42. Se quiserdes que os vossos filhos comam sopa, comei vós primeiro.
Se quiserdes que os vossos filhos comam sopa, comei vós primeiro.
Dai conselhos, mas dai sobretudo exemplo.
O nosso tempo precisa não tanto de mestres, mas de testemunhas, ou de mestres que sejam testemunhos, como propunha o Papa Paulo VI.
Mostra-me a tua fé sem obras, que eu pelas obras te mostrarei a minha fé. A fé sem obras é morta (São Tiago).
Obviamente ninguém discute a importância das palavras para a comunicação entre pessoas e entre povos. Mais do que palavras, a linguagem que nos aproxima (ou nos distancia) dos outros. A linguagem humana é bem mais rica do que as palavras, a linguagem corporal, a linguagem do amor - esta é a linguagem mais sublime, mais percetível, comum a todas as civilizações.
As palavras acompanham os gestos. Há gestos que falam por si mesmos e há gestos que são tornados explícitos pelas palavras, ou pela expressividade da linguagem humana.
O Papa Paulo VI, secundado por João Paulo II, por Bento XVI e por muito boa gente, que as palavras movem, mas os testemunhos arrastam. O nosso tempo tem necessidade de mestres, mas sobretudo tem necessidade de testemunhos, ou mestres que sejam testemunhos vivos, e que ilustrem com a vida o que propõem com palavras e ensinamentos.
Lembrava hoje, no Seminário Menor de Resende, na festa da Padroeira - Nossa Senhora de Lurdes -, o nosso Bispo, D. António Couto, que os que mais transformaram a sociedade, o mundo, foram os santos.
O primeiro exemplo que apresentamos é muito sugestivo. Claro, como em todos os exemplos, há exceções e podem desviar a atenção da mensagem. Vejamos: a sopa faz parte da dieta portuguesa, e é considerada essencial para a saúde. Assim, os pais habituam/obrigam os filhos a comer a sopa até mesmo contra vontade sabendo que lhes faz bem. Mas não a comem... já crescemos, já não precisamos... e há filhos que fazem um sacrifício do outro mundo e, a acrescentar a isso, vão percebendo que o que lhes dão não serve para os pais, e nem tampouco para o filhos mais velhos se eles existem. E veja-se como as mães e os pais, quando estão a alimentar os filhos e eles se recusam a comer, o que fazem?, metem uma colherada à própria boca, expressando grande satisfação. E o que é certo, muitas vezes resulta. Claro que há pais que não comem e não gostam de sopa, e filhos que quase só querem a sopa; e há pais que gostam muito de sopa, e não a dispensam, e filhos que só à força conseguem engolir algumas colheradas.
Deixemos o exemplo e voltemo-nos para a vida. Os exemplos arrastam, são mais ilustrativos, percebemo-los melhor e mais facilmente, são mais eloquentes, envolvem-nos, guiam-nos. Somos miméticos. Desde cedo imitamos sobretudo o que vemos, os gestos, o timbre a voz - como é fácil confundir dois irmãos, ou pai e filho ou mãe e filha, quando os ouvimos ao telefone. Facilmente confundimos. O timbre e a inflexão da voz são muitos próximos. Ah, e como os filhos ou os mais novos, facilmente aprende às palavras dos pais, dos mais velhos, mesmo aquelas palavras e expressões que não eram para aprender...
Sabendo das nossas fragilidades, não cessemos de procurar a coerência de vida, o caminho da santidade, aspirando à perfeição, passando progressivamente do possível ao ideal, pelo menos, ao alcançável. Ilustremos as nossas palavras e os nossos ensinamentos, com a nossa vida, com as nossas vivências. Numa aula de Educação Física, o professor procura mostrar como se faz um exercício novo, mas antes de pôr os alunos a realizá-lo faz ele, ou pede a um aluno mais "flexível" para fazer o exercício e assim mais facilmente se ensina, ilustrando... fazendo primeiro, vivendo...
É assim que Jesus ensina os seus discípulos. Vão e veem, escutam, olham, caminham com Ele, acompanham-n'O, observam os seus gestos, a sua postura. Por sua vez, Jesus ensina com autoridade, exemplificando com o acolhimento, compreensão, perdão, amor, cura, chamamento, envio...
Somos discípulos... até ao fim dos nossos dias... estamos sempre a aprender, e a errar, e a caminhar... mas lembremo-nos que no nosso relacionamento com os demais o essencial não é comunicar mensagens, mas comunicarmo-nos,...