas como Cabeça de toda a Igreja, que é o seu Corpo, a plenitude d’Aquele que preenche tudo em todos".

       Só no Espírito Santo poderemos abranger a grandeza do mistério que Deus nos revelou por Jesus Cristo, a beleza da nossa filiação divina, da nossa fraternidade cristã, da nossa atração para a eternidade onde se encontra a nossa natureza humana, na humana natureza de Jesus Cristo. Com a Sua ressurreição/ascensão aos Céus, Jesus elevou-nos conSigo. Somos Igreja, Corpo de Cristo. Ele a cabeça, nós os membros; Ele o Bom pastor, nós o rebanho; Ele a verdadeira vide, nós os ramos.

 

       3 – O Espírito de Deus é-nos dado para nos transfigurar, para nos tornar verdadeiramente filhos de Deus, irmãos em Jesus Cristo. Mas existe nesta dádiva também uma dimensão instrumental, rejeitando toda e qualquer forma de egoísmo e vanglória.

       O Espírito Santo e os dons que com Ele recebemos, movem-nos para o bem, para a verdade, e para a caridade. Não são para auto regozijo, mas para que em nós e por nós brilhe o esplendor da misericórdia divina. Destarte, recusam-se as falsas contemplações de Deus, como se pode constatar na primeira leitura e no Evangelho deste domingo.

       Ao narrar a Ascensão de Jesus, o autor dos Atos dos Apóstolos vinca com insistência a necessidade, melhor, a urgência de ir ao encontro de Jesus no mundo real e concreto das pessoas. 

       Alguns dos seus contemporâneos esperavam a manifestação gloriosa de Jesus, descomprometendo-se com o mundo e com os outros. A narração da Ascensão mostra como Jesus Se esconde por detrás das nuvens, para que a tentação de pasmar diante do Céu se ultrapasse pela missão.

"E estando de olhar fito no Céu, enquanto Jesus Se afastava, apresentaram-se-lhes dois homens vestidos de branco, que disseram: «Homens da Galileia, porque estais a olhar para o Céu? Esse Jesus, que do meio de vós foi elevado para o Céu, virá do mesmo modo que O vistes ir para o Céu»".

       Com a mesma clareza, o Evangelho de São Marcos revela-nos que a ascensão de Jesus dá lugar, sem tempos de espera, à missão dos apóstolos:

"Jesus apareceu aos Onze e disse-lhes: «Ide por todo o mundo e pregai o Evangelho a toda a criatura. Quem acreditar e for batizado será salvo; mas quem não acreditar será condenado...» E assim o Senhor Jesus, depois de ter falado com eles, foi elevado ao Céu e sentou-Se à direita de Deus. Eles partiram a pregar por toda a parte e o Senhor cooperava com eles, confirmando a sua palavra com os milagres que a acompanhavam".

       Hoje, aqui e agora, os apóstolos somos nós. Não nos fixemos nas nuvens, mas em Deus a Quem podemos encontrar nas pessoas que fazem parte da nossa família e da nossa comunidade, e da sociedade do nosso mundo.


Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 1, 1-11; Ef 1, 17-23; Mc 16, 15-20.

04.05.24

Permanecer porque se ama. Quem ama não quer partir!

mpgpadre

       1 – AMAR e PERMANECER. A liturgia da palavra deste e dos domingos anteriores relaciona duas faces da mesma moeda, uma opção de vida. Amar exige permanecer, ir ao encontro, ficar, fazer festa, alegrar-se, conviver, partilhar o que vai na alma, comungar projetos e sonhos. Permanecer porque se ama. Quem ama não quer partir. Quem ama atrai para si aquele/aquela que ama, aproxima-se. Não se distancia. Não desvia o olhar. Muito menos o coração. Quer estar bem juntinho. Olhos nos olhos. Lado a lado. Frente a frente. Quem ama quer que o amor dure para sempre, seja eterno, ou pelo menos até que a morte separe. E mesmo nos tempos que correm, efémeros, apressados, em mudança constante, ao sabor das modas, ainda há amores eternos, ou que querem ser eternos.

       Jesus vem de Deus, da eternidade, para ficar. Vem por amor. Não parte. Pelo menos não parte sem antes assegurar a Sua presença até à eternidade. Dá a vida porque ama. Entrega a Sua vida àqueles que ama. Deixa a Sua palavra. Ressuscita, mas permanece pela memória, pelo mistério, pelos Sacramentos. Doravante não O veremos fisicamente, mas vê-l’O-emos na Palavra dita em Seu nome, nos Sacramentos através dos quais pelo Espírito Santo estará entre nós, e ve-l’O-emos em cada pessoa, em cada olhar, em cada gesto de amor e de ternura.

 

 

       Como não evocar as palavras de Jesus nos momentos finais da Sua vida terrena: vou para o Pai para vos preparar um lugar, quero que onde Eu estou vós estejais também, vou e vós sabeis o caminho, Eu sou o caminho para chegar ao Pai, vou mas não vos deixarei órfãos, enviar-vos-ei o espírito Santo, fazei isto em memória de mim, sempre que vos reunirdes em meu nome Eu estarei no meio de vós, até ao fim do mundo, não temais.

