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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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10.05.16

Dizer bem de uns sem dizer mal dos outros

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Durante a Sua vida pública, Jesus vai, anuncia, cura, expulsa os demónios, aproxima-Se das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações de exclusão ou com a vida hipotecada, pobres, doentes, publicanos, crianças, mulheres, pessoas do campo, pecadores, ou deixa que se aproximem, para O escutarem, para beneficiarem da Sua bênção e, por vezes, para Lhe armarem ciladas.

Os discípulos estão por perto. Escutam-n’O, fazem perguntas, ouvem explicações mais detalhadas. São também destinatários das Suas palavras, com chamadas de atenção, reprimendas (sobretudo quando discutem lugares de poder), desafios. Vivem com Ele, veem a Sua postura, a forma como Se dá por inteiro, como fala, a Sua docilidade, a facilidade com que Se relaciona com as pessoas de todos os estratos sociais e a Sua opção preferencial pelos mais “pequenos”: os excluídos dos reinos deste mundo, a quem convida para a Sua mesa e a quem primeiro abre as portas do Reino de Deus.

Há de chegar o dia em que Ele já não estará fisicamente entre os Seus discípulos. Estará para sempre presente pela Palavra proclamada e vivida, no Seu Corpo mistérico que é a Igreja, do qual somos membros, pelos sacramentos, mas também através de nós e da nossa capacidade de O transparecermos. É o que Ele diz aos Seus discípulos daquele tempo histórico. Estagiam com Ele. Envia-os dois a dois, com o poder de curar e expulsar demónios, anunciando a proximidade do Reino dos Céus. Como viram Jesus fazer, devem reproduzir criativamente a Sua mensagem e o Seu poder misericordioso.

Um dia, ao regressaram, contam a Jesus que viram alguém a expulsar demónios em Seu nome e quiseram impedi-lo por não fazer parte do grupo. São surpreendidos, e nós também, pelo Mestre da Docilidade: «Não o impeçais, porque não há ninguém que faça um milagre em meu nome e vá logo dizer mal de mim. Quem não é contra nós é por nós» (Mc 9, 39-40).

É possível dizer bem de alguém sem necessidade de dizer mal dos outros. É possível gostar e dizer bem do Papa Francisco, gostando e dizendo bem do Seu Predecessor, Bento XVI. Infelizmente, muitos precisam de dizer mal de um para mostrarem que gostam mais do outro. Assim também em muitas dimensões da vida, na política, no desporto, com aqueles que pertencem aos mesmos grupos que nós, mesmo intraeclesiais.

Ainda estamos longe de transparecer Jesus e o Seu Evangelho da Delicadeza. Podemos lá chegar, ponhamo-nos a caminho!

 

Publicado na Voz de Lamego, n.º 4359, de 19 de abril de 2016

16.04.16

Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me

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1 – É surpreendente como um bebé sossega ao ouvir a voz da Mãe. Ao  nascer reconhecerá a voz e o ambiente calmo, ou alguma música que escutou dentro do ventre materno. Virá depois o cheiro e o toque, os passos a caminhar, facilmente identificáveis. O mesma ligação, ainda que mais ténue, do Pai.

É quase instintivo. Horários, barulhos, ambientes que progressivamente a criança irá interiorizando. Ainda ao colo da Mãe ou no berço começará a "negociar" (manipular) os pais, descobrindo, por exemplo, que o choro os traz imediatamente de volta.

Com os animais de estimação sucede algo de semelhante. Um gato, ou um cão, identifica a voz de quem o alimenta e afaga, reconhece o barulho do motor do carro a chegar, a porta a abrir, bem como os cheiros, aproximando-se se forem familiares, escondendo-se ou revelando "irritação" se forem estranhos. O barulho do prato de comida! Um animal doméstico pode até detetar o humor dos seus donos, mantendo-se por perto ou afastando-se. O cavalo aprendeu a reconhecer a voz do seu tratador e terá dificuldade em sossegar perante um estranho e dificilmente se deixará aparelhar ou cavalgar.

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2 – Jesus viveu grande parte da sua vida em ambientes rurais. Nazaré é uma pequena cidade, mais aldeia que cidade, em que todos se conhecem e se entreajudam. É carpinteiro, como São José, trabalhando a madeira, a pedra e o ferro. É uma parte do trabalho. Semeiam os campos, próprios ou arrendados. Têm um ou outro animal doméstico. Alguns cabritos ou ovelhas. Recolhem a lã e o leite, para consumo próprio ou para trocar por outros alimentos essenciais. Pela Páscoa comem o Cordeiro pascal com os outros familiares. Em conformidade com a Lei mosaica, todas as famílias se reúnem para comer o Cordeiro pascal. Se houver alguma família que não possa, as outras devem prover para que não lhes falte, condividindo. Este cordeiro é para comer naquele dia. Mata-se o cordeiro do tamanho necessário para a refeição da família ou de forma a partilhar com uma família que não tenha meios para comprar e matar um cordeiro. Não haverá sobras para o dia seguinte!

Os mais novos tomavam conta das ovelhas da aldeia, formando um só rebanho. As famílias ajudam-se nos campos, no cuidado dos animais de pequeno porte, nos trabalhos braçais e na lide doméstica, sobretudo aquando de festas religiosas, ou dos casamentos, e também por ocasião dos funerais. A aldeia forma uma só família.

As palavras de Jesus estão cheias de vida e de experiência: «As minhas ovelhas escutam a minha voz. Eu conheço as minhas ovelhas e elas seguem-Me. Eu dou-lhes a vida eterna e nunca hão de perecer e ninguém as arrebatará da minha mão. Meu Pai, que Mas deu, é maior do que todos e ninguém pode arrebatar nada da mão do Pai. Eu e o Pai somos um só». Ele sabe do que fala e o seu auditório compreende o que lhes diz. A vida emerge das Suas palavras.

 

3 – Jesus é o Bom Pastor que conhece todas as ovelhas e as chama pelo nome, dando a vida por elas. Não Se poupa nem Se guarda.

É o Bom Pastor que sai em busca das ovelhas. Se alguma se perde ou foge do redil, vai procurá-la. Se a encontra faz festa, como o Pai misericordioso faz festa pelo regresso do filho pródigo. Se a ovelha está ferida ou cansada, coloca-a aos ombros, e condu-la de volta ao rebanho. Mas não se pense que descura as que ficam no aprisco, condu-las às pastagens verdejantes e às águas refrescantes.

