Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração
1 – “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”.
Bem pode ser uma divisa que nos acompanha na reflexão da palavra de Deus e em toda a nossa vida, como cristãos, comprometidos com Deus e com os irmãos.
Em continuação lógica do domingo precedente, Jesus clarifica a opção dos discípulos:
“Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor ao voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater”.
Podemos ter o mundo inteiro dentro da nossa carteira, mas esta não nos garante a felicidade, não nos permite comprar a paz, a amizade, não nos livra de sofrimento, de angústia, não nos resguarda da escuridão, não nos protege da solidão nem da morte. Obviamente que viver dignamente implica bens materiais, mas sem extremismos. A ganância faz-nos mal, obscurece o essencial. Em função de números, de novo, sacrificamos a dignidade humana ao capital, acumulação desmedida, além das necessidades básicas, centrados na riqueza como um fim em si mesmo e não como meio facilitador.
Na nossa carteira cabem notas, fotos, documentos e até memória, mas não cabem pessoas, sentimentos, o olhar de um rosto, de uma presença amiga, não cabe o toque, o sorriso, um aperto de mão, a força de um abraço, um beijo, o carinho de um afago, não cabe a gratuidade. Com a carteira recheada, como o filho mais velho da parábola, poderemos até comprar companhia, mas só disfarçará a solidão, sem preencher o coração. Só a gratuidade nos eleva.
2 – “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”.
Desengane-se, porém, quem interpreta as palavras de Jesus como renúncia aos bens materiais e como defesa da indigência das pessoas. Pelo contrário, o desafio a fazer bolsas que não envelheçam, é forte apelo à partilha solidária, a tratar o próximo com delicadeza, e sobretudo os mais pobres. Aquilo que fizerdes aos meus irmãos mais pequeninos é a Mim que o fazeis. Dai-lhes vós de comer. Como Eu fiz fazei vós também. O primeiro mandamento: amar a Deus. O segundo decorre do primeiro: amar o próximo como a si mesmo.
Continuemos a escutar as palavras do Senhor: «Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes».
O administrador vigilante é aquele que não usurpa o lugar do seu senhor e, na sua ausência, cuida da riqueza e da casa. Assim nós também, como administradores a quem Deus confia a Sua casa, deveremos estar vigilantes, procurando que os dons que nos dá sejam valorizados, multiplicados, e não ciosamente guardados para cada um de nós. Quando Ele vier pedir-nos-á contas do nosso serviço, da nossa bondade, e o Seu património, as bolsas que não se rompem, passa pela caridade, pela partilha, pelo cuidado dos mais frágeis.
3 – “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”.
É preciso que o nosso tesouro seja Deus e que o nosso coração esteja em Deus. Esta é a garantia que a nossa vida não será em vão, que o nosso amor aos outros, no caminho com os outros, não será instrumentalizado. Só um AMOR maior, definitivo, aberto até à eternidade nos garante a salvação para lá do sofrimento e da morte.
4 – “Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração”.
Os nossos pais colocaram em Deus a Sua confiança e pela fé souberam caminhar, como povo, em direção à eternidade.
“A noite em que foram mortos os primogénitos do Egipto foi dada previamente a conhecer aos nossos antepassados, para que, sabendo com certeza a que juramentos tinham dado crédito, ficassem cheios de coragem. Ela foi esperada pelo vosso povo, como salvação dos justos e perdição dos ímpios... que os justos seriam solidários nos bens e nos perigos”.
A fé nas realidades futuras, no futuro de Deus, leva o povo ao compromisso com o presente.
Enquanto é tempo, trabalhemos pela instauração do Reino de Deus, promovendo os dons que Ele nos dá, na partilha fraterna, na proximidade com os mais frágeis dos frágeis.
Textos para a Eucaristia (ano C):
Sab 18, 6-9; Sl 32 (33); Hebr 11, 1-2.8-19; Lc 12, 32-48.
Reflexão da Palavra na página da Paróquia de Tabuaço