Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito
1 – Semana Santa, pois SANTO é Aquele vem da parte de Deus e nos dá Deus. Jesus percorre connosco as diversas situações da vida, como facilmente se visualiza nos dois momentos que se entrelaçam: entrada triunfal em Jerusalém, um REI sentado num jumentinho, e processo que condena Jesus, com uma coroa de espinhos e suspenso numa cruz.
Na epístola de São Paulo aos Filipenses, encontramos um ponto de partida luminoso, uma grande síntese da vida de Jesus:
“Cristo Jesus, que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio. Aparecendo como homem, humilhou-Se ainda mais, obedecendo até à morte e morte de cruz. Por isso Deus O exaltou e Lhe deu um nome que está acima de todos os nomes”.
A realeza de Jesus é despojada de poder. Não vem numa caravana, protegido por um exército, vem num jumentinho.
2 – Quando as coisas parecem estar a correr bem, eis que Jesus lhes revela um tempo de grande provação. Fá-lo na intimidade da casa e da refeição, com palavras e gestos já nossos conhecidos: “Tomai e reparti entre vós, pois digo-vos que não tornarei a beber do fruto da videira, até que venha o reino de Deus...”
A casa começa a desfazer-se. Um deles levanta-se da mesa e sai de casa. Doravante a casa fica vulnerável, exposta.
O edifício começa a desmoronar-se e o espírito de sobrevivência vem ao de cima: “Levantou-se também entre eles uma questão: qual deles se devia considerar o maior?... O maior entre vós seja como o menor e aquele que manda seja como quem serve. Pois quem é o maior: o que está à mesa ou o que serve? Não é o que está à mesa? Ora Eu estou no meio de vós como aquele que serve...”
No momento da Ceia, a última ou a primeira, Jesus clarifica de novo a opção pelo serviço: EU estou no meio de vós para servir e dar a vida. A disputa não é pelo poder, mas pelo amor.
3 – A ceia avança, e as horas aceleram. É tempo de Jesus solidificar a adesão e o seguimento dos seus discípulos.
Diz Jesus a Pedro: “Eu roguei por ti, para que a tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, fortalece os teus irmãos». Depois de Jesus ser preso, Pedro não resistirá ao medo e à vergonha: «Esse homem, com certeza, também andava com Jesus, pois até é galileu». Pedro respondeu: «Homem, não sei o que dizes»... Por três vezes Pedro se coloca fora da comunhão com Jesus, contradizendo a predisposição manifestada quando está à mesa com Jesus.
Aos discípulos ainda lhes falta a maturidade do sofrimento e das contrariedades. Precisam de muita oração e de muita confiança em Deus. “Então saiu e foi, como de costume, para o monte das Oliveiras e os discípulos acompanharam-n’O. Quando chegou ao local, disse-lhes: «Orai, para não entrardes em tentação... Porque estais a dormir? Levantai-vos e orai, para não entrardes em tentação»...
Das indicações de Jesus, a oração é a primeira.
4 – Jesus sai do Jardim das Oliveiras e entra triunfalmente em Jerusalém. Agora de novo vai para o Jardim, para rezar, para Se configurar mais à vontade de Deus. Leva os discípulos, para Se sentir apoiado. Mas eles dormem, estão demasiado ansiosos. O Mestre vai morrer. Não querem acreditar. Não pode ser.
“Judas aproximou-se de Jesus, para O beijar. Disse-lhe Jesus: «Judas, é com um beijo que entregas o Filho do homem?».
Ser traído é sempre mau. Ser traído pelo melhor amigo, o homem de confiança é inacreditável. O cumprimento de Judas a Jesus é o de um amigo próximo e confidente. Perdoa-lhes, Senhor, ele perdeu o juízo, não sabe o que está a fazer…
Jesus não responde com injúrias ou palavrões: «Tu és então o Filho de Deus?». Jesus respondeu-lhes: «Vós mesmos dizeis que Eu sou». Confirma apenas o que abertamente já tinha dito: EU SOU.
Subida para o Calvário, com a pesada CRUZ às costas, vergado pelo cansaço, pela desilusão, pelo desamparo dos discípulos, pelas acusações injustas, pelas vergastadas, pelas invetivas da multidão.
É crucificado, e a postura é a mesma de sempre. De perdão: «Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem». De entrega confiante ao Pai: “E Jesus exclamou com voz forte: «Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito». Dito isto, expirou”.
Mas a história não acaba aqui. Há de continuar ao terceiro dia…
Textos para a Eucaristia (ano C): Lc 19, 28-40; Is. 50, 4-7; Sl 21 (22); Filip 2, 6-11; Lc 22, 14 – 23, 56
Reflexão dominical COMPLETA na página da Paróquia de Tabuaço
e no nosso blogue CARITAS IN VERITATE.