Jesus vive sintonizado com o Pai. É o Pai que Lhe confia as ovelhas. "Eu e o Pai somos Um só". Se as ovelhas são do Pai, Ele não deixará que se percam. Vem ao de cima a Misericórdia do Pai, que tudo fará para não perder nenhuma ovelha. Envia-nos como Bom Pastor o Seu Filho Jesus, a Quem confia toda a humanidade. Jesus vem congregar-nos numa só família. Um só rebanho, um só Pastor.

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Textos para a Eucaristia (C): Atos 13, 14. 43-52; Sal 99 (100); Ap 7, 9. 14b-17; Jo 10, 27-30.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

10.04.16

Leituras: WALTER KASPER - TESTEMUNHA DA MISERICÓRDIA

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WALTER KASPER (2016). Testemunha da Misericórdia. A minha viagem com Francisco. Em conversa com Raffaele Luise. Prior Velho: Paulinas Editora. 208 páginas.

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       O Cardeal Walter Kasper já é apelidado como teólogo do Papa Francisco, tal a proximidade espiritual e sintonia teológica e pastoral. Na primeira vez que o Papa falou da varanda do Palácio Apostólico, no Angelus, confidenciou que estava a ler um livro, que mostrou, sobre a misericórdia, de um dos seus cardeais, Walter Kasper, e que a leitura lhe estava a fazer muito bem, sublinhando uma das linhas fundamentais do seu pontificado: A misericórdia. Agendado o Sínodo Extraordinário dos Bispos para refletir sobre a família, o Papa Francisco pediu ao Cardeal alemão que apresentasse um conjunto de perguntas, questões, problemáticas, abrindo dessa forma o debate. E o que é certo é que a intervenção de Walter Kasper suscitou reações diversas, a favor e contra. Algumas sugestões que foi levantando e que provocaram celeuma, o que ajudou a fazer uma reflexão mais aberta e mais alargada.

       Nesta entrevista, guiada por Raffaele Luise, o Cardeal passa em revista diversos temas da vida da Igreja e da sociedade do nosso tempo e como a chegada do Papa Sul-americano, de surpresa em surpresa, tem como que levantando o pó, para que venha ao de cima o Evangelho de Jesus Cristo, na Sua opção pelos pobres. Nenhum tema problemático é deixado de fora: a família, a contracepção, a homossexualidade, a comunhão do recasados, o diálogo inter-religioso e o terrorismo, o ecumenismo. Os gestos proféticos do Papa Francisco, que está a fazer a revolução da amizade e da ternura, com a Sua simplicidade, doçura, com a prevalência de uma atitude dialogante de respeito, de escuta, de serviço. O magistério de Francisco, inequivocamente, tem aberto muitas portas, aproximado muitas pessoas.

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       Um dos temas que surge como pano de fundo é a misericórdia. Walter Kasper sublinha como sintoniza com o projeto do Papa de acentuar a misericórdia, desde a primeira intervenção, o Papa Bergoglio tem recuperado esta característica essencial de Deus, que transparece no Rosto e em toda a vida de Jesus e que há de transparecer na Igreja e nos seus membros. O Cardeal permite-nos ver de perto o Papa Francisco nesta revolução do coração. É um belíssimo testemunho que não ignora as dificuldades e os escolhos, mas apostando na persistência, na fidelidade ao Evangelho de Cristo, na firmeza dos princípios, mas colocando as pessoas em primeiro lugar, seguindo a postura de Jesus.

       As bem-aventuranças, segundo Kasper, constituem o programa pastoral do Papa Francisco, onde os mais pobres têm um lugar privilegiado, é deles o Reino dos Céus, são eles que devem estar na primeira linha das preocupações da Igreja e dos cristãos que a compõem. Uma Igreja pobres, dos pobres e para os pobres.

31.03.16

Jesus, o Poeta da Misericórdia – 2

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A vida de Jesus é um hino de docilidade para como os excluídos da sociedade, da política, da religião. É um poema de ternura e proximidade para com todos os desprezados deste mundo; os palácios que visita são as aldeias e os campos, dorme onde calha e come do que lhe dão. Faz-Se mendigo da nossa generosidade, enquanto nos fala de um sonho, que já se visualiza no seu proceder para connosco, o sonho de nos ver sentados à mesma mesa, no mesmo reino, sob a mesma filiação, transformados pela misericórdia do Pai.

 

O Jubileu da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, tem permitido aclarar a misericórdia como um atributo essencial e primário de Deus. A justiça é o menor dos atributos de Deus. A misericórdia sanciona o perdão e acaricia o homem marcado pelo pecado, pela miséria, renovando-o, envolvendo-o e inserindo-o numa vida nova de graça e de salvação.

 

A própria palavra misericórdia (miséria + coração) aponta para a absorção da nossa miséria pela compaixão de Deus. "A misericórdia divina vem em socorro da miséria do homem" (Beato Paulo VI, reflexão sobre Santo Agostinho). Jesus, Rosto da Misericórdia, proclama bem alto, nas palavras e sobretudo nos gestos a misericórdia infinita do Pai, que ama e que toma a iniciativa para nos salvar.

 

Sublinha o Papa Francisco: «A lógica de Deus, com a Sua misericórdia, abraça e acolhe reintegrando e transfigurando o mal em bem, a condenação em salvação e a exclusão em anúncio… o caminho da Igreja é sempre o de Jesus: o caminho da misericórdia e da integração».

 

A convivência de Jesus com pecadores, publicanos, prostitutas, leprosos, coxos, surdos, mudos, mulheres, crianças, estrangeiros visualiza o Reino de Deus aberto a todos. Jesus come com as pessoas que não contam para os reinos deste mundo, mostrando-lhes que no banquete de Deus há lugar para todos, mas os primeiros a sentar-se à mesa do Reino são os mais desvalidos, o que nos obriga a olhar para eles com um cuidado redobrado, pois tudo o que fizermos aos mais pequeninos dos irmãos é a Cristo que o fazemos (cf. Mt 25, 31-45). Se acolhemos o peregrino recebemos Cristo; se vestimos o nu agasalhamos Jesus; se alimentamos o pedinte fazemos com que Jesus seja nosso alimento e sacie a nossa fome e a nossa sede; se usarmos de misericórdia para com o nosso semelhante seremos alcançados pela misericórdia de Deus, que primeiro nos foi favorável.

publicado na Voz de Lamego, n.º 4353, de 8 de março de 2016

29.01.16

Leituras: Papa Francisco - O NOME DE DEUS É A MISERICÓRDIA

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FRANCISCO (2016). O Nome de Deus é e Misericórdia. Lisboa: Planeta. 160 páginas

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         Vivemos o Jubileu Extraordinário da Misericórdia, convocado pelo Papa Francisco, e cujas motivações se encontram na Bula de Proclamação deste Ano Santo: Misericordiae Vultus (O Rosto da Misericórdia), dada ao mundo no dia 11 de abril de 2015, em Roma, véspera do II Domingo de Páscoa ou da Divina Misericórdia. A Bula vem anexada nesta publicação que ora recomendámos.

