27. A humildade vê-se melhor (comprova-se) na bonança.
A humildade vê-se melhor (comprova-se) na bonança.
A humildade pode ser muita coisa, ou pode haver diversas maneiras de entender a humildade. Desde logo, a humildade se reconhece nos outros, nas palavras e nos gestos... Quando temos necessidade de dizermos de nós que somos pessoas humildes, algo de preocupante se passa... ou o dizemos para nos defendermos, ou o afirmamos para fazermos crer aos outros (e a nós próprios) que somos humildes.
Há pessoas pobres, que vivem humildemente, mas não são humildes, num sentido mais valorativo (ético/moral) do que se entende por humildade. Logo, não é a situação material que nos faz humildes ou arrogantes. Há de tudo, e também aqui há quem não se enquadre nas nossas concepções.
Há pessoas pobres, que são arrogantes e orgulhosas.
Há pessoas ricas, que são arrogantes e orgulhosas.
Há pessoas pobres, que são humildes e de extrema bondade.
Há pessoas ricas, que são humildes e sempre prontas para ajudar.
Há pessoas nem ricas nem pobres que são arrogantes e orgulhosas.
Há pessoas nem ricas nem pobres que são voluntariosas e espelham humildade.
Há pessoas que estão a caminho, estão à procura.
Há pessoas que já não caminham, julgam ter encontrado, mas talvez valesse a pena continuar a procurar. A vida humana é uma busca permanente. Como lembra santo Agostinho, procurar como quem há de encontrar e encontrar como quem há de procurar. Sobretudo para o crente, a busca de Deus é para sempre. Procuramos porque Ele já nos encontrou. Porque O descobrimos, nunca O possuiremos totalmente, continuamos sempre a procurá-l'O, a descobri-l'O, a encontrá-l'O...
A humildade abre-nos muitas possibilidades, como atitude. Se nos colocamos à defesa, com o pá atrás, ou nos fechamos nas nossas certezas e convicções, o mais certo é não avançarmos, é não descobrimos mais do que aquilo que já sabemos. A humildade é outro nome para a nossa para a busca, para o aperfeiçoamento. Só na medida em que reconhecemos que não sabemos tudo, ou que nos falta conhecer muito, é que nos disponibilizamos para procurar, para acolher o que vem dos outros e vem do Totalmente Outro (Totalmente Próximo), nos dispomos a alterar as nossas convicções ou, pelo menos, a completar o nosso vocabulário humano.
Por outro lado, a humildade, como dissemos antes, pode ter vários rostos.
Há dias veio-me com insistência este pensamento: é quando estamos "por cima" que se vê a grandeza da nossa alma e a beleza da nossa humildade.
Humildade não é o mesmo que humilhação, mesmo que seguindo a postura de Jesus a humildade possa passar pela humilhação, pelo dar a outra face.
Quando estamos derrotados, cabisbaixos, quando nos encontramos numa situação de indigência, em que a nossa vida apela à ajuda dos outros, o nosso olhar pede clemência e até alguma pena para nos sentirmos gente, desafia o outro a olhar com ternura e solidariamente para a nossa miséria, isso é uma forma de humildade que (quase) nos humilha diante dos outros. Também em nossas debilidades podemos manter a cabeça erguida, como quem sabe a distância que nos separa da nossa identidade (filhos de Deus), mas confia na abundância da misericórdia de Deus. E isto também é humildade: abrir-se à graça de Deus.