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Escolhas & Percursos

...espaço de discussão, de formação, de cultura, de curiosidades, de interacção. Poderemos estar mais próximos. Deus seja a nossa Esperança e a nossa Alegria...

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17.02.12

48. Exercitemos a gratidão para nos tornarmos mais humanos

mpgpadre

Exercitemos a gratidão para nos tornarmos mais humanos, reconhecendo os outros, todos aqueles que contribuem, pouco ou muito, para que sejamos o que somos.

A gratidão coloca-nos num patamar que nos engrandece e promove saudavelmente os outros. Quem não sabe agradecer, também não sabe valorizar a história que herdou, ou a vida que floresce à sua volta.

No evangelho, a um dado momento, Jesus cura 10 leprosos. No final só regressa um para agradecer, louvando a Deus. É nesse contexto que Jesus fala da gratidão ou falta dela: «Não foram dez os que ficaram purificados? Onde estão os outros nove? 18Não houve quem voltasse para dar glória a Deus, senão este estrangeiro?» (Lc 17, 17-18).
Obviamente, quando Jesus decide curá-los não está a pensar em Si mesmo, ou nos louvores que Lhe seriam retribuídos, mas tão somente quer a qualidade de vida que vai proporcionar àquelas pessoas. Mesmo que intuindo a ingratidão futura, Jesus não hesita e cura-os. Além do mais, não era um agradecimento tanto pessoal como de louvor e glorificação de Deus e pelas maravilhas operadas a favor de todo o povo.

A gratidão irmana com outra qualidade fundamental para a vivência solidária e inclusiva (de todos na sociedade que nos rodeia): a HUMILDADE. Diríamos que só uma pessoa verdadeiramente saberá da força purificadora e sublime da GRATIDÃO, pois só na humildade que nos reconhecemos como irmãos, só na humildade e gratidão reconhecemos o valor dos outros e dos seus gestos, a importância que têm na nossa vida e como nos fazem bem à saúde.

Quem não sabe agradecer não tem memória. Quem não tem memória vive ao sabor dos ventos, sem orientação, sem raízes, sem referências, sem história, sem família, de onde partir e onde regressar.

A ingratidão configura arrogância e prepotência. Aquele que se considera autosuficiente, sem necessidade de ninguém à sua volta, sabendo-se que a nossa comodidade de vida atual dependem de milhares pessoas do passado e do presente. Sem esses pessoas e o seu trabalho, engenho e arte, estaríamos na pré-história.

São conhecidas algumas expressões curiosas sobre a ingratidão: "cuspir no prato em que se come", "morder a mão daquele que nos alimenta", "pagar o amor com o desamor".

Mais uma vez, para lá da reflexão genérica, também hoje se pode adequar (e muito) à vida quotidiana e concreta.
A gratidão também se exercita.
Por vezes, tão habituados a tudo o que fazem por nós, que nem nos damos conta do quanto dependemos dos outros e o quanto estamos gratos ao seu esforço e dedicação. Agradecer a Deus a vida, o dia, as pessoas que Ele coloca cada dia à nossa beira. Seríamos selvagens se estivéssemos sós no mundo. Agradecer a quem nos faz a refeição, a quem nos abre a porta, a quem nos emprestou um lápis. O exercício da gratidão faz bem aos outros, mas também nos sabe bem.

A gratidão também nos salva.
Um obrigado/a é uma forma de reconhecer o outro, como pessoa, que existe, existe diante de mim e comigo, e o que ela fez/faz por mim constantemente. Estou-te (muito) grato/a por mais este gesto que me faz viver, me faz sentir vivo, que me lembra que o que faço também é importante, e também é importante para ti. A gratidão pode incluir aquele/a que vive para si, isoladamente.
Agradecer é reconhecer a grandeza do outro na minha vida, pois sem ele/ela não existia. Os meus pais, os meus irmãos, a pessoa que encontro ao longo do dia, o padeiro, o vendedor, o eletricista, o funcionário que me atende, aquele/a que me saúda pela tarde...

O desafio para hoje: exercitar a gratidão.
Por vezes é mais fácil pedir perdão, do que dizer obrigado/a. Diga-o muitas vezes, mesmo àquelas pessoas que têm a "obrigação" de o atender/servir. Vai-lhes valorizar o que fazem, por vezes de forma monótona e cansada, mas um obrigado e um sorriso, a acompanhar, é um lenitivo até para os mais cansados e desiludidos. E também assim educamos os que estão à nossa volta. Se não soubermos o valor de um "obrigado/a", poderemos não saber apreciar a beleza da vida que nos envolve...

16.02.12

47. Olhar para o mundo, para as coisas e sobretudo para os outros com o olhar de Deus

mpgpadre

Olhar para o mundo, para as coisas e sobretudo para os outros com o olhar de Deus.
Como nos lembrava o poeta português, Fernando Pessoa, se olharmos para os outros com o olhar meigo e puro de Deus, os nossos juízos de valor e as nossas descobertas serão diferentes. Voltamos à perspetiva de ontem: encontramos nos outros o que procuramos, ou seja, o nosso olhar sobre os outros é decisivo. Não é o que ele é, mas o que eu vejo, ou como vejo. A mesma pessoa pode ser vista de maneira diferente, pela mesma pessoa em ocasiões diferentes, ou com disposições diferentes, ou ser vista de maneira diferente por duas pessoas diferentes. O nosso olhar, e tudo o que está por detrás deste nosso olhar, é que nos define quem é o outro. Pode ser criminoso e podemos conseguir ver uma pessoa humana, sensível, amável. Pode ser um santo e nós vermos nessa santidade apenas farsa, cinismo.

Precisamos de nos olhar nos olhos, olhos nos olhos, face a face, rosto que irrompe pela nossa vida, e que nos interpela, nos desafia.
Precisamos do olhar do outro para nos sentirmos gente.
Os outros precisam do nosso olhar para se sentirem gente.
Há olhares que salvam, que protegem, que envolvem, que desafiam, que promovem, que resgatam, que elevam, que nos orientam para o futuro, para Deus.
Há um pequeno vídeo que está disponível na internet sobre uma criança que chora, esperneia, porque os pais (ou algum outro familiar), o estão a ver. Logo que o seu campo de visão deixa de ver os familiares, ele cala-se, levanta-se, à procura deles. Logo que volta a vê-los deita-se ao chão e começa a fazer fitas.
Diz bem da realidade.
Precisamos de ver e de ser vistos. Ou traduzindo: precisamos de amar e ser amados e de nos sentirmos amados/olhados.

Se alguém já teve contacto com as galinhas, sucede um pouco como nas pessoas. A galinha põe o ovo, e fica a cacarejar até que o/a dono/a vai ao seu encontro e tira o ovo do galinheiro, a galinha sossega, pois viu aquele que o alimenta.

