Van THUAN - Cinco pães e dois peixes
Francisco Xavier Nguyen Va Thuan, Cinco pães e dois peixes. Do sofrimento do cárcere, um alegre testemunho de fé. Prior Velho. Paulinas 2009.
O AUTOR:
"Chamo-me Francisco Nguyen Van Thuan e sou vietnamita. Durante oito anos fui bispo de Nhatrang, no Centro do Vietname. Depois, Paulo VI nomeou-me arcebispo-coadjutor de Saigão. Quando os comunistas chegaram a Saigão, disseram-me que a minha nomeação era fruto de um complô e, três meses depois, prenderam-me. Foi a 15 de agosto de 1975, solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria".
O LIVRO:
"Liberto, após treze anos de cativeiro, quero compartilhar convosco as minhas experiências: como encontrei Jesus em cada momento da minha experiência quotidiana, no discernimento entre Deus e as suas obras, na oração, na Eucaristia, nos meus irmãos e irmãs, na Virgem Maria, oferecendo-vos deste modo, também eu, e à maneira de Jesus, cinco pães e dois peixes".
O autor parte do Evangelho de São João (6, 5-11), do episódio em que Jesus, os discípulos e a multidão se encontram juntos, numa hora mais adiantada, aproximando-se a hora de uma refeição para se aguentarem. Diante das questões, André diz a Jesus que há um miúdo com 5 pães e 2 peixes... Jesus pega nos pães e nos peixes, reza, abençoa e distribui-os pela multidão e todos ficam saciados.
Também Van Thuan compartilha 5 pães e 2 peixes:
1.º PÃO - Viver o momento presente.
"Se passo o meu tempo a esperar, talvez as coisas que espero não aconteçam nunca. A única coisa que certamente acontecerá é a morte". Preso a 15 de agosto de 1975, pouco depois lembra-se de fazer como São Paulo, escrever àqueles que lhe tinham confiado. Em mês e meio, escreve 1001 mensagens, em pequenos blocos de calendário que uma criança de 7 anos traz e leva para copiar. O livro - CAMINHO DE ESPERANÇA - está publicado em várias línguas: italiano, português, francês, inglês, alemão, espanhol, coreano, chinês...
"Penso que devo viver cada dia como o último da minha vida. Deixar tudo o que é acessório, concentrar-me no essencial. Cada palavra, cada gesto, cada telefonema, cada decisão é a coisa mais bela de minha vida. Reservo a todos o meu amor, o meu sorriso; tenho medo de perder um segundo, vivendo sem sentido..."
2.º PÃO - Discernir entre Deus e as obras de Deus.
Deus e só Deus. As obras de Deus, que fazia enquanto sacerdote e bispo, livre, podem ser confiadas a outros, por ora importa viver e alimentar do amor a Deus. Só Deus basta.
3.º PÃO - Um ponto firme, a Oração.
"Não é assim tão simples como podeis pensar... Ali houve dias em que, reduzido ao maior cansaço, à doença, não consegui rezar uma única oração!"
4.º PÃO - Minha única força, a Eucaristia.
"Nunca poderei exprimir a minha grande alegria: todos os dias, com três gotas de vinho e uma gota de água na palma da mão, celebro a minha Missa... Fabricávamos saquinhos com o papel dos maços de cigarros, para conservar o Santíssimo Sacramento. Jesus eucarístico estava sempre comigo no bolso da camisa... Até budistas e outros não cristãos se converteram. A força do amor de Jesus é irresistível. A obscuridade do cárcere ilumina-se, a semente germinou da terra durante a tempestade... celebro missa todos os dias às três horas da tarde: a hora de Jesus agonizante na cruz... são as mais belas missas da minha vida... À noite, entre as 21 e 22 horas, faço uma hora de adoração, canto..."
5.º PÃO - Amar até à unidade, o Testamento de Jesus.
"... só o amor cristão pode mudar os corações, nem as armas, nem as ameaças, nem os media.
...O maior erro é não reparar que os outros são também Cristo. Há pessoas que só vão descobrir isso no último dia... A caridade não tem fronteiras. Se há fronteiras não existe mais caridade".
Primeiro PEIXE - Maria Imaculada, meu primeiro amor.
Preso a 15 de agosto, solenidade da Assunção de Nossa Senhora. A estudar em Roma, desloca-se a França e na gruta de Nossa Senhora de Lurdes, ressoam nos seus ouvidos as palavras de Nossa Senhora a santa Bernardette: "não te prometo alegrias e consolações nesta terra, mas provações e sofrimentos"... Até ao dia em que foi preso, experimentou alegrias e consolações, as provações e sofrimentos vieram com a prisão e com o isolamento.
