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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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24.10.15

Que queres que Eu te faça? | Mestre, que eu veja.

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1 – O CAMINHO de Jesus constrói-se em movimento. São Marcos mostra como Jesus avança, progredindo na Mensagem, aprofundando as temáticas, exigindo cada vez mais e de forma mais clarividente. Vai ganhando CONFIANÇA, que Lhe vem de Deus, mas que testa no encontro com as multidões e com os discípulos.

O Evangelho de Marcos possibilita a reflexão à volta do segredo messiânico. Jesus realiza prodígios, revela pouco a pouco a Sua identidade, mas pede "segredo" – não digais nada a ninguém. É, segundo os estudiosos, uma criação literária do evangelista para nos envolver na revelação (progressiva) de Jesus como Filho de Deus, o que só acontecerá plenamente na Ressurreição, cuja luz eliminará as dúvidas e as trevas, mas que se desvela em diferentes momentos. Jesus deixa-Se ver, deixa-Se tocar, deixa-Se acolher. Podemos segui-l’O.

Jesus segue o Seu CAMINHO a caminhar. À beira do caminho está um cego a pedir esmola. Um mal nunca vem só. Não basta ser cego ainda é pobre pedinte. À beira continuam muitos cegos, refugiados, doentes, idosos, pobres. Estão à beira, quase fora, alheados, excluídos. Não estão no caminho, porque se afastaram ou foram impedidos de entrar nele. O texto mostra as diferentes possibilidades.

A voz do cego faz-se ouvir: «Jesus, Filho de David, tem piedade de mim». Certamente que já tinha ouvido falar de Jesus.

Veja-se a dualidade da multidão. Por um lado, espalhou o "segredo" sobre Jesus. Por outro, afasta aquele homem, silencia-o. Muitos tentam calá-lo. “Não nos incomodes com os teus problemas!”

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2 – Adentremo-nos no CAMINHO de Jesus. Somos o cego que reconhece a sua insuficiência e suplica a Jesus pela cura? Somos a multidão que divulga os feitos do Messias? Ou, a multidão que afasta os outros de chegarem perto de Jesus? Damos testemunho ou tornamos opaca a presença de Deus na nossa vida?

Jesus mostra a delicadeza que devemos usar uns com os outros. A multidão não abafa a voz de Bartimeu. Jesus está atento a quem se abeira ou a quem está fora ou na margem do caminho. Se é necessário uma paragem ou um desvio, Jesus não hesita. É agora que Ele é necessário. Há quem precise d'Ele neste momento. Tudo o mais é relativo.

Manda chamar Bartimeu. Mais uma parábola para o nosso compromisso cristão. Também a nós Jesus nos diz: «Chamai-o». Ide e anunciai. Espalhai o Evangelho. Fazei discípulos de todas as nações. Ide à procura da ovelha perdida.

A multidão responde ao desafio de Jesus e anima-o: «Coragem! Levanta-te, que Ele está a chamar-te». Por vezes é necessário um pequeno impulso e depois tudo se facilita. É preciso que alguém inverta a tendência negativa. Jesus dá um passo, a multidão dá o seguinte.

E logo, "o cego atirou fora a capa, deu um salto e foi ter com Jesus". A cura já começara no momento em que este cego ouviu falar de Jesus. Quando soube que Jesus estava por perto fez tudo para se encontrar com Ele. Pergunta-lhe Jesus: «Que queres que Eu te faça?».

Para sermos curados precisamos, primeiramente, de ter consciência que estamos doentes e depois querermos ser curados. E o pedido é óbvio: «Mestre, que eu veja».

 

3 – «Vai: a tua fé te salvou». O cego – como bem lê o nosso Bispo, D. António Couto – pede para ver e Jesus envia-o: VAI. Estaríamos à espera que Jesus lhe dissesse: vê. Mas para ver precisa de IR, de andar, de caminhar, de se colocar em movimento, de sair do seu canto e partir ao encontro de Jesus. Também nós somos cegos quando não queremos ver, quando nos recusamos a caminhar em direção aos outros, quando nos fechamos, ensoberbecendo-nos.

Esta passagem ilustra a atitude para seguir Jesus. Antes, víamos os apóstolos a quererem um lugar ao lado de Jesus, sentados. Agora um cego, que está sentado, como sublinha D. António Couto, sentado e a pedir esmola, e que se LEVANTA para encontrar Jesus. A posição do discípulo é seguir Jesus, levantar-se, libertar-se de si e do que lhe pesa. Seguindo Jesus somos curados da nossa cegueira.

________________________

Textos para a Eucaristia (B): Jer 31, 7-9; Sl 125 (126); Hebr 5, 1-6; Mc 10, 46-52.

 

REFLEXÃO DOMINICAL COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso outro blogue CARITAS IN VERITATE

25.06.15

Encerramento da Catequese | Celebração do Crisma

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A Paróquia de Nossa Senhora da Conceição, Tabuaço, tem agendado para o próximo dia 4 de julho, pelas 17h00, a celebração do Sacramento da Confirmação / Crisma, integrando os jovens que frequentaram o 10.º ano de catequese neste ano pastoral e no ano anterior, bem como 4 adultos que ao longo do ano se foram preparando através da Escola da Fé.

A presença do Sr. Bispo, D. António Couto, é uma oportunidade para a festa, para a vivência da fé, para o compromisso comunitário da paróquia inserida na Diocese de Lamego. Como Sucessor dos Apóstolos, o Bispo vem confirmar e renovar a fé, avivando a ligação de cada um e de todos ao Evangelho de Jesus Cristo.

No dias anteriores um Tríduo de pregação, com o Pe. Jorge Giroto, para que a comunidade também se prepare para acolher bem D. António Couto e nele acolher com alegria a Palavra de Deus, preparando também para testemunhar a celebração do Crisma de alguns membros da comunidade.

No mesmo dia, o ENCERRAMENTO DA CATEQUESE. O itinerário catequético conclui-se com 10 anos, com o sacramento da maturidade cristã, o Crisma; simbolicamente também o encerramento do ano catequético.

Depois da Eucaristia, um lanche-convívio para crismandos e familiares, para catequisandos e para os membros da comunidade paroquial.

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14.05.15

Leituras: AA.VV. - A essência da Vida Consagrada

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AA.VV. (2015). A essência da Vida Consagrada. Lisboa: Paulus Editora. 200 páginas.