"Todos buscamos nos olhos do outro a evidência de que existimos, a certeza de que sabemos amar, de que somos capazes de relações verdadeiras, a garantia de que temos valor para alguém, de que merecemos atenção, interesse, talvez amor. Quem, pelo contrário, está sozinho é levado até a duvidar de si mesmo" (ERMES RONCHI, Os Beijos não dados. Tu és a Beleza. A amizade é a mais importante viagem. Paulinas 2012.)

No Evangelho sobressai, em muitas ocasiões, o olhar de Jesus, que acolhe, que perdoa, que desafia, que salva. Olha para a multidão, olha em redor, fita o seu olhar, deste e daquele. Olha para Pedro no momento da negação. Olhar para Judas. Pedro acolhe o olhar do Mestre e arrepende-se. Judas foge ao olhar de Jesus, não por falta de confiança no amor e no perdão do Mestre, mas por vergonha, deixa que esta seja mais forte que o olhar de Jesus.
Jesus olha para Sua Mãe, nas Bodas de Canaã e no alto da Cruz: viu a Sua Mãe e ao pé dela viu o discípulo amado.
Olha para Zaqueu e nesse olhar dá-se o encontro redentor. Zaqueu sente-se visto por Jesus e converte a sua vida.
Há olhares que matam.
Há olhares que salvam.
Há olhares que perdoam e transformam a vida.
Jesus olha para a mulher adúltera, mas também para aqueles que a queriam condenar. É um olhar de ternura, de compreensão, de redenção. Vai e não voltes a pecar.
Jesus olha para o alto, para Deus, constantemente, de onde Lhe vem a força e o alimento. E depois olha com o olhar do Pai para cada pessoa que se cruza no seu caminho. Procuremos que o nosso olhar seja purificado com o olhar de Deus, para nos reconhecermos como irmãos.

Célebre aquela página em que Jesus convida a equilibrar o nosso olhar: "Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão, e não vês a trave que está na tua vista?" (Mt 7,3).

 

Faz lembrar uma pequena estória: uma vaca que só comia trevos de quatro folhas, para dar sorte. O dono procurava por todo o lado, sabendo da mania da sua vaca. Mas precisava dela para dar leite, e depois para vender por um bom preço. Pensou, pensou, pensou, pensou. Comprou uns óculos para a vaca e neles pintou um trevo de quatro folhas. A partir de então a vaca só via trevos de quatro folhas e comia regalada. Muitas vezes a realidade que nos circunda é valorizada conforme o nosso olhar, depende dos óculos que usamos. De nosso, olhar com o olhar de Deus.

Há olhares que salvam.
Há olhares que matam.
Olhar envergonhado, olhar maldoso, olhar perverso e manhoso, olhar desconfiado, olhar cínico.
Olhar de desafio e de compaixão. Olhar de ternura, da mãe para o filho e dos filhos para os pais.
Olhar apaixonado e fresco de namorados e o olhar cansado, que se desvia e esconde, de tantos relacionamentos que a falta de atenção, de diálogo e de compreensão, mortificaram.
Há olhares de sofrimento, na dor da perda e do desencanto da vida e de tantos desencontros.
Há olhares que acolhem, serenos, meigos, atentos, vigilantes, envolventes.
E há olhares gastos pelo tempo e pelas agruras da vida.
Há olhares que se escondem, como diria a Mafalda Veiga, para não ver, para não vermos o que um dia havemos de ser, e passa ao lado...
Há olhares de gratidão e olhares de traição.
Há olhares que salvam.
Há olhares que matam.
E destroem, aniquilam, escravizam, humilham.
Os olhos são o que são as almas e as pessoas. Também aqui, a parte vale pelo todo, o olhar, mas sobretudo a pessoa que olha.

Há olhares que salvam, resgatam, puxam para a realidade.
E no olhar de outro(s) me encontro, descubro, "crio" a minha identidade. Não somos ilhas. Precisamos que nos vejam e nos descubram. Precisamos de retribuir o olhar, e também dessa forma nos sentimos vivos. Somos nós, porque estamos perante os outros e perante Deus. Como seria se não houvesse mais ninguém para nos ver? Morreríamos, ou deixávamos de ser humanos.

Há olhares de perdão e de súplica (pedindo ajuda, ou pedindo perdão).
Há olhares esfomeados/famintos. Há olhares melancólicos e olhares sem vida, sem expressão.

O olhar do outro pode ser a minha casa. Relembramos o filósofo francês, E. Levinas, o rosto, onde se encontra o olhar, é essencial, o face a face, um diante do outro. Estar diante do outro, ou o outro diante de mim, em que o rosto, o olhar se torna reconhecimento, apelo, desafio. No olhar o mandamento: não matarás. O outro vem até mim. No olhar do outro posso encontrar-me no melhor que sou, ou no que em mim há de negro. O olhar do outro potencia o que eu sou e o que eu faço. Ainda, do mesmo jeito, dependa muito do meu olhar, como me deixo olhar, como vejo os outros, como me vejo a mim.

E muito mais se pode dizer do olhar.
Que o nosso seja, como o de Jesus, ou como o de Maria, um olhar que resgata, que acolhe, que observa atentamente as necessidades do outro, e que salva.

15.02.12

46. Quem procura encontra.

mpgpadre
Quem procura encontra.

Se cruzar os braços à espera que lhe cai do céu o que deseja, corre o sério risco de ver passar navios. Ou como quem diz, “fia-te na Virgem e não corras”. Neste caso, num sentido um pouco diferente daquele que queremos refletir hoje. Rezar para que Nossa Senhora acuda num teste, ou pedir para ganhar o euro milhões mas sem preencher o boletim de apostas, ou numa qualquer provação, mas sem mexer um dedo para tentar resolver.

 

«Digo-vos, pois: Pedi e ser-vos-á dado; procurai e achareis; batei e abrir-se-vos-á; porque todo aquele que pede, recebe; quem procura, encontra, e ao que bate, abrir-se-á. Qual o pai de entre vós que, se o filho lhe pedir pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir um peixe, lhe dará uma serpente? Ou, se lhe pedir um ovo, lhe dará um escorpião? Pois se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que lho pedem!» (Lc 11, 9-13; cf. Mt 7, 7-11).

 

Em muitas situações da vida, só se encontra o que se procura e quando se procura. Muitas vezes, e acontece-nos a todos, por preguiça, por falta de confiança (insegurança), por cansaço, desistimos mesmo antes de procurar. Situações que se revolveriam facilmente, bastava uma palavra, um gesto, um olhar, mas por medo e/ou acanhamento não se tomou a iniciativa. E tudo ficou igual. Ou piorou.

Há uma expressão muito certeira quando solicitámos algo a alguém: o não está sempre certo, vamos tentar o sim. Não temos nada a perder e podemos ganhar – sublinho que no relacionamento humano, e em situações de voluntariado, ou de afetividade, os termos perder e ganhar não são muito ajustáveis, pois não se trata de ganhar ou perder, mas de avançar partilhando e enriquecendo-se mutuamente, ou não.