       Andrea Tornielli é um conhecido e reconhecido vaticanista (jornalista acreditado pela Santa Sé e que acompanha de perto o Papa, quer no Vaticano, quer nas suas viagens apostólicas), e que ao longo do tempo tem escrito sobre os Papas.

       Numa das primeiras Missas do Papa Francisco, na Igreja de Sant'Ana, no Vaticano, Andrea estava presente e ouviu as palavras do Papa Francisco: «A mensagem de Jesus é a misericórdia. Para mim, digo-o humildemente, é a mensagem mais importante do Senhor... O Senhor nunca se cansa de perdoar: jamais! Somos nós que nos cansamos de Lhe pedir perdão. Então, temos de dar graças por não nos cansarmos de pedir perdão, porque Ele jamais se cansa de perdoar».

       Mais tarde numa das Homilias do Papa Francisco na Casa de Santa Marta: "Deus condena não com um decreto, mas com uma carícia... Jesus vai além da lei e perdoa, acariciando as feridas do nosso pecado".

       Ou então: "A misericórdia é difícil de perceber: não apaga os pecados... o que apaga os pecados é o perdão de Deus... a misericórdia é a forma com que Deus perdoa... como o Céu: olhamos para o céu com muitas estrelas, mas quando nasce o Sol, com tantas luz, as estrelas não se veem. Assim a misericórdia de Deus: uma grande luz de amor, de ternura, porque Deus não perdoa por decreto, mas com uma carícia... acariciando as nossas feridas do pecado, porque Ele é o supremo perdão, a nossa salvação... É grande a misericórdia de Deus, é grande a misericórdia de Jesus: perdoa-nos e acaricia-nos"...

       A partir daqui nasceu o propósito de entrevistar o Papa sobre a misericórdia, por maioria de razão após a convocação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia. É este diálogo que nos é apresentado em livro e que explicita, ou sublinhada, os propósitos do Magistério do Papa Francisco e do Jubileu da Misericórdia.

 

Algumas citações:

"A misericórdia divina contagia a humanidade. Jesus era Deus, mas também era um homem, e na sua pessoa também encontramos a misericórdia humana... A misericórdia será sempre maior que qualquer pecado, ninguém pode impor um limite ao amor de Deus que perdoa... Ele é misericórdia, e porque a misericórdia é o primeiro atributo de Deus. É o nome de Deus".

"Misericórdia é a atitude divina que abraça, é o dom de Deus que acolhe, que perdoa. Jesus disse que não veio para os justos, mas para os pecadores... a misericórdia é o bilhete de identidade do nosso Deus... a misericórdia está profundamente ligada à lealdade de Deus".

"Falta a experiência concreta da misericórdia. A fragilidade dos tempos em que vivemos é também esta: acreditar que não existe a possibilidade da redenção, uma mão que te levanta, que te inunda de amor infinito, paciente, indulgente, que te volta a pôr no caminho certo".

APOSTOLADO DO OUVIDO:

"Tenho de dizer aos confessores: falem, ouçam pacientemente e acima de tudo digam às pessoas que Deus quer o seu bem. E se o confessor não pode absolver, que explique porquê, mas que não deixe de dar uma bênção, mesmo sem absolvição sacramental. O amor de Deus também existe para quem não está disponível para receber o sacramento: também aquele homem e aquela mulher, aquele rapaz e aquela rapariga são amados por Deus, desejosos de bênção. Sejam afetuosos com estas pessoas. Não as afastem. As pessoas sofrem. Ser confessor é uma grande responsabilidade. Os confessores têm à frente as ovelhas tresmalhadas que Deus tanto ama, se não lhes demonstrarmos o amor e a misericórdia de Deus, afastam-se e talvez nunca mais voltem. Por isso, abracem-nos e sejam misericordiosos, mesmo que não os possam absolver. Deem-lhes uma bênção..."

Citação do Papa Bento XVI:

«A misericórdia é na realidade o núcleo central da mensagem evangélica, é o nome de Deus, o rosto com que Ele se revelou na antiga Aliança e plenamente em Jesus Cristo, encarnação do amor criador e redentor. Este amor de misericórdia também ilumina o rosto da Igreja e se manifesta quer através dos sacramentos, especialmente o da reconciliação, quer com as obras de caridade, comunitárias e individuais. Tudo o que a Igreja diz e faz é a manifestação da misericórdia que Deus nutre pelo homem».

Citação do Papa João XXIII, na abertura solene do Concílio Vaticano II:

"A esposa de Cristo [a Igreja] prefere usar o medicamento da misericórdia em vez de abraçar as armas do rigor".

31.12.15

Maria conservava todos estes acontecimentos em seu coração

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       1 – Iniciamos cada ano sob o olhar materno da Virgem Mãe de Deus e nossa Mãe, para que em todo o ano Ela seja a Estrela da Manhã que nos guia para Jesus e nos conduz para dentro do Presépio, dando-nos Jesus, para O adorarmos, contemplando-O, enchendo-nos da Sua alegria e da Sua paz. Exige-se-nos o mesmo que a Maria: acolhê-l'O, adorá-l'O e dando-O aos outros.

        Um Menino nos foi dado, um Deus no meio de nós. Em Jesus, Deus entranha-Se na história a partir da própria história, encarnando, fazendo-Se Um de nós. Sem anúncios espetaculares ou publicidade enganosa, sem reportagens ou parangonas. Simplesmente nascendo numa família o mais normal possível, de Nazaré, e como qualquer família, com os seus contratempos, desde logo o nascimento em Belém de Judá.