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       O Ano de Vida consagrada, convocado pelo Papa Francisco, teve início com o novo ano litúrgico, no dia 30 de novembro de 2014 e que se prolonga até à solenidade de Cristo Rei do Universo. Três objetivos apontados pelo Papa: olhar com gratidão o passado, viver com paixão o presente e abraçar com esperança o futuro. A vida consagrada faz parte do ADN da Igreja, como Corpo de Cristo, Ele que assume viver no despojamento, pobreza, castidade, em total obediência ao Pai.

       Este livro aborda a vida consagrada a partir de diversas sensibilidades, em conformidade com os autores, e nas suas várias dimensões.

Autores e temas abordados:

  • D. António Couto, Bispo de Lamego, membro da Sociedade Missionária da Boa Nova. Como expectável, para um especialista na Sagrada Escritura, a "Fundamentação bíblica da vida consagrada".
  • Pe. David Sampaio Barbosa, sacerdote verbita, leciona História da Igreja na UCP, pelo que o seu tema dá prevalência à "História da vida consagrada".
  • Alexandre Freire Duarte, cristão católico leigo, licenciado canónico em Teologia, e como leigo faz uma abordagem da vida consagrada «Magis magisque» (mais e mais): reflexões sobre a espiritualidade dos religiosos"
  • Irmã Maria da Glória Coelho Magalhães, religiosa franciscana missionária de Nossa Senhora, mestre em bioética e em espiritualidade franciscana. O tema apresentado: "A profissão dos conselhos evangélicos", pobreza, castidade e obediência, votos que se insere num único voto de viver ao jeito de Jesus. Obediência na fé; pobreza na esperança, e castidade na caridade...
  • Pe. José Jacinto Farias, sacerdote dehoniano, formado em teologia e em filosofia, aborda "A eclesialidade da vida consagrada".
  • Maria da Conceição Gomes Vieira, consagrada do Instituto Secular das Cooperadoras da Família, formada em Ciências da educação e em Pedagogia Vocacional. O tema abordado: "A formação para a vida consagrada". Além dos documentos da Igreja, o antes e o pós-concílio, enriquece o texto com o seu testemunho de vida.
  • Pe. Saturino Gomes, sacerdote dehoniano, formado em Direito Canónico e, por conseguinte, a abordagem está em concordância: "A vida consagrada e o Direito Canónico".
  • Darlei Zanon, irmão religioso paulista, brasileiro, diretor editorial da Paulus Editora. Fala-nos d' "O futuro da vida consagrada".
       Nas suas diferentes perspetivas, este é um belíssimo contributo para melhor perceber o que é, em Quem se funda, como se concretiza a Vida Consagrada, que passado e que futuro, o seu papel na Igreja e na sociedade do nosso tempo. É um desafio para os cristãos consagrados ou membros de Institutos de vida apostólica, mas simultaneamente para todos os cristãos, pois a vocação primordial é à santidade...
 
Leia também:

17.03.15

D. António Couto: Introdução ao Evangelho segundo Marcos

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D. ANTÓNIO COUTO (2015). Introdução ao Evangelho segundo Marcos. Lisboa: Paulus Editora. 136 páginas.

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       Mais um excelente subsídio para preparar a Eucaristia de Domingo, para melhor compreender o Evangelho de São Marcos, colocando-se em atitude de seguimento, como discípulo em relação a Jesus Cristo, para melhor se entranhar na lógica de serviço, de doação, configurando a própria vida à vida de Jesus.

        O Evangelho seguido prevalentemente neste ciclo litúrgico do ANO B é São Marcos.

        Tal como havia feito para o Ano A, para o qual D. António Couto nos colocou nas mãos dois títulos: Quando Ele nos abre as Escrituras. Ano A, e Introdução ao Evangelho segundo Mateus, o Bispo da mui nobre Diocese de Lamego colocoa à nossa disposição mais dois títulos: Quando Ele nos abre as Escrituras: Ano B, com o comentário à liturgia de cada Domingo, e agora este sobre São Marcos.

        Como já nos habituou, D. António Couto coloca neste trabalho a sua fé, a experiência de vida, a dedicação ao Evangelho, valendo-se de conhecimentos diversos, ao nível da Sagrada Escritura, da história, da psicologia, da teologia, socorrendo-se dos Padres da Igreja e de outros estudiosos, mas sobretudo fazendo-nos mergulhar no texto de Marcos.

       São Marcos voltou à ribalta. Se antes era um texto considerado secundário, ficando quase no esquecimento, pois era entendido como uma espécie de resumo do Evangelho de São Mateus, ou de São Mateus e de São Lucas, a partir do século XIX começa a ser redescoberto, pois é reconhecido como o primeiro Evangelho a ser escrito e, por conseguinte, mais simples, direto, mais próximo cronologicamente de Jesus. Por outro lado, ainda que a linguagem seja diferente, com diferentes destinatários, segundo D. António Couto, os outros Evangelhos, Mateus, Lucas e mesmo São João, mantêm um esquema similar ao de Marcos.

       Sublinham-se no texto temas como chamamento, semente, pão e paixão de Jesus, discipulado. Com efeito o Evangelho de São Marcos faz-nos seguir como que no filme que passa diante de nós, em que a personagem principal é e deve ser o próprio Jesus, que Se aproxima, que chama, que diz, que faz, que nos envia. O discípulo é o que vai atrás.

       Este estudo divide-se em três capítulos:

  1. À porta do Evangelho de Marcos (quem é Marcos, onde e quando escreveu, para quem, estrutura do evangelho).
  2. Quem é Jesus? À procura da identidade de Jesus (Dizer Jesus, dizer do povo, de Pedro, do centurião; jornada de Carfarnaum: Parábola da semente / pão / paixão / ensinados e não compreendidos; na Barca sem Jesus, na Barca com Jesus.
  3. Quem é o discípulo de Jesus e como tornar-se discípulo de Jesus? À procura da identidade do discípulo de Jesus.