       Hoje o Evangelho é por demais explícito. Vale a pena deter-nos nas palavras de Jesus:

«Assim como o Pai Me amou, também Eu vos amei. Permanecei no meu amor. Se guardardes os meus mandamentos, permanecereis no meu amor, assim como Eu tenho guardado os mandamentos de meu Pai e permaneço no seu amor. Disse-vos estas coisas, para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa. É este o meu mandamento: que vos ameis uns aos outros, como Eu vos amei. Ninguém tem maior amor do que aquele que dá a vida pelos amigos… fui Eu que vos escolhi para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça… O que vos mando é que vos ameis uns aos outros».

       2 – As palavras de Jesus não deixam dúvidas. Ele ama-nos com o mesmo amor com que Deus Pai O ama. Beneficiamos do amor de Deus cumprindo o Seu mandamento: amar como Ele nos amou.

       O Apóstolo São João assume o desafio de Jesus e clarifica-o para a comunidade cristã:

"Amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus e todo aquele que ama nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Assim se manifestou o amor de Deus para connosco: Deus enviou ao mundo o seu Filho Unigénito, para que vivamos por Ele. Nisto consiste o amor: não fomos nós que amámos a Deus, mas foi Ele que nos amou e enviou o seu Filho como vítima de expiação pelos nossos pecados".

       O amor que não é partilhado morre. A partilha enriquece-nos. Quando partilhamos riquezas materiais, poderemos ficar com menos coisas. Quando partilhamos a alegria, a fé, a esperança, o amor, mais aumentam em nós. Quanto mais nos damos, mais recebemos. Por outro lado, o amor não é nosso, o amor vem de Deus. Deus é Amor. Ele amou-nos primeiro. Deu-nos o Seu Filho Unigénito, que entregou a vida em nosso favor. Como seus seguidores, vivamos o mesmo amor, partilhemos a Sua vida com os nossos irmãos, os membros da nossa família e da nossa comunidade e de outras famílias e comunidades.

       Aquele que ama, vem de Deus. O amor que há em nós é o reflexo de Deus em nós, é a Sua marca, é o código genético que nos identifica como irmãos em Jesus Cristo, filhos amados de Deus. Nisto sabemos que permanecemos em Deus, se amamos como Jesus nos amou.

 

        3 – O amor floresce à medida que é partilhado. Longe da vista, longe do coração. O que não é visto não é lembrado. O que não é lembrado é esquecido. O amor precisa de ser lembrado, constantemente. Não há maior amor do que Aquele que dá a vida pelos amigos. Jesus dá a vida por nós. É a nossa maior alegria, sabermo-nos merecedores de tamanha dádiva. O amor não nos silencia, ainda que faltem as palavras para tão grande mistério! A alegria que nos inunda transborda. O amor não se fecha, não isola. O amor liberta-nos para o encontro com o outro, com os outros.

       Esta é a grande descoberta dos discípulos. O medo encerra-os dentro de quatro paredes. O amor abre-lhes a mente, o coração, dá-lhes coragem, desperta-os para a pregação, para o anúncio do Evangelho, para comunicar a alegria do encontro com Jesus ressuscitado. Há um enorme desejo de mostrar aos outros como Deus operou em nós maravilhas e a grandeza com que nos ama.

       Assim se espalha a boa notícia. Pedro dá testemunho. O Espírito Santo garante a permanência no amor de Deus, na vida nova que nos é dada em Jesus Cristo. Sem exceções. Todos são chamados ao amor de Deus. Todos são convocados para viverem ao jeito de Jesus, para viverem a vida nova da graça, da salvação.

“Pedro chegou a casa de Cornélio. Este veio-lhe ao encontro e prostrou-se a seus pés. Mas Pedro levantou-o, dizendo: «Levanta-te, que eu também sou um simples homem». Pedro disse-lhe ainda: «Na verdade, eu reconheço que Deus não faz aceção de pessoas, mas, em qualquer nação, aquele que O teme e pratica a justiça é-Lhe agradável». Ainda Pedro falava, quando o Espírito desceu sobre todos os que estavam a ouvir a palavra. E todos os fiéis convertidos do judaísmo, que tinham vindo com Pedro, ficaram maravilhados ao verem que o Espírito Santo se difundia também sobre os gentios, pois ouviam-nos falar em diversas línguas e glorificar a Deus…» Pediram-Lhe que ficasse alguns dias com eles”.

 

4 – Estamos no início do mês de Maria, especialmente a Ela dedicado, na oração e nas diferentes devoções que se espalham e se vivem um pouco por todo o mundo, e com grande expressão em Portugal e nas comunidades portuguesas, com a evocação das Aparições de Fátima há quase cem anos. Neste primeiro Domingo de maio festejamos o Dia da Mãe, ligando a maternidade das nossas mães à mesma Mãe que nos é dada por Jesus. "Eis aí o teu filho... Eis aí a tua Mãe".