       Há sinais que muitos veem, mas que poucos valorizam e dão crédito. Por regra, só quem tem um coração pobre, grande, disponível para os outros, vazio das coisas e sem orgulhos vãos, é que consegue ler os sinais que surgem na sua vida e à sua volta. Os que estão cheios de si raramente veem o que é verdadeiramente importante, o que conta, o que transforma a vida. Cheios de si, só eles contam, ninguém mais importa, nada têm a aprender ou a descobrir, a importância está neles, os outros são acessórios que embelezam as suas vitórias ou escadas que se permitem pisar para subir mais e mais.

       Como Maria a caminho da Montanha, apressadamente, assim os pastores ao encontro do Menino, apressadamente. Não há tempo a perder. Tudo é importante. Mas há acontecimentos que são decisivos e há pessoas – que nos trazem a salvação – que precisam de toda a nossa atenção. Os pastores deixam os rebanhos, partem por que nada têm de mais importante que a adoração de Jesus, o Menino que vem da parte de Deus. Diante de Jesus, tudo é relativo, secundário, dispensável. Só Jesus não se pode dispensar. Recordamos a liturgia da Festa da Sagrada Família: quando Jesus não está no MEIO, não está connosco, então há que deixar tudo, tudo, absolutamente tudo, para ir ao Seu encontro. Sem Ele de pouco vale o que temos ou o que somos. Com Ele, até as provações têm sentido e poderão ser redentoras.

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       2 – Chegados a Belém, encontram Maria, José e o Menino deitado na manjedoura, conforme o Anjo do Senhor lhes revelara. E de novo não há tempo a perder, não importa a pressa que traziam, nem o que deixaram lá fora, estão em casa pois estão junto de Jesus, encontraram uma RAZÃO maior que iluminará as suas vidas por completo.

       Que importa o mundo inteiro se tenho o mundo ao pé de mim, se estou em casa, se sou iluminado pela maior luz, se diante dos olhos e do coração tenho o essencial para ser feliz?

        Madre Teresa de Calcutá lembrava muitas vezes que o fundamental é dar atenção e cuidar da pessoa que tenho à minha frente. Se tenho uma pessoa a quem valer e não valho por estar preocupado com a doença, o sofrimento e a miséria de milhares de pessoas, de pouco me adianta fazer e ter bons propósitos. Há que começar por algum lado, melhor, por alguém. Quantas vezes estamos a falar com alguém e não escutamos por que estamos centrados noutras coisas, noutros mundos, em outras pessoas! Mas então e esta pessoa que está diante de mim? Não me merecerá toda a atenção do mundo? Há que acudir a Jesus nesta pessoa concreta.

        Os pastores dão-nos uma lição importante: ir ao encontro de Jesus e colocar-nos por inteiro diante d'Ele, com o que somos, com as nossas dúvidas e incertezas, com os nossos sonhos e projetos. Levamos-lhe o nosso dia-a-dia. Quando chegaram, os Pastores contaram tudo o que ouviram do Anjo.

       E como será o regresso? Se Ele nos tocou a alma, regressamos mudados para sempre. "Os pastores regressaram, glorificando e louvando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto, como lhes tinha sido anunciado".

 

       3 – Capacidade de admiração dos ouvintes. De cada um de nós. Mal é quando a vida já não tem nada para nos dar, nada que nos faça sorrir, nada a apreciar. Todos ficam admirados, mas obviamente Maria ocupa um lugar especial. As mães bebem, mastigam, cada palavra que se diz dos filhos. "Maria conservava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração".

       Silêncio que acolhe, guarda e medita. Maria também nos desafia pelo Seu silêncio da oração e da adoração. É a primeira a admirar Jesus, a pegar-lhe ao colo, a olhar para as suas feições, a tatear-lhe o corpo, cada pedaço de pele, a aconchegá-l'O contra o seu peito, embrulhando-O para o manter confortável, procurando-lhe o olhar.

       Quando os Pastores os encontram, Jesus está na manjedoura. É possível que Maria O tivesse em seus braços, mas coloca-O para que os pastores O possam adorar e pegar-lhe sem se sentirem retraídos. Os Pastores aproximam-se, presenciam o que lhes disseram: o Messias nasceu e está diante dos seus olhos. Como os habitantes da Samaria, quando a Samaritana lhes falou de Jesus: acreditamos não pelo que disseste mas pelo que vimos e Lhe ouvimos. Os pastores confiaram nas palavras do Anjo e partiram, mas fazem a experiência de encontro com Jesus.

       E com os pastores, outras pessoas se aproximam do Presépio. Vamos também nós a Belém adorar o Deus Menino. Maria, que lá O tem, estendê-l'O-á para que possamos pegar-lhe, deixando que Ele toque a nossa mão, o nosso coração, e nos envie, como aos pastores, em missão.

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       4 – Para o cristão, o Batismo marca o arranque de uma vida que se quer de identificação ao autor do Batismo, Jesus Cristo. Um dos primeiros gestos do ritual do Batismo é a escolha do nome do batizando. A primeira missão de Adão e Eva é a de dar nome às coisas e aos animais, para que dominem sobre eles, num domínio que é serviço e cuidado, responsabilidade por aqueles a quem se dá um nome. Quando queremos bem a alguém tratamo-lo pelo nome, num tom e num timbre que ressoe no coração. É das melhores músicas para os nossos ouvidos: o nosso nome dito e ouvido com alegria e amizade, com ternura e afabilidade.

"Quando se completaram os oito dias para o Menino ser circuncidado, deram-Lhe o nome de Jesus, indicado pelo Anjo, antes de ter sido concebido no seio materno". Ele é o Filho de Deus, mas está ao cuidado de Maria e de José, que Lhe dão o nome e a casa. "Deus enviou o seu Filho, nascido de uma mulher e sujeito à Lei, para resgatar os que estavam sujeitos à Lei e nos tornar seus filhos adotivos. E porque sois filhos, Deus enviou aos nossos corações o Espírito de seu Filho, que clama: «Abá! Pai!». Assim, já não és escravo, mas filho. E, se és filho, também és herdeiro, por graça de Deus".

       Somos filhos de Deus, em Jesus Cristo e como tal somos responsáveis por cada irmão, filho, pai, mãe, pois Deus os colocou na nossa vida para deles cuidarmos. Maria e José exemplificam este cuidado. Jesus nasce e imediatamente lhes merece toda a atenção. Sublinhe-se o facto de São José que sendo pai adotivo e não biológico logo assume a missão de acolher, amar, cuidar, proteger, dar nome a Jesus e amparar a Virgem Mãe. Os laços que nos unem radicam no amor e na proximidade, ultrapassando os laços sanguíneos.