       D. António Couto, com mestria, faz-nos sentir discípulos de Jesus, ou melhor, coloca-nos na posição daqueles que se aproximam de Jesus ou de quem Jesus Se aproxima, mostrando que os Seus ditos são para nós, quando nos envolve, nos desafia, nos recrimina, quando nos lembra da nossa condição, quando nos faz passar para trás, como a Pedro e aos demais discípulos, quando nos relembra nossa nudez diante do mistério de Deus. Outro aspeto muito interessante, é a linguagem corrida e muitas vezes (quase) poética de D. António, bem como o estudo dedicado de alguns termos, a partir do grego, do hebraico ou do aramaico e até aqueles que não percebam estas línguas, ficam a perceber melhor o texto e o contexto do filme do Evangelho de Marcos.

 

LER a apresentação/sugestão do livro:

Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura: AQUI.

27.02.15

QUARENTA DIAS DE ORAÇÃO E 40 HORAS DE PERDÃO

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MENSAGEM DE D. ANTÓNIO COUTO PARA A QUARESMA 2015

  1. Na sua mensagem para esta Quaresma, o Papa Francisco lança um forte apelo contra a indiferença generalizada e globalizada, que se instala no nosso coração e o anestesia e endurece, tornando-nos insensíveis. A indiferença é, diz o Papa, uma reclusão mortal em nós mesmos, e desafia, por isso, as nossas paróquias e comunidades a serem ilhas de misericórdia no meio deste vasto mar de indiferença. E contra a dureza enrugada do nosso coração, o Papa propõe a beleza e leveza, sem rugas, da graça e do perdão, uma Igreja maternal, vigilante, compassiva e comovida, com «um coração que vê», como uma mãe sempre atenta, uma mão sempre estendida para manter entreaberta a porta do amor e do perdão, a porta de Deus (Salmo 106,23).
  1. Para tornar as coisas mais palpáveis e visíveis, o Papa propõe mesmo a realização de um «Dia do Perdão», 24 horas de reconciliação, a levar a efeito na Igreja inteira nos dias 13 e 14 de Março, de meia tarde a meia tarde, sob o lema: «Deus, rico de misericórdia» (Efésios 2,4). Peço, por isso, encarecidamente, a todos os sacerdotes que convoquem as comunidades paroquiais para este exercício de renovação das pautas do coração através da oração, da escuta atenta e qualificada da Palavra de Deus, da vivência da Eucaristia, do Sacramento da Reconciliação e da prática da caridade. Não deixemos de dar corpo e alma a este «Dia do Perdão», para o qual o Papa Francisco nos convoca.
  1. Façamos, amados irmãos e irmãs, do tempo da Quaresma um tempo de diferença, e não de indiferença. Dilatemos as cordas do nosso coração até às periferias do mundo, e que o nosso olhar seja de graça para os nossos irmãos de perto e de longe. Façamos um exercício de verdade. Despojemo-nos, não apenas do que nos sobra, mas também do que nos faz falta. Dar o que sobra não tem a marca de Deus. Jesus não nos deu coisas, algumas coisas para o efeito retiradas da algibeira, mas deu por nós a sua vida inteira. Dar-nos uns aos outros e dar com alegria deve ser, para os discípulos de Jesus, a forma, não excecional, mas normal, quotidiana, de viver (Atos 20,35; cf. Tobias 4,16). Como em anos anteriores, peço aos meus irmãos e irmãs das 223 paróquias da nossa Diocese de Lamego para abrirmos o nosso coração a todos os que sofrem aqui perto e lá longe.
  1. Neste sentido, vamos destinar uma parte da nossa esmola quaresmal para o Fundo Solidário Diocesano, para aliviar as dores dos nossos irmãos e irmãs de perto que precisam da nossa ajuda. Olhando para os nossos irmãos e irmãs de longe, vamos destinar outra parte do esforço da nossa caridade para apoiar os 25 Centros de Recuperação Nutricional (CRN) da Guiné Bissau. Esta mão de amor estendida até à Guiné Bissau traduz-se no apoio concreto a 60.000 crianças (dos 0 aos 6 anos), enquadradas em 10.000 famílias e 320 comunidades. Lembro que a mortalidade infantil (dos 0 aos 5 anos) atinge, na Guiné Bissau, a cifra altíssima de 27,4%, muito devido à subnutrição e parcos cuidados de higiene e de saúde. Estes 25 Centros de Recuperação Nutricional, geridos por Congregações Religiosas com a coordenação da Cáritas da Guiné Bissau, representam um pouco mais de esperança para as crianças guineenses. A Fundação Fé e Cooperação (FEC), que foi instituída em 1990 pela Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) e pela Conferência dos Institutos Religiosos de Portugal (CIRP), e que este ano celebra 25 anos de existência, diálogo, fé e cooperação, encontra-se também a trabalhar no terreno guineense, dando apoio a estes 25 Centros de Recuperação Nutricional. Serão os membros desta instituição da Igreja Católica que levarão a nossa esmola para as crianças da Guiné Bissau, e velarão pela sua eficaz aplicação. Esta finalidade da nossa Renúncia ou Caridade Quaresmal será anunciada em todas as Igrejas da nossa Diocese no Domingo I da Quaresma, realizando-se a Coleta no Domingo de Ramos na Paixão do Senhor.
  1. Com a ternura de Jesus Cristo, saúdo, no início desta caminhada quaresmal de 2015, todas as crianças, jovens, adultos e idosos, catequistas, acólitos, leitores, salmistas, membros dos grupos corais, ministros da comunhão, membros dos conselhos económicos e pastorais, membros de todas as associações e movimentos, departamentos e serviços, todos os nossos seminaristas, todos os consagrados (em ano a eles consagrado), todos os diáconos e sacerdotes que habitam e servem a nossa Diocese de Lamego ou estão ao serviço de outras Igrejas. Saúdo com particular afeto todos os doentes, carenciados e desempregados, e as famílias que atravessam dificuldades. Uma saudação muito especial a todos aqueles que tiveram de sair da sua e da nossa terra, vivendo a dura condição de emigrantes.

Lamego, 18 de Fevereiro de 2015, Quarta-feira de Cinzas

Na certeza da minha oração e comunhão convosco, a todos vos abraça o vosso bispo e irmão,

+ António.

17.01.15

Rabi, onde moras? Vinde ver...