"Mãe, se vês que já não poderei ser útil à Igreja, concede-me a graça de terminar a minha vida na prisão. Mas se tu, ao invés, sabes que poderei ainda ser útil à tua Igreja, concede-me sair da prisão no dia de uma festa tua". Foi libertado no dia 21 de novembro de 1988, mais de treze anos depois de ter sido feito prisioneiro. Era a Festa da Apresentação de Nossa Senhora. "Para mim, Maria é como um Evangelho vivo, maneiro, de grande difusão, mais acessível que a vida dos santos".
Segundo PEIXE - Escolhi Jesus.
"Se vivermos vinte e quatro horas radicalmente por Jesus, seremos santos. São vinte e quatro estrelas que iluminam o teu caminho...:
- Queres fazer uma renovação: renovar o mundo... dia após dia, prepara um novo Pentecostes no lugar onde vives.
- Empenha-te numa campanha que tem por objetivo: tornar todos felizes.
- Mantém-te fiel ao ideal do apóstolo: dar a vida pelos irmãos.
- Grita um único slogan: «Todos um». Unidade.
- Tu acreditas numa única força: a Eucaristia.
- Veste um único uniforme e fala uma única língua: a caridade. A caridade é sinal de que tu és discípulo do Senhor.
- Atém-te firmemente a um único princípio orientador: a oração.
- Observa uma única regra: o Evangelho.
- Segue lealmente um único chefe: Jesus Cristo e os seus representantes: o Santo Padre, os bispos, sucessores dos Apóstolos.
- Cultiva um amor especial por Maria.
- A tua única sabedoria será a ciência da cruz. Olha para a cruz e encontrarás a solução para todos os problemas que te assaltam. Se a cruz é o critério sobre o qual baseias as tuas escolhas e as tuas decisões, a tua alma estará em paz. Na prisão fez uma tosca cruz e madeira e com um fio elétrico, que solicitou a um guarda, fez pequenos aros, para formar um fio, onde colocou a CRUZ, que passou a ser a sua cruz peitoral, mesmo depois de sair do cativeiro, foi-lhe acrescentado o revestimento em metal...
- Conserva um único ideal: estar voltado para Deus pai, um Pai que é todo amor.
- Há um único mal que tu deves temer: o pecado.
- Cultiva um único desejo: «Venha o Teu Reino. Seja feita a Tua vontade assim na terra como no Céu» (Mt 6,10).
- Falta-te uma única coisa: «Vai, vende o que tens, e dá o dinheiro aos pobres e terás um tesouro no Céu; depois, vem e segue-Me» (Mc 10,21).
- No teu apostolado, usa o único método eficaz: o contacto pessoal. Com ele, entra na vida dos outros, aprendendo a compreendê-los a amá-los.. coração a coração!
- Há uma única coisa verdadeiramente importante: «Maria escolheu a melhor parte», quando se sentou aos pés do Senhor (cf. Lc 10, 41-42).
- O teu único alimento: «A vontade do pai» (Jo 4, 34). É com ela que deves viver e crescer, fazendo as tuas ações proceder da vontade de Deus. Ela é como um alimento que te faz viver, tornando-te mais forte e mais feliz. Se vives afastado da vontade de Deus, morrerás.
- Para ti, o momento mais belo é o momento presente (cf. Mt 6, 34; Tg 4, 13-15). Vive-o plenamente no amor a Deus.
- Tens uma «magna carta»: as bem-aventuranças (Mt 5, 3-12).
- Há um único objetivo importante: o teu dever. Não importa se é pequeno ou grande, porque tu colaboras na obra do Pai celeste.
- Há uma única maneira de nos tornarmos santos: pela graça de Deus e pela tua vontade (cf. 1Cor 15, 10). Deus nunca deixará que te falte a Sua graça: mas a tua vontade é bastante forte?
- Uma só recompensa: o próprio DEUS.
- Tu tens uma Pátria. Ajuda a tua pátria com toda a tua alma. Sê fiel a ela. Defende-a com o teu corpo e com o teu sangue. Constrói-a com o teu coração e a tua mente. Partilha a alegria dos teus irmãos e a tristeza do teu povo.
Este livrinho, pequeno mas intenso, integram uma coleção das Paulinas, horizontes de Luz, da qual recomendamos também outras leituras já realizadas em dias anteriores:
- Enzo Bianchi, Jesus de Nazaré. Paixão, morte e ressurreição. Prior Velho 2011.
- Raniero Cantalamessa, Páscoa. Uma passagem para aquilo que não passa. Prior Velho 2006.
- Bruno Forte, As quatro noites da salvação. Prior Velho 2009.
Acrescente-se ainda que D. Van Thuan morreu, em Roma, em 16 de setembro de 2002. Passados 5 anos da sua morte, foi iniciado o processo de beatificação, para o reconhecimento público e oficial da Igreja acerca das suas virtudes heróicas.