 

       5 – Neste primeiro dia de 2016, colocamo-nos, com Maria, sob o olhar misericordioso de Deus, para que nos ilumine e nos dê a Sua bênção. "Senhor nosso Deus, que, pela virgindade fecunda de Maria Santíssima, destes aos homens a salvação eterna, fazei-nos sentir a intercessão daquela que nos trouxe o Autor da vida, Jesus Cristo, vosso filho".

       A bênção há de ser a oração que nos liga a Deus e aos outros, e nos compromete na construção da paz. Como diz Deus através de Abraão: "O Senhor te abençoe e te proteja. O Senhor faça brilhar sobre ti a sua face e te seja favorável. O Senhor volte para ti os seus olhos e te conceda a paz". Assim invocarão o meu nome sobre os filhos de Israel e Eu os abençoarei». E como salmodicamente respondemos à Palavra de Deus: «Deus Se compadeça de nós e nos dê a sua bênção, resplandeça sobre nós a luz do seu rosto. Na terra se conhecerão os seus caminhos e entre os povos a sua salvação. Alegrem-se e exultem as nações, porque julgais os povos com justiça e governais as nações sobre a terra». 

       São também os votos do Papa Francisco, na tradicional Mensagem para o Dia Mundial da Paz que hoje comemoramos: «Não perdemos a esperança de que o ano de 2016 nos veja a todos firme e confiadamente empenhados, nos diferentes níveis, a realizar a justiça e a trabalhar pela paz. Na verdade, esta é dom de Deus e trabalho dos homens; a paz é dom de Deus, mas confiado a todos os homens e a todas as mulheres, que são chamados a realizá-lo».

       O compromisso será vencer a indiferença, reconhecendo que os outros são nossos irmãos em Jesus Cristo e, desta forma, conquistar a paz que Ele nos traz.

 

Pe. Manuel Gonçalves

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Textos para a Eucaristia (ano C): Num 6, 22-27; Sl 66 (67); Gál 4, 4-7; Lc 2, 16-21.

05.11.15

Leituras: ROBERTO ROCCA - OSCAR ROMERO. A biografia

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ROBERTO MOROZZO DELLA ROCCA (2015). Oscar Romero. A biografia. Braga: Editorial A.O., 232 páginas.

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       No dia 3 de fevereiro de 2015, o Papa Francisco aprovou o decreto de beatificação D. Óscar Romero (1917-1980). Alguns dias depois, a 23 de maio de 2015, na Praça do Divino Salvador do Mundo, em São Salvador, foi proclamado Beato, em celebração presidida pelo cardeal Angelo Amato, prefeito da Congregação para as Causas dos Santos.

       D. Óscar Romero nasceu a 15 de agosto de 1917, na Cidade de Barrios. Aos 13 anos entrou no Seminário. Foi ordenado sacerdote a 4 de abril de 1942, em Roma, onde se encontrava a efetuar estudos na Universidade Gregoriana. A estadia em Roma moldou o amor ao Papa, a fidelidade à Igreja, a devoção a São Pedro e a São Paulo. Em plena Segunda Guerra Mundial, Romero saiu de Roma para voltar a Salvador, fixando-se em São Miguel como pároco e logo como secretário do Bispo local. Segundo o biógrafo, Romero era amado e respeitado, pois conhecia e interpretava o sentir do povo. Alguns acusavam-no de comunismo. Por inveja. Romero não fugia aos conflitos. Não gostava da controvérsia, mas acabava por ser um jornalista combativo e polémico, não deixando de criticar abertamente o comunismo que procurava "desenraizar do homem qualquer sentimento religioso". Procurava a sintonia ao Papa, nomeadamente a João XXIII, colocando-se numa atitude de diálogo prudente e sincero para construir o mundo comum a todos. Também o estado liberal é criticável, tal como a influência maçónica.

       Em 1964, Romero foi acusado de ingerência em questões políticas e ameaçado com o tribunal.

       Em 1965, Romero era o padre mais ativo, mais culto, mais prestigiado de São Miguel. Tinha boas relações com o núncio apostólico, mas as relações com o clero não eram as melhores. Foi nomeado um Bispo auxiliar, norte-americano, quatro anos mais novo que Romero.

       Em 8 de junho de 1967 é nomeado como Secretário da Conferência Episcopal de El Salvador (CEDES). A notícia espalhou-se na diocese de São Miguel que protestou junto do núncio para que Romero regressasse. A gente simples estava com Romero. Romero convidou os diocesanos de São Miguel à obediência ao Bispo titular. Como secretário da CEDES, aproximou-se de Monsenhor Chávez, Arcebispo de São Salvador, que lhe pedia trabalhos pastorais na arquidiocese. A partir de maio de 1968, tornou-se secretário da SEDAC (Secretariado Episcopal da América Latina).

       Em 1970, foi sagrado Bispo. Tinha 53 anos. Em 15 de outubro de 1974, torna-se Bispo de Santiago de Maria.

       Fiel ao magistério (sobretudo) papal, tinha palavras duras para os teólogos da libertação, que não compreendiam que a verdadeira libertação era do pecado, vinha da cruz de Jesus e não apenas da militância política. Sintonizava com o Bispo Eduardo Pironio, sublinhando que este expressava com sabedoria e equilíbrio a teologia da libertação, e que sobressaia pela humildade, cultura e humildade.

       Em 3 de fevereiro de 1977 foi escolhido para Arcebispo de São Salvador, assumindo a Arquidiocese a 22 de fevereiro.

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       Não teve tempo para descansar na missão que assumia. Depois de várias tomadas de posição, conjuntamente com outros Bispos, e com o pulsar da Igreja, mostrando como a repressão não era a solução, mas a justiça social, a partilha, a atenção aos pobres, a distribuição da riqueza, em 10 de março de 1977, foi assassinado o padre Rutilio Grande, juntamente com ele, dois camponeses, um idoso e um rapaz. D. Óscar Romero, muito amigo de Rutilio, ficou muito perturbado. Foi a partir de então que se dá o que o inimigos ou oportunistas chamam de "conversão", mas que o próprio refere como "Fortaleza", dom do Espírito Santo.