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1 – João percebe que Aquele Jesus é o Messias que estava para vir e que já está no MEIO de nós. Àqueles dois discípulos, e a nós também, João mostra Jesus: É o Cordeiro de Deus. Como a dizer-nos: agora o tempo é outro, já não faz sentido serdes meus discípulos, quando todos devemos ser discípulos d'Ele, Aquele sobre Quem desceu o Espírito Santo. Os discípulos ouvem-no, deixam-no e passam a seguir Jesus. Veja-se a sequência de testemunho. João dá testemunho de Jesus. Comunica aos Seus discípulos Quem é o Messias. E os discípulos, escutam e fazem uma escolha.

Duas atitudes nos são sugeridas: sermos testemunhas, em palavras e obras, de Jesus, e como João apontarmos sempre para Ele que está no MEIO de nós; como discípulos, sermos ouvintes da Palavra de Deus, para nos pormos a caminho, seguindo atrás de Jesus.

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2 – Jesus volta-Se e vê-nos. Vai à frente, mas não indiferente. Ele sabe que O seguimos, que O procuramos, e que podemos perder-nos. Seguindo-O de perto, decalcando as Suas pegadas, podemos escutar a Sua voz: «Que procurais?». Teremos então oportunidade de nos aproximarmos mais: «Rabi, onde moras?».

«Vinde ver». A resposta de Jesus é um convite para entrarmos em Sua casa. Ele quer ser a nossa morada. Quer-nos a morar com Ele. Só assim O conheceremos, só assim O seguiremos, só assim podemos transparecê-l'O.

O encontro com Jesus tem hora marcada. Eram quatro horas da tarde. O pormenor temporal que o evangelho de São João nos dá é significativo. Aquele encontro não é abstrato, desligado da vida, fruto da imaginação. É real, como real são os discípulos que seguem Jesus. Um dos que foram ver onde Jesus morava e ficaram com Ele nesse dia é André, irmão de Simão Pedro.

O encontro com Jesus muda-nos. Não basta saber alguma coisa sobre Ele. É o primeiro passo. Depois, segui-l'O pelo caminho, permanecendo junto d'Ele, na Sua casa. E se Ele se torna a nossa morada, o inevitável acontece: não podemos calar o que vimos e ouvimos.

André vai procurar o seu irmão e diz-lhe: «Encontrámos o Messias», e levou-o a Jesus. Atente-se no pormenor: André não diz muitas coisas sobre Jesus, nem tenta convencer Pedro, simplesmente o leva a Jesus. O testemunho sobre Jesus é fundamental, pois não podemos amar o que desconhecemos. Cada um de nós ouviu falar de Jesus, e alguém nos levou a Ele. O encontro pessoal com Jesus será incontornável para que Ele seja a nossa morada e n’Ele nos sintamos em casa.

 

3 – Dá-se o encontro de Jesus com Pedro. E mais uma vez somos surpreendidos. Ele precede-nos. Sabe quem somos, trata-nos pelo nome. O Seu olhar vai ao fundo de nós, onde Ele nos descobre e nos desconcerta. Jesus fita os olhos em Simão e diz-lhe: «Tu és Simão, filho de João. Chamar-te-ás Cefas» – que quer dizer ‘Pedro’.

E tudo muda de novo. És Simão mas chamar-te-ás Cefas, serás Pedro, pedra, rocha sobre a Qual edificarei a minha Igreja. Sublinhe-se desde já que a Igreja é de Cristo, não de Pedro. É Ele que a edifica, mas conta com Pedro e conta connosco.

____________________________

Textos para a Eucaristia (ano B): 1 Sam 3, 3b-10. 19; Sl 39 (40); 1 Cor 6, 13c-15a. 17-20; Jo 1, 35-42.

 

Reflexão completa na página da Paróquia de Tabuaço

e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.

10.11.14

Semana dos Seminários | Mensagem de D. António Couto

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1. A Evangelii Gaudium do Papa Francisco constitui uma imensa provocação para a nossa Igreja. Os nossos hábitos adquiridos saem abalados, as pautas por que habitualmente nos regemos ficam caducas, a nossa maneira de viver assim-assim entra em derrocada. Sim, a força do Evangelho rebenta os nossos vestidos e odes velhos. A alegria não se serve mais em moldes velhos. É urgente um coração novo para acolher esta enxurrada de alegria. precisamos de Pastores novos à medida da Alegria e do Evangelho.

 

2. É neste contexto que vamos viver mais uma vez a Semana das Vocações e Ministérios, que este ano acontece de 9 a 16 de novembro, subordinada ao tema que o Papa Francisco trouxe pata a cena «Servidores da Alegria do Evangelho». Rezemos ao Senhor da colheita para que seja Ele, Bom e Belo Pastor, a velar sempre pelo rebanho, e para que nos ensine a ser Pastores e formar Pastores segundo o seu coração de Pastor e Pai premuroso.

 

3. E sejamos generosos no Ofertório de Domingo, dia 16, que será destinado, na sua inteireza, para as necessidades dos nossos Seminários de Lamego e Resende, e também para o Seminário interdiocesano de São José, sediado em Braga, onde se formam os seminaristas maiores das quatro Dioceses do nosso interior norte: Lamego, Guarda, Viseu e Bragança-Miranda.

 

4. Esta deslocação para junto de um dos polos da Faculdade de Teologia da UCP, neste caso, Braga, acarreta naturalmente despesas extra, mas tornou-se necessária devido ao decréscimo dos seminaristas nestas quatro Dioceses do nosso interior. O baixo número de seminaritas maiores destas quatro Diocese, atualmente reduzido a cerca de 20, não justifca e até desaconselhava que se mantivesse em atividade o Instituto de estudos Teológico que estas quatro Dioceses mantinham em Viseu.

 

Que Deus nos abençoe e guarde em cada dia, e faça frutificar o labor dos nossos Seminários.

 

Lamego, 26 de outubro de 2014, Dia do Senhor.

+ António

19.10.14

Leituras: JOÃO TEIXEIRA - Fazei o que ELE vos disser

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PINHEIRO TEIXEIRA, J. A. (2014). Fazei o que Ele vos disser. O que Maria diz à Igreja. Prior Velho: Paulinas Editora. 168 páginas.

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 "Ela foi o primeiro «livro» onde o Evangelho começou a ser «escrito» e a primeira vida onde o Evangelho começou a ser inscrito. Os seu silêncio foi o melhor eco da Palavra eterna do Pai. Foi nas «páginas» da sua existência que o Verbo começou a ganhar forma neste mundo".