 

Na reflexão de ontem falámos na direção, ou melhor, na orientação, no sentido da nossa vida. Saber para onde se caminha, para que valha a pena pôr-se a caminho. Ter alguns objetivos, metas, tarefas, por mais pequenas que sejam, para cada dia ou semana, ou mês, para que nos sintamos úteis. Num sentido similar, diríamos, que a procura precisa de ter alguns objetivos, por mais pequenos que sejam, alguma orientação.

Num sentido de fé – voltemos a ler to texto do Evangelho – a procura é antes de mais de Deus. Procurámo-l’O para o encontrar, numa busca sem fim, num encontro sempre novo. Parafraseando Santo Agostinho, procuremo-l'O até o encontrar, e depois de O encontrar, continuemos a procurá-l'O… O mistério de Deus quanto mais se desvela para nós, tanto mais se esconde. É mistério, não é segredo, pois este quando revelado deixa de o ser.

 

A expressão contudo aplica-se ao nosso dia a dia. A procura tem também o sentido do aperfeiçoamento, ou da santidade (na vida do cristão). Procuramos que a nossa vida seja melhor, tenha mais utilidade, procuramos aproveitar melhor o tempo, valorizar as pessoas que Deus coloca à nossa beira, desenvolver as nossas capacidades, fazendo render os nossos talentos e os nossos dons.

Nem sempre a vida é fácil. Também a beleza da rosa é protegida pelos espinhos. Para alguns é mais difícil, pela situação familiar, pela situação profissional, ou por alguma predisposição genética e/ou educacional. Mas a desistência só tem sentido quando se tentou, e tentou, e tentou, quando claramente não é humanamente realizável.

Damos um exemplo: não vou pôr-me a procurar ouro no areal (não sou geólogo), mas creio que a areia não é o sítio mais indicado. Posso procurar vezes sem conta, estarei a procurar onde não é humanamente possível encontrar. (A não ser que haja ouro já trabalhado e que alguém tenha perdido).

Por vezes é preciso escavar fundo da alma, para encontrarmos um sentido para situações que não compreendemos de imediato, outras vezes é necessário escavar o nosso coração para compreendermos o mal que alguém nos fez, ou para aceitarmos esta e aquela pessoa que nos prejudicaram, disseram mal de nós, puseram em causa a nossa honra. Escavar como quem procura metais preciosos, o que exige sacrifício, suor, trabalhos, e por vezes sem compensação. Mas na vida, o caminho feito conta tanto ou mais do que a meta onde se chegou. Aliás, a meta só será alcançável se se fizer ao caminho. Qual mulher grávida que suporta todo o desconforto por um bem que apagará, fará quase esquecer toda a dor, todo o sofrimento, por vezes, a antecipação do parto não faz desaparecer a dor mas justifica-a, apazigua a ansiedade. Qual Miguel Ângelo que da pedra tosca, depois de muito trabalho, suor e sacrifício, nos dava a beleza e perfeição da estátua de Moisés ou de David…

 

Outro aspeto concreto, difrente, mas ilustrativo, é quando procuramos determinada qualidade ou defeito no outro, seja uma pessoa que nos é mais próxima, seja em alguém que acabamos de conhecer, seja uma pessoa de quem gostemos ou por quem tenhamos simpatia/empatia, seja uma pessoa de quem não gostamos tanto, ou que nos provoca mal estar, sempre encontraremos. Se procuramos uma qualidade ou qualidades, facilmente encontramos. Se procurarmos um defeito ou defeitos, facilmente enontramos. Em algum momento já fizemos essa experiência, encontrarmos na pessoa o que procuramos (e não estamos a falar em nenhuma situação em particular, mas em quase todas as situações... salvem-se as excepções.

Procuremos, então, nos outro(s) e de preferência as qualidades...

 

Não cessemos de procurar… podemos até não encontrar… ou não encontrar no tempo que desejaríamos… mas valerá a pena o sonho, o caminho feito… e cada jornada só tem sentido no final se houver um início, e se houver caminhada… Aquele que perseverar será salvo… (cf. Mt 24, 13)

14.02.12

45. Desafio para hoje: encontrar o NORTE da minha vida.

mpgpadre

Desafio para hoje: encontrar o NORTE da minha vida.
Não a direção, mas o sentido da minha existência.
É mais fácil caminhar quando sabemos para onde vamos.
Quando não sabemos o destino, tudo se torna muito complicado, andamos às voltas, às voltas, às voltas, numa indecisão permanente.

Para se traçar uma linha (mais ou menos) direita, com o giz, num quadro preto (ou num quadro branco, com o respetivo marcador), sem uma régua, olha-se na direção, para o ponto onde a linha vai terminar... os olhos não seguem a mão, a mão e os dedos seguem para o ponto que se fixou com olhar... pode experimentar. Já experimentei. Traçando a linha, a olhar para o giz e para as mãos, lá vai oscilando, ora para cima, ora para baixo. Fixando o ponto final, a linha segue muito direita, mantendo a confiança...

Uma pequena estória:

Era uma vez um Cavalo-marinho que juntou sete libras de ouro e foi à aventura pelo mundo fora.
       Pouco depois de partir encontrou uma Enguia que lhe perguntou:
       – Eh! Pá! Onde vais?
       – Vou cm busca de aventuras – respondeu orgulhosamente o Cavalo-marinho.
       – Tens sorte – disse a Enguia – dá-me quatro libras e eu dou-te uma barbatana, de modo que chegarás muito mais depressa.
       – Obrigadinho, é esplêndido – disse o Cavalo-marinho; pagou-lhe, montou na barbatana e desapareceu com o dobro da velocidade.
       Em breve encontrou uma Esponja que lhe disse:
       – Eh! Pá! Onde vais?
       – Em busca de aventuras – replicou o Cavalo-marinho.
       – Tens sorte – disse a Esponja – por pouco dinheiro dou-te esta mota a jacto e tu viajarás muito mais depressa.
       Assim o Cavalo-marinho comprou a mota com o restante dinheiro e atravessou os mares cinco vezes mais depressa.
       Em breve encontrou um Tubarão que lhe disse:
       – Eh! Pá! Onde vais?
       – Em busca de aventuras – replicou o Cavalo-marinho.
       – Tens sorte; se tomares este atalho – disse o Tubarão apontando a sua boca aberta – pouparás imenso tempo. – Obrigadinho – disse o Cavalo-marinho e enfiou rapidamente na boca do Tubarão sendo prontamente devorado.

Certamente que o desfecho se advinha. Também nós podemos ser devorados pelo tempo, pela história, por algumas pessoas que encontramos no nosso caminho, se não soubermos para onde vamos.

É célebre a frase do célebre Séneca: "Não há ventos favoráveis para quem não sabe para onde vai" ou "Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável". As ondas batem de um e outro lado, o vento pode tomar várias direções, e arrastará o barco também nas mais variadas direções, até chegar a um destino incerto, ou até mesmo naufragar. Poderíamos voltar àquele ponto em que refletimos na necessidade de sermos contracorrente, se for preciso, para chegarmos onde queremos ir.