       A intervenção de D. Romero será mais concreta, permanente, do púlpito, pela rádio, pela impressa da Arquidiocese, me reuniões oficiais e privadas, intervindo a libertar sacerdotes ou famílias, distanciando-se e a Igreja de qualquer ideologia ou compromisso político, A Igreja defende o bem, venha de onde vier e condena o mal, seja da esquerda seja da direita. Ao longo do seu magistério, na Arquidiocese e em todo o país, a Igreja é perseguida, sacerdotes e agentes da pastoral, presos, torturados, mortos e, os estrangeiros, expulsos.

       Em relação à Teologia da Libertação, alerta para o risco de se tornar uma vertente do marxismo, fixando-se apenas na vertente temporal. Oscar Romero perfilha a opção preferencial pelos mais pobres, mas sempre em lógica de libertação integral, na abertura ao transcendente. Não se podem mudar as estruturas sem a conversão, sem mudar os corações. Prefere a Teologia da Salvação. Cristo, pela Sua cruz, redime o homem todo. Ligação permanente ao Evangelho, ao magistério dos Papas, às conferências de Medellin e Puebla. De algum modo, Romero antecipa aquela que será a posição da Santa Sé, nomeadamente da Congregação da Doutrina da Fé, presidida pelo então Cardeal Ratzinger: a opção preferencial pelos mais pobres é cristológica. Cristo veio para libertar o Homem todo: o que fizerdes ao mais pequenino dos irmãos a Mim o fazeis. Romero não se opõe à Teologia da Libertação, mas purifica-a com a cristologia. Só há libertação autêntica com a cruz redentora de Jesus Cristo. | Em relação à Teologia da Libertação vale a pena ler o que escreveu sobre Romero aquele que é considerado o Pai da Teologia da Libertação, Gustavo Gutiérrez: ROMERO, o BISPO QUE MORREU PELO POVO. Poderia sublinhar-se que a acentuação de Romero acerca da Teologia da Libertação se enquadra nas reflexões de Gustavo Gutiérrez.

       As relações com a Santa Sé também não foram fáceis, sobretudo quando intermediadas com os núncios ou com enviados papais. Os encontros com o Papa Paulo VI e com João Paulo II transmitiram-lhe confiança, solidariedade, coragem para combater as injustiças, anunciar o Evangelho, testemunhar pelo serviço e pelo compromisso com os mais pobres.

       As ameaças foram aumentando de tom, como os atentados contra a Igreja. Ora a esquerda ora a direita. Qualquer intervenção de D. Romero tinha uma leitura "política", ainda que ele sublinhasse a equidistância do Evangelho e da fé em relação a qualquer facção. A Igreja seria uma terceira via.

       Outros dos aspetos vincados, é a inveja, o ódio, vindo de dentro, dos seus colegas de episcopado, mormente do Bispo Auxiliar, que faziam queixas ao núncio ou à Congregação dos Bispos. A sua ascensão a Arcebispo de São Salvador não agradou a muitos, mais velhos, com pretensões a tão elevada dignidade, mas também o sucesso que Romero tinha nas suas intervenções que era lidas e/ou ouvidas, comentadas e seguidas pelo clero de outras dioceses. Onde chegavam era cercado por crentes e pelos jornalistas. Foram várias as tentativas para o depôr. O autor sugere que a sua morte foi precipitada aquando da certeza que não seria substituído. A única forma de o calar foi matá-lo.

       Ainda lhe sugeriram seguranças, ou a retirada, por exemplo, para Roma. A decisão foi a fé, o testemunho. Se os cristãos de São Salvador não têm proteção também o seu Bispo não a pode ter. Se os cristãos são mortos sem razão, o Pastor tem que se manter no seu posto, testemunhando a fé, dando coragem a todos. "Seria um contratestemunho pastoral se pudesse mover-me seguro, enquanto o meu povo vive no perigo... o meu dever obriga-me a andar com o meu povo; não seria justo dar um testemunho de medo. Se a morte vier, será o momento de morrer como Deus quis".

       É assassinado por um profissional, com um só disparo, uma bala de fragmentação no peito, a 24 de março de 1980, enquanto celebrava Missa. Tinha 62 anos de idade. O funeral foi a 30 de março, Domingo de Ramos, na Plaza de Barrios e não chegou ao fim. Uma explosão colocou em perigo uma imensa multidão, cujo pânico provocou dezenas de mortes.

       Foi uma morte por ódio à fé. E essa é a razão para ser reconhecido como mártir pelo Papa Francisco. Porquê uma demora tão grande? Explica Bento XVI: "Monsenhor Romero foi certamente um grande testemunho da fé, um homem de grande virtude cristã que se empenhou pela paz e contra a ditadura e que foi morto durante a celebração da Missa. Portanto, uma morte verdadeiramente credível, de testemunho de fé. Havia o problema de uma facção política o querer assumir como bandeira, como figura emblemática, injustamente. Como fazer vir à luz verdadeiramente a sua figura, purificando-a destas tentativas de instrumentalização? Este é o problema. Não duvido que a sua pessoa merece a beatificação" (9 de maio de 2007). Bento XVI reavivou o processo que conduziu à beatificação de D. Óscar Romero.

26.09.15

Quem der um copo de água, não perderá a sua recompensa

mpgpadre

1 – "Há um «serviço» que serve aos outros; mas temos que guardar-nos do outro serviço cujo interesse é beneficiar os «meus», em nome do «nosso». Este serviço deixa sempre os «teus» de fora, gerando uma dinâmica de exclusão" (Papa Francisco, em Cuba). O contexto é o de domingo passado, em que Jesus diz claramente aos seus discípulos que quem quiser ser o primeiro seja o servo de todos. A tentação será servir-se, ou servir os seus, excluindo os que não fazem parte da minha família, do meu partido, da minha religião, do meu país, do meu grupo de amigos. Ora para Deus somos irmãos. Ele é Pai de todos. Todos são chamados a formar uma família feliz.

Acolher os distantes, o estrangeiro, o pobre, o estranho, o refugiado, não nos dispensa de tratar bem os de casa e os da vizinhança.

O Evangelho mostra os discípulos muito zelosos em relação ao grupo e aos próprios interesses. João diz a Jesus: «Mestre, nós vimos um homem a expulsar os demónios em teu nome e procurámos impedir-lho, porque ele não anda connosco». Não se põe em causa o bem mas quem o faz. Se fizesse parte do grupo, acrescentaria prestígio e estava em sintonia com Jesus. Ora, se não faz parte do grupo não terá direito a fazer o que quer que seja relacionado com Jesus.

