4. Veja a VIDA como um TODO.
A VIDA como um TODO.
Os fragmentos da nossa existência, são isso mesmo, fragmentos, que numa ou em outra época distorcem completamente a nossa história. Ao fixar-nos num fragmento, numa dificuldade, num problema, podemos facilmente desanimar e ficarmos como que zombies sem orientação, sem norte, sem sentido que nos arrebate para o futuro.
Obviamente, que as partes, os momentos, cada um deles, os pormenores que existem na nossa vivência quotidiana, caracterizam-nos como pessoas, como seres de (em) relação. As importância dos fragmentos há de ser englobada na totalidade do nosso caminhar, nos momentos bons, fortalecendo-nos, e nos momentos que nos são desfavoráveis, ajudando-nos a relativizar os fracassos de modo a não cairmos com demasiada facilidade em pessimismos estéreis, inócuos, que na maioria das vezes não nos ajudam a avançar.
Um exemplo paradigmático: as árvores e a floresta.
Como é difícil quando estamos demasiado perto, mas também quando nos colocamos demasiado longe, distantes, alheios, indiferentes!
É preciso aproximar-nos.
É preciso distanciar-nos.
Não há contradição.
É um paradoxo que nos desafia ao equilíbrio.
E o equilíbrio desejável é sempre difícil conseguir, como o fiel da balança que por quase nada balança numa ou em outra direção.
Se conseguirmos ver a floresta como um todo, perceberemos que a árvore que por ora nos impede a passagem, nos assusta, cuja enormidade não nos deixa ver adiante, é apenas mais uma árvore que teremos que enfrentar, contornar, ultrapassar, logo veremos outras árvores, de tamanhos diversos e de milhentas cores, umas que dão fruto e outras nem tanto, umas com boa aparência mas que não se abrem em flores, e outras cujo aspeto nos repele mas que largam uma agradável e contagiante perfume à nossa volta.
Distanciamo-nos para ver além da árvore, contemplando a beleza, a harmonia, de todo o conjunto.
Às vezes precisamos de sair, de nos colocar a certa distância, para perceber melhor, para viver mais profundamente, como precisamos do silêncio para apreciar as palavras, como precisamos da chuva e do frio para saborearmos o sol e o calor, como precisamos da oração para nos abrirmos ao futuro, à vida, aos outros, a Deus
Aproximamo-nos, pois precisamos de nos adentrarmos na floresta, para descobrir o riacho que lá passa, os cheiros que nos ligam à terra, ao ar, à folhagem. Se ficámos à distância não faremos a descoberta do que existe no interior.
O que nos dizem os outros será suficiente? Deixarmos que eles vivam por nós e nos contem as suas experiências, positivas ou negativas? Haverá lá dentro algum monstro que me paralisa?
É necessário embrenhar-nos na história do mundo, das pessoas, de Deus.
Perguntam dois discípulos a Jesus: onde moras? A resposta do Mestre dos Mestres é eloquente: vinde ver. Não basta terem conhecimento cerebral, é necessário conhecerem a morada de Jesus e estarem com Ele.
Muitas vezes Deus Se deu a conhecer. Mas chegado a plenitude do tempo veio Ele, em carne e osso, entrou na história, no tempo, na vida do mundo, fez-Se homem.
Ou lembremo-nos do Principezinho, precisou de se distanciar do seu pequeno mundo, até descobrir que era precisamente no seu mundo que estava a fonte da sua felicidade, ou como o filho pródigo que precisou de sair da proteção paterna para descobrir o quanto o Pai era importante na sua vida.
Ou a boneca de sal, que busca o seu fim na sua origem; os rios, os lagos, os riachos, preparam-na, mas precisa de entrar no mar, para se perder, e ao perder se encontrar consigo.
Ou como a borboleta que ouve as outras a falar sobre o que é o fogo, mas verdadeiramente só o compreenderá quando se deixar queimar por ele.
Ver a vida como um todo, para percebermos que não estamos sós, que há mais vida para lá da árvore que nos tolhe o olhar.
Adentrar-nos pela floresta, para vivermos, para experimentarmos. A vida não é o que os outros nos dizem, é também, e muito, o que nós vivemos.