 

       O Pe. João António, Reitor do Santuário de Nossa Senhora dos Remédios, dá à estampa este conjunto de reflexões sobre a vocação e a missão de Maria, como primeira discípula de Jesus Cristo, paradigma da Igreja, de ontem, de hoje e do futuro. Na celebração das suas Bodas de Prata Sacerdotais, 25 anos passados sobre a ordenação, o Pe. João António partilha connosco 25 reflexões que nos falam de Maria, e nos fala da Igreja. O que é Maria, assim deverá ser a Igreja.

       É um texto fluído, acessível, com recurso frequente a antíteses, entre o mínimo e o máximo, o que facilita muito a compreensão das ideias e das teses defendidas.

       Por outro lado, o sacerdote recorre à maximização da vida cristã, e da vida da Igreja, para se assemelhar à postura de Jesus e à postura de Nossa Senhora. Nunca é suficiente a oração, a fé, a caridade, o compromisso com os outros, a pobreza e o despojamento para que brilhe Jesus Cristo, o silêncio para que fale a Palavra de Deus.

O prefácio é do nosso Bispo, D. António Couto:
"Atravessamos um tempo nublado, insípido, incolor e indolor, de baixa densidade divina e humana, intelectual, moral, testemunhal. Um tempo como um espaço, nivelado e sem relevo, sem rostos, sem lágrimas, sem entranhas, mãos, pés e coração. Cai em cheio e com estrondo, neste nosso tempo, a figura de Maria, Mãe de Deus e nosso Mãe, mulher sensibilíssima e habitada, cidade do alto monte  alumiada, com luzes em todas as portas e janelas, farol e lar seguro, sempre aceso e aberto nesta noite do mundo... Com pinceladas firmes e seguras, o padre João António insere muito bem a figura de Maria na teologia, na eclesiologia, na mariologia, na pastoral e na cultura. E compreende-se sempre que a grande cultura anda no coração do povo simples e humilde, que continua a depositar com ternura, no regaço de Maria, as suas dores e a suas flores".

06.10.14

Leituras: Pe. FEYTOR PINTO - Sexualidade Humana

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Pe. Vítor FEYTOR PINTO (2014). Sexualidade Humana.Exigências éticas e comportamentos saudáveis. Lisboa: Paulus Editora, 192 páginas.

        O (Monsenhor) Pe. Vítor Feytor Pinto, atual responsável da paróquia do Campo Grande, no Patriarcado de Lisboa, nasceu em 1932 e em 1955 foi ordenado sacerdote na Diocese da Guarda. Ficou conhecido dos portugueses sobretudo no tempo em que foi Alto-Comissário do Projeto Vida (Luta contra a Toxicodependência) travessando os governos de Cavaco Silva e de António Guterres. Durante seis anos percorreu o país, participando em debates, conferência, em igrejas, centros pastorais, escolas, hospitais.

       Em 2002, segundo o próprio, foi convidado pelo Instituto de Bioética da Universidade Católica Portuguesa para fazer algumas conferências no 1.º Curso de Mestrado em Bioética. Nessa ocasião concluiu que seria benéfico também fazer o mestrado em Bioética, proposta aceite pelo Instituto. Este livro é basicamente a dissertação preparada para o Mestrado, orientado pelo grande figura desta área, o Pe. Luís Archer.

       Escolheu para este trabalho o campo da sexualidade humana, analisando a compreensão da sexualidade no mundo e tempo atuais, verificando os efeitos da chamada revolução sexual, revisitando algumas páginas importantes do magistério da Igreja, Vaticano II, papa João Paulo II e papa Bento XVI, a compreensão bíblica da sexualidade no Antigo e no Novo Testamento, a sexualidade e a transmissão da vida, a sexualidade como dom de Deus e como compromisso e responsabilidade humana. Feytor Pinto apontará a ética personalista no enquadramento da vivência consciente, livre, responsável da sexualidade humana.

PARTE I - Ética e sexualidade integral
PARTE II - Sociedade atual e visão redutora da sexualidade
PARTE III - A Sexualidade humana: maravilhoso dom de Deus
PARTE IV - A transmissão responsável da vida

       O Pe. Feytor Pinto não foge aos diversos questionamentos colocados à temática da sexualidade, com as diversas interpretações da mesma, e as diferentes maneiras de a viver. Por outro lado, o que será útil para este tempo, a sexualidade como abertura responsável à vida e o envolvente da família. Certamente, nesta reflexão de sempre, mas acentuada pelos Sínodos dos Bispos, o extraordinário, em 2014, e o ordinário, em 2015, para melhor compreender a família, este é um texto que poderá contribuir para um enquadramento sério, humano, cristão.

       Uma nota mais pessoal/diocesana: o autor, Pe. Feytor Pinto, cita dois estudos de D. António Couto, Bispo da nossa Diocese de Lamego, Como uma Dádiva: Caminhos da Antropologia Bíblica. Lisboa: UCP, 2002, e Pentateuco.Caminho de Vida Agraciada. Lisboa: UCP, 2002.

"Não há sexualidade plenamente integrada sem afetividade, como não há comunhão de vida sem relação de amor" (p. 22)
"Não há sexualidade verdadeira sem amor, sem relação afetiva, sem capacidade de ir ao encontro do outro, sem encontrar no outro complementaridade, sem descoberta do perdão, do serviço, da alegria no dar, da serenidade no perder, no encontro das vidas até ao projeto comum que inicia comunhão de vida, o último e mais belo objetivo da sexualidade humana" (pp. 23-24).
"O amor é mais do que um encontro de corpos, o amor é mais do que o desejo, mais do que a paixão, mais do que o sentimento, o amor é um compromisso de vida. pode haver encontro dos corpos sem as pessoas se amarem..." (p. 133)
"O ato sexual encontra, na situação conjugal e somente nela, condições ideais para a sua realização. O ato sexual deve ser expressão de uma doação total, exclusiva, irrevogável. O ato sexual tem uma nobreza específica, pelo que supõe tempo necessário, uma dignidade própria, um ritmo de relação, uma afirmação recíproca de um amor que marca a vida do par" (p. 138) 
"O amor não é a atitude apenas de uma pessoa, é sempre um encontro de dois, convergente para a comunhão de ideais e de vida. O amor não é um acidente na vida, é um elemento essencial à realização de cada pessoa. Mesmo no normal processo de desenvolvimento humano, sobretudo a partir da adolescência, pressente-se facilmente que o amor é relação de conhecimento, de proximidade, de afirmação, de dádiva, de compromisso. É um dinamismo de maior riqueza no ser humano" (p. 156)

