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29.10.09

E depois de Saramago? Caim, evidentemente

mpgpadre

       Há polémicas que se convertem em oportunidades de reflexão.

       Se o objectivo de José Saramago - ao dizer que a Bíblia era um "manual de maus costumes", ou que Caim era vítima de Deus - era promover o seu mais recente romance conseguiu. Veja-se, contudo, por um lado a visão negativa sobre a Bíblia e os seus conteúdos, e por outro, o facto de partir da Bíblia, basear-se nas Escrituras Sagradas e discutir, dizendo que não tem fé, afirmando convictamente que Caim é vítima da ira de Deus. Até parece um homem de fé, revoltado com Deus, mas ainda assim crente, a falar de Deus.

       A reacção da Igreja, desta feita, foi muito ponderada, acentuando o direito que as pessoas têm a não terem fé, a consideração por aqueles que pensam e vivem de forma diferente. A tolerância da Igreja, ao mais alto nível, foi por demais evidente. Não deixando, naturalmente, de re-afirmar a fé, o valor na Sagrada Escritura, o contexto em que a Palavra de Deus, escrita em palavras humanas, surgiu. Neste sentido, a necessidade de conhecer não apenas a letra, mas também a mensagem, as verdades que o texto procura mostrar.

 

       A Bíblia, como nos diz o papa Bento XVI tem de ser lida como um todo. A Bíblia, Antigo e Novo Testamento, é a história que se entrelaça entre Deus e a humanidade. com avanços e retrocesso, com procura, descoberta e encontro, mas igualmente com infidelidades.

       O texto sagrado, mesmo não sendo considerado como tal, recolhe a história de um povo, as suas lutas e os seus fracassos, e igualmente da humanidade, procurando em tudo a presença de Deus.

       A história de CAIM e de ABEL é uma história de infortúnio, mas também de esperança e de compromisso.

 

       1 - Ao estudar-se a história dos dois irmãos verifica-se duas concepções de vida antagónicas: a vida das "cidades", sedentária, e a vida nómada. As duas formas de vida estão presentes no povo de Israel. Alguns defendem que o povo não se deve fixar, mas estar sempre em deslocação, lembrando que Abraão é um "arameu errante", sem terra. Outros, pelo contrário, sustentam a ideia de uma terra, dada por Deus em herança, ao seu povo, cumprindo a Sua promessa. O relato de Caim e Abel faz a opção clara pela "errância" do povo, predominando o pastoreio em vez a agricultura. Esta fixa-se na terra. Aquela avança de terra em terra.

 

       2 - Olhando para a história da humanidade de todos os tempos, verifica-se que a violência gratuita, os fratricídios (irmãos que matam irmãos) são frequentes: povos que se aniquilam, irmãos que guerreiam pela herança, que se matam por ciúmes e inveja, umas vezes por um pedaço de terra, outras vezes por uma ninharia. Ainda que possa haver sempre o ideal da reconciliação.

       Caim e Abel é a assumpção desta realidade histórica. O ciúme e a inveja levam um a matar o outro irmão.

Colocando-nos na posição do autor, diríamos que naquele tempo ele procurou ver um fundamento para haver tantas dissensões, para tantos conflitos. Encontrou essa justificação no pecado do egoísmo e do ciúme.

       3 - O elemento ESPERANÇA está presente em todo o relato, como em toda a Bíblia. Apesar da infidelidade humana, Deus acredita, Deus aposta no homem. Caim matou o irmão. Deus reafirma, e a fé também, o mandamento: "Não matarás". Quando alguém é morto, o "normal" é a vingança, a morte do agressor. Neste caso, o agressor é protegido, é filho de Deus, levará um sinal que impede que outros possam agir de forma violenta sobre ele. É uma história de amor e de salvação. Deus quer o nosso bem, em todas as circunstâncias, mesmo quando e apesar de nos desviarmos do bem.

 

       4 - Caim permanecerá como uma figura do lado mais obscuro que há em nós, mas em simultâneo na certeza que a descoberta de Deus nos conduz à salvação. O levantar a polémica sobre esta figura bíblica pode-nos levar, a nós crentes cristãos, a ler mais a Bíblia, a tentar conhecer melhor os personagens que atravessam a história da Salvação, do povo hebreu à Igreja. O texto de Saramago pode significar um desafio a que a personagem seja lida não apenas no romance mas sobretudo no texto original, o da Bíblia.

 

       Há leituras muitos diferentes da Bíblia. Certo. Respeitamos. Mas também temos o direito de fazer uma leitura diferente daquela que outros nos querem impor.

(texto extraído do blogue Caritas in Veritate.

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