Não foram 10 os que ficaram curados? Onde estão os outros 9?
1 – O amor exige amor. O bem realizado provoca a gratidão. A gratidão só é possível partindo da humildade e do reconhecimento do bem que o outro nos faz. Quem agradece abre-se ao dom alheio, disponibiliza-se a valorizar o que recebeu. Em muitas situações da vida, o melhor agradecimento está em usar bem o que se recebeu.
Amar implica relação, coração que se debruça sobre alguém. Tem implícita uma resposta positiva. O Papa Bento XVI, servindo-se de conceitos gregos, apresenta o amor nos seus diversos graus. Ágape, é o amor oblativo, o nível superior, que procura o bem do outro, sem esperar nada em troca. Neste sentido, o amor de Deus é sobretudo ágape (caritas = caridade). Deus dá-Se totalmente ao ser humano. Noutro polo está o eros, “o amor de quem deseja possuir aquilo que lhe falta, ansiando pela união do amado”. Haverá alguma coisa que o homem é e tem e que Deus não possua já?
Porém, sublinha Bento XVI, “o amor de Deus também é eros... o Omnipotente espera o «sim» das suas criaturas, tal como um jovem esposo espera o sim da sua esposa… Na Cruz o próprio Deus mendiga o amor da sua criatura: Ele tem sede do amor de cada um de nós… A resposta que o Senhor deseja ardentemente de nós é, antes de mais, que acolhamos o seu amor e nos deixemos atrair por Ele. Aceitar o seu amor não basta. Devemos corresponder a esse amor e, depois, empenharmo-nos em comunicá-lo aos outros”.
2 – Jesus passa entre a Samaria e a Galileia, a caminho de Jerusalém e encontra 10 leprosos. Está em movimento, a caminhar. Vem ao nosso encontro, ao nosso caminho. Cabe-nos acolher a Sua presença: «Jesus, Mestre, tem compaixão de nós». A cura coloca-nos a caminhar, e no caminhar, no sair de si, está a cura para muitos dos nossos males físicos e espirituais.
A narração continua e mostra a atitude de um dos leprosos que, vendo-se curado, glorifica a Deus em alta voz e se prostra aos pés de Jesus para Lhe agradecer. Era um estrangeiro, um samaritano, inimigo dos judeus, impuro como leproso e impuro por ser samaritano. Ainda assim, só ele glorifica a Deus e agradece a Jesus.
Rapidamente o desabafo de Jesus: «Não foram dez os que ficaram curados? Onde estão os outros nove? Não se encontrou quem voltasse para dar glória a Deus senão este estrangeiro?» Jesus, quando os curou não lhes perguntou pela origem, pela classe social, pela religião, pelas suas histórias passadas. Simplesmente, curou-os. Atendeu aos seus pedidos. Também aqui Jesus dá a Sua vida, dá a Sua graça. Cura. Sem esperar receber nada em troca. É o amor-ágape. Brota da Sua benevolência, da Sua compaixão, de um coração que transborda de Amor. Seguindo a reflexão de Bento XVI, seria expectável o agradecimento. Uma resposta. Um obrigado. Uma palavra. Um gesto. O amor gera amor.
Não basta, responder ao amor com amor, é necessário comunicá-lo, testemunhá-lo aos outros e daí o envio: «Levanta-te e segue o teu caminho; a tua fé te salvou». Levantar-se. Pôr-se a caminho. De novo. Sempre. A fé como ponto de partida, como condição para nos fazermos caminho.
3 – Cientes da palavra de Deus que hoje toca o nosso coração, que propósitos para renovar aspetos da nossa vida? Agradeço o que sou, o que tenho, a minha família? Agradeço o sol ou a chuva de cada manhã? Louvo a Deus por tudo o que de bom me rodeia? Reconheço os dons que Deus dá aos outros? E de que forma eu agradeço pelos dons que Ele me dá? Ponho-os a render? Guardo-os para mim?
Não tenhamos medo de usar muitas vezes o “obrigado”. Agradeçamos a quem nos faz a refeição. Elogiemos este ou aquele prato confecionado. Obrigado a alguém que nos deu a passagem, nos emprestou um lápis, agradeçamos a Deus por cada sorriso que nos predispõe para o bem. Agradeça. Louve. Hoje. Faça um elogio a cada pessoa da sua família. Há sempre oportunidades. Pelo penteado, pela roupa, pela refeição, pela expressividade do rosto, pelo olhar, pelo sorriso. Um elogio. Um obrigado. Muda o seu olhar. Muda a atitude de quem escuta. Faça o domingo acontecer. Hoje.
Textos para a Eucaristia (ano C): 2 Reis 5, 14-17; 2 Tim 2, 8-13; Lc 17, 11-19.
Reflexão Dominical na página da Paróquia de Tabuaço.