Vale a pena ler também a entrevista do Pe. Feytor Pinto,

realizada por Octávio Carmo, A VIDA É SEMPRE UM VALOR

29.09.14

D. António Couto | Carta Pastoral | Ano Pastoral 2014-2015

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IDE E CONSTRUÍ COM MAIS AMOR A FAMÍLIA DE DEUS

«Os filhos são um dom de Deus»

(Salmo 127,3)

«Toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes»

(Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

«Sois membros da família de Deus»

(Efésios 2,19)

 

O amor fontal de Deus-Pai

1. «Deus é amor» (1 João 4,8 e 16) e «amou-nos primeiro» (1 João 4,19), e «nós amamos, porque Deus nos amou primeiro» (1 João 4,19). Então, o amor que está aqui, o amor que está aí, o amor que está em mim, o amor que está em ti, o amor que está em nós, «vem de Deus» (1 João 4,7), e «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7). Deus amou-nos primeiro, ama-nos e continua a amar-nos sempre primeiro com amor-perfeito (êgapêménos: part. perf. pass. de agapáô), isto é, amor preveniente, fiel, consequente, permanente (1 Tessalonicenses 1,4; Colossenses 3,12). Ama-nos a nós, que estamos aqui, e foi assim que nós começámos a amar. Se não tivéssemos sido amados primeiro, e não tivéssemos recebido o testemunho do amor, não teríamos começado a amar, e nem sequer estaríamos aqui, porque «quem não ama, permanece na morte» (1 João 3,14), sendo então a morte, não o termo da vida, mas aquilo que impede de amar, e, portanto, de nascer!

 

2. Portanto, se «quem ama nasceu de Deus» (1 João 4,7), o amor que há em nós é remissivo, remete para outrem, remete para a origem. O que é a origem? A origem é o que está antes do começo, a quem a Bíblia e uma parte da humanidade chamam Deus, e nós, cristãos, por imagem, chamamos «Pai». Nova genealogia do amor: o Pai ama o Filho (João 3,35; 5,20), e ama também o mundo (João 3,16), a ponto de enviar o seu Filho ao mundo para lhe manifestar esse amor (João 3,16; 1 João 4,9-10). Só o semelhante conhece o semelhante, e lhe pode comunicar o seu amor. O Pai ama e conhece o Filho Unigénito, e comunica-lhe o seu amor. Como o Pai ama e conhece o Filho Unigénito, também o Filho Unigénito ama e conhece o Pai (Mateus 11,27), e o pode revelar os seus discípulos fiéis (João 15,9), tendo, para tanto, de descer ao nosso nível, fazendo-se homem verdadeiro, semelhante a nós (Filipenses 2,7; Hebreus 2,17). Na verdade, comunica-nos o amor do Pai, e dá-nos a conhecer tudo o que ouviu do Pai (João 15,15). E nós somos convidados a entrar nesse divino colóquio, a acolher esse amor desmesurado, e a passar a amar dessa maneira, como fomos e somos amados (João 13,34; 15,12).

 

3. Assim, o amor que está em nós, ou em que estamos nós, o amor entre marido e esposa, entre pais e filhos, entre amigos, entre nós, não provém nem de uns nem de outros. Nem sequer de si mesmo. O amor não é meu nem é teu. O amor não é nosso. O amor é dado. Claro. Se «quem ama nasceu de Deus», não é nossa a patente do amor, e temos mesmo de ser extremamente cuidadosos quando pretendemos ajuizar acerca do amor que há nos outros. A antiga equação nivelada: «Ama o próximo como a ti mesmo» (Levítico 19,18), é plenificada e subvertida pela equação paradoxal: «como Eu vos amei» (João 13,34; 15,12). Mesmo aqueles que desconhecem a fonte do amor, é dela que o recebem. Neste sentido, em que a fé se une à razão, não é o casal que faz o amor; é o amor que faz o casal. Do mesmo modo que não é o casal que faz os filhos; é o amor que os faz. São um dom de Deus (Salmo 127,3). Atravessa-nos um calafrio quando nos apercebemos que a humanidade transmite, de idade em idade, de pais para filhos, algo de eterno. Amor eterno, tão terrivelmente ameaçado de idade em idade!

 

4. É esse amor eterno, primeiro e derradeiro, verdadeiro, que nos faz nascer como irmãos. O lugar que, de forma mais imediata, nos mostra a fraternidade, é a família. E é verdade que, numa família, os filhos, não deixando de ser diferentes na ordem do nascimento, da saúde, da inteligência, temperamento, sucesso, são iguais. E são iguais, não obstante as suas acentuadas diferenças. São iguais, não em função do que são ou do que têm ou do que fazem, mas em função daquilo que lhes é dado e feito. Em função do amor que os precede, o amor dos seus pais, e, em primeira ou última instância, o amor fontal de «Deus-Pai» (Ad gentes, n.º 2), pois nós somos também, diz o Apóstolo, filhos de Deus (1 João 3,2), filhos no Filho (Romanos 8,17.29), membros da família de Deus (Efésios 2,19). É esse amor primeiro que nos torna livres e iguais, logo irmãos. A fraternidade é o lugar em que cada um vale, não por aquilo que é, por aquilo que tem ou por aquilo que faz, mas por aquilo que lhe é feito, antes e independentemente daquilo que deseja, pensa, projeta e realiza, e em que o seu ser é ser numa relação de amor incondicionada, que não é posta por ele, mas em que ele é posto. A verdadeira fraternidade ensina-nos que a nossa consciência não é a autoconsciência daquilo que fazemos, mas a hétero-consciência daquilo que nos é feito e que nós somos sempre chamados a reconhecer e a cantar com renovada alegria, como Maria: «O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas» (Lucas 1,49).