Maria mantém-nos, em espera vigilante e em atitude de serviço, como irmãos de Jesus, como filhos de Deus, como família. Também aqui a linguagem do Evangelho é ilustrativa. As nossas mães procuraram ou procuram que os filhos permaneçam ligados, acolhendo, partilhando e multiplicam o carinho e o amor, procuram que os laços familiares não se quebram por um qualquer azedume ou incompreensão. O mesmo que Maria naqueles dias após a morte de Jesus, mas também ao longo da história da Igreja. Maria continua a visitar-nos para nos lembrar a necessidade da oração, da conversão, da penitência. Numa palavra, Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, recorda-nos a misericórdia do Pai que ilumina o nosso olhar, o nosso coração e a nossa vida. É um esforço que nos é pedido por um bem maior. Ela guia-nos e ilustra o caminho. Ela é a bem-aventurada que escuta a Palavra de Deus e a pratica de todo o coração, com a docilidade do serviço ao próximo. Maria não Se coloca em evidência, não Se faz centro, mas dispõe para que todo o seu pensamento, as suas palavras e o seu agir, ajudem a visualizar a vontade de Deus. É um instrumento feliz da Graça de Deus que opera no mundo. Nela refulge, e assim há de ser na Igreja, Jesus Cristo, como a lua reflete a luz do Sol.

A ela, Virgem Imaculada, nossa Rainha e Mãe, peçamos que nos fortaleça na nossa humildade e na nossa transparência, para sermos, como irmãos, instrumentos de salvação e de paz, para amarmos segundo o coração de Deus, fazendo o que Ele nos disser em cada momento e circunstância da nossa vida.


Textos para a Eucaristia (ano B): Atos 10, 25-26.34-35.44-48; 1 Jo 4, 7-10; Jo 15, 9-17.

 

Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.

27.04.24

Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor

mpgpadre

1 – «Eu sou a videira, vós sois os ramos. Se alguém permanece em Mim e Eu nele, esse dá muito fruto, porque sem Mim nada podeis fazer». Aí está a belíssima página do Evangelho que nos recorda a nossa ligação imprescindível a Jesus, sob pena de nos tornarmos ramos secos, incapazes de dar o devido fruto.

É Deus quem opera em nós. «Eu sou a verdadeira vide e meu Pai é o agricultor. Ele corta todo o ramo que está em Mim e não dá fruto e limpa todo aquele que dá fruto, para que dê ainda mais fruto». Quando nos faltar a humildade e presunçosamente concluirmos que somos o centro do mundo e que a sua transformação depende de nós, das nossas qualidades e da nossa ação, estaremos a meio passo de destruirmos o bem que Deus plantou em nós.

«Se alguém não permanece em Mim, será lançado fora, como o ramo, e secará». Deus quer precisar de nós. Dá-nos os talentos para desenvolvermos a favor dos outros, à imagem do que Cristo fez, procurando, em tudo e sempre,  realizar a vontade e as obras do Pai.

Os ramos cortados acabarão por secar. Se cortados e enxertados na vide hão de por certo produzir, assim como nós, enxertados em Jesus Cristo pelo Batismo, poderemos dar muito fruto. «A glória de meu Pai é que deis muito fruto. Então vos tornareis meus discípulos».

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2 – Paulo percebe que para ser um ramo que dê fruto precisa de estar ligado a Jesus, a verdadeira vide, através da comunidade crente. Quando chega a Jerusalém procura juntar-se aos discípulos.

Sobrevém, contudo, o  medo e a desconfiança. Antes, Saulo/Paulo tinha sido um perseguidor temido pelos seguidores de Jesus. Após o encontro com Jesus, a caminho de Damasco, Paulo tornar-se o Apóstolo por excelência. Porém, aqueles que o conheceram antes ou dele ouviram falar pelos seus feitos persecutórios estão de pé atrás e não confiam numa conversão rápida. O mesmo nos sucede em relação a quem temos alguma razão de queixa. A mudança de uma pessoa leva tempo e os velhos hábitos podem vir ao de cima. Mas Deus é Deus e que pode operar maravilhas.

Barnabé é crucial na mediação com a comunidade. É o padrinho de Paulo, levando-o aos Apóstolos e garantindo-o junto da comunidade, testemunhando a conversão e os frutos da sua pregação. São Barnabé é um instrumento de inserção que nos provoca a sermos também nós instrumentos ao serviço do Evangelho, levando outros à comunidade e criando na comunidade as condições para acolher (bem) aqueles que chegam e/ou que voltam.

Sublinha-se a paz em que vive a Igreja, cujos membros vivem na fidelidade ao Senhor e sob a assistência do Espírito Santo. Podemos ver a imagem da Videira e dos ramos…

________________________

Textos para a Eucaristia (B): Atos 9, 26-31; Sl 21 (22); 1 Jo 3, 18-24; Jo 15, 1-8.

 

Reflexão Dominical completa no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.

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  229. J
  230. A
  231. S
  232. O
  233. N
  234. D

Velho - Mafalda Veiga

Festa de Santa Eufémia

Pinheiros, 16/17 de setembro de 2012

Primeira Comunhão 2013

Tabuaço, 2 de junho

Profissão de Fé 2013

Tabuaço, 19 de maio

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