48. Exercitemos a gratidão para nos tornarmos mais humanos
Exercitemos a gratidão para nos tornarmos mais humanos, reconhecendo os outros, todos aqueles que contribuem, pouco ou muito, para que sejamos o que somos.
A gratidão coloca-nos num patamar que nos engrandece e promove saudavelmente os outros. Quem não sabe agradecer, também não sabe valorizar a história que herdou, ou a vida que floresce à sua volta.
No evangelho, a um dado momento, Jesus cura 10 leprosos. No final só regressa um para agradecer, louvando a Deus. É nesse contexto que Jesus fala da gratidão ou falta dela: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» (Lc 17, 17-18).
Obviamente, quando Jesus decide curá-los não está a pensar em Si mesmo, ou nos louvores que Lhe seriam retribuídos, mas tão somente quer a qualidade de vida que vai proporcionar àquelas pessoas. Mesmo que intuindo a ingratidão futura, Jesus não hesita e cura-os. Além do mais, não era um agradecimento tanto pessoal como de louvor e glorificação de Deus e pelas maravilhas operadas a favor de todo o povo.
A gratidão irmana com outra qualidade fundamental para a vivência solidária e inclusiva (de todos na sociedade que nos rodeia): a HUMILDADE. Diríamos que só uma pessoa verdadeiramente saberá da força purificadora e sublime da GRATIDÃO, pois só na humildade que nos reconhecemos como irmãos, só na humildade e gratidão reconhecemos o valor dos outros e dos seus gestos, a importância que têm na nossa vida e como nos fazem bem à saúde.
Quem não sabe agradecer não tem memória. Quem não tem memória vive ao sabor dos ventos, sem orientação, sem raízes, sem referências, sem história, sem família, de onde partir e onde regressar.
A ingratidão configura arrogância e prepotência. Aquele que se considera autosuficiente, sem necessidade de ninguém à sua volta, sabendo-se que a nossa comodidade de vida atual dependem de milhares pessoas do passado e do presente. Sem esses pessoas e o seu trabalho, engenho e arte, estaríamos na pré-história.
São conhecidas algumas expressões curiosas sobre a ingratidão: "cuspir no prato em que se come", "morder a mão daquele que nos alimenta", "pagar o amor com o desamor".
Mais uma vez, para lá da reflexão genérica, também hoje se pode adequar (e muito) à vida quotidiana e concreta.
A gratidão também se exercita.
Por vezes, tão habituados a tudo o que fazem por nós, que nem nos damos conta do quanto dependemos dos outros e o quanto estamos gratos ao seu esforço e dedicação. Agradecer a Deus a vida, o dia, as pessoas que Ele coloca cada dia à nossa beira. Seríamos selvagens se estivéssemos sós no mundo. Agradecer a quem nos faz a refeição, a quem nos abre a porta, a quem nos emprestou um lápis. O exercício da gratidão faz bem aos outros, mas também nos sabe bem.
A gratidão também nos salva.
Um obrigado/a é uma forma de reconhecer o outro, como pessoa, que existe, existe diante de mim e comigo, e o que ela fez/faz por mim constantemente. Estou-te (muito) grato/a por mais este gesto que me faz viver, me faz sentir vivo, que me lembra que o que faço também é importante, e também é importante para ti. A gratidão pode incluir aquele/a que vive para si, isoladamente.
Agradecer é reconhecer a grandeza do outro na minha vida, pois sem ele/ela não existia. Os meus pais, os meus irmãos, a pessoa que encontro ao longo do dia, o padeiro, o vendedor, o eletricista, o funcionário que me atende, aquele/a que me saúda pela tarde...
O desafio para hoje: exercitar a gratidão.
Por vezes é mais fácil pedir perdão, do que dizer obrigado/a. Diga-o muitas vezes, mesmo àquelas pessoas que têm a "obrigação" de o atender/servir. Vai-lhes valorizar o que fazem, por vezes de forma monótona e cansada, mas um obrigado e um sorriso, a acompanhar, é um lenitivo até para os mais cansados e desiludidos. E também assim educamos os que estão à nossa volta. Se não soubermos o valor de um "obrigado/a", poderemos não saber apreciar a beleza da vida que nos envolve...