Novamente a questão do protagonismo: quem é o maior?! Resposta clarificadora de Jesus: quem quiser ser o primeiro será o servo de todos. Os discípulos ainda precisam de caminhar muito mais. Veem alguém que lhes pode tirar o protagonismo e logo o afastam.

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2 – Sem Jesus fisicamente entre nós, Ele realmente Se faz presente pela Palavra proclamada, pelos Sacramentos, particularmente na Eucaristia, e muito especialmente Se faz presente nos pobres.

Não há privilégios nem privilegiados. A haver discriminação será a favor dos excluídos, menosprezados, esquecidos. Partimos da mesma condição: fazer o bem e em nome de Jesus para que não nos tornemos vaidosos ao ponto de fazermos depender os outros de nós, instrumentalizando-os.

Responde-lhes Jesus: «Não o proibais; porque ninguém pode fazer um milagre em meu nome e depois dizer mal de Mim. Quem não é contra nós é por nós».

Estamos habituados a diabolizar quem não pensa como nós. Pior, diabolizamos os que não fazem parte do nosso grupo, mesmo que tenham ideias semelhantes às nossas.

Jesus diz aos seus discípulos que o joio e o trigo crescem em simultâneo até à ceifa (cf. Mt 13, 24-30). Em vez de diabolizar há que integrar. Discutir ideias, mas acolher todas as pessoas. Há que procurar o bem em todos, a presença de Deus em cada um. O caminho de Jesus é o caminho do amor, da paixão, do serviço a todos, sem excluir, preferindo aproximar-se dos afastados. O caminho é amar. Amar sempre. Amar servindo. Não importa a quem. Não importa quem. Retomemos a parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 25-37). Para se ser bom não é preciso ser judeu, ou ser cristão, o que é preciso é fazer o bem sem olhar a quem.

 

3 – «Quem vos der a beber um copo de água, por serdes de Cristo não perderá a sua recompensa. Se alguém escandalizar algum destes pequeninos que creem em Mim, melhor seria para ele que lhe atassem ao pescoço uma dessas mós e o lançassem ao mar».

No dia em que se faz memória de São Vicente de Paulo, vale a pena meditar nas suas palavras: «O serviço dos pobres deve ser preferido a todos os outros e deve ser prestado sem demora… se tiverdes de deixar a oração… De facto não se trata de deixar a Deus, se é por amor de Deus que deixamos a oração: servir um pobre é também servir a Deus. A caridade é a máxima norma, e tudo deve tender para ela; é uma grande senhora: devemos cumprir o que ela manda».

Os discípulos discutem lugares e protagonismo: qual de nós será o maior no Reino de Deus? E afastam os que possam ocupar um lugar especial no coração de Jesus ou agir em Seu nome. Jesus não discute lugares, mas serviço. Não importa quem brilha! Importa quem faz transparecer Jesus e o Seu Evangelho de amor. No MEIO estará sempre Jesus, ainda que esteja no meio através dos mais pobres.

________________________

Textos para a Eucaristia (B): Num 11, 25-29; Sl 18 (19); Tg 5, 1-6; Mc 9, 38-43.45.47-48.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

20.06.15

Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?

mpgpadre

1 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».

Tantas curas e conversões, expulsão de demónios, vem a primeira tempestade e logo pensamos que Ele não se ocupa connosco.

É Jesus quem vai ao leme: «Passemos à outra margem do lago». Passemos à outra margem. Não fiquemos na segurança da terra firme, no nosso cantinho. Vamos ao encontro dos outros. As coisas podem até não correr como expectável, mas Ele segue connosco. A Igreja é chamada, permanentemente, com os seus membros, a passar a outras margens, ir a outros lugares, levar o Evangelho às periferias existenciais, como insistentemente tem sublinhado o Papa Francisco: «Prefiro mil vezes uma Igreja acidentada, caída num acidente, que uma Igreja doente por fechamento! Ide para fora, saí!».

Tranquilo, Jesus adormece na barca. Levanta-se grande tormenta. O mar está encapelado. O tamanho das ondas enche o barco de água. Os discípulos deixam-se vencer pelo medo de perecer e acordam Jesus: «Mestre, não Te importas que pereçamos?». Jesus acalma o mar e a tempestade: «Cala-te e está quieto».

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2 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?». Se Jesus cala a tempestade, é possível que seja mais do que aparenta ser! «Quem é este homem, que até o vento e o mar Lhe obedecem?».

Por mais esclarecida que seja a fé, engloba sempre a dúvida. Não é "pão, pão, queijo, queijo". Não é branco ou preto. Muitos santos passaram pela chamada "noite da fé", em que interrogaram Deus, como os discípulos: "Senhor, não Te importas que pereçamos?".

 

3 – «Porque estais tão assustados? Ainda não tendes fé?».

O beato Paulo VI, em 21 de junho de 1972, nono aniversário da Sua eleição, diante de situações menos fáceis na Igreja e no mundo, apelava à confiança em Deus, reconhecendo que "não é a nossa mão débil e desajeitada quem está no timão da barca de Pedro, mas sim a mão invisível, mas forte e amorosa do Senhor Jesus".

Bento XVI utiliza a mesma imagem da barca, entregando o Seu pontificado e toda a Igreja nas mãos de Deus. "Nestes oito anos, vivemos com fé momentos belíssimos de luz radiante no caminho da Igreja, junto a momentos nos quais algumas nuvens pairavam no céu" (Bento XVI, 28 de fevereiro de 2013).

Na última Audiência Geral, a 27 de fevereiro de 2013, Bento XVI comunica-nos a fé e a confiança em Deus, apesar de tudo:

"Oito anos depois, posso dizer que o Senhor me guiou verdadeiramente, permaneceu junto de mim, pude diariamente notar a Sua presença. Foi um pedaço de caminho da Igreja que teve momentos de alegria e luz, mas também momentos não fáceis; senti-me como São Pedro com os Apóstolos na barca no lago da Galileia: o Senhor deu-nos muitos dias de sol e brisa suave, dias em que a pesca foi abundante; mas houve também momentos em que as águas estavam agitadas e o vento contrário – como, aliás, em toda a história da Igreja – e o Senhor parecia dormir. Contudo sempre soube que, naquela barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas é d’Ele. E o Senhor não a deixa afundar; é Ele que a conduz, certamente também por meio dos homens que escolheu, porque assim quis. Esta foi e é uma certeza que nada pode ofuscar. E é por isso que, hoje, o meu coração transborda de gratidão a Deus, porque nunca deixou faltar a toda a Igreja e também a mim a sua consolação, a sua luz, o seu amor..."