O limiar do mistério em cada nascimento

5. Ó abismo da riqueza, da sabedoria e da ciência de Deus! (Romanos 11,33). Ó abismo do amor de Deus! Caríssimos pais e mães, os filhos que gerais e que vedes nascer, são, antes de mais, vossos ou são de Deus? Dir-me-eis: este filho é nosso, fomos nós que o geramos, fui eu que o dei à luz, nasceu neste dia, tenho aqui a cédula de nascimento. E eu pergunto ainda: sim, mas porquê esse, e não outro? É aqui, amigos, que entra o para além da química e da biologia, entenda-se, o para além de nós. É aqui, amigos, que entramos no limiar do mistério, na beleza incandescente do santuário, onde o fogo arde por dentro e não por fora. É aqui que paramos ajoelhados e comovidos à beira do inefável e caímos nos braços da ternura de um amor maior, novo, paternal, maternal, que nenhuma pesquisa biológica ou química explicará jamais. Todo o nascimento traz consigo um imenso mistério. Sim, porquê este filho, e não outro? Porquê este, com esta maneira de ser, este boletim de saúde, este grau de inteligência, estas aptidões, esta sensibilidade própria? Sim, outra vez, porquê este filho, e não outro, com outra maneira de ser, outro boletim de saúde, outro grau de inteligência, outras aptidões? Fica patente e latente, evidente, que, para nascer um bebé, não basta gerá-lo e dá-lo à luz. Quando nasce um filho, é também Deus que bate à nossa porta, é também Deus que entra em nossa casa, é também Deus que se senta à nossa mesa, é também Deus que nos visita. Há outra paternidade, a de Deus, por detrás da nossa vulgar paternidade, participação da verdadeira paternidade de Deus. Na verdade, «toda a paternidade, como todo o dom perfeito, vêm do Alto, descem do Pai das Luzes» (Tiago 1,17; cf. Efésios 3,15).

Membros de uma nova família

6. Há, portanto, também uma nova familiaridade. A partir de Deus. Na verdade, no comportamento Misericordioso de Jesus transparece uma nova familiaridade, que assenta a sua fundação muito para além dos meros laços biológicos e anagráficos das nossas famílias. Prestemos atenção ao luminoso dizer de Jesus no caixilho literário de Marcos:

«E vem a mãe dele e os irmãos dele, e, ficando fora, enviaram quem o chamasse. E estava sentada à volta dele a multidão, quando lhe dizem: “Eis que a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs estão lá fora e procuram-te”. E respondendo-lhes, diz: “Quem é a minha mãe e os meus irmãos?”. E tendo olhado à volta, para os que estavam sentados em círculo ao seu redor, diz: “Eis a minha mãe e os meus irmãos. Na verdade, aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe”» (Marcos 3,31-35).

Ensinamento espantoso de Jesus que põe em causa a validade de uma maternidade e fraternidade meramente biológicas, fundadas sobre os direitos do sangue [«a tua mãe e os teus irmãos e as tuas irmãs… procuram-te»], para afirmar uma nova familiaridade aberta pelo horizonte novo do éschaton, do último, do primeiro e último, do novíssimo: «aquele que faz a vontade de Deus, este é meu irmão e irmã e mãe». No novo horizonte da vontade do Pai, não se deixa de ser mãe, irmão ou irmã. Não são, porém, esses laços familiares que nos dão direito a amar e a ser amados, mas o termos sido encontrados pelo Amor, que agora somos chamados a testemunhar. «Vós sois testemunhas (mártyres) destas coisas», diz Jesus (Lucas 24,49). Sermos designados por Jesus testemunhas das coisas de Jesus é sermos chamados a envolver-nos de tal modo na história e na vida de Jesus, a ponto de a fazermos nossa, para a transmitir aos outros, não com discursos inflamados ou esgotados, mas com a vida! Sim, aquela história e aquela vida são a nossa história e a nossa vida. Sentir cada criança como filho, cada mulher como mãe e todo o semelhante como irmão ou irmã não é simples retórica, mas a transcrição verbal do novo real compreensível à luz do projeto Criador, Primeiro e Último, em que o mundo aparece como uma única casa e os seus habitantes como uma só família. Nascerá então o mais belo relato. Sim, o relato re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça. E re-lata, isto é, põe em relação, une, reúne, enlaça, entrelaça duplamente: primeiro, porque faz uma re-lação dos acontecimentos, unindo-os para formar um belo colar; segundo, porque põe em relação o narrador e o narratário. Sim, quando eu e tu e ele e ela, nós todos, relatarmos a mesma história, e não histórias diferentes, nesse dia luminoso e bendito começamos a nascer como irmãos, não pelo sangue, mas pela liberdade. Sim, só o relato nos pode aproximar tanto, fazendo-nos, não apenas estar juntos, mas nascer juntos, como irmãos. Portanto, irmãos e amigos, deixai que grite bem alto aos vossos ouvidos: mais amor, mais família, mais oração, mais missão, mais formação. Mais. Mais. Mais.

O sentido da vida recebida e dada

7. Na origem dos nossos termos «matrimónio» e «património» está o «dom» como «munus», como bem sublinha e explica o famoso linguista francês Émile Benveniste, seguido por Eugenia Scabini e Ondina Greco, no domínio da psicologia social. Munus faz parte de uma rede de conceitos relacionais, que obriga a uma «restituição». Quem não entra neste jogo do munus diz-se immunus, «imune». E voltam as perguntas contundentes: quem recebe a vida, como e a quem a restitui? Salta à vista que não podemos «restituir» a vida a quem no-la deu. Há, neste domínio, uma assimetria originária nas relações familiares. Verificada esta impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu, poderíamos pensar em «restituir» em termos análogos: então, o filho poderia, por exemplo, responder ao dom da vida recebida, tomando a seu cargo e cuidado os pais enfraquecidos e velhinhos. Mas este não é o único modo de «restituição» nem o mais significativo. O equivalente simbólico mais próximo é «restituir» em termos generativos (generativo e generoso têm a mesma etimologia), dando, por sua vez, a vida e assumindo a responsabilidade de pôr no mundo uma nova geração. Dar a vida e tomar a seu cuidado uma nova geração é mesmo o modo mais apropriado de «restituir» à geração precedente. Situação paradoxal: respondemos ao débito que nos liga à geração anterior com um crédito em relação à geração seguinte. E os avós têm muito a ganhar com os netos, e estes com aqueles. Todos sabemos. Da família humana à grande família de Deus, passando pela família religiosa. Também por isso, a Bíblia é um livro de nascimentos e de transmissão: da vida e da fé e da graça. Vamo-nos hoje apercebendo de que o mundo em que estamos tem muitas dificuldades em transmitir a vida e a fé e a graça, a cháris, o carisma, que envolve a nossa vida pessoal e da nossa família humana, mas também a vida da Igreja, família de Deus, e das diferentes famílias religiosas. Talvez por isso, nos voltemos tanto para trás, e se fale tanto em voltar às origens, refundar. Mas o caminho a empreender não passará mais por gerar novos filhos na vida e na fé e no carisma? Parece-me que é esta a tarefa que todos temos pela frente, em casa, na Igreja, família de Deus, e nas famílias religiosas.