Como é que os MAGOS conseguiram encontrar Jesus, na gruta/parte baixa da casa, lá em Belém? Deixaram-se conduzir por uma Estrela. Não uma qualquer estrela, desconhecida, mas aquela Estrela luminosa... Sabiam para onde queriam ir, sabiam aonde seriam conduzidos se seguissem aquela ESTRELA. No regresso às suas vidas, voltaram por outro caminho, guiados pela LUZ que irradiou do presépio.

A fadista de Portugal, Amália Rodrigues, canta com toda a força da voz: "De que adianta correr se não sabes para onde vais?"
É que se não sabemos para onde vamos, nem sequer vale meter-nos ao caminho, porque não sabemos que caminho tomar.

Em todas as dimensões da vida, são necessárias metas, objetivos, finalidades. Vamos realizar isto ou aquilo por algum motivo, para determinado fim, para atingir este ou aquele fim.

Como cristão, o nosso NORTE há de ser, sempre, JESUS CRISTO. É por Ele que vamos, é para Ele que caminhamos. É d'Ele que partimos. É com Ele que nos fazemos à estrada.
Há que ter uma linha orientadora na nossa vida. Em último caso, e o primeiro dos grandes objetivos: a felicidade. Não como um fim final, mas saboreando-a a caminhar.
No nosso dia a dia pode ajudar-nos termos pequenos objetivos a que nos propomos cada semana, ou cada dia. Sem dramatismos. Na vida tem de haver lugar para a espontaneidade, para a surpresa, para a festa. Estas terão muito mais valor, serão mais envolventes, se o nosso dia tem algumas coisas planeadas. O melhor improviso é aquele que se prepara. É conhecida a expressão do Presidente do Conselho, para o seu secretário, pedindo-lhe o discurso: "passa-me aí o improviso".
A vida é imprevisível. Ainda assim com um NORTE que nos leva a dar sentido a tudo o que fazemos. Diríamos mesmo que para haver festa é necessário a féria, os dias comuns,...

Não deixe(s) que outros guiem a sua/tua vida. Não se/te deixe(s) arrastar pela leve aragem. Não vá(s) sempre pelo que os outros dizem, veja/vê se o que dizem se ajusta à sua/tua vida, às suas/tuas convicções profundas... na expressão popular não seja(s) "maria vai com todos"...

13.02.12

44. Exercício: olhar a vida a partir do fim.

mpgpadre

Exercício: olhar a vida a partir do fim.

Talvez não do inverso, mas a partir do fim.

É uma tarefa complexa. O futuro a Deus pertence. Podemos vislumbrar o dia de amanhã, com a incerteza, o mistério e a surpresa que é sempre o futuro, mas a nossa vida daqui a 10 anos, ou daqui a 20, 30, 40 anos, a partir da nossa morte, do nosso fim biológico/terrenos (ou mesmo a partir da eternidade de Deus) torna-se uma tarefa árdua, mas não deixa de ser um desafio provocatório.

Um dos retiros do Seminário, não sei especificar o ano, nas férias de Carnaval, na Casa de São José, em Lamego, naquela casa gélida, aquecida pelas pessoas que aí trabalhavam (e trabalham), foi orientado pelo então Pe. João Evangelista Salvador, sacerdote da Diocese de Coimbra e atualmente Bispo Auxiliar do Porto.
Quando nos testemunhava o dom da sua vocação, as dúvidas e incertezas, e o que o levou em definitivo a avançar (espero que a memória não me tenha atraiçoado, foi seguramente há mais 14 anos), terá conversado com um irmão que o convidou a ver-se no futuro e a olhar a vida desde o fim. O mesmo exercício nos foi proposto. Chegado ao fim da vida, ao olhar para trás, o que gostaria de ter sido, o que gostaria de ter feito, que escolhas teria realizado. Ver-se a partir de Deus, do Definitivo, do Eterno, olhar através dos olhos de Deus, para toda a vida passada (ainda por viver). Chegou à conclusão, vendo a partir do fim, que gostava de viver numa lógica de Infinito, as realidades últimas. Todas as escolhas humanas são dignas, cada pessoa há de seguir o caminho que mais o aproxima de Deus. Ele sentiu que a vida que mais o colocava nas realidades últimas, era a opção pelo sacerdócio ordenado.

Há um santo que, São Francisco de Borja, que acompanhou o corpo de D. Isabel de Portugal, para a sepultura real, em Granada. Sabia que a rainha era adulada por uma beleza era inigualável, mas na morte, diante do cadáver, já em decomposição, ficou chocado com algo comum a todos as pessoas: a degradação física e a fealdade da morte biológica. Decidiu "não servir nunca mais a um senhor que pudesse morrer". Viria a tornar-se santo. Aquele que viria a ser São Francisco de Borja, olhou a vida a partir do fim, neste caso, o fim terreno e mortal da Imperatriz Isabel.

Em ocasiões em que nos deparámos com a morte de alguém, ouvimos os mais variados comentário sobre o falecido que ora já não se pode defender com as mesmas armas dos vivos: "nem aproveitou...", "trabalhou como um mouro, nem gozou", "trabalhou, deixa cá tudo, a outros que nada fizeram", "tanta coisa, e no fim...", "para quê tantas chatices, se todos morremos", "de que lhe valeu todo o trabalho"... É de alguma forma a visão bíblica de Qohélet (Eclesiastes) e de Job, tudo é vão, a não ser que Deus garanta, ainda que no fim, a justiça e o futuro... Outras expressões, quando as pessoas envelhecem (pode não ser cronologicamente), são igualmente ilustrativas: "se eu soubesse...", "como estou represo... enganou-me bem, bem me avisaram mas não quis ouvir". Ou em situações de debilidade em que se reconhece a atenção dada a um ou outra pessoa, e a quem se doaram bens, mas quando a doença aperta são outros que cuidam...

A nossa vida é imprevisível. Mas este exercício pode ajudar-nos a não embarcar em euforias desmedidas nem a nos deixarmos abater perante as maiores adversidades. Tentar olhar a vida a partir do fim, olhar para nós como se tivéssemos mais 5, 20 ou 30 anos, e tentar olhar para este entretanto que medeia o hoje que vivemos, o amanhã que chegará (se Deus quiser), e os anos que aproveitámos ou desperdiçamos! Se víssemos a vida pelo fim, a partir da morte, ou como crentes, a partir da eternidade de Deus, será que valorizaríamos todas as coisas da mesma forma como o fazemos hoje? Será que dispúnhamos do tempo da mesma maneira? Olhando para trás, o que faríamos de diferente? Alguns dizem nada, como se isso fosse concretizável. Se olharmos para o passado, sem dramatismo nem falsa nostalgia, haveria sempre alguma coisa que faríamos de outro modo, ainda que em linhas gerais seguíssemos um caminho muito idêntico. Para não mudar nada no passado, teríamos que ter sido perfeitos, isto é, deuses.

Tentar colocar-nos no fim é um exercício similar a tentar colocar-nos no lugar do outro. Não é fácil. Mas devemos fazê-lo. Ajuda-nos a compreender, a aceitar as nossas limitações, como as limitações dos outros - por vezes são o espelho das minhas/nossas fraquezas.
Do mesmo modo, olhar a vida a partir da morte, ou melhor, como crentes, a partir da vida em plenitude, em Deus, levar-nos-á a relativizar quer os sucessos quer os insucessos, sabendo que a plenitude virá no fim, ainda que a devamos testemunhar desde já, ao jeito de Jesus Cristo. Para um não crente, ou descrente, em todo o caso, olhando para trás, como se estivesse no fim, como gostaria de ser recordado, ou gostaria de ser recordado?

Como me vejo daqui a 10 anos, o que terei feito da minha vida? Quais as pessoas que continuarão a ser fundamentais? Quais as pessoas que acha estarão a seu lado nos anos de vacas magras?

Não se trata de fazer futurologia, mas de olhar para o amanhã profeticamente, para viver hoje com mais intensidade (e com mais descontração - hoje estamos, amanhã só Deus sabe). No fim, poderemos rever a nossa vida toda, para trás, mas não a podemos reviver, não poderemos apagar os desvios, como não podemos festejar o bem realizado. No fim, para os cristãos, haverá tempo para a esperança e para o louvor. E a haver arrependimento pelo mal feito (feito está), ou pelas omissões, nada mais poderei fazer a não ser como desafio para outros...

Olhando a minha, a tua, a nossa vida, a partir do fim, que mudanças faríamos hoje? Colocada a questão de uma forma mais urgente: e se eu morresse hoje, amanhã, daqui a uma semana, o que valeria a pena ainda realizar?

12.02.12

43. F A M Í L I A

mpgpadre

Família.

O Domingo, para os cristãos, como o Sábado para os judeus, é o dia do Senhor, do descanso, dia da oração comunitária, da Eucaristia, da festa, é o dia do encontro e da partilha, é o dia da família.

Os judeus, ao Sábado, iam à Sinagoga, rezar, escutar a Palavra de Deus, refletir sobre a Palavra de Deus e depois reuniam-se em família para a festa da páscoa. Em cada Sábado a comemoração semanal, em que se recordavam as maravilhas realizadas por Deus e favor do seu povo, e que eram transmitidas de geração em geração, através das famílias. A família tem um papel preponderante no mundo judaico.

O cristianismo, da mesma forma, celebra de forma solene a Páscoa cada ano, mas ao Domingo, na celebração da Eucaristia faz presente a Páscoa de Jesus. Com efeito, a Eucaristia é memorial da Paixão redentora de Jesus, sobretudo memorial da Ressurreição. Também para os cristãos o Domingo se tornou o dia da Família. Seria bom que este hábito não se perdesse, pois é uma bênção que aproxima, que fortalece, que dá vida nova, que segura, que ampara, que protege, que envia. Famílias que vivem numa dinâmica de partilha, de afeto, de encontro, de festa, estarão mais preparadas para "criarem" homens e mulheres saudáveis, com segurança e com valores para hoje e para amanha.

 

F - Felicidade, Fortalecimento, Filiação, Fraternidade, Força, Firmeza.

A - Amor, Amizade, Âncora, Agradecimento, Apoio, Amparo.

M - Mesa comum, Memória/memorial, Mensagem, Mimetismo, Música do coração.

I - Inteligência, Imaginação, Ideal, Idioma, Interior, Inspiração.

L - Ligação, Laços, Liberdade/livres, Labuta/Lavor, Louvor, Lembrança.

I - Investimento, Interpessoal, Incorporação, Iniciação, Instinto (sobrevivência)

A - Acolhimento, Alimento, Abraço/Amplexo, Ajuda, Advir, Alegria.

 

Escolhemos algumas palavras para caracterizar o acróstico FAMÍLIA. Algumas são muito próximas, mas todas elas ajudam a perceber melhor o papel e a importância da família nas nossas vidas, e na sociedade do nosso tempo.

A família permite-nos a ligação ao mundo, é ponto de apoio, de descoberto, é na família que nasce e se desenvolvem os valores e se aprende a interagir com os outros; a família é um apoio, um esteio que protege, que ampara, ajuda, apoia, é uma âncora que nos mantém à tona, que não nos deixa ir ao fundo; é na família que se comunica a vida e a história; a família é a nossa melhor inspiração, o nosso descanso, o nosso calor, a família é a nossa casa, o porto de abrigo, no nosso refúgio, a nossa barca. A família é o lugar da descoberta, da aprendizagem, da mensagem de vida, de respeito, de dignidade. É com a família que aprendemos a vida, a ler o que nos rodeia e nos tornamos livres, para voar, porque temos um poiso, temos onde regressar. A família que nos acolhe, nos ama, nos lança, nos inspira. A família continua a ser o melhor investimento e a melhor herança da sociedade. Com a família aprendemos a partilhar, a amar, a confiar; em família aprendemos a partilhar as alegrias e a condividir das tristezas. Não estamos sós. E sabermos que temos alguém a nosso lado já é força suficiente para nos soerguermos e caminharmos. Temos alguém que nos dá a mão e a quem podemos estender/dar a mão. É o nosso amparo. É ajuda e advir, sossega-nos e garante o nosso amanhã, num abraço que nos estreita, coração a coração, nos alimenta e nos alegra.

 

Não somos ilhas. O ser humano é o animal mais dependente. Se calhar por isso... Deus coloca-nos uns com os outros, para nos protegermos mutuamente... Uma pessoa sem família, sem casa, sem este lugar de conforto, é como semente e cai e cresce em terra pedregosa, entre espinhos, como diz Jesus no Evangelho, que floresce em beleza, mas sem raízes que a segurem e que a alimentem pelo tempo fora. Quando chegarem as primeiras chuvas e ventanias logo é arrancada e perde-se... ou quando chegar o sol do meio-dia e o calor, porque não tem raízes que a alimentem logo morre, seca, desaparece...

Uma pessoa sem família, sem referência, sem raízes, sem substrato, sem alimento, logo que chegam as adversidades, quebra e dificilmente se levantará, a não ser que encontrem família, apoio, um lugar de refúgio e conforto. É na família que primeiramente se equilibram os sentimentos e a própria vida.

Por outro lado, também nos momentos de bonança, a pessoa precisa da família (ou de quem a substitua). Não se faz festa sozinho, não tem sabor nem sentido. Pode haver contentamento (passageiro) mas não alegria que acalenta. Precisamos de alguém com quem apreciar as coisas boas que a vida nos proporciona, alguém com quem partilhar e em quem sabemos poder confiar os nossos medos, inseguranças, os nossos defeitos e as nossas qualidades. Na família, estamos despidos (de todo o preconceito, de todas as imagens que por vezes elaboramos para nos protegermos dos outros ou para dos outros obtermos o reconhecimento).

Precisamos uns dos outros, muito mais da família, para saborear, para mastigar os momentos belos da nossa existência, e para que nos momentos de dor de desilusão termos alguém que nos deita a mão e não nos deixa naufragar. Precisamos de alguém que seja casa para nós, que nos protege, nos ampara e nos conforta, dando-nos força para levantar. Do mesmo modo, em sentido contrário, como família nos tornamos apoio, conforto, segurança, almofada, força para os nossos irmãos, pais... A família é a nossa casa mais luxuosa. Não existe casa mais nobre do que a casa do amor, do afeto, da família.

Como cristãos, e por maioria de razão, podemos e devemos fazer da comunidade a nossa família e a nossa casa, sem descurar a família primeira, que também é a primeira igreja, a igreja doméstica. A comunidade eclesial há de ser família enquanto ajuda a crescer, protege, ampara, ensina, guia, comunica a vida, permite-nos partilhar e festejar as nossas alegrias, e amaciar, tornando oração, a nossa dor e o nosso sofrimento.

 

Nem  todos têm família, e nem todos a têm para sempre, e nem todos a têm como lugar de conforto, de beleza, de amor... mas se a temos, valorizemos cada momento. Se é nosso hábito encontrar-nos, continuemos a fazê-lo não por obrigação ou pressão, mas com alegria, em festa. Aproveitemos, é o tempo favorável. Se não temos hábitos que nos façam sentar no mesmo espaço, à volta da mesma mesa, e a partilhar, façamo-lo, quanto antes...

11.02.12

42. Se quiserdes que os vossos filhos comam sopa, comei vós primeiro.

mpgpadre

Se quiserdes que os vossos filhos comam sopa, comei vós primeiro.

Dai conselhos, mas dai sobretudo exemplo.
O nosso tempo precisa não tanto de mestres, mas de testemunhas, ou de mestres que sejam testemunhos, como propunha o Papa Paulo VI.
Mostra-me a tua fé sem obras, que eu pelas obras te mostrarei a minha fé. A fé sem obras é morta (São Tiago).

Obviamente ninguém discute a importância das palavras para a comunicação entre pessoas e entre povos. Mais do que palavras, a linguagem que nos aproxima (ou nos distancia) dos outros. A linguagem humana é bem mais rica do que as palavras, a linguagem corporal, a linguagem do amor - esta é a linguagem mais sublime, mais percetível, comum a todas as civilizações.

As palavras acompanham os gestos. Há gestos que falam por si mesmos e há gestos que são tornados explícitos pelas palavras, ou pela expressividade da linguagem humana.

O Papa Paulo VI, secundado por João Paulo II, por Bento XVI e por muito boa gente, que as palavras movem, mas os testemunhos arrastam. O nosso tempo tem necessidade de mestres, mas sobretudo tem necessidade de testemunhos, ou mestres que sejam testemunhos vivos, e que ilustrem com a vida o que propõem com palavras e ensinamentos.

Lembrava hoje, no Seminário Menor de Resende, na festa da Padroeira - Nossa Senhora de Lurdes -, o nosso Bispo, D. António Couto, que os que mais transformaram a sociedade, o mundo, foram os santos.

O primeiro exemplo que apresentamos é muito sugestivo. Claro, como em todos os exemplos, há exceções e podem desviar a atenção da mensagem. Vejamos: a sopa faz parte da dieta portuguesa, e é considerada essencial para a saúde. Assim, os pais habituam/obrigam os filhos a comer a sopa até mesmo contra vontade sabendo que lhes faz bem. Mas não a comem... já crescemos, já não precisamos... e há filhos que fazem um sacrifício do outro mundo e, a acrescentar a isso, vão percebendo que o que lhes dão não serve para os pais, e nem tampouco para o filhos mais velhos se eles existem. E veja-se como as mães e os pais, quando estão a alimentar os filhos e eles se recusam a comer, o que fazem?, metem uma colherada à própria boca, expressando grande satisfação. E o que é certo, muitas vezes resulta. Claro que há pais que não comem e não gostam de sopa, e filhos que quase só querem a sopa; e há pais que gostam muito de sopa, e não a dispensam, e filhos que só à força conseguem engolir algumas colheradas.

Deixemos o exemplo e voltemo-nos para a vida. Os exemplos arrastam, são mais ilustrativos, percebemo-los melhor e mais facilmente, são mais eloquentes, envolvem-nos, guiam-nos. Somos miméticos. Desde cedo imitamos sobretudo o que vemos, os gestos, o timbre a voz - como é fácil confundir dois irmãos, ou pai e filho ou mãe e filha, quando os ouvimos ao telefone. Facilmente confundimos. O timbre e a inflexão da voz são muitos próximos. Ah, e como os filhos ou os mais novos, facilmente aprende às palavras dos pais, dos mais velhos, mesmo aquelas palavras e expressões que não eram para aprender...

Sabendo das nossas fragilidades, não cessemos de procurar a coerência de vida, o caminho da santidade, aspirando à perfeição, passando progressivamente do possível ao ideal, pelo menos, ao alcançável. Ilustremos as nossas palavras e os nossos ensinamentos, com a nossa vida, com as nossas vivências. Numa aula de Educação Física, o professor procura mostrar como se faz um exercício novo, mas antes de pôr os alunos a realizá-lo faz ele, ou pede a um aluno mais "flexível" para fazer o exercício e assim mais facilmente se ensina, ilustrando... fazendo primeiro, vivendo...

É assim que Jesus ensina os seus discípulos. Vão e veem, escutam, olham, caminham com Ele, acompanham-n'O, observam os seus gestos, a sua postura. Por sua vez, Jesus ensina com autoridade, exemplificando com o acolhimento, compreensão, perdão, amor, cura, chamamento, envio...
Somos discípulos... até ao fim dos nossos dias... estamos sempre a aprender, e a errar, e a caminhar... mas lembremo-nos que no nosso relacionamento com os demais o essencial não é comunicar mensagens, mas comunicarmo-nos,...

10.02.12

41. OUVIR, FALAR, AMAR.

mpgpadre

OUVIR, FALAR, AMAR.

A Compreensão é a única força de mudança.

Hoje partimos do título de um livro da conhecida jornalista e escritora Laurinda Alves, à conversa com o Pe. Alberto Brito, sacerdote jesuíta (sj), edição da Oficina do Livro. É um dos livros que recomendámos nas nossas notas do facebook.

A Laurinda Alves não precisa de apresentação, mas para quem desconhece pode sempre consultar o seu blogue pessoal: Laurinda Alves - A Substância da Vida.

O Pe. Alberto Brito orientou - esta é uma nota mais pessoal -, o nosso retiro de diaconal e sacerdotal. Melhor dizendo, em Agosto de 1998, eu, e os colegas padres, António José Ferreira, Leontino Alves, e José Manuel Correia, realizamos o retiro de preparação para "recebermos" os sacramentos da Ordem, eu de Diácono e eles de Presbítero, ainda que os 4 sejamos do mesmo curso de Seminário, mas por opção adiei um pouco mais...
Lembro-me perfeitamente de uma das conversas finais, na casa dos Jesuítas em Braga, com o Pe. Alberto. Disse-lhe claramente, e no que dizia respeito a avançar para o sacerdócio, que não tinha tirados dúvidas, pelo contrário, levava/trazia mais dúvidas, mais questões. Ao que ele respondeu - corresponde a respostas dadas também no livro/entrevista com Laurinda Alves -, que não tinha mal, por que as dúvidas me acompanhariam ao longo de toda a vida e que era benéfico quando as pessoas se interrogam, mesmo que não tenham respostas para tudo. Mas mesmo que as dúvidas persistam, a maturidade levar-nos-á a tomar uma opção. Sem medo.

Deixemos esta perspetiva mais pessoal (mas se calhar foi uma das razões que mais rapidamente me levaram a decidir comprar o livro, embora seja leitor da Laurinda Alves), para nos fixarmos nestas três palavras, ou três realidades importantes na nossa vida.

Ouvir/escutar, "porque ouvir os outros é a maior escola da vida". Escutar com o coração, prestar atenção não apenas ao que a pessoa diz e à sua história de vida, mas à pessoa em si mesma. Diz o Pe. Alberto que se nos fixarmos apenas nas histórias das pessoas e não nas pessoas, ficamo-nos pela fofoquice. Ficar-nos-íamos pelo ouvir, como se estivéssemos a ouvir um rádio e não uma pessoa concreta.

Falar. É assim que a comunicação acontece, é "a comunicar e a dialogar que nos entendemos e que se constroem relações". Temos uma boca e duas orelhas/ouvidos. Escutámos com interesse, a história da pessoa, mas sobretudo escutar com atenção o que a pessoa é, o que a pessoa sente, o que a pessoa vive, ouvindo o seu grito, o seu desabafo, acolhendo a sua partilha. Pode não ser fácil... queremos falar mais que escutar... queremos que alguém nos escute, nos compreenda, que por vezes esgotámos o tempo com as nossas palavras e não escutámos a pessoa que está diante de nós, como apelo e desafio. Quem não ouve, ou não quer ouvir, corre o sério risco de ficar a falar sozinho.

Amar, "porque é a partir da aceitação de nós próprios e dos outros que tudo é possível". Escutámos a pessoa, comunicamo-nos como irmãos, para acolhermos e aceitarmos os outros, aceitando-nos também a nós como pessoas, cidadãos, filhos de Deus. Como diz o Pe. Alberto, o que nos separa e divide não são as ideias ou as crenças, mas os sentimentos. O maior desejo do ser humano, de todo o ser humano, é amar e ser amado. E o maior medo é ser rejeitado pelo(s) outro(s). A escuta e a comunicação visam aproximar-nos dos outros, com amor, com paixão, celebrando a vida.

Enquadra-se aqui outra realidade: a compreensão. "As pessoas quando se sentem compreendidas, mudam". É o que pode resultar da escuta que ama, das palavras que se tornam comunicação amistosa, dos sentimentos que se partilham e se acolhem.

Seja/sê ouvinte (escutador não tanto de estórias, mas das pessoas que estão perto de ti); fala do que te vai na alma; confia, estimulando os outros à confiança, a libertarem-se do medo; ama, com toda a tua alma, faz do(s) outro(s) a tua casa, o teu refúgio, tendo sempre como horizonte originário e final o Senhor Deus.

09.02.12

40. "De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens"

mpgpadre

"De joelhos diante de Deus, de pé diante dos homens".

Esta é uma expressão de D. António Ferreira Gomes, Bispo do Porto, durante o Estado Novo, e que foi exilado por posições públicas e contrárias à corrente dominante. A expressão foi colocada no Seminário de Vilar, Diocese do Porto.

Esta expressão fala de algo de muito importante que já trouxemos aqui. Só Deus é Deus e só Deus há de ser tratado como tal. Os homens, da mesma carne, do mesmo sangue, da mesma natureza, hão de ser tratados como homens. Com a mesma dignidade, como iguais. Por baixo da pele somos todos mais iguais. Não há lugar para a idolatria, considerando que alguém é mais. Na QUINTA, os animais são todos iguais, mas como dizem os porcos, uns mais iguais que outros.
Nessa fábula, sobrevém a vivência concreta, em que a proclamação da liberdade, da igualdade e da fraternidade, não corresponde depois a uma prática quotidiana e universalizada. Todos iguais, mas uns têm mais privilégios, mais regalias, uns são filhos e outros enteados, uns protegidos e outros escorraçados.

Talvez D. António se referisse a algo mais concreto, como por exemplo as pessoas não se subjugarem ao poder instalado do Estado Novo, mas só a Deus subjugariam a própria vontade, pois só Ele é digno de adoração.

Em todo o caso, a expressão é muito mais rica do que uma apropriação história (ainda que justificável). Cada pessoa é imagem e semelhança de Deus, é rosto de Jesus Cristo. Há de ser tratada com dignidade, com respeito. Daí também a insistência na defesa da vida desde a sua concepção até à sua morte natural. Só Deus é o Senhor da vida e da Morte, do Tempo e da História. Subjugar o outro aos meus caprichos, é diabólico. Destrói, conduz à morte. Sempre que alguém, ou alguma ideologia, assumiu o papel de Deus, aconteceram desgraças, destruição e violência em massa.

O outro é irredutível a mim. É totalmente outro. É imagem, rosto do OUTRO (divino). Não pode ser enSImesmado, isto é, não pode ser reduzido ao MESMO, porque é outro, não se dilui em mim. O rosto do outro tem inscrito em si o mandamento: NÃO MATARÁS. O filósofo francês Emmanuel Levinas é categórico e inequívoco. O outro irrompe na minha vida como um apelo, como desafio, como provocação. Não se reduz a mim... é outro.

Num ambiente cristão, por maioria de razão. O outro é lugar tenente de Deus. Amar a Deus e ao próximo como a si mesmo. É o primeiro e o segundo mandamento. Não são separáveis. Valemos mais que todos os passarinhos que Deus abriga e protege. Amar a Deus implica amor ao nosso semelhante. Implica, como lembra Immanuel Kant, outro filósofo, tratar o outro sempre como um fim, e nunca como meio, como instrumento.
Obviamente, como havemos de aprofundar, colocar-nos de joelhos numa atitude de serviço e de dedicação ao nosso semelhante não é recusar ou viver indignamente, mas é uma outra forma, a de Jesus Cristo, de viver a caridade na sua plenitude, de quem se predispõe a dar a vida pelo outro, estendendo as mãos, dando a outra face. Mas uma perspetiva não anula a outra.

Hoje o desafio é tratar a todos sem fazer aceção, ainda que saibamos que na prática nem sempre é fácil, uma vez que a nossa afinidade não é por todos igualmente. Por outro lado, tratar a todos por igual não significa tratar a todos do mesmo modo. Ou seja, para promover a igualdade é necessário tratar cada um o melhor possível, respeitando-o como pessoa, na sua individualidade, na sua identidade própria.
Quando tratamos todos da mesma forma, corremos o risco da indiferença, da generalização, da impessoalidade, as pessoas deixam de ter rosto para nós, são todas iguais, no bem e no mal. É um fato igual para todos. Deus ama-nos como somos, chama-nos pelo nome, ama-nos com os nossos defeitos e com as nossas qualidades. Como cristãos, propunhamo-nos acolher cada pessoa com as suas necessidades e com as suas características, no compromisso pelo bem, no caminho da santidade.

Sublinhe-se, no entanto, tratar cada um como pessoa, ser único e irrepetível, mas com igual dignidade. Todos somos filhos, irmãos em Jesus Cristo, ou irmãos na mesma humanidade. Igualdade de oportunidades, no justo respeito pela identidade de cada pessoa, ou cada grupo de pessoas.
Nem sempre será fácil o justo equilíbrio... não deixemos de tentar!

08.02.12

39. Curiosidade «» dúvida «» humildade «» confiança «» sabedoria.

mpgpadre

Curiosidade «» dúvida «» humildade «» confiança «» sabedoria.

A humildade coloca-nos na rota de Deus e dos outros, abre a nossa mente, o nosso coração, a nossa vida, às qualidades, dons e sabedoria que nos chega através dos outros, do mundo, das experiências, inspirações, dos conselhos, da sabedoria popular, da leitura, do encontro com pessoas, da vivência partilhada da existência.
Mas com a humildade relacionam-se outras propriedades que são importantíssimas para cresceremos como pessoas, cidadãos, crentes, procurando que a sabedoria ilumine as nossas escolhas, projetos, os nossos sonhos, e nos faça acolher o inevitável e transformar o que está ao nosso alcance.
Sábio não é o que sabe tudo, o que sabe mais coisas. Sábio é aquele que está sempre disponível para aprender, para acolher, para amar, para ser amado, para ser instrumento de ligação aos outros, ao mundo e a Deus. Sábio não é o que tem um curso superior, ou tem muitos contactos, que tem um canudo, ou viajou pelo mundo inteiro. Sábio é o que quer escutar os outros, quer compreender o mundo à sua volta, que dispõe a sua vida para acolher o mistério que vem do alto, que vem de Deus. Sábio é o que reconhece os seus erros e ainda assim caminha. É o que não desiste, mesmo que por vezes tenha que recuar, recomeçar, voltar a tentar. Sábio é aquele que reconhece que está a caminhar, que ainda não chegou à meta, que ainda está longe. Sábio é aquele que se dispõe a servir a Verdade. Sábio não é o que não peca. Sábio é o que está disponível para acolher o perdão.
Sábio é o que se deixa encantar com as pequenas coisas da vida, momentos sublimes do nascer ou do por do sol, o sorriso de uma criança ou os malabarismos de um gato. Sábio não é aquela pessoa séria, sisuda, que dita sentenças. Sábio é aquele que sabe rir de si mesmo, e sorrir diante dos seus disparates, e que procura estar atento a tudo o que o rodeia.
Sábio não é o que atingiu um grau de conhecimento superior, ou está moralmente acima de qualquer suspeita. Sábio é aquele que cultiva a arte da dúvida, da curiosidade, da interrogação, que está sempre em busca, procurando aprender com tudo e com todas as situações.
O sábio não e aquele que não muda porque atingiu a perfeição. Embora um provérbio chinês diga que só não mudam os sábios e os estúpidos. Coloquemo-nos entre uns e outros, a caminho... Sábio é, antes, aquele que procura aperfeiçoar todos os aspetos da sua vida e mantém aberta a mente para acolher situações novas e poder contribuir para a transformação do mundo.

A curiosidade na criança é o ponto de partida para aprender, para descobrir, para compreender o mundo que a rodeia. Sem curiosidade não haveria conhecimento, muito menos haveria sabedoria.
Sublinhe-se de novo que o sábio não é o que não tem dúvidas, mas aquele que vive nas dúvidas, procurando ser feliz e contribuir para a felicidade dos outros, fazendo a ponto. A dúvida é específica do ser humano. Somos ser inacabados, Mas que beleza, como somos inacabados temos a oportunidade de crescer sempre mais, até ao Infinito, até à eternidade de Deus.
Sábio não é aquele que tem respostas para tudo, mas aquele que questiona (quase) tudo, que se interroga constantemente e ao mundo que o rodeia.
Sábio não é aquele que tem todas as certezas, mas aquele que não se deixa abater pelas dúvidas e incertezas e procura acertar o seu caminho, para o sábio cristão, procura acertar o seu caminho pelo de Jesus Cristo.

Maria interroga o Anjo quando este lhe anuncia que vai ser Mãe do Filho de Deus: "Como será isto se não conheço homem?"
A interrogação faz parte da procura, da escuta, do nosso peregrinar.

A humildade trabalha lado a lado com a sabedoria. A arrogância e a sobranceria, o orgulho individualista, o egoísmo levam à morte, à destruição, à solidão. A sabedoria não afasta, não isola. O sábio não é aquele que se fecha no seu casulo, como se estivesse num patamar superior, imperturbável. Sábio é aquele e aquela vive com os outros, procura os outros, procura superar as suas dúvidas, procura amar, deixa-se amar, procura a beleza, a alegria, e sabe que a sua fragilidade é um ponto de contacto com a humanidade e não um estorvo.

"Só sei que nada sei... e quanto mais sei, mais sei que nada sei". É o ponto de partida do sábio grego Sócrates. É o ponto de partida de Descartes. Há de ser esta a nossa sabedoria, quanto mais caminhamos mais a certeza que estamos distantes da perfeição, da santidade, da sabedoria. Isso não nos desanima. Pelo contrário, é sinal de jovialidade, ainda há caminho a fazer na nossa vida.

Mais tarde ou mais cedo, a curiosidade leva-nos à interrogação, a dúvida leva à humildade, esta à abertura ao outros, à aceitação dos dons do outro, leva a uma atitude de confiança, de despojamento, de entrega, de acolhimento.

Não tenhamos medo da dúvida. Não receemos que a humildade nos possa despojar da nossa identidade. Não cessemos de buscar - peregrinos da verdade... Podemos ser sábios, não por sermos melhores que os outros, ou termos mais conhecimentos práticos ou científicos, podemos ser sábios quando a nossa alma se despoja de preconceitos e se abre aos outros, pronta para a amar e acolher o amor dos outros e do Outro (Totalmente Outro »» Totalmente Próximo)

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