E prosseguia: "Deus guia a sua Igreja; sempre a sustenta mesmo e sobretudo nos momentos difíceis. Nunca percamos esta visão de fé… No nosso coração, no coração de cada um de vós, habite sempre a jubilosa certeza de que o Senhor está ao nosso lado, não nos abandona, está perto de nós e nos envolve com o seu amor. Obrigado!"

________________________

Textos para a Eucaristia (B): Job 38, 1. 8-11; Sl 106 (107); 2 Cor 5, 14-17; Mc 4, 35-41.

08.05.15

Leituras: M. FERNANDO SILVA - JOSÉ, O ESPOSO DE MARIA

mpgpadre

M. FERNANDO DA SILVA (2015). José, o esposo de Maria. Prior Velho: Paulinas Editora. 256 páginas.

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       No últimos anos, a figura de São José adquiriu uma maior relevância na Igreja, traduzida na liturgia, com os Papas a transparecerem a devoção popular e a própria devoção. Neste momento, três festas que se relacionam diretamente com São José: a 19 de março, solenidade; a 1 de maio, São José Operário, e a Festa da Sagrada Família, no domingo entre o Natal e a solenidade de Santa Maria, no primeiro dia no novo ano.

       O Papa Francisco, eleito a 13 de março de 2013, inaugurou o Pontificado precisamente no dia 19 de março, dando um sinal claro que entregava a Igreja e o Pontificado à proteção de São José. Seguidamente alguns gestos, prosseguindo com o desejo do Papa Bento XVI, de incluiu o nome de "São José, esposo de Maria" em todas as anáforas, uma vez que por ocasião da reforma litúrgica o Papa Paulo VI já incluíra no Cânone romano; e consagrar o Vaticano a São José, Padroeiro Universal da Igreja. Consagração planeada por Bento XVI.

       O Pe. Manuel Fernando da Silva, sacerdote da Arquidiocese de Braga, com ligações à Prelatura da Opus Dei, apresenta-nos um texto belíssimo sobre a figura de São José, escolhido por Deus para proteger e cuidar da sagrada Família de Nazaré, com o seu trabalho, bondade, com a sus descrição e santidade de vida. Não se sabe muito sobre São José, a não ser nas referências pontuais nos evangelhos da infância, em São Mateus e São Lucas e numa ou outra referência pontual. O autor procura apresentar-nos uma espécie de biografia de São José, partindo dos dados do Evangelho, dos silêncios, das "insinuações" que o texto vai propondo, do ideal homem justo, trabalhador e honesto que figura entre os crentes do povo eleito.

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       O autor recorre com mestria ao contributo dos Papas, mormente de Paulo VI, João Paulo II, Bento XVI e de Francisco, a quem dedica um capítulo. Se Bento XVI tem o mesmo nome de Batismo, pelo que se compreende de sobremaneira a sua especial devoção a São José; o atual Papa não se fica atrás em devoção. Curiosamente o autor clarifica a fé de Francisco, em São José que dorme, numa Homilia do Cardeal Ratzinger / Bento XVI em 19 de março de 1992. O então Cardeal parte de uma imagem em alto-relevo, de um retábulo português da época barroca, que retrata a fuga para o Egipto, em que São José é apresentado dentro de uma tenda a dormir, vestido, com botas altas, pronto para se pôr a caminho. Não apenas dorme, mas vigia, está disponível para escutar a palavra de Deus e pôr-se em marcha.

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       É conhecida a devoção do Papa Francisco que mandou vir da Argentina uma imagem de São José a dormir, a que dá uma explicação muito semelhante à do Cardeal Ratzinger / Bento XVI: São José dorme, sonha, escuta Deus, vigia a Igreja. O Papa quando tem alguma dificuldade coloca um papelinho debaixo da imagem, pedindo a solicitude de São José.

       A ligação espiritual à Opus Dei também é visível nestas páginas, não mais do que quando os jesuítas citam prevalentemente Santo Inácio de Antioquia, ou outro ilustre desta ordem, ou os franciscanos exemplificam com São Francisco ou outros ilustres, ou os dominicanos clarificam com São Domingos, ou os beneditinos com São Bento, ou como nós que citamos o nosso Bispo ou os Papas.

 

       É um livro que se lê bem, com uma linguagem acessível, com um discurso que nos faz acompanhar a vida de São José, referenciado sempre à Família, com Maria e com Jesus. Para quem seguir esta recomendação verá a riqueza das ligações bíblicas aos patriarcas, profetas, aos salmos. Envolver-se na vida de São José é envolver-se e entranhar-se na vida de Maria e de Jesus, no mistério da salvação que é revelado em plenitude no Deus que se faz Menino e vem habitar com pessoas "normais".

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       Uma das histórias mais populares acerca de São José, e que o autor inclui neste livro, é a escada milagrosa atribuída a São José, no Estado do Novo México, nos EUA. Em 1898, a Capela de Loretto foi restaurada, levando um piso superior, para aumentar a capacidade, mas ficou sem escada de acesso. As irmãs requisitaram os carpinteiros da região mas nenhum apresentou uma solução que não implicasse a redução do espaço interno da capela. Confiaram-se a São José e no último dia de novena em Sua honra, apareceu um desconhecido com um jumento e uma caixa de ferramentas. Resolveria o problema com a condição de trabalhar com à porta fechada. Alguns meses depois a escada estava construída e o homem desapareceu sem deixar rasto. Passados 130 anos ainda não se descobriu tamanho mistério. Sem cola nem pregos, continua a não ameaçar ruína. A madeira, analisada, é da Judeia, mas não se sabe como veio ali parar. Concluiu-se que tinha sido São José a contruí-la. A escada tem 33 degraus, correspondente à idade com que, segundo popularmente se diz, morreu Jesus Cristo (terá morrido com 37 anos, tendo em conta que morreu no ano 30 da nossa era. Jesus nasceu à volta do ano 7 a.C, com o erro com que foi achado o Seu nascimento).

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