Missão: «restituição» para a frente

8. Impõe-se, portanto, não a preservação, a conservação, a autoconservação, mas a missão, que é a verdadeira «restituição» a Deus e aos irmãos. Já atrás nos ocupámos a verificar, em termos familiares, a impossibilidade de «restituir» a vida a quem no-la deu. O Salmista também se pergunta no que a Deus diz respeito: «Como «restituirei» ao Senhor por todos os seus benefícios que Ele me deu?» (Salmo 116,12). Sim, como «restituirei» ao Senhor o amor que há em mim? Como «restituiremos» ao Senhor o amor que há em nós? O Salmista responde: «O cálice da salvação erguerei, e o Nome do Senhor invocarei. Os meus votos ao Senhor cumprirei, diante de todo o seu povo» (Salmo 116,13-14). Sim, o Salmista sabe bem que não pode «restituir» diretamente a Deus, mas sabe também que pode sempre agradecer a Deus (restituição análoga), e, passando de mão em mão, em fraterna comunhão, o cálice da salvação, anunciar a todos que Deus atua em favor do seu povo, faz em nós grandes coisas, sendo este anúncio ação de evangelização ou generosa «restituição» generativa. É assim que, de forma empenhada, generosa e apaixonada, como testemunha S. Paulo, se vão gerando (1 Coríntios 4,15; Filémon 10) e dando à luz novos filhos (Gálatas 4,19).

 

9. Amados irmãos e irmãs, não nos é permitido, nesta encruzilhada da história, ficar quietos, desanimados, tristes e calados. Ou simplesmente entretidos, ensonados e descomprometidos, como crianças sentadas nas praças, que não ouvem, não ligam, não respondem (Mateus 11,16-17; Lucas 7,31-32). Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, todos estamos convocados. Ninguém se pode excluir, ou ficar simplesmente a assistir. São sempre necessários e bem-vindos mais corações, mais mentes, mais entranhas, mais braços, mais mãos, mais pés, mais irmãos. Uma Igreja renovada multiplica as pessoas que realizam serviços e acrescenta os ministérios. A nossa vida humana e cristã tem de permanecer ligada à alta tensão da corrente do Amor que vem de Deus. E temos de ser testemunhas fortes e credíveis de tanto e tão grande Por isso e para isso, podemos aprender a rezar a vida com o orante do Salmo 78:

«As coisas que nós ouvimos e conhecemos,

o que nos contaram os nossos pais,

não o esconderemos aos seus filhos,

contá-lo-emos à geração seguinte:

os louvores do Senhor e o seu poder,

e as suas maravilhas que Ele fez.

Ele firmou o seu testemunho em Jacob,

e a sua instrução pôs em Israel.

E ordenou aos nossos pais,

que os dessem a conhecer aos seus filhos,

para que o saibam as gerações seguintes,

os filhos que iriam nascer. 

Que se levantem e os contem aos seus filhos,

para que ponham em Deus a sua confiança,

não se esqueçam das obras do Senhor,

e guardem os seus mandamentos» (Salmo 78,3-7).

Amados irmãos e irmãs, há coisas que não podemos mais dizer sentados, que é como quem diz, assim-assim, de qualquer maneira ou de uma maneira qualquer. O Amor de Deus, que enche a nossa vida, tem de ser dito com a vida levantada, com um dizer grande, transbordante, contagiante e transformante, com razão, emoção, afeto e paixão. Retomo o dizer do orante e transmissor da fé: «Que se levantem e os contem aos seus filhos» (Salmo 78,6). Ou, de outra maneira: «Uma geração enaltece à outra as tuas obras» (Salmo 145,4). Ou como Maria: «A minha alma engrandece o Senhor» (Lucas 1,47).

Todos-para-todos

10. Para esta tarefa imensa da transmissão da fé e do amor e da vida verdadeira, vida em grande, convoco todos os diocesanos da nossa Diocese de Lamego: sacerdotes, diáconos, consagrados, consagradas, fiéis leigos, pais, mães, avôs, avós, famílias, jovens, crianças, catequistas, acólitos, leitores, agentes envolvidos na pastoral, membros dos movimentos de apostolado. A todos peço a graça de promoverem mais encontros de oração, reflexão, formação, partilha e amizade. Mais. Mais. Mais. A todos peço a dádiva de uma mão de mais amor às famílias desconstruídas e a todos os irmãos e irmãs que experimentam dificuldades e tristezas. Mais. Mais. Mais. A todos peço que experimentemos a alegria de sairmos mais de nós ao encontro de todos, para juntos celebrarmos o grande amor que Deus tem por nós e sentirmos a beleza da sua família toda reunida. Que cada um de nós sinta como sua primeira riqueza e dignidade a de ser filho de Deus. E para todos imploro de Deus a sua bênção, e de Maria a sua proteção carinhosa e maternal.

Santa Maria de um amor maior,

do tamanho do Menino que levas ao colo,

diante de ti me ajoelho e esmolo

a graça de um lar unido ao teu redor. 

Protege, Senhora, as nossas famílias,

todos os casais, os filhos e os pais,

e enche de alegria, mais e mais e mais,

todos os seus dias, manhãs, tardes, noites e vigílias. 

Vela, Senhora, por cada criança,

por cada mãe, por cada pai, por cada irmão,

a todos os velhinhos, Senhora, dá a mão,

e deixa em cada rosto um afago de esperança.

 

Lamego, 27 de setembro de 2014, Dia da Igreja Diocesana

+ António, vosso bispo e